quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Parintins - Amazonas

Temos que admitir que nossa experiência com viagens nos deixou um pouco relapsos. A perna dessa viagem que nos levou a Parintins é uma prova disto. Erramos em praticamente tudo. Chegamos ao porto sem passagens e tivemos que comprar na hora, e para ir de rede. O detalhe é que até o momento não tínhamos rede e a experiência no Redário Iguana nos mostrou que não estamos preparados para passar uma noite neste simpático leito. Mesmo assim, já na área de embarque do porto de Santarém procuramos um par pra comprar e ao perguntarmos o preço a dona da banca respondeu com a pergunta: “em Real?”. É que só um turista muito mal informado, provavelmente de fora do país deixaria para ter os olhos furados ali. Nos negamos a pagar R$60,00 por cada rede e embarcamos no Anna Karoline. Passar uma noite apenas dormindo no chão, com sacos de dormir não seria o pior dos sacrifícios.
Entramos no barco e aguardamos a partida. Do nosso lado estava parado um transatlântico lotado de gringos. Vários circulavam pelo porto e tiravam fotos do nosso barco, das pessoas, como se fôssemos um zoológico. Quando um casal de velhinhos apontou a câmera para a área em que estávamos sem fazer ao menos um sinal pedindo permissão para uma foto, perdi a paciência e apontei minha câmera diretamente para eles, que, surpresos, abriram os braços e fizeram cara feia me questionando. Engraçado como alguns europeus se acham no direito de fotografar as pessoas de países menos respeitados que visitam, incluindo de crianças, sem qualquer autorização, já que se um turista faz o mesmo por lá pode até ir parar em uma delegacia. Enfim partimos. Após alguns minutos perguntei a um tripulante se podíamos nos alojar no compartimento de carga, que estava bem vazio. Após ponderar que já estávamos longe da Capitania, disse que sim. Mas chegando lá, uma maruja bem brutamontes disse categoricamente que não podíamos. Então voltamos para o deque superior, onde capturamos duas cadeiras de plástico. Era um dia muito quente e ensolarado. Ficamos correndo atrás de sombras. Se tivéssemos redes, não saberíamos onde pendurar, pois o barco estava muito cheio. Seria uma viagem de 17 horas e só nos restava ter paciência. Ficamos sentados numa lateral, aproveitando uma brecha de sombra. Almoçamos mal. Marmitex de R$15,00. O pior e mais caro que pagamos em toda a viagem. O dia se arrastou lentamente e se não fosse a paisagem seria um martírio completo. Finalmente escureceu e pudemos retornar ao deque superior, onde um telão mostrava shows de cantores sertanejos. Meia noite a tromba homem que nos expulsara do compartimento de cargas veio nos confiscar as cadeiras, pois o bar iria fechar. Mas afinal, o que poderíamos fazer com as cadeiras? Roubá-las? Jogá-las no rio? A próxima vez que ela nos encontrasse provavelmente nos mandaria pular do barco. Enfim, deitamos no chão e ficamos olhando pro céu. Conseguimos alguns minutos de sono e quase 5 da manhã chegamos a Parintins. Tomamos um susto ao descobrir que a hora local era 4h pela mudança de fuso horário, outro sinal de relaxamento nos planos.
Não sei onde, mas li que havia coisas legais para se fazer nesta simpática cidade em qualquer época do ano. Bom, chegamos e depois de caminhar por uns 2 quilômetros achamos um hotel e nos alojamos. Sem internet, mas muito bom pelos R$60,00 a diária. Lembre-se bem do que vai ler agora: Parintins não oferece NADA para um visitante que lá chega fora do festival folclórico que a fez famosa. Nem hotel com internet tem direito. Mas não estou denegrindo a cidade. Pelo contrário. Tem um charme, é menos suja que as pequenas cidades que margeiam o Amazonas, tem um movimento que atesta que está viva e funcionando. Apenas não tem atrações que não sejam as ligadas à competição entre o Caprichoso e o Garantido. Assim que acordamos fomos logo comprar passagens para a madrugada seguinte partirmos para Manaus.
 Mas tudo vale a pena quando a alma não é pequena. As histórias envolvendo a rivalidade são muito engraçadas. Casais que são separados nas vésperas do embate, para evitar que segredos estratégicos sejam revelados; todas grandes marcas como Coca-cola e Bradesco com suas cores mudadas para azul e branco em metade dos anúncios, para deixar claro que o vermelho da marca não tem a ver com o Garantido, brigas, os passeios pintados de vermelho ou azul, os vários túmulos do cemitério decorados com as cores dos bois, as enormes caravanas que saem de Manaus com navios fretados exclusivamente para levar passageiros de um ou de outro boi, mas nunca dos dois e várias outras. Renilza me alertara que não teria nada lá para vermos na época em que fomos e a responsabilidade desta parada é toda minha. A cidade estava tão vazia de turistas que confesso que tive um pouco de vergonha, quando olhares dos moradores demonstravam surpresa de verem dois turistas perdidos ali. Seria praticamente o mesmo que encontrar em João Monlevade um grupo de mochileiros alemães procurando o que visitar. Foi mal. Às 5h da manhã do dia seguinte pegamos uma lancha rápida para Manaus, que prometia nos deixar na capital Amazonense em 12 horas de viagem... 

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Alter do Chão - Pará

Após quase 3 dias completos dentro do Amazonas II, chegamos bem a Santarém. Pegamos logo um ônibus para Alter do Chão. Esta praia foi apontada pelo jornal inglês The Guardian como a praia fluvial mais bonita do mundo. Não gosto desse tipo de classificação, pois faz com que criemos expectativas. Mas fomos ver se era boa mesmo. O mês ideal para pegar praia lá, segundo fomos informados é novembro, fim do verão deles, quando as águas estão no nível mais baixo. Mas estamos em um ano atípico, com relatos de calor acima do normal e chuvas bem abaixo. Então tivemos a sorte de pegar as praias no melhor nível. Descemos do ônibus próximo à praça principal. Temos que admitir que a praia é realmente linda. Mesmo já tendo estado em vários pontos do Caribe, em algumas ilhas gregas, no sudeste asiático e nordeste brasileiro, tivemos que admitir que Alter do Chão tem as praias mais bonitas que já vimos. As águas também são as mais quentes que experimentamos. Ouso dizer que alguns lugares com águas termais não são tão quentes. E como não tem ondas, a gente entrava e passava horas dentro d’água.
Em Alter fomos direto para o Camping e Redário Iguana, que a Daniele nos havia indicado. A administração é feita pelo casal Adam e Patrícia, que tem um par de gêmeos lindos, Baru e Calhaes. Eles são ou eram hippies e são extremamente amigáveis. Administram super bem o lugar, mantendo tudo limpo e uma atmosfera totalmente acolhedora. O problema foi o calor. Dormir seja nas redes ou no chão em esteiras foi impossível pra gente. A primeira noite foi complicada. E como estávamos nos sentido com a saúde fragilizada, por culpa exclusiva do calor, tivemos que ir para uma pousada com ar condicionado. Foi uma pena. Tanto que nos outros dias visitamos o camping, pois fizemos algumas amizades lá.
Era muito fácil não querer ir embora de Alter e acabamos ficando mais dias do que planejamos. Era praia de manhã e de tarde, picolés de frutas, apresentações circenses na praça, passear pelas praias a noite, comer bem... Fizemos um passeio também indicado pela Daniele com o Índio Pitó, que recomendamos muito e cujo contato é (93)992127567. É possível encontrá-lo também através da associação de guias. Seu passeio de barco passa por vários igarapés e termina com o por do sol em uma praia linda e deserta do Rio Tapajós.
Como diferencial o Pitó faz um trecho dentro da mata mostrando conhecimentos indígenas que aprendeu com seu povo: mostrou uma espécie de formiga bem pequena que serve como repelente natural. Elas estavam no tronco de uma árvore. Ele fez a demonstração e depois eu testei. Colocando a mão na árvore as formigas rapidamente se espalham pelo braço, aí é só esfregas as mãos expulsando as formigas e elas deixam um cheiro de repelente na pele sem causar nenhum incomodo. Mostrou outra espécie de formiga comestível que tem gosto cítrico e serve como tempero, que provamos também. Mostrou como se trança folhas de palmeiras para fazer cobertura e paredes das choças e balaios. Ensinou a Renilza como se extrai a seiva da seringueira e nos mostrou algumas árvores que segundo ele a natura extrai essências. O Pitó é muito agradável, respondendo a tudo que perguntávamos e deixando a gente muito à vontade.
Alter oferece muitas outras opções para passeios, mas como era difícil não passar o dia inteiro nas praias! O distrito não é perfeito. Não está abandonado pela administração púbica como Soure, ma tem um bom potencial para melhorar a limpeza das vias e também para melhorar a oferta de informações. As praias são limpas pela associação de barqueiros e barraqueiros. As pousadas e restaurantes atendem, mas no geral, a um preço mais alto do que a qualidade dos serviços oferecidos. Há wifi liberada na praça principal, mas de qualidade ruim. Não sei bem se a oferta desse serviço é algo bom ou ruim, pois algumas pousadas acabam não oferecendo wifi porque já tem na praça. Mas no geral, os pontos que pedem melhoria no local de forma alguma conseguem eclipsar os seus pontos fortes. Este é um destino que voltaremos com certeza. Só não é boa ideia ir no réveillon, porque segundo a Daniele a cidade não comporta a quantidade de turista que baixa lá.