domingo, 17 de março de 2013

Rumo ao Brasil

Depois de Machu Picchu não sobrou mais nada. Brincadeira, heheheh. A nossa listas de lugares a serem visitados nunca esteve tão grande. Mas a viagem tinha que acabar. Por questões de grana, cansaço e também saudade, definimos que a viagem já tinha dado o que tinha que dar.

Pegamos um ônibus de Cusco para Lima. Passei um mal danado. Cruzamos um trecho de grande altitude e o sistema de ar condicionado do busão não mandava ar em quantidade suficiente. Tive vontade de vomitar, minha pressão baixou, Renilza ficava abanando uma revista, o comissário me deu comprimido, chá de coca e um pano molhado em uma mistura de álcool com uma planta que não conhecemos. Isso foi só por umas 4 horas. Depois eu dormir. De manhã, já superado o trecho de altitude, vimos que nossa garrafa de água mineral estava toda retorcida. É que dentro dela ficou o ar rarefeito da montanha e com o ar normal das terras baixas de fora a garrafa foi pressionada. 

Depois de 20 horas de viagem, já em Lima, pegamos um taxi para o aeroporto. Ali a gente ia tirar uma prova. É que nosso bilhete de volta ao mundo previa que nosso último voo, o que nos traria ao Brasil deveria ser feito antes de completar um ano da data do início da viagem, ou seja, no dia 09 de fevereiro de 2013. Mas Renilza teve uma ideia: ligaríamos para a LAN e pediríamos para alterar a data do voo, se necessário, pagando uma taxa extra. Fizemos isso mas não tocamos no assunto do dinheiro. Pedimos para mudar o voo para o dia 19 de fevereiro. Não dava. Então pedimos para a próxima data possível sem pagar taxa. Conseguimos para o dia 25. Imediatamente Renilza confirmou no site da LAN que o voo estava alterado. Mas tínhamos medo de chegar para o check in e a atendente nos dizer que não poderíamos voar e coisa e tal. 

Mas deu tudo certo. Voamos de Lima para São Paulo e de São Paulo para BH. A mãe,a irmã e a tia de Renilza nos esperavam na Pampulha. Meu irmão nos encontrou para devolver o nosso carro que ficou com ele e aproveitou a feijoada feita pela mãe da Renilza para nos receber. Logo chegaram mais parentes e amigos. 

Então, terminou assim nossa viagem de volta ao mundo em 384 dias. Nenhum parente ou amigo nosso morreu nesse período. Ganhamos uns quilinhos, não temos mais casa, não ficamos famosos e muito menos nos enriquecemos. Pelo contrário...

Agora é descansar um pouco, rever amigos e parentes, procurar emprego... nada que justifique ser relatado em um blog. Mas o rrmundoadentro vai ficar no ar. De vez em quando quem sabe a gente não se encontra por aqui?

Seria impossível manifestar nossos agradecimentos de forma justa neste espaço. Muitas pessoas nos ajudaram. Os amigos de verdade praticamente viajaram com a gente. Nos acompanhando pela rede ou através de e-mails nos mantivemos próximos. Estiveram de prontidão caso fosse necessário e saber disso nos deu tranquilidade para realizássemos esta volta. Muitas pessoas foram fundamentais. Abrigaram nossos pertences, cuidaram da nossa cachorrinha, nos davam dicas de lugares para conhecer, foram nossa referência de contato, nos ajudaram a manter o blog, nos receberam em suas casas no exterior, enfim, vocês foram fundamentais nesta viagem e são fundamentais em nossas vidas. Esperamos nos encontrar em breve. Muito obrigado por tudo.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Peru - parte 3

Cusco

A antiga capital dos incas está tomada por igrejas, conventos e praças que não foram feitos obviamente pela administração inca. Isto não quer dizer que sejam feias. Na verdade, quando chegamos na cidade achamos tudo meio deprimente. Os morros ao redor do centro histórico são lotados de casas e barracos que foram feitos totalmente fora do conjunto arquitetônico que torna a cidade famosa. Porém, já dentro do centro histórico pode-se esquecer isto facilmente. A noite então a cidade é realmente linda.

  
Nos arredores há algumas atrações que justificam a estadia do turista por alguns dias. Mas o tempo não estava bom e sentimos um pouco os efeitos da altitude. Uma dorzinha de cabeça aqui e uma respiração difícil acolá. Nada grave, mas que gerava uma vontade de ficar no hotel, hehehe. Mesmo assim demos umas voltas pela cidade e até fomos à Fortaleza de Sacsayhuaman. Mas no alto do morro começou a chover e decidimos não entrar, pois eles tinham um esquema estranho de cobrança. Se você aluga um cavalo e serviço de guia o preço é um. Se decide ir por sua conta, a entrada custa quase o dobro, cerca de 50 reais. Como estava chovendo e achamos aquilo um absurdo, decidimos não entrar. Descemos o morro e voltamos para a cidade.

Machu Picchu

Há quinze anos, quando eu era estagiário em uma empresa de geologia e fazia curso pré-vestibular, lendo sobre Machu Picchu e trilha inca, decidi que um dia eu ia conhecer esse lugar. Era 1998 e as coisas estavam difíceis. O Brasil saía de uma crise econômica e entrava em outra e as perspectivas eram horríveis. Mesmo assim criei esta utopia. Não sabia como, mas decidi que eu queria viajar. Depois de sonhar com Machu Picchu, desejei conhecer outros lugares e a lista foi crescendo. Mesmo que na época eu não tivesse grana nem para sair de Minas, entendo que neste momento eu me tornei um viajante.

Nunca tive outra ambição que não fosse viajar muito. Várias vezes planejei esta viagem. Até de carona eu pensei em fazê-la. Descobri cedo um roteiro que já é quase tradicional: passar a fronteira com a Bolívia pelo Mato Grosso do Sul, pegar o Trem da Morte até Santa Cruz, ir pra Cusco e daí fazer 3 ou 4 dias de trilha e, enfim, chegar a Machu Picchu. O tempo passou, e por um motivo ou outro, Machu Picchu foi adiado. Mas nesta viagem de volta ao mundo ela não podia ficar de fora. Porém cometemos um erro: chegamos ao Peru em fevereiro, justamente o mês em que a trilha inca fica fechada. Por outro lado temos que confessar que um ano de viagens sem atividades físicas regulares e alimentação pouco uniforme nos deixou em péssima forma física perto do que éramos um ano antes. Assim, mesmo havendo uma outra trilha alternativa, caímos na real e decidimos que não tínhamos condições de vencer a caminhada. Mandamos e-mails para alguns amigos que nos disseram para ir a Machu Picchu mesmo que fosse de trem, pois valeria a pena. E foi o que fizemos.

Pegamos o trem para Águas Calientes e reservamos 3 dias e 2 noites na cidade, sabendo que não seria necessário tudo isto. Mas queríamos fazer o passeio de forma tranquila. Na manhã do segundo dia pegamos o ônibus e chegamos ao parque.

Exceto o fato de não haver banheiros dentro da área, que exige várias horas para ser explorada, a cidade de Machu Picchu está muito bem mantida. Chegamos por volta das 8h e começamos a bater perna pela cidade em ruínas. O fato de a cidade não ter sido descoberta pelos colonizadores e provavelmente ter sido abandonada pelos moradores originais e em seguida dominada pela floresta a manteve afastada dos saqueadores. Hoje boa parte dos prédios são reconstruções, o que não deprecia o patrimônio histórico.


Compramos pela internet um bilhete de entrada que também dava acesso à trilha que leva ao topo da montanha maior, que forma o nariz da face formada pelo conjunto de montanhas ao lado da cidade. A caminhada não foi fácil, mas vale muito a pena, pois ali também tem construções incas e de lá se avista a cidade de frente. O dia estava bonito e decidimos descer a encosta para visitar a Grande Caverna. Vale a pena pelas paisagens, mas a caverna em si não tem nada demais. Porém, a volta foi mais complicada. Nossa água acabou e até tentamos coletar um pouco das gotas que pingavam de uma rocha, usando nossas jaquetas como um acumulador, mas depois de alguns minutos e uns 300 ml coletados, vimos que nós estávamos nos encharcando. Voltamos a subir e pouco depois começou a chover. Mas conseguimos chegar sem acidentes e ainda demos um passeio pela cidade em ruínas mesmo na chuva. Havia a vantagem de ter menos turistas.


Enfim, saímos do parque quase 4h da tarde e fomos para o ponto esperar nosso ônibus. Ali, uma cena triste: um outro ônibus chegava cheio de turistas japoneses que teriam menos de uma hora para conhecer Machu Picchu e com chuva caindo.

Voltamos para Águas Calientes muito satisfeitos por termos feito o passeio, pois mesmo sem a Trilha Inca a visita valeu a pena. Foi o último passeio de nossa viagem de um ano, fazendo assim um encerramento com chave de ouro.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Peru - parte 2

Chegada

Aterrissamos em Lima perto da meia noite e nosso plano era dormir em algum canto no aeroporto e no dia seguinte pegar um ônibus para o interior. Mas Pretinha estava com uma cólica horrorosa, então, de madrugada, pegamos um taxi para um albergue que tínhamos o endereço e ficamos por ali. Então resolvemos nos dar um tempo para estudar melhor o Peru, pois em Cuba estávamos sem internet. Dois dias depois estávamos em um ônibus para Arequipa.

Arequipa

Esta é uma das cidades mais importantes do Peru, com uma arquitetura ímpar e uma história complexa. Mas não tem jeito. Desde 24 de janeiro de 2006, quando escutava ou lia sobre a cidade, me lembrava de nosso amigo Betão. Na madrugada deste dia, um ônibus com estudantes da UFMG que seguia para a Venezuela para levá-los para o Fórum Social Mundial, quando passava por Arequipa saiu da pista e tombou violentamente. Quatro estudantes morreram, incluindo nosso amigo. Que ele esteja bem. Mas a partir de agora teremos lembranças melhores da cidade.

Chegamos de Lima cedo e depois de um taxi para o centro e batermos pernas por uma hora encontramos um hotel que nos atendia. Pouco depois almoçamos um “rocoto relleno”, comida típica local. O tal rocoto é uma pimenta do tamanho de um tomate, que se recheia com carne e outras coisas. É muito bom, mas arde de verdade. Lágrimas rolaram dos meus olhos, mas conseguimos comer.

Demos umas voltas pelo centro, mas tivemos preguiça de entrar nas igrejas e conventos históricos. Os colonizadores chegam, destroem uma cidade e constroem outra em cima, usando as mesmas pedras. Para ajudar a impor sua cultura constroem templos (igrejas católicas) enormes com mão de obra escrava e esses templos, 500 anos depois são atrações turísticas. A história se repete... e por fim enche o saco. Mas realmente as construções históricas são bonitas e originais.

  
Cânion de Colca

Compramos nosso passeio no próprio hotel, devido ao menor preço. Dezenas de agências vendem os mesmos passeios e não é fácil saber os que são bons ou ruins dentro de uma mesma faixa de preço. Se tratava de um passeio de 3 dias, com duas noites em lodges localizados ambos no vale do Rio de Colca.

As noites estavam muito chuvosas e ficamos sem luz justo na hora em que tínhamos que arrumar as mochilas. Usamos nossas lanternas até as duas de apagarem, mas conseguimos deixar tudo pronto. Por volta das seis da manhã a van nos pegou no hotel. Fomos em direção à Chivay. Ali tomamos o café da manhã. Depois a viagem continuou. Fomos subindo, subindo subindo, até que, perto dos 4000 metros começamos a sentir os efeitos da altitude. Nada muito pesado. Uma pequena dor de cabeça e a respiração difícil, como um ataque de asma não muito forte.

A primeira parada foi na Cruz del Condor, onde se espera que fossem vistos os tais pássaros, mas só tinha neblina. Ali compramos um servido pacote de folhas de coca. Então, volta e meia a gente mascava umas folhinhas e isso ajudava a superar mais facilmente os efeitos da altitude. Na segunda parada, onde estão construindo um museu para a “Princesa Juanita”. Uma múmia inca de uma garota que teria sido sacrificada para algum deus. Mas a múmia mesmo está em uma universidade. Neste ponto descemos das vans e os guias organizaram os grupos para começar a caminhada. Poucos minutos depois vimos os primeiros condores.

O primeiro dia não foi difícil. Praticamente só descidas. As paisagens, cada vez mais bonitas, são fotografadas várias vezes por todos, já que a descida é em zig-zag às vezes nos impressionamos com a mesma paisagem mais de uma vez. Nosso grupo tinha a gente, o guia Juanito, uma alemã chamada Alex, um casal de um chileno e uma americana e outro casal de chilenos. Grupo tranquilo, todos gentis e até voluntariosos.


A primeira noite seria em um lodge muito ruim. O quarto só tinha uma cama e um toco, que era um pedaço de um tronco de árvore. O banheiro não oferecia um mínimo de privacidade. Todas as paredes feitas de bambu, de forma que o usuário enquanto obrava podia ver e ser visto por todos. O chuveiro só tinha água fria. E o local era frio à noite. A janta, um horror, de tão pequena. Uma sacanagem com o hóspede, que passou o dia inteiro caminhando. E o pior é que estava em expansão. Em vez de os donos investirem para darem um mínimo de conforto, estavam construindo mais habitações.

O segundo dia teve uma parte de caminhada no plano e outra em subida. As paisagens continuam impressionando. Cruzamos alguns povoados nas montanhas. Juanito, nosso guia, nos apresenta uma pedrinha feita de uma massa de sementes, farina e folhas de coca. Misturamos aquilo com mais folhas de coca e o efeito destas aumenta legal. Ao mascarmos aquilo, os lábios e língua ficam um pouco dormente, mas os efeitos da altitude são esquecidos por algumas horas. No meio da tarde a gente chegou ao Oásis, o lodge onde passaríamos a noite. O almoço, uma macarronada meio fraca, mas que não foi das piores. O legal é que tinha uma piscina de água morna. Mas a janta foi decepcionante. Do frango que foi compartilhado por umas 20 pessoas só me coube um osso de coxinha, quase sem carne. Fomos dormir cedo porque não tínhamos o que fazer. Mas esquecemos de colocar o relógio pra despertar e saímos uma hora atrasados, por volta das 5h30 da manhã.

Esse dia foi duro. Uma subida de 3 horas, com mais de 1000 metros de diferença de nível. Apesar de sermos os últimos do grupo a chegar, subimos dentro do tempo previsto. Fomos com calma, parando para descansar com muita frequência, mas por pouco tempo de cada vez. Enfim, chegamos ao topo, tomamos café da manhã e seguimos para Chivay, onde um banho em águas termais e um almoço em buffet livre, tudo pago a parte, nos esperava.


Mas não havia acabado. No retorno para Arequipa passamos por paisagens muito bonitas. Atravessamos um planalto onde atingimos a altitude de 4910 metros. Dos dois lados da pista haviam vários bandos de lhamas, alpacas e ovelhas. Infelizmente não pegamos neve, mas mesmo assim os pastos, lagoas e montanhas eram muito bonitos.


E no início da noite chegamos ao hotel. Dois dias depois partimos para Cusco.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Peru - parte 1

Um pouco da história do Peru

Nas terras do Perú se desenvolveram as primeiras civilizações da América, sendo a primeira delas de nome Caral, que floresceu na costa do pacífico entre 3000 e 1800 anos a.C.. Substituindo umas as outras e às vezes coexistindo, vieram outras, como Cupisnique, Chavin, Paracas, Nazca, Wari e Chimu. A última civilização pré-colombiana e que foi o maior estado desses tempos foi a Inca. Em pouco mais de um século, usando da força ou de assimilação pacífica, os incas dominaram uma área que ia desde o Equador até o noroeste da Argentina. Foram bem longe no desenvolvimento de técnicas de construção e agrícolas. Conseguiram tornar agricultáveis terrenos extremamente acidentados e em grandes altitudes. Também eram bons na pesca e na criação de animais.

Mas tudo se ruiu com a chegada dos Espanhóis. A varíola trazida por estes de forma não intencional fez um estrago tão grande que antes mesmo dos primeiros combates o império já estava arruinado e não era nem sombra do que fora anos antes. O Imperador Inca Huayna Capac já havia morrido em uma epidemia e deixou o reino em disputa entre seus dois filhos. E foi nessa ordem das coisas que os espanhóis dominaram tudo de forma incrivelmente fácil, vencendo exércitos muito maiores porque tinham melhores estratégias, armas e experiência militar. Afinal, além de tudo, os incas estavam acostumados com guerrinhas contra tribos vizinhas ou povos bem mais fracos e desta vez toparam com a Espanha, país cuja maior especialidade que um dia teve foi dominar e roubar povos mais fracos usando das técnicas mais covardes possíveis e sem um mínimo de ética. 

Em 1542 a Espanha criou o Vice-Reino do Peru, que incluía todas as suas colônias da América do Sul. Já em 1570, o vice reino estava organizado com uma economia baseada na mineração com o uso maciço de mão de obra escrava indígena. Os produtos peruanos deram muita mordomia à Espanha, mas no século XVIII as divisas enviadas para a Espanha já não eram aquelas coisas e a Espanha aumentou impostos e dividiu o vice-reino peruano. Várias revoltas surgiram aí e todas foram derrotadas. 

No início do século XIX, enquanto a maioria da América do Sul era assolada por guerras de independência, o Peru continuou a ser um reduto monarquista. Como a elite hesitou entre emancipação e lealdade para com a Espanha, a independência foi obtida apenas após as campanhas militares de José de San Martín e Simón Bolívar. Durante os primeiros anos da República, lutas endêmicas pelo poder entre líderes militares causaram instabilidade política. Ou seja, ninguém queria lutar pela independência, mas quando ela veio, todos queriam o poder. 

Quando a Bolívia foi atacada pelo Chile por questões de taxações de empresas chilenas que operavam minas em seu território o Peru teve que entrar em guerra junto com a Bolívia contra o Chile porque os dois países tinham um acordo de proteção mútua. O Peru, sabendo que o poderio do Chile era superior ao da dupla, tentou uma solução diplomática, mas não teve jeito. O pior foi que a participação da Bolívia no conflito foi ridícula e o Chile só teve trabalho em conflitos com o Peru. No final, o Chile ganhou o conflito em todas as frentes. Ficou com a única saída para o mar da Bolívia, levou uma parte do território Peruano e ainda saqueou Lima. 

Depois da guerra, a situação do Peru que já era ruim ficou ainda pior e uma crise sucedeu a outra. Em 1968 as forças armadas deram um golpe e estabeleceu uma ditadura. Mas em 1975, o próprio sucessor do primeiro presidente militar, que não havia conseguido grandes coisas no país, promoveu a volta da democracia. 

Durante a década de 1980, o Peru enfrentou uma considerável dívida externa, inflação crescente, um aumento no tráfico de drogas e violência política maciça. Cerca de 70.000 pessoas morreram durante o conflito entre forças do Estado e os guerrilheiros do Sendero Luminoso. Com a presidência de Alberto Fujimori (1990-2000), o país começou a se recuperar, no entanto, as acusações de autoritarismo, corrupção e violações dos direitos humanos forçaram sua renúncia após a polêmica eleição de 2000. Desde o fim do regime de Fujimori, o Peru tenta lutar contra a corrupção, enquanto mantém um bom crescimento econômico.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Cuba - parte 5

Varadero

Não fazia parte dos planos iniciais pegar praia em Cuba. Mas os preços para alguns dias em um hotel no regime “tudo incluso” estavam incrivelmente baratos. Compramos em Santa Clara um pacote desses por 118 dólares o casal por 3 dias. Pagamos mais 30 por um taxi e fomos para Varadero. O sol não ajudou o que podia. Ficou nublado um bom tempo, mas mesmo assim pegamos praias todos os dias. O Hotel era simples, mas tinha de tudo funcionando bem. O “tudo incluso” incluía tudo mesmo, café, almoço, jantar, cerveja e coquetéis. Ficava a menos de 200 metros da areia. A gente pensou em ficar mais uns dias, mas a internet em Cuba, como já escrevemos, é incrivelmente ruim e o que pagaríamos tentando contactar a companhia aérea seria tão caro que o negócio deixaria de ser bom.

Mesmo assim valeu a pena. Ninguém é de ferro e a gente também tem o direito de pegar uma prainha de vez em quando.

 
Depois dos três dias de praia tínhamos que ir. No aeroporto de Havana deu tudo certo. Batemos um papão com o ator global José de Abreu, que acabava de chegar a Cuba. Estávamos na fila para trocar dinheiro e ele chegou desesperado porque estava sem um tostão e precisava sacar no cartão de crédito. Seu voo havia atrasado e ele e sua jovem esposa estavam com fome e com alguma urgência referente a transporte. Com a concordância das outras pessoas da fila deixamos ele passar na frente (o cara é famoso!).

O sistema do caixa era incrivelmente lento e pudemos conversar um bom tempo. O problema era que nem Pretinha nem eu lembrávamos de seu nome e ficamos sem graça de perguntar, já que o cara é famoso. Enfim nos despedimos e em pouco mais de uma hora estávamos voando para o Peru.

Saímos de Cuba com uma impressão melhor do que a que eu tive da outra vez. O país parecia mais vivo, as coisas estavam bem mais baratas e hoje eu já diria que é bem fácil fazer um turismo barato ali. Apesar das sérias limitações do país, sejam pelo bloqueio ou mesmo pelo sistema econômico que limita muitas coisas, sentimos que seus cidadãos estão em condições muito melhores que países do mesmo porte da América Central que visitamos, com os quais até pouco tempo Cuba compartilhava a mesma história de dominação.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Cuba - parte 4

Santa Clara

Localizada bem no centro da ilha, Santa Clara é uma importante cidade cubana, mas que não teria nenhum interesse turístico se ali não tivesse se passado um dos momentos mais emocionantes da revolução. Em 1958, o presidente Fulgêncio Batista tentou eliminar a guerrilha encurralando-a na Sierra Maestra, a leste da ilha. Fidel, sacando que ali estava a maior parte das forças de oposição, ordenou que alguns de seus batalhões se espalhassem pela ilha, tomando instalações militares e fustigando como pudessem as forças de Batista. O negócio deu muito certo.


Em dezembro de 1958, Batista tentou enviar um comboio com reforços e muitas armas e munições para o leste da ilha, mas o grupo de Che, que já dominava boa parte das cercanias de Santa Clara, fez descarrilhar o trem e, mesmo em número muito reduzido e mal armado, conseguiu fazer render todo o regimento. Este evento foi a gota d’água para Fulgêncio Batista, que se vendo sem esperanças, fugiu do país, deixando-o para os guerrilheiros. Che dominou a cidade e ali se tornou especialmente popular, de modo que a Santa Clara ficou conhecida como a cidade de Che. Quando o corpo de Che foi encontrado na Bolívia em 1997, ele foi enviado a Cuba e em Santa Clara foi construído um enorme memorial, contendo seu mausoléu, que é visitado por milhares de pessoas todos os anos.

Fora o contato com o mito de Che, a cidade não chega a ser especial. Mas ali ficamos na melhor casa de família desde minha primeira visita a Cuba. A dona da casa, Dona Yolanda, ou Yoli, cozinhava muito bem e, com seu marido, era especialmente agradável e ambos gostavam muito de bater um papo. Yoli nos contou que quando Che dominara a cidade ela tinha 8 anos e se recorda dele como um jovem moreno, muito cabeludo e com barba meio rala, que estava sempre rindo e sempre com pessoas por perto querendo conhecê-lo. Ela contou como os guerrilheiros usaram coquetéis molotov para incendiar os vagões e forçar os soldados a saírem. Falou também sobre como era o Vaquerito e das comunicações entre Che e Camilo pela rádio revolucionária. Nos disse que todos na cidade estavam torcendo pelos guerrilheiros. A casa de Dona Yolanda e Pedro se chama “Hostal El Limonero”.

  
O trem que foi tomado pela guerrilha e o trator usado para danificar os trilhos causando o descarrilamento foram convertidos em monumentos que ficam expostos em um tipo de museu a céu aberto junto à linha. Conhecemos o local por acaso. Andando pela cidade, em um ponto pegamos a linha e pouco depois chegamos ao monumento. Ali se pode entrar nos vagões, onde estão expostos fotos, documentos e algumas armas capturadas na tomada do trem.


A praça central de Santa Clara é bonita, com os prédios todos em bom estado. Passando alguns dias na cidade, não há como não visita-la. Mas o principal a ser visitado é o “Conjunto Escultório Memorial Comandante Ernesto Che Guevara”, ou “Memorial do Che”. O pessoal ali caprichou. Fizeram um museu sobre a vida de Che e dentre outras coisas, tem uma sala onde seus companheiros de guerrilha são homenageados. Porém, o mais imponente é uma enorme estátua do Che ilustrando sua entrada na cidade, com um fuzil em uma mão e o outro braço engessado, pois ele havia quebrado o braço dias antes.


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Cuba - parte 3

Havana

Depois de um dia de aventuras na Nicarágua e Costa Rica estávamos finalmente em Havana. Renilza conseguiu uma hospedagem em uma casa de família a um bom preço. Era a casa de um médico aposentado e já bem velhinho. O melhor da casa era a localização. Pudemos ver tudo que queríamos na capital sem usar transporte público, fazendo tudo a pé.

Praça da Revolução

Esta simpática e ensolarada praça foi o palco dos mais famosos discursos de Fidel, onde conseguiu falar por vezes para mais de 1 milhão de cubanos. Há um enorme monumento em um dos lados em homenagem a José Marti com um memorial, onde também é instalado o palanque quando eventos cívicos e discursos dos governantes são realizados. Do outro lado, dois prédios governamentais exibem com barras de aço os rostos de Camilo Cienfuegos e Che Guevara, e já se tornaram cartões postais da cidade.


Em outro canto, são oferecidos passeios pela praça em carros americanos antigos em perfeito estado. Esses carrões que se tornaram um símbolo do bloqueio e atraso econômico da ilha agora são explorados pelo turismo em várias cidades do país. Não falei que os caras são espertos? Pudemos tirar fotos à vontade na praça, mas quando fui tentar fotografar o monumento de José Marti pela sua lateral tomei um apitaço. Por algum motivo, fotos naquele ângulo eram proibidas. Como o governo afirma que Fidel teria sofrido centenas de tentativas de atentado e a CIA confirma alguma delas, quem sou eu para questionar as medidas de segurança do país...


A praça é um ponto obrigatório para quem visita Havana e nossa parte estava feita.

Centro Histórico

Havana se um dia tiver todos os seus prédios históricos recuperados será uma das cidades mais bonitas do mundo. Apostaria que se nivelaria com Praga ou San Petersburgo. A imponência e a riqueza de adornos das construções coloniais e pré-revolução mostram que ali viveu uma elite abastada. Felizmente os trabalhos de restauração estão presentes por toda parte. Os quatro anos que separam minhas duas visitas mostraram grande diferença e, apesar do grande trabalho ainda por ser feito, já é possível ver grandes áreas onde os prédios estão totalmente recuperados.


O Capitólio, que os Cubanos se orgulham de ser uma cópia do de Washington porém aumentada (alguns centímetros) estava fechado para reforma. Mesmo assim, o prédio e a praça que o hospeda, com gramado, postes e circundada por prédios também imponentes (muitos em recuperação) são de tirar o fôlego. Vale a pena tira pelo menos um dia só para bater perna pelas ruas do centro. Há inúmeros restaurantes para todos os níveis de bolsos. Comemos muito bem por apenas 3 dólares ou menos todos os dias. Do centro histórico facilmente se acessa o calçadão, em seu ponto mais bonito, em frente ao Castelo do Morro e o Castillo da Real Fuerza.


Museu da Revolução

Em um belo prédio com a parte externa recém reformada e o interior em restauração funciona o Museu da Revolução. À frente, fica exposto um tanque de guerra que teria sido usado contra os invasores da Baía de Porcos. Contam que o próprio Fidel conseguiu acertar um tiro com ele em uma embarcação invasora.


Mas vamos ao museu. Apesar de simples, ali se pode aprender quase tudo sobre a Revolução Cubana, desde o assalto ao Quartel de Moncada, a chegada dos guerrilheiros em Cuba no Iate Granma, a atuação da guerrilha e a participação dos principais membros. Como o governo considera que a revolução está em curso, ali se tem registrada boa parte da história do país desde 1959, na ótica do governo. Muito didático. Para quem se interessa pelo assunto, pode se passar um dia inteiro ali.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Cuba - parte 2

Segunda Visita

Em outubro de 2008 visitei sozinho Cuba, em férias de 20 dias. Saí de lá com impressões muito fortes sobre o país e decido a voltar algum dia. A história da Ilha, os sucessos da guerrilha da Sierra Maestra e as conquistas sociais eram o principal cartão de visita. Mas queria também tentar verificar in loco qual era o verdadeiro grau de liberdades individuais, como era o consumo e muito do que se falava sobre a Ilha.

O país, por ser de longe o principal contestador da política dos Estados Unidos em toda a América, sempre sofreu com uma guerra de mídia, que, em geral, tem muito mais vigor ao denunciar os erros do regime do que quando se dispõem a mostrar algo que dá certo por lá. Por outro lado, na universidade, por participar do Movimento Estudantil, tive contato com dezenas de colegas que se declaravam socialistas, comunistas ou “de esquerda”. E dessas fontes eu só colhia informações de que a ilha era um paraíso da paz social. Enfim, eu queria ver com meus próprios olhos o que era verdade e mentira, e tentar verificar a dimensão de cada coisa.

Por ser uma ilha, socialista e sofrer um bloqueio econômico Cuba é naturalmente um país muito particular. Porém 2008 foi um ano especialmente complicado ali. Foi o único ano em que a ilha foi assolada por 3 furacões, pelo menos dois de grande magnitude. Fidel acabara de sair do poder e, com a crise mundial em seu auge, o preço do níquel, um dos principais itens de exportação do país perdera mais de 80% de seu valor. Ou seja, o país ia mal. O Peso Convertível, moeda oficial usada pelos turistas valia cerca de 1,3 dólar, vários pontos turísticos estavam fechados para recuperação pós furacão e viajando pelas estradas se via grandes áreas com milhares de árvores arrancadas com a raiz pelos furações. Em algumas praças públicas presenciei grupos de voluntários sendo organizados para irem a alguma área ajuda em sua recuperação.

Depois de 19 dias viajando, passei por Havana, Varadero, Cienfuegos, Trinidad e Santiago. Saí do país com impressões muito fortes. Observei que a esperteza e a criatividade são latentes nos cubanos. E muitas vezes estes atributos foram usados contra minha pessoa para tentarem alguma vantagem. Porém verifiquei que eram muito vaidosos, calorosos e cultos. Com quase todas as pessoas com quem conversava, percebia claramente que o nível cultural geral era muito alto, com certeza resultado da boa educação ofertada em escala universal. Sabiam muito do Brasil, talvez pela frequência com que novelas brasileiras são exibidas ali. Foi o primeiro país que visitei em que não vi crianças trabalhando.

Apesar de o aspecto geral das construções ser deplorável devido à falta de manutenção, as escolas eram sempre vistosas. As crianças sempre exibiam uniformes limpos e bonitos e, espiando por janelas das escolas, via-se facilmente a presença computadores, TV e DVD. Mas também senti que havia um medo no ar. Quando tocava em certos assuntos algumas pessoas desconversavam e um taxista clandestino chegou a me dizer sobre algum assunto: “se eu for pego falando sobre isto com você posso ser preso”.

A propaganda política da revolução era o tipo de pintura mais frequente nos muros e outdoors, com figuras e dizeres de Che, Fidel, Raúl e Camilo por todo lado, além de frases denunciando o bloqueio ou alguma outra ação dos EUA. Fiquei impressionado como era fácil encontrar um estudante de medicina. No Brasil estes seres provém quase que 100% de classe média alta ou dos ricos. Em Cuba filhos de garçons ou de carpinteiros também se tornavam médicos.

Enfim, aprendi muito sobre o país, sobre história, economia e política, mas tinha mais perguntas a serem respondidas ao sair do que quando cheguei. Por isso, e porque Renilza não conhecia o país, tive muito prazer em visitar a ilha de novo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Cuba - parte 1

Um pouco da História de Cuba

Quando os espanhóis chegaram a Cuba encontraram uma enorme ilha com terras férteis e nativos relativamente pacíficos. Em alguns anos os 120 mil habitantes pré colombianos haviam sido praticamente exterminados pela exploração como escravos, em conflitos e por doenças.

Terras férteis, o clima e a localização estratégica fizeram com que os espanhóis resistissem de forma especialmente forte para não perderem a colônia e por isso Cuba foi o último país da América a conseguir sua independência.

A luta pela independência começou em 1868 e tem Carlos Manuel de Céspedes e José Marti como os principais heróis. Após décadas de guerra com o conflito quase vencido pelos cubanos os Estados Unidos dão uma desculpa esfarrapada e entram na briga do lado de Cuba, o que foi o golpe de misericórdia na Espanha em 1898. Mas Cuba saiu do fogo e caiu na frigideira. Os EUA se aproveitam da fragilidade do país, destruído pela longa guerra e impõe a força uma série de medidas que fazia do país sua colônia. Os americanos não deixaram que o país tivesse soberania alguma. Chegaram governar o país de forma direta por 4 anos e conseguiu impor um conjunto de normas chamado Emenda Platt que dava aos Estados Unidos o direito de intervir na ilha quando bem entendesse.

Cuba tinha tudo para ter uma história parecida com a de vários países latino-americanos. A exemplo de Nicarágua, Guatemala e vários e vários outros, os EUA faziam o que queriam e nas décadas seguintes Cuba se tornou um paraíso para a elite rica norte-americana, com cassinos, prostituição, drogas e praias paradisíacas. As maiores empresas eram de norte-americanos assim como a maior parte das terras. Enquanto isso, a maioria da população vivia na miséria.

O país era governado desde 1934 por Fulgêncio Batista, que era nada mais que um fantoche dos EUA. Mas as coisas começaram a mudar em 1956. Fidel Castro cria uma guerrilha que em pouco tempo ganha a simpatia do país. A guerrilha ainda contava com outros soldados que ficariam famosos, como Camilo Cienfuegos, Raúl Castro e Ernesto “Che” Guevara.

Fidel comanda o movimento guerrilheiro de forma brilhante, aproveitando as características geográficas do país e usando muito bem os recursos humanos que tinha. Depois de mais de dois anos de lutas, usando estratégias engenhosas e com enorme apoio popular em 01 de janeiro de 1959, a guerrilha impõe uma derrota total ao governo de Batista que foge do país. Pouco depois, Fidel Castro, com apenas 32 anos se torna o chefe de estado e só deixaria o posto 49 anos depois.

Após a chegada ao poder, incentivada por uma enorme má vontade dos EUA em respeitar os rumos que a nação tomava a revolução adquiriu um caráter socialista. Em 1960 a reforma agrária desapropriou os latifúndios do país, quase todos pertencentes a americanos. Ofereceu como pagamento o valor dos imóveis usados no cálculo do imposto territorial. No mesmo ano, após recusa da Shell, Texaco e Esso de refinarem petróleo vindo da Rússia, Cuba nacionaliza as três refinarias. Foi a gota d’água para que os EUA impusessem um bloqueio econômico à ilha, que ainda vigora, prejudicando gravemente a economia e o desenvolvimento do país. Este bloqueio já foi condenado 15 vezes na ONU. Em 2006 uma resolução da ONU que mandava os EUA terminarem com o bloqueio teve 183 votos a favor e 4 contrários. 

Desde os primeiros dias do governo de Fidel várias incursões partindo dos EUA tentaram desestabilizar o governo, desde financiamento de dissidentes para tentarem matar Fidel Castro até o uso de aviões para provocar incêndios em plantações de cana. Mas o ápice da baixaria foi a invasão da Baia de Porcos. Em 1961, uma força militar treinada e financiada pelo governo de John Kennedy, composta por exilados cubanos e agentes americanos, tenta invadir o país através da baía dos Porcos. A invasão é contida em alguns dias e os EUA se negam a assumir a participação durante vários anos. Mas as provas eram muito contundentes. Por exemplo, um piloto americano de um avião abatido não pode ter seu corpo entregue à família durante anos devido à essa negação. 

Ao se afastar dos EUA, imediatamente a URSS se tornou o principal parceiro do país e durante 3 décadas mantiveram relações comerciais muito vantajosa para os cubanos. O auge desta aproximação foi o evento conhecido como Crise dos Mísseis”, quando a URSS instalou sistemas de lançamento de mísseis nucleares na ilha. Foi o momento mais tenso da Guerra Fria, quando as marinhas de EUA e URSS estiveram frente a frente prontos para disparar e haviam mísseis nucleares apontados para os dois países prontos para serem acionados. Mas tudo se resolveu diplomaticamente e Cuba, apesar de não ter participado das negociações, recebeu garantias de que nunca seria invadida pelos EUA. Apesar de ser um país pequeno e com recursos reduzidos, a atuação de Cuba na geopolítica mundial foi decisiva para a história de vários países, como Angola, Argélia e Namíbia.

Mas no início da década de 90 a União Soviética se desmantelou e Cuba se viu, da noite para o dia em uma situação econômica muito delicada. Para piorar, imediatamente o governo americano aperta o bloqueio e os anos seguintes à queda da URSS foram muito complicados. O país ficou praticamente isolado do mundo, sem combustível, sem parceiros comerciais e com milhares de dissidentes tentando fugir em botes para os EUA.

Porém, contra todas as expectativas, já se passaram 20 anos e gradualmente o país vem melhorando. Os indicadores sociais são os melhores da América Latina. Por exemplo, é o país do mundo com o maior índice de alfabetização, 99,8%. Em 2012 foi a nação com o menor mortalidade infantil de toda América (superando até o Canadá). Por outro lado, a dinâmica econômica do país é algo que desafia o entendimento das melhores mentes. As principais fontes de entradas de divisas são o turismo em primeiro lugar e os dólares enviados por cubanos que vivem nos EUA. Os salários são mesmo baixíssimos, mas ninguém paga por educação, saúde, 85% das pessoas moram em casa própria, a energia elétrica é pouca, mas barata e por aí vai.

Apesar das reclamações constantes dos cubanos, de que ganham pouco, que não podem comer carne de vaca, etc, a desnutrição não é nem de longe um problema no país. Todos andam bem vestidos, as mulheres cheias de brincos, pulseiras, meias “arrastão”, etc. Por outro lado, passeando pela ilha, não há como negar que o país poderia ser mais produtivo. Apesar do fertilíssimo e enorme litoral, não se vê uma instalação de criação de peixes, e as terras não são bem aproveitadas. O país tem quase 365 dias de sol por ano, mas não se vê painéis de aquecimento solar. Mesmo os simpatizantes do regime assumem que é difícil exercer alguma atividade empreendedora, devido ao grande controle estatal. Além disso, o país tem muito que avançar em questões que envolvem liberdades democráticas, como liberdade de expressão, para viagens, de criação de partidos políticos, etc.

Em 2008, Raúl Castro, um dos líderes da revolução, assume o poder no lugar de seu irmão Fidel, que renuncia por questões de saúde e aos poucos promove algumas aberturas políticas e econômicas no país.

Nicarágua - parte 4

Saída da Nicarágua

No dia seguinte já tínhamos que ir embora. Era 27 de janeiro e nossa passagem para Cuba, partindo de San José, Costa Rica era às 10:30h do dia seguinte. O plano era sair bem cedo, no primeiro barco para o continente, tomarmos um taxi até a fronteira com a Costa Rica e dali conseguir um ônibus para San José, onde dormiríamos em um hotel ou mesmo no aeroporto. Mas... a vida é uma caixa de surpresas...

Começamos mal. Acordamos tarde, fizemos o check out no hotel e pegamos o barco por volta das 10 da manhã. Depois do roubo do pc dentro do quarto do hotel na Guatemala, resolvemos esconder nossa grana no quarto, que não tinha cofre. Já no continente por volta do meio dia fomos sacar uns dólares e aí percebi que havíamos esquecido no hotel o pacote escondido com uma boa grana. Agora sim estávamos ferrados!

As chances de recuperar a grana eram pequenas, mas tínhamos que tentar. No desespero começamos procurar por algum local com acesso à internet para buscar o número de telefone do hotel e fazer contato. A recepcionista de um hotel deixou a gente usar o seu sistema de wifi e conseguimos ligar para o hotel pelo Skype. Felizmente o dono do hotel encontrou o nosso pacote e nos disse que estaria nos esperando. Pegamos o barco para a ilha novamente, partindo das 13:30h. Chegamos no hotel lá pelas 15h. Nos devolveram tudo intacto. Para quem pretende um dia visitar Ometepe, fica a indicação. Procure por “Hospedage Central el Indio Viejo”. Mas já era tarde para cruzar a fronteira e decidimos tentar alterar o horário do voo que tínhamos na manhã seguinte.

Entramos no site da TACA e solicitamos a alteração, que nos custaria 133 dólares. O site retornou uma mensagem afirmando que a alteração não havia sido feita porque nosso cartão de crédito não havia sido reconhecido. Pegamos nossas coisas e corremos para pegar o barco das 16h. Mas a Nicarágua é um país subdesenvolvido e algumas coisas inusitadas podem acontecer. O barco que partiria às 16h estava atrasado de sua vinda do continente. Por isto a partida das 16h estava cancelada, porque “tomaria os passageiros do barco do próximo horário. Pegamos então o das 17:30h.

Chegamos em San Jorge no início da noite. Pegamos imediatamente um taxi e o taxista nos garantiu que havia ônibus da fronteira até San José por volta das 21h. Chegamos na fronteira por volta de 20h, demos saída da Nicarágua pagando o visto de saída, percorremos uns 300 metros em total escuridão, pois havia acabado a energia e chegamos na Imigração da Costa Rica. Outro nível. Já pela organização do prédio da Imigração se entende porque na América Central a Costa Rica é o país que mais recebe turistas. Sem muitas perguntas ganhamos nossos carimbos e estávamos dentro da Costa Rica. Mas o problema só começava.

Descobrimos que só havia ônibus partindo dali às 3:30h. Mesmo assim não havia certeza. Mas mesmo se este ônibus existisse, não percorreria os quase 300 quilômetros até San José antes 8:30h, horário do check in. Começamos a andar na escuridão. Era umas 9 da noite. Pedimos carona para um caminhoneiro e o cara parou. O primeiro a passar. O cara perguntou para onde íamos, se nossos passaportes estavam ok e nos aceitou. Era uma carreta grande. A cabine do motorista era enorme, com uma beliche, armários, geladeira. O nome do motorista era Carlos. Gente fina. Paramos por volta das duas para dormirmos. O Carlos na cama de baixo, Pretinha na de cima e eu no banco do carona. Acordamos às 6h. Andamos um pouco e paramos para tomar café. Estávamos com medo porque nesse ritmo não chegaríamos a San José a tempo. Depois do café a carreta foi pra estrada, mas pouco depois teve que parar. Carretas só podem trafegar naquela rodovia após às 7:30h. Nos despedimos do Carlos e fomos para a estrada tentar pegar um ônibus. Nenhum parava. Conversamos com o dono de uma tendinha e ele nos ajudou a conseguir um taxi. Enfim, pagando 80 dólares, chegamos ao aeroporto às 8:30h.

Mas ainda havia mais. A atendente da TACA nos disse que nosso voo não era aquele, pois no dia anterior havíamos alterado pelo site. Explicamos o que havia acontecido, sobre o texto do site indicando que a alteração não havia sido feita. A atendente e seu supervisor nos pediram desculpas, nos colocaram no voo original sem nos cobrar nada, e nos disseram para entrarmos em contato com a empresa por telefone ou internet, pois os 133 dólares haviam sido debitados e a devolução não era possível ali.

Adiantamos que já entramos em contato com a TACA. Por telefone, tivemos que ligar cerca de 15 vezes e ninguém resolvia nada. Enviamos uma mensagem pelo site e nos responderam que o dinheiro não seria devolvido. Por fim iniciamos um processo com a operadora de cartões de crédito, mas sem muitas esperanças. Então fica a dica:

EVITE VOAR DE TACA. SE FOR NÃO HOUVER OUTRO JEITO, FIQUE ATENTO SE VOCÊ TIVER QUE FAZER ALGUMA ALTERAÇÃO DO SEU VOO NO SITE. USE A FUNÇÃO “PRINT SCREEN” NAS TELAS ONDE APARECEM INFORMAÇÕES DO VOO OU SE DER ALGUM ERRO, POIS, INFELIZMENTE, COMO VÁRIAS EMPRESAS BRASILEIRAS A TACA NOS PROVOU QUE É UMA COMPANIA DESONESTA.

Enfim, Cuba.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Nicarágua - parte 3

Granada

Esta cidade é o principal polo turístico do país. Possui arquitetura colonial bem preservada, é de onde partem os passeios para conhecer o conjunto de pequenas ilhas do Lago Nicarágua. Além disso, oferece um acesso fácil aos vulcões Masaya e Mombacho.

  
Precisávamos ir a um consulado de Cuba para pegar os vistos para aquele país e conseguimos tudo em apenas uma manhã em uma rápida visita a Manágua. De tarde fomos ao parque conhecer o Vulcão Masaya, aproveitando mais uma sacada da Marú, que descobriu um jeito de visitar o parque do vulcão de forma independente, bem mais barato do que contratando um tour.

Esse vulcão valia a pena. Chegamos de carro bem na cloaca do Masaya. É um verdadeiro caldeirão, com as paredes limpas e com emissão de fumaças o tempo todo. Fomos alertados para não ficarmos perto da fumaça por mais de 5 minutos, pois elas eram tóxicas e poderiam fazer mal.


Do lado dele, outro vulcão jaz completamente inativo e sua cloaca já está toda coberta de vegetação. No parque há um pequeno museu que mostra um pouco da dinâmica dos vulcões e seus impactos. Se tiver disposição e quiser gastar um pouco mais, há no parque um conjunto de cavernas vulcânicas bem recomendadas.


Este era o nosso time, com o japa Kas que também pegou carona com a Marú.


Ometepe

Fomos, ainda com a Marú para Ometepe. Esta ilha é formada por dois vulcões cujas bordas se fundiram e está localizada no meio do Lago Nicarágua, uma enorme porção de água doce onde habita o único tubarão de água doce existente no planeta (segundo a wikipédia). Ometepe é a maior ilha vulcânica do mundo dentro de um lago de água doce.


Ficamos no povoado de Mayogalpa, onde nosso barco atracou. A ilha tem uma atmosfera agradável, com forte apelo para o ecoturismo. O vulcão Concepción é muito ativo e pela ilha se vê que existe uma preparação para o caso de uma erupção. Há uma pista de pouso e decolagem, provavelmente usada só em emergências e pela estrada que contorna a ilha há indicações de rotas de fuga. Em alguns pontos onde a terra está exposta se pode ver as várias camadas de sobreposição de cinzas vulcânicas das seguidas erupções. 


Vimos essas coisas em um passeio que fizemos com a Marú e um jovem mexicano também chamado Ricardo. Alugamos bicicletas e fomos a um parque cuja principal atração são piscinas de águas vulcânicas (mas a temperatura ambiente). Ida e volta davam exatos 50 quilômetros. Foi aí que caímos na real em relação à nossa condição física. Estávamos bem piores do que imaginávamos. Várias vezes tivemos que subir morros empurrando as magrelas. Depois de mais de 11 meses sem atividade física regular não era para menos.


O local das piscinas se chama Ojo de Água. Valeu bem o esforço da ida, mas estávamos tão arrebentados que não sabíamos se conseguiríamos voltar antes da noite cair. E não conseguimos mesmo. Tivemos que pedalar quase uma hora na estrada sem lanterna. Mas chegamos todos bem.

Nicarágua - parte 2

León 

Uma cidade bonitinha. As casas são todas pintadas com cores vivas. As igrejas um dia foram bonitas, mas hoje pedem de joelhos uma demão de tinta. A praça central estava em reforma, mas por cima das tábuas que a isolavam, deu para ver que é um lugar legal. Em alguns pontos há excelentes grafites contando parte da história do país. Um pequeno memorial do movimento guerrilheiro sandinista vale uma visita.


Chegamos a León sem reserva em hotel, pois Pretinha havia pesquisado e viu que os hotéis da cidade não estavam cheios. Primeiro almoçamos e depois encontramos um bom albergue. Ali conhecemos a Marú, uma simpática arqueóloga chilena que viajava há alguns meses pela América Latina. Ela tinha histórias ótimas para contar e passamos vários dias juntos. Uma ótima vantagem de andar com ela era que ela realmente buscava fazer uma viagem barata e tinha mais facilidade do que a gente para negociar com todo mundo.

Las Peñitas

Tiramos um dia para irmos à praia, porque ninguém é de ferro. Na verdade aproveitamos que a Marú já havia planejado tudo e fomos com ela. Encaramos apenas um ônibus de cerca de 1 hora e estávamos em Las Peñitas, um povoado pequeno, com algumas pessoas vivendo da pesca e outras do pequeno fluxo de turistas.


A praia, no oceano pacífico tinha a água quentinha estava praticamente deserta. Mas ao sairmos da água, a caminho de um restaurante vimos uma tartaruga gigante morta sendo banqueteada por urubus. Depois vimos outras. Uma pena. Torcemos para que fosse um acontecimento natural, mas saímos de lá sem muita certeza, pois nas lagoas onde elas estavam havia um fluxo razoável de barcos e elas poderiam ter se ferido em contato com suas hélices.

Esquecemos das tartarugas e almoçamos por lá mesmo. No início da tarde voltamos para León.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Nicarágua - parte 1

Nicarágua

A Nicarágua foi uma região da América Central na qual se desenvolveu uma antiga civilização que desapareceu sem deixar muitos vestígios de sua existência. As populações que ocupavam a região no momento em que os espanhóis chegaram ao continente, provavelmente surgiram a partir de ondas migratórias oriundas do território mexicano.

Após atingir sua autonomia em 1821, a Nicarágua foi inicialmente conglomerada ao território das Províncias Unidas da Centroamérica. No entanto, o conflito intermitente entre liberais e conservadores acabou transformando a região nicaraguense em um Estado independente.

A disputa entre liberais e conservadores transformou a Nicarágua em um típico exemplo da fragilidade das instituições políticas concebidas após os processos de independência da América Colonial. Aproveitando-se disto, os EUA nunca fizeram cerimônia para fazer suas intervenções no país, várias delas com uso direto de suas forças militares.

Após o predomínio político dos conservadores durante o século XIX, os liberais conseguiram chegar ao poder com a proposta de modernizar as práticas e instituições do país. Em 1893 uma nova constituição foi assinada com o intuito de modernizar o país. Sentindo-se ameaçados com essa situação, os EUA intervieram no país passando a controlar suas ferrovias, o Banco Central e a alfândega. A população da Nicarágua é cerca de 70 vezes menor que a dos EUA.

Os nicaraguenses faziam o que podiam e nunca se renderam ao domínio dos EUA. Até a década de 1920, os incidentes políticos da Nicarágua foram seguidos de perto pelos EUA. Quando julgava necessário, este enviava tropas para anular o resultado de uma eleição e legitimar a ascensão de um líder comprometido com seus interesses econômicos.

Nesse período, um movimento guerrilheiro liderado por Juan Baptista Sacasa, José María Moncada e César Augusto Sandino lutou contra a ação estrangeira em seu país. Após a retirada das forças norte-americanas, Sandino e outros líderes liberais abandonaram o movimento armado. Entretanto, Anastasio Somoza García, chefe da Guarda Nacional, armou um golpe e Augusto Sandino fora assassinado.

Entre os anos de 1936 e 1978, Somoza se preservou no poder através da ação política direta ou por meio de parentes atrelados a ele. Essa “dinastia política” se manteve graças ao poder sobre a Guarda Nacional e uso de diversos instrumentos de natureza autoritária. Tal situação só se modificou quando a Frente Sandinista de Libertação Nacional conduziu uma revolução que derrubou a Guarda Nacional. 

Assumindo o controle político do país, os revolucionários sandinistas tiveram que contornar uma profunda crise econômica em um país terrivelmente devastado pela guerra civil. Estatizando o setor industrial e viabilizando uma reforma agrária, o novo regime tentou implementar medidas de traço socialista. Insatisfeitos com essa situação, os EUA passaram a fomentar um movimento guerrilheiro contra revolucionário conhecido como “Os Contras”. Esta jogada, quando foi descoberta foi condenada pela comunidade internacional e ficou mundialmente famosa com o nome de “Irã Contra”, pois os EUA vendiam escondido do resto do mundo armas ao Irã em sua guerra contra o Iraque, país que oficialmente apoiava e com o lucro dessas vendas apoiavam os “Contras”. 

Ao longo de toda a década de 1980, o governo revolucionário teve que enfrentar a oposição armada dos “Contras”. Visando superar a caótica situação política da Nicarágua, os sandinistas permitiram a realização de uma nova eleição presidencial e a formação de uma nova assembleia constituinte. No final daquela década, o conflito entre os sandinistas e os Contras chegou ao seu fim quando os grupos políticos conservadores retomaram o controle da nação. 

Durante a década de 1990, os governos liberais alcançaram alguns tímidos sinais de recuperação econômica. Contudo, várias questões sociais históricas do país ainda aguardavam por uma resolução mais contundente. Como resultado desta história de dominação, apesar das terras férteis, saídas para os oceanos Pacífico e Atlântico o país é um dos mais pobres da América, com indicadores que chegam a ser vergonhosos, se considerados os recursos do país. 

Várias vezes o país foi assolado por terremotos e a atividade geológica ali mostra que ainda há muito para acontecer no país.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Guatemala - parte 5

Saída para Nicarágua

Passamos duas noites na Cidade da Guatemala antes de irmos embora. Nesse tempo foi que conhecemos os brasileiros que viajavam pela América do Chile ao Alasca em uma caminhonete.

O Luciano, gerente da pousada em que ficamos descobriu como deveríamos fazer para pegar um chicken bus para a Nicarágua, por 25 dólares cada passagem (contra 75 dos ônibus normais). Fica aqui a indicação da pousada: procure no hostelworld por “La Coperacha”.

O ônibus era melhor do que esperávamos. Não que fosse bom. Era velho e barulhento. As janelas e lataria vibravam o tempo todo. As poltronas eram horrorosas. Mas isto dava para levar. O problema é que a empresa deixava claro em seus anúncios que levavam “qualquer tipo de carga”. Então a galera cumpria isto à risca: dentro do ônibus havia cadeiras de plásticos, dessas de boteco, caixas com tomates e sacolas enormes com todo tipo de bugiganga. Todos os passageiros exceto nós e um mexicano eram da Nicarágua (Nicas). Começamos a ficar com medo do país quando fomos descobrindo o que a turma levava na bagagem. Tomates, banana, papel higiênico, etc. Será que na Nicarágua não teria papel higiênico?! Mas o pior estava por vir. Passaríamos pelas seguintes fronteiras: Guatemala - El Salvador – Honduras - Nicarágua.

Por duas vezes um dos funcionários do ônibus saiu passando o chapéu para recolher dinheiro para subornar oficiais aduaneiros de Honduras para evitar que tivéssemos as bolsas revistadas. Na aduana de El Salvador todos tiveram que abrir as bolsas. Apenas um agente para revistar toda a bagagem. Os caras não tinha máquina de raio – x e nem cão farejador. Sequer tinham um lugar limpo para que as bolsas fossem abertas. O pessoal tinha que ir pondo as coisas no chão, na frente de todo mundo. É claro que as revistas eram péssimas. Se tivéssemos um revolver no fundo de uma bolsa passaria facilmente. Uma ação ridícula, que só mostra o quão atrasado está a região, que na nossa opinião tinha tudo para ser apenas um único país, pois são o mesmo povo, falam a mesma língua, compartilham a mesma cultura e tem os mesmos problemas.

O mesmo se passou na entrada da Nicarágua. Por fim, depois de 22 horas naquele inferno chegamos a Leon, Nicarágua. Desse tempo, apenas cerca de 14 horas o ônibus esteve em movimento. O restante foi perdido nas fronteiras (8 horas) e nas paradas (umas 2 horas).

O legal da viagem foi conhecer Alejandro, o mexicano. O cara é trabalhador braçal, mas nos disse que crise não afeta seu trabalho, pois ele é muito bom de serviço e usa a internet para anunciar seu trabalho. Conhece vários países e nos contou muitas coisas interessantes. Apesar de não ter tido muito tempo de educação formal, ele lê bastante e tem uma visão de mundo muito legal.

Guatemala - parte 4

Panajachel

Nossa viagem da Cidade da Guatemala até Panajachel foi uma aventura de verdade. Só usamos ônibus de moradores locais, os famosos chicken bus. Ainda não sabemos o motivo do apelido “carro de frangos”, mas temos algumas suspeitas. O primeiro ônibus nos levou do centro da capital ao anel rodoviário. Ali pegamos uma van muito desconfortável, onde nos sentamos em um banco improvisado voltado para trás do banco da frente. A inclinação do encosto da minha poltrona era a inversa da passageira que ia na frente. Quando a van acelerava eu me encolhia e a dona que estava costa a costa comigo se inclinava para trás. Quando freava, eu me inclinava para trás. O trocador da van era da pá virada. Em uma cena ele abril mandou um passageiro entrar e subiu correndo com as sacolas do mesmo no teto do carro. Até aí tudo bem. Mas o carro começou a andar e segundos depois vimos um pé aparecer na janelinha e com muita agilidade, com a van a uns 60 km por hora, o trocador passou do teto para dentro do veículo pela janela. E ele fazia o inverso: com a van a quase 100, subia pela janelinha para o teto para reposicionar algum fardo. O cara era muito louco! Enfim, depois de 2 horas e meia trocamos de transporte. Pegamos mais dois ônibus completamente lotados de indígenas, com as pessoas caindo sobre as outras e enfim chegamos a Pana.

Esta cidadezinha é um dos vários “pueblos” situados ao redor do lago Atitlan. Bom lugar para comprar artesanato. Conhecemos um carinha ali que vendia passeios de barcos. Não compramos o passeio mas conversamos muito com ele. Ele é indígena e foi integrante de uma gangue, tinham armas, garotas associadas, mas que se dissolveu depois que dois dos líderes foram mortos por rivais. Ele cortou o cabelo, começou a trabalhar, frequentar o Temazcal e agora se diz um cara tranquilo.

Existem três vulcões nas margens do lago. Poderíamos ter feito um passeio para subir em pelo menos um deles, mas agora queremos ver vulcões com lava escorrendo e não é o caso no momento de nenhum dos vulcões de Pana. Então o único passeio que fizemos foi visitar os povoados da margem. Fomos a Santiago e São Pedro. Dava para ir em vários, mas as coisas já estavam se repetindo e não fomos nos outros.


Conhecemos um motorista de tuc-tuc que ajudou a produção da Rede Globo, que estava ali há apenas alguns dias, gravando cenas da próxima novela que não sabemos quando estreará e nem qual nome terá. Seu trabalho era agenciar figurantes. Segundo ele, seu próprio veículo foi alugado para fazer parte de algumas cenas. Além do tuc-tuc, a novela terá Grazi Massafera.


No povoado de Santiago visitamos a casa que recebia o Maximón, uma santidade maia. A efígie de Maximón encontra-se sob a custódia de uma irmandade religiosa local e reside em várias casas de membros da irmandade ao longo do ano, sendo deslocada de forma cerimonial numa grande procissão durante a Semana Santa. Naquele caso, a imagem já tinha 590 anos. Em cada ano ela fica em uma casa e é uma honra muito grande para a pessoa cuja casa a recebe. Na casa que visitamos, o Maximón estava em uma sala cheia de imagens de santos católicos. Mas este sincretismo parece não ofender ninguém por ali, pelo que vimos. Parece que a maioria das pessoas é católica, mas muitos deles acreditam no Maximón também. E a vida segue.


Em Pana ocorreu uma das coisas mais chatas da viagem. Tivemos nosso computador roubado. Temos 99% de certeza de que foi roubado de nossas bolsas dentro do hotel. Já estávamos saindo. Eu lavava as louças que usamos no café da manhã. Renilza deixou as mochilas dentro do quarto fechado a chave e veio falar comigo. Acreditamos que aconteceu mais ou menos assim: um cara que trabalhava para o hotel procurando hóspedes puxou papo com a gente para ganhar tempo. E nos disse que nosso ônibus já deveria estar saindo. Nesse período, provavelmente uma funcionária do hotel abril o quarto e tirou o laptop da mochila. Saímos apressados para não perder o ônibus e só fomos perceber que o computador havia se extraviado já na Cidade da Guatemala.

Na viajem a mochila em que estaria o laptop ficou muito próximo à gente. Não dormimos e os ônibus não encheram. Quando ligamos para o hotel a funcionária que atendeu se embaraçou com as respostas e deixou nos fez acreditar que ela havia participado do roubo. Por outro lado, como demos falta do equipamento só na Cidade da Guatemala, decidimos nem acionar a polícia, pois, de fato, não temos como provar que fomos roubado no hotel. O computador em si foi um prejuízo de 600 reais, já que compramos outro notebook no mesmo dia. Mas perdemos nossas planilhas da viagem, com os registros diários de gastos detalhados. Perdemos também as fotos originais. Na verdade mantivemos as melhores fotos nos cartões de memória e temos os álbuns no facebook. Mas perdemos algumas fotos interessantes. Além disso, vários arquivos de alguma importância se foram. Mas nada que comprometesse a viagem. Uma pena.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Guatemala - parte 3

Cidade da Guatemala

Apesar de não ser necessário, ficamos três dias em Flores, curtindo a cidade, a boa comida e os bons preços. Saímos de lá no meio do dia e chegamos à Cidade da Guatemala à noite. O ônibus nos deixou no terminal da empresa no centro histórico. Tivemos que caminhar apenas algumas centenas de metros para chegarmos ao hotel que passaríamos a primeira noite. De cara ficamos assustados com a quantidade de armas nas ruas. Qualquer lojinha, bar ou restaurante tem um vigilante portando uma escopeta medonha. Não dá para ficar tranquilo sabendo que se rolar um tiroteio as munições usadas são feitas para destruir o alvo. Uma arma calibre 38 é mortal se o tiro acerta em órgãos vitais, mas se pega em um braço ou perna, há boas chances de recuperação total. Já armas de grosso calibre podem arrancar membros da vítima. Mas lendo sobre o histórico de violência no país dá para entender que os nativos devem ter se acostumado com a situação.

No dia seguinte fomos para nosso albergue, gerenciado pelo “Dom Luciano”, um suíço que vive há 12 anos na Guatemala. Ali conhecemos muita gente. John-John, um francês bichogrilasso que nos explicou o processo pelo qual passava para reprogramar seu DNA. O próprio Luciano é um cara muito legal e prestativo. Para coroar, conhecemos um grupo de 5 brasileiros (facebook: 4x1 Retrato das Américas) que faziam uma viagem por todo o continente americano, do Chile ao Alasca em uma caminhonete.

Bem perto da pousada há um lugar legal para se visitar: o Mapa de Relevo da Guatemala. Se trata de uma maquete do mapa do país que ocupa dezenas de metros quadrados em um parque, com os lagos, montanhas, vulcões e rios representados. Vale uma visita. A cidade tem também uma enorme praça que abriga o palácio do governo e a Catedral que oferece oportunidade para boas fotos. O museu mais importante é sobre roupas típicas dos diversos povos indígenas. Este nós não visitamos.

Antígua

A antiga Guatemala ou Antígua foi capital da capitania e estava em pleno desenvolvimento cultural quando foi assolada pelo terremoto de 1773, quando decidiram construir a nova (atual) Cidade da Guatemala. Mas a cidade continuou existindo e é hoje uma das principais atrações turísticas do país. Além disso, é a que mais recebe estrangeiros para cursos do idioma espanhol (o país é um polo nesse tipo de coisa). A cidade é toda colorida, com uma praça agradável, além de estar próxima aos vulcões Água, Fogo, Acatenango e Pacaya.


Decidimos fazer uma viagem até lá e regressarmos no mesmo dia, usando transporte público. Na ida deu tudo certo, Deu tão certo que decidimos ir um pouco mais longe: compramos por 10 dólares cada um passeio ao vulcão Pacaya. Eu estava de chinelo, mas resolvi ir assim mesmo. O passeio foi legal. Valeu pelas paisagens, pelas conversas com os guias e outros participantes e também como atividade física. Mas foi mais um vulcão bonito com algumas fumarolas. Ainda estamos esperando ver lava de verdade.


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Guatemala - parte 2


Flores

Chegamos em Flores no final da tarde. Saímos do ônibus antes do seu ponto final, ainda no município de Santa Elena (uns 500 metros de Flores), pois precisávamos sacar uma grana e não queríamos ficar em hotéis indicados pelo guia que nos acompanhou no final da viagem, porque achávamos que acabaríamos tendo que pagar alguma comissão.

Flores é uma pequena ilha que se formou no meio do lago Petén Itzá. Chega-se a ela por uma ponte que a liga a Santa Elena. Todas as casas são coloridas e o resultado final do conjunto de cores no meio do lago cercado de florestas é muito charmoso. Com uma caminhada de meia hora se contorna a ilha e é possível nadar no lago.


Enquanto estivemos na cidade ocorriam festas religiosas e presenciamos algumas manifestações, como três velhinhos tocando músicas regionais em um único xilofone de uns 2 metros e uma dança típica, que um grupo de mulheres com vestidos coloridos executava pela cidade. Um carro de som ia à frente delas. Com a multidão acompanhando, paravam em cada esquina e dançavam.


A comida já se diferenciava bastante da do México. Os temperos são mais equilibrados e o arroz com feijão começou a ser mais frequente. Porém, o abacate na salada, no sanduíche ou no meio da comida era quase obrigatório. Quando dava, pedíamos açúcar e ele se transformava na sobremesa.

Tikal

Tikal é um dos maiores e mais bem conservados sítios arqueológicos de antigas cidades maias. Localizado a 64 km de Flores, ainda tem a maior parte de suas construções sob o solo da densa floresta tropical.




Chegamos ao parque antes das 8 e começamos nossa caminhada. Não é preciso andar muito pelas trilhas bem sinalizadas para começar a encontrar as construções. E se ficar atento, verá que existem incontáveis montes de terra que na verdade são construções de pedra da antiga cidade que foram tomadas pela floresta ao longo dos séculos e uma espécie de solo acabou se formando sobre as mesmas. É fácil encontrar as construções, sem a necessidade de guias para isto. O difícil é dizer qual é a melhor parte.

Vários prédios tem altura muito superior à das arvores da floresta que os envolvem. Em um deles é possível subir e ver lá de cima as copas das árvores e alguns dos outros prédios aflorando vários metros sobre a floresta. Assim como Palenque, o local exerce forte atração por “bicho grilos” e “neohippies” e eles estão por toda a parte.


O sítio é enorme e se o visitante não se apressar um dia pode não ser o suficiente. O parque está muito bem cuidado e tem boas instalações. Além disso, está em plena expansão, já que os trabalhos arqueológicos continuam. Vários prédios estão em restauração. Conhecemos lá um escocês que estava em sua segunda visita, mais de 15 anos após a primeira. Ele nos disse que reparou facilmente que o número de prédios expostos havia crescido.

Guatemala - parte 1

Um pouco de História 

Na pré-história, a atual Guatemala viu a ascensão das civilizações pré-maia e maia. Ali floresceram boa parte das grandes cidades maias. Elas mantinham conexões entre si e com os astecas, mas eram independentes, sem compor um país ou império. A herança maia faz com que a Guatemala tenha características únicas em sua cultura. Vários povos antigos conseguiram proteger muito de sua cultura e hoje milhões de pessoas tem um idioma maia como primeira língua. 

O nome maia vem de “maiz” (do espanhol, milho). O milho foi talvez a maior contribuição maia para a humanidade, já que é um dos alimentos mais importantes que temos, seja no consumo direto ou como base de ração para gado. 

Quando os espanhóis ali chegaram em 1523, o apogeu dos maias já havia se acabado há séculos. A tecnologia era atrasada e a economia estava estagnada. Apesar de terem desenvolvido uma linguagem escrita que representasse todo o idioma falado, não tinham ainda descoberto a roda. Não conheciam a metalurgia. Seus instrumentos e armas eram de pedra e madeira. Mesmo assim, ao contrário dos astecas, ofereceram uma forte resistência e a última cidade só foi cair em 1544. Isto deu tempo para que muitos maias aprendessem o idioma espanhol e registrassem muito de sua cultura em alfabeto latino, além de muitos grupos terem conseguido se refugiar em locais mais afastados. 

Durante a era colonial a Capitania Geral da Guatemala abrangia toda América Central, desde Chiapas até a Costa Rica. Apenas Belize foi incorporada à coroa britânica, em 1862, com a discordância dos guatemaltecas. 

Depois de três séculos de domínio espanhol, marcado pelo fraco desenvolvimento, o movimento de 15 de setembro de 1821 levou à proclamação da independência da Guatemala, sendo formada uma federação que incluía todos os territórios da antiga Capitania Geral da Guatemala, exceto Chiapas, anexada pelo México e Belize. Em 1823 a federação se desfragmenta, nascendo aí os outros países da América Central e a Guatemala com o território de hoje. 

O país nunca teve longos períodos prósperos. A forte presença do catolicismo, sucessões de ditadores, a escolha por um caminho de desenvolvimento baseado no latifúndio, o desprezo pelas condições de vidas dos indígenas, conflitos com países vizinhos, os frequentes terremotos e a forte presença dos EUA, principalmente manifestada pela empresa United Fruit fizeram com que violência estivesse sempre presente. 

Na primeira metade do século XX, não importando o que se passasse, a United Fruit sempre se dava bem. Esta empresa cresceu como um câncer na América Central. Em pouco tempo dominou enormes extensões de terras a baixíssimos custos. A justificativa era a de que isto era necessário para vencer períodos de secas, perdas por pragas ou furacões. Mas na prática ficava claro o objetivo era eliminar a concorrência e manter as pessoas sem opções de trabalho que não fossem na própria empresa, em condições sub humanas. 

Através do poder econômico e de corrupção de governantes conseguiu por muito tempo que nestes países a legislação trabalhista não se desenvolvesse, que os salários se mantivessem baixíssimos, que ficasse quase isenta de impostos e até mesmo monopólios sobre o transporte ferroviário. Mas a nova constituição de 1945 dava aberturas para que houvessem mudanças em relação à posse das terras. 

Em 1950 Jacobo Arbenz Guzmán vence as eleições gerais de 1950 e em seu governo consegue a aprovação no congresso de uma lei de reforma agrária que estabeleceu a divisão de terras não cultivadas, afetando diretamente a United Fruit Company. O governo dos Estados Unidos cria então uma campanha de mídia contra a Guatemala e produz um ambiente propício para a queda do governo. Em 1954, um exército formado por políticos de direita e mercenários treinados pela CIA invade o país, depõe o governo e dissolve o congresso, acabando assim com a incipiente democracia que era construída no país só para manter os privilégios de uma companhia privada americana. 

Ernesto Guevara, um médico argentino que nesta época vivia na Guatemala era um anônimo apoiador do presidente deposto e com sua queda se mudou para o México, onde viria a conhecer um cubano chamado Fidel Castro. 

Então veio uma sequência de governantes que foram assassinados, derrubados, renunciaram ou pouco fizeram em seus mandatos. Mas não foi só isso. Entre 1970 e 1982 o país amargou uma guerra civil. E você pensa que acabou? Pois em 1976, aconteceu no país um terremoto que foi considerado a maior catástrofe natural já registrada na América Central. 

O país continuou instável até finais dos anos 90. Em 1991, finalmente resolve sua pendência em relação a Belize, o reconhecendo como país. Só em 1995 o governo conseguiu um acordo de paz com a guerrilha. Mas as seguidas gerações que viveram sob a violência quotidiana parecem ter se acostumado com isto. Nos dias de hoje quem caminhar pelo centro da Cidade da Guatemala verá em qualquer lojinha um guardinha portando uma escopeta. As forças policiais também são fortemente armadas. Algo especialmente ruim para um país que está longe de resolver questões sociais básicas, como analfabetismo e mortalidade infantil. 

Uma visita ao país e uma olhadinha no mapa mundi é o suficiente para qualquer um ver que ele tem plenas condições de se tornar um bom lugar para seu povo viver. Ele goza de uma ótima localização, com saídas tanto para o oceano Atlântico quanto para o Pacífico, terras férteis, várias atrações turísticas de alto nível além de muitas outras com potencial para serem desenvolvidas. Mas uma incrível sequência de péssimos governantes que raramente concluíam seus mandatos e intervenções externas condenaram várias gerações a terem que conviver com a miséria, a violência e a falta de perspectivas.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

México - parte 6

Do México para a Guatemala

Às 6 da matina uma van em excelentes condições nos pegou no nosso hotel em Palenque. Os outros passageiros foram pegos em seus hotéis fomos embora. Paramos na fronteira em um escritório de imigração e tivemos que pagar a taxa do visto de entrada, confusão já relatada na primeira postagem sobre o México.

Chegamos ao rio que marca não somente a fronteira entre México e Guatemala, mas também é a fronteira entre a América do Norte e América Central.

A travessia é uma pequena viagem pelo rio, já que leva quase uma hora para ser feita. Enfim, estávamos na Guatemala. Um ônibus caindo aos pedaços nos esperava. Partimos depois de esperar por outro barco para encher o ônibus. Alguns minutos depois pagamos o visto de entrada em um escritório do governo e recebemos nossos carimbos. As paisagens vão ficando cada vez mais parecidas com as que conhecemos no Brasil. Por exemplo, em um ponto, com o ônibus parado em frente a uma casa simples, consegui ver quiabo, mamão, manga, mamona...


O busão era muito desconfortável e corria muito pouco. Em alguns momento eu temia que seríamos ultrapassados por caminhão de lixo com os trabalhadores correndo atrás carregando as latas. Depois de umas horas, entra um rapaz no ônibus e se apresenta como um funcionário da empresa de ônibus e que era guia turístico e que nos daria informações gratuitas e, é claro, ficaria à disposição se quiséssemos contratar algum serviço.

Mas, alguns minutos depois, o busão começou a engasgar e parou. Pensamos que o motor havia fundido ou fosse um problema mecânico, mas era algo que nós nunca havíamos presenciado: o ônibus parou porque o combustível acabou! Como pode uma coisa dessas?! Só aí perdemos mais de uma hora, entre o motorista ir à cidade de corona na garupa de uma moto, comprar combustível e voltar num tuc tuc.


Mas tudo acabou bem. Ao final da tarde já estávamos alojado em um pequeno e simpático hotel na ilha de Flores.