domingo, 30 de setembro de 2012

Reino Unido - parte 4

A Cidade, Big Bang, Buckingham

Desde criança os cenários londrinos como o Big Bang, o Parlamento ou o Palácio de Buckingham figuravam na minha lista de coisas a serem vistas. Mas Londres é muito mais que isto. Ela não apresenta o defeito de muitas outras metrópoles famosas de serem apenas uma grande cidade com pontos turísticos totalmente descontextualizados.


A cidade funciona para os moradores, para as empresas e também para os turistas. Com mais de 2000 anos e sendo capital de um país que se acostumou à vanguarda, Londres parece tentar passar a mensagem de que é necessário preservar os monumentos que lembram a sua gloriosa história sem que isto interrompa os seu desenvolvimento. Então é muito comum ver construções modernas no meio de prédios antigos, mostrando que não só foram, mas continuam sendo grandes.


Não é a toa que muitas pessoas sonham em um dia poderem morar lá. As possibilidades de lazer, com eventos artísticos ou esportivos, são enormes, além de comportar vários museus de primeiríssima linha, a maioria de acesso gratuito. Como gostamos de museus exploramos esta facilidade. Apesar da fama de ser uma cidade cara, ficando em albergues e aproveitando as atrações gratuitas Londres com certeza ainda é uma das melhores cidades do mundo para se visitar.


Museus de Londres

Se você curte um bom museu, Londres é o melhor lugar para você se lambuzar no mel. A Inglaterra deve ter sido o primeiro país a dar grande valor a estas instituições como guardiãs da documentação de sua história e da humanidade. O melhor de tudo é que os museus ligados à história e cultura são de acesso gratuito e são muito bem organizados. A seguir, um pouco do que vimos nestes lugares.

Museu Britânico: no meio de incontáveis preciosidades, está lá, nada menos que a Pedra de Roseta. Trata-se de um pedaço de granodiorito do Egito, no qual, há mais de 2200 anos um decreto foi redigido em três línguas: hieróglifos (Egito Antigo), demótico e grego antigo. Através dela foi possível decifrar boa parte do que se tinha registrado da literatura do Egito Antigo.


Como se fosse pouco, este museu ainda abriga a múmia de Cleópatra. Mas está tão enrolada na mortalha que o que se vê é uma estranha trouxa. Mas eles garantem que a rainha tá lá dentro.


Museu de História Natural: ótimo e muito bonito museu, além de extremamente educativo. Em um salão, colocaram uma réplica em tamanho real de uma baleia azul, com cópias e espécimes bem empalhados de elefantes, cachalotes, leões e a bicharada toda. A área de Geologia é muito boa e fica lotado de crianças trazidas em excursões.


Museu Imperial da Guerra: tenta retratar as guerras que o Reino Unido esteve envolvido (e não foram poucas), com excelente material. Há um simulacro de uma trincheira, usada na Primeira Guerra, muito bem montado. Este negócio aí do meu lado é uma réplica da Little Boy, primeira bomba nuclear que os EUA jogou sobre o Japão.


Museu de Ciências: É possível virar um expert em Revolução Industrial só estudando o que é exposto sobre o tema neste museu.

Se voltarmos a Londres, sabemos que tem mais um monte de museu para visitar, que ficaram para trás (chega uma hora que enjoa, né).

sábado, 29 de setembro de 2012

Reino Unido - parte 3

Parada Gay

Saímos pela cidade para comprar tênis novos. Os All Star que compramos na China eram legítimas falsificações e depois de um mês já estavam rasgados. Começamos a ver pelas ruas muitas pessoas com roupas espalhafatosas e casais homossexuais de todos os sexos. É que naquele dia ia rolar uma Parada Gay, ou um evento do tipo. Aí resolvemos acompanhar, já que nunca tínhamos participado.

Várias coisas nos impressionaram. As forças armadas inglesas são representadas. Homossexuais que estão na ativa montam os blocos e participam, só que marchando. Várias empresas são representadas também, com faixas, camisetas e distribuição de adesivos, como Google e British Airways. Depois passam delegações de dezenas de países. Coisa fácil de se organizar em uma cidade tão internacional quanto Londres.


O Brasil estava lá e fez bonito. Mas o mais engraçado, ou triste, é que pastores de igrejas fazem discursos e expõem seus cartazes durante a passeata, em um ponto central. Eles ficam isolados pela polícia e se revezam em discursos e leitura de trechos da Bíblia acusando os manifestantes de pecadores.

Mas neste ponto é que acontecem as coisas mais engraçadas. O mais comum é os manifestantes vaiarem com tanta força ao ponto de abafar os crentes. Vários casais de barbudos param em frente a eles e trocam beijos apaixonados. O desfile acaba em uma praça em frente ao Galery Museum, com bandas de música e outras apresentações.


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Reino Unido - parte 2

Um pouco de História

Na Pré-história os celtas ocupavam a Grã-Bretanha, a Irlanda e boa parte da Europa Continental. Eram centenas de grupos independentes entre si compartilhando costumes parecidos. O Stonehenge é uma de suas heranças. O Reino Unido (UK) é formado pela Ilha da Grã-Bretanha mais a Irlanda do Norte, além de várias ilhas mundo afora. Somando tudo a área é menos que meia Minas Gerais. Apesar do tamanho do território, os ingleses sempre deram um jeito de estar no centro dos acontecimentos.

Em 43 d.c. Roma domina a ilha. Ficam uns 400 anos e a abandonam. Dava um trabalhão ficar brigando com as tribos celtas enquanto o Império declinava. Entre os séculos 8 e 11 os dinamarqueses farrearam por lá. Apesar de excelentes guerreiros e ótimos navegantes, tinham dificuldades em se organizarem em uma liderança única que pudesse dominar toda a ilha. Em 1066 a ilha foi conquistada pelos normandos, que instalaram o feudalismo.

A Escócia por muito tempo foi a carne de pescoço da ilha. Os ingleses tiveram muito trabalho, durante séculos para conquistá-los e quando conseguia nunca era fácil manter o controle. Hoje a Escócia é uma das nações que formam o UK. Já a Irlanda... a cerca de 1000 anos os Ingleses se declararam donos da Ilha. Resultado, quase mil anos de peleja entre os dois. Quando os Ingleses se tornaram protestantes, expulsaram uma boa parte da população católica do norte da ilha e distribuiu para colonos britânicos protestantes. Hoje a ilha da Irlanda é dividida entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte, onde até há alguns anos havia um conflito armado.

O inimigo histórico por um bom tempo foi a França. Ingleses e franceses fizeram várias guerras, saíram pelo mundo dominando nações às vezes mais antigas e evoluídas do que eles próprios (exceto em termos militares), como Índia, Vietnam, China e várias nações africanas. Esta prática durou até pouco depois da Segunda Guerra, quando boa parte desses povos conseguiram suas independências. Porém, como os Estados Unidos se tornou a maior potência econômica após 1945, o idioma Inglês e foi a língua que prevaleceu como universal e dificilmente será superada.

No currículo dos ingleses está a vitória final sobre Napoleão, tornando-se assim a maior potência naval no século XIX. O Império Inglês atingiu seu auge após herdar da Alemanha derrotada na Primeira Guerra Mundial suas colônias africanas e as possessões otomanas, em 1921.

Mas apesar dessa força toda, os ingleses passaram os anos pós Primeira Guerra vendo a Alemanha se recuperar das cinzas e se tornar o país mais poderoso do mundo. Na Segunda Guerra a Alemanha dominou praticamente toda a Europa e foi por pouco que não domina também o UK. Mas os ingleses acordaram a tempo e estabeleceram uma resistência feroz. Isto foi fundamental, pois a ilha pode ser o ponto de entrada dos Estados Unidos na Europa.

Os tempos de liderança acabaram formalmente em 1956. França e UK dominaram o Egito, que era aliado da URSS para controlarem o Canal de Suez. A URSS exigiu que se retirassem do Egito, caso contrário Londres e Paris seriam bombardeadas naquele instante. Desde então França e UK não se envolveram em guerra sem a anuência dos EUA.

Os ingleses não inventaram o rock, mas geraram os Beatles, Rolling Stones, Pink Floyd e Queen. Criaram o futebol, mas só ganharam uma Copa, em 66. Depois disso a única grande contribuição para o futebol foi a criação do tal do fair play, ou jogo limpo. Mas é treta. Se o bicho pega eles dão canelada como qualquer um. Criaram o Cricket, o Rugby, o Tênis, a Fórmula I... ou seja, na guerra cultural entre França e ingleses, estes foram os grandes vencedores.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Reino Unido - parte 1

Chegada

Ao chegar em Londres sem nossos cartões de crédito começamos a nos preocupar com a imigração. Estávamos cansados, chateados, mal vestidos e escabelados, mas tínhamos carta convite, passaportes cheios de carimbos e bilhete aéreo de saída. Passamos por uma entrevista, mas deu tudo certo.

Temos dois amigos morando em Londres que nos hospedariam. Pegamos o metrô e cerca de uma hora depois estávamos no ap da Carol e do Angelo. Nos demos bem demais. Os dois moram em plena Área 1. Com 10 minutos de caminhada estávamos em frente ao Palácio de Buckingham. As principais atrações da cidade eram acessíveis a pé.

O Angelo é nosso amigo desde a faculdade. Inclusive é nosso padrinho de casamento. A Carol, ainda não conhecíamos pessoalmente, mas não foi nada difícil gostar dela de cara. Quando chegamos ao ap fomos recebidos com muita alegria e um belo jantar. Até relaxamos após a turbulência no aeroporto de Moscou.

Por uma feliz coincidência, naquela noite o Angelo e a Carol haviam convidado para jantar uma vizinha, a Anastásia. Natural do Azerbaijão, filha de russos, casada com italiano e fluente em português. A jovem falava então inglês, francês, italiano, português e... russo, a língua oficial de seu país.

Durante o jantar contamos nossa história e a Anastásia, por falar russo, nos ajudou ligando para o aeroporto de Moscou para tentar alguma coisa. Ela falou com um, com outro e mais outro e até com a polícia. No dia seguinte ela ligou de seu trabalho e nada. Então desistimos. Cancelamos todos os cartões perdidos e mandamos um email para nossos amigos no Brasil perguntando se alguém estava com viagem para a Europa programada.

Por mais um feliz coincidência, um amigo viria para a França no mês seguinte. Este país havia saído a muito da nossa programação original, quando decidimos trocar França, Itália, Holanda e Espanha pelo Leste Europeu e com isso economizar bons euros. Mas não havia melhor saída, mudaríamos nosso roteiro novamente para buscar nossos novos cartões na França.

domingo, 23 de setembro de 2012

Rússia - parte 8

Adeus Lenin

A Rússia nos deu algumas das melhores surpresas até agora. Em vários momentos a tensão se transformou em alegria. A Transiberiana vale a fama, e é muito mais tranquila do que pretendem as lendas ao redor, sobre máfia russa, risco de roubos, etc. O mais difícil mesmo é a língua. Mas estamos aqui para provar: sem falar russo, com calma e cara de pau, conseguimos comprar todos os bilhetes e sair de enrascadas sem intermédio de agências.

A Rússia é tanto asiática como europeia, pela posição geográfica. Mas o comportamento e a cultura deste povo é muito diferente do que o senso comum entende como europeu. E muito menos podem ser chamados de asiáticos. Marcados pelos invernos, guerras, religião, comunismo, os russos são um povo único, assim como os indianos e chineses. Talvez por isso carreguem um forte estigma, que os torna temidos, respeitados, odiados e amados.

Passamos pelo país famoso pelos seus invernos no auge do verão. Longas horas de dias claros e ensolarados onde os termômetros ultrapassaram 30 graus várias vezes. Nessa época as pessoas sentem urgência de estarem ao sol. Vimos várias vezes meninas e rapazes em trajes de banho às margens de um rio ou lago e com algumas garrafas de bebida à mão. Ou esparramados em gramados de praças.

Chegamos a ver até uma jovem na área rural, com enxada na mão, trabalhando na lavoura de biquíni. Detalhe que os rios e lagos congelam no inverno e são gélidos em qualquer época do ano. Mas isso não impede os russos de se banharem. Existe até um ritual de entrar na água gelada para aumentar a resistência no inverno.

Ironia do destino, o momento mais emocionante de toda a viagem até o momento se deu logo à saída do país. Estávamos em Moscou, dia perfeito. Horário de nosso voo rumo a Londres 17:15h.

Episódio I: O dia da partida

Deixamos o dia inteiro livre, apenas dedicado à partida. Jogamos baralho, comemos, bebemos cerveja, nos despedimos das efêmeras amizades de albergues, fizemos as malas e, quando vimos estávamos completamente atrasados. Chegamos ao guichê apenas meia hora antes do portão de embarque se fechar. O check-in estava encerrado. Como nossas mochilas são do tamanho aceitável como bagagem de mão nos mandaram correr para embarcar, mas ainda tínhamos que passar pela emigração.

Episódio II: a corrida

Saímos correndo. Para cortar caminho, tentamos passar por baixo daquelas faixas presas em suporte que forma as divisórias da fila. Como eu estava com uma mochila nas costas e outra ao peito, não consegui me encolher o suficiente e saí derrubando tudo. Morto de vergonha, remorto de medo de chamar a atenção de policiais e com mais medo ainda de perder o voo, retirei as mochilas que se embolaram com as faixas e fui atrás de Renilza.

Episódio III - A desistência

Na entrada da área de segurança, onde passamos pelo raio-x, percebo que meu bilhete estava com as duas partes destacadas. A loura mal educada nos manda retornar. Então, com o horário praticamente no limite, resolvemos desistir. Chegamos ao guichê para tentar remarcar o nosso voo. A moça imprime outro bilhete e manda a gente correr, pois não havia vaga em nenhum voo para Londres naquele dia.

Episódio IV – A volta dos que não foram

Corremos de novo. Faltam menos de 5 minutos para o portão de embarque fechar. A gente garra no raio-x, pois como não embarcamos a bolsa com os itens que não podem passar na bagagem de mão, tivemos que abrir a mochila e ir largando para trás um canivete suíço, tesoura, alicate, cremes e mais cremes da Renilza, etc. Um prejuízo.

Episódio V – A emigração. Aí já era seja-o-que-Deus-quiser. Não adianta pedir pressa para esse povo. A mulher olha a foto do passaporte, olha pra nossas caras (eu já tinha 8 meses sem cortar o cabelo de diferença entre a foto e minha cara no momento, fora o suor). Faz isto mais uma vez, procura o carimbo de entrada, e eu penso: falta só a mulher carimbar a saída e nós não conseguirmos entrar no avião. Enfim, eles nos liberam.

Episódio VI – Pernas pra que te quero

Saímos correndo, por um aeroporto em que nunca estivemos, com as mochilas balançando as alças pelas lojas do free shop, ao mesmo tempo tentando ler no bilhete qual era o nosso portão. Enfim, provavelmente atrasados, somos aceitos no avião. Não sei se teve a ver com isto a gente ter sido aceito, mas o voo estava atrasado e partiu 30 minutos após o horário. Pensamos: tudo bem, entre mortos e feridos salvaram-se todos (exceto os cremes, o canivete...). Ou não...

Episódio VII – O desespero ataca novamente

Avião no ar, filme na tela, tudo em paz e damos falta de uma das pochetes: a que levava nossos cartões. Deixamos no raio-x , com 4 cartões de crédito, 2 cartões VTM pré-pagos e 3 cartões de débito. Só nos sobrou um cartão de débito do Bradesco (justamente o que cobra as maiores taxas por saque) e 600 dólares em cash.

Enquanto há vida há esperança. Recuperamos a calma e decidimos: merda mesmo é quando alguém apronta e vai preso ou quando alguém se machuca. Para todo o resto sempre há solução. Por sorte havia um comissário no avião que era brasileiro. Pedimos a ele que nos ajudasse, procurando saber se a British Airways poderia fazer algo contatando o aeroporto de Moscou.

O cara bem que tentou, mas as esferas superiores nos disseram que não podiam fazer nada. Achamos que podiam sim. Por exemplo, com um telefonema ou e-mail para Moscou talvez fosse possível localizar a nossa bolsa. Como os cartões levam nossos nomes e facilmente se podia provar, através de nossos passaportes que estavam registrados tanto na companhia aérea quanto na emigração que estivemos ali a poucas horas. Não seria difícil que fossem embarcados para Londres no próximo voo. Fazer o que, né. Bola pra frente.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Rússia - parte 7

Moscou

Esta cidade sofre uma certa injustiça. É muito mais interessante do que se dá a entender. Tem várias atrações turísticas top, como o Kremlin, a Praça Vermelha e várias igrejas lindas. Dentre estas, destacam-se a catedral de São Basílio nesta praça e a Catedral do Cristo Salvador, não muito longe dali.



O conjunto das estações de metrô é algo único no mundo. São verdadeira obras de arte. É que, no início da era comunista, existia uma ideia de fazer levar para locais populares o que havia de melhor em termos de arquitetura, dando a entender que o povo tinha o mesmo direito à arte que outrora o teve a nobreza. A ideia pegou e mesmo as estações mais novas são muito bonitas. Existe até um roteiro turístico na cidade que percorre as principais estações, mas fotos não são permitidas. 

Há um incrível museu sobre a Segunda Guerra, ou Guerra Patriótica, como eles a chamam. O único problema é que está quase tudo em russo. Uma navalhada incrível, já que tudo indica que o museu tem o intuito de receber turistas estrangeiros.


É bom ficar atento a museus ou coisas do tipo que são ligados a instituições militares, como o Museu da KGB e o Bunker 42. Ambos só aceitam visitantes que chegam via agências de turismo específicas ou com visita marcada com antecedência. Só fomos descobrir isto a respeito do Bunker no portão de entrada. Demos meia volta e fomos beber cerveja no albergue deixando de fazer uma das atrações mais recomendadas porque não agendamos. 

Kremlin e Praça Vermelha

Estes dois monumentos ficam um ao lado do outro e foram símbolo da União Soviética nos tempos de Guerra Fria. O Kremlin (fortaleza) é uma área murada, onde fica a residência do presidente. Além desta casa há igrejas, museus e muitos jardins bonitos. Há também, com suas 200 toneladas o Sino do Czar, quebrado após receber água depois de ter ardido em um incêndio, e um canhão realmente grande expostos em um passeio.


No Kremlin é necessário se expor a um esquema de segurança muito forte, que proíbe bolsas grandes e as pequenas são passadas em raio-x. As regras de circulação são muito rígidas, sendo comum ouvir apitos de guardas mandando as pessoas atravessarem a rua na faixa. 

A Praça Vermelha é muito bonita e apinhada de turistas. Um dos lados é todo limitado pelo muro do Kremlin e tem vários prédios muito bonitos, além da já citada igreja. O lugar era palco de desfiles militares que tiveram imagens veiculadas no mundo todo, com direito a caminhões transportando seus enormes mísseis. Porém, talvez a sua mais importante atração seja o mausoléu de Vladimir Ilitch Lenin, para os chegados, apenas Lenin. No entanto não pudemos entrar, pois o Mausoléu estava em manutenção.


domingo, 16 de setembro de 2012

Rússia - parte 6

São Petersburgo

Com o trecho de Yekaterinburg a São Petersburgo completamos os 9700 quilômetros previstos. A essa altura do campeonato a Rússia já tinha nos conquistado. Mesmo assim pode marcar mais um golaço. São Petersburgo foi a cidade mais bonita que conhecemos até então. E ainda é carregada de história. Foi lá que se desenrolaram as batalhas que travaram o avanço da Alemanha nazista. Milhões de russos se desencarnaram ali por este motivo.

Mas a cidade está totalmente reconstruída e é incrivelmente bonita. Um centro histórico enorme, com aquelas igrejas ortodoxas lindas, parecem feitas de doces e balas, prédios muito bem harmonizados com o rio Neva e suas pontes que, de madrugada são erguidas para a passagem de grandes navios. Dentre as igrejas, vale destacar a de Nossa Senhora de Kazan, a de São Isaac e a do Sangue Derramado.


O Hermitage, antigo palácio de inverno dos czares, hoje é um museu de artes. Um dos que reivindicam o posto de maior do mundo. Para quem gosta realmente de artes plásticas seria bom reservar 2 ou 3 dias só para ele. Nós ficamos só umas 5 horas.


A cidade é tão bonita que vale a pena deixar alguns dias só para ficar caminhando pelas ruas e parques, vendo artistas de rua, vendo pessoas de todas as idades em trajes de banho espalhadas pelos gramados e ao redor do forte São Pedro e São Paulo aproveitando o sol. Isto, é claro, só no verão.

Numa dessas caminhadas encontramos uma praça onde havia uma exposição de bonecos de ursos, um dos símbolos da Rússia. Cada urso representava um país e foi pintado por um artista plástico daquele lugar. Outros ursos mostravam frases em várias línguas sobre respeito à diversidade étnica, religiosa e cultural.



Noites Brancas

Como estávamos em época de Noites Brancas, período em que durante uns 10 dias não há escuridão total nas noites, resolvemos passar de uma data para outra sem dormir. Lá pelas 0:30h saímos a perambular pela cidade. Chegamos ao rio Neva. Havia uma aglomeração enorme em uma das pontes, que estava interditada. Não programamos nada, mas era justamente o horário em que todas as pontes seriam erguidas para a passagem dos barcos e navios.


Ficamos quase duas horas só acompanhando estas manobras. Junto aos navios de carga passavam barcos onde rolavam festas, como boates. Continuamos rodando. Próximo a outra ponte um grupo enorme de malabaristas e músicos se revezavam em apresentações. Deixamos alguns rublos e continuamos. Por fim, já era umas cinco ou seis da manhã quando regressamos ao albergue. Não se pode dizer que temos dia claro durante as 24 horas, mas é possível ler um jornal sem ajuda de iluminação artificial em plena madrugada.


O Forte São Pedro e São Paulo

São Petersburgo é uma cidade que fica às margens do Mar Báltico, no Golfo da Finlândia e é cortada pelo Rio Neva. Vários canais, provavelmente artificiais, começam e acabam neste rio, o que facilitaria o transporte hidroviário pela cidade e dificultaria uma ocasional tentativa de invasão. O Forte foi construído por Pedro, o Grande, logo após tomar a cidade da Suécia. Ele deve ter funcionado bem, ou pelo menos trouxe sorte à cidade, pois nunca mais a Suécia a reconquistou.


Hoje o forte é apenas atração turísticas. Lá dentro tem igrejas, museus, restaurantes e se pode caminhar sobre as muralhas, donde se tem outra vista da cidade. Nos fins de semana o lugar fica bastante cheio, mas dá para curtir assim mesmo.

sábado, 15 de setembro de 2012

Rússia - parte 5

Yekaterinburg

Em Yekaterinburg nos hospedamos em dois albergues. No Europe Asia passamos só a primeira noite. Era um apartamento da era comunista. Fomos recebidos no meio da madrugada por Alexander e seu cão Thomaz. Éramos os únicos hóspedes e não nos cobraram nada pela entrada antecipada. Os donos não eram muito de papo, em compensação Thomaz entrava o tempo todo no nosso quarto e tentava brincar com nossas coisas.


No dia seguinte fomos para o Meeting Point, mais barato, mais central, e o albergue mais agradável que ficamos até aqui. Outro apartamento da era comunista, com um quarto de dormir apenas. Contando com as beliches da sala, 8 hóspedes se acomodavam lá. Svetlana, a simpática bailarina que tomava conta do lugar enquanto os donos passeavam de férias ia lá de vez em quando dar uma geral, receber algum hóspede e depois ia embora. O negócio era tão tranquilo que teve um hóspede que precisava ir embora e a garota não estava lá para receber a grana. O cara pagou pra gente e nós demos a grana para a “gerente”.

O mais doido neste albergue é que devido às dimensões reduzidíssimas, os hóspedes eram praticamente obrigados a se interagir. Conhecemos várias pessoas interessantíssimas ali, inclusive uma paulista que após acabar seu mestrado na Espanha alugou seu apto em SP e estava viajando pelo mundo. Um casal de holandeses, Jeroen e Herlinda, que também estavam de volta ao mundo. Eles que só falavam em inglês, mesmo entre si. Perguntamos o motivo e ela disse: “fazemos isto porque pensamos ser a forma mais educada. Assim todos podem entender o que falamos”. Deu até um pouco de vergonha.

Continuando este diálogo, o Jeroen nos disse que na Holanda a educação pública de qualidade é mais do que um direito. É obrigação dos pais porem seus filhos na escola mesmo se forem imigrantes ilegais. O David era um inglês de pais peruanos que planejava morar no Brasil. O Gigi, Giusepe, era um italiano que falava português muito bem e já havia passado 7 meses no Brasil. Tinha um violãozinho e mandava bem com Djavan, vários sambas, Caetano.

Ele estava na Rússia a vários meses e nos ensinou muito sobre aquele povo. Disse que eram completamente diferente de nós, latinos. Falou que se um Russo entende quem você é, de onde vem, e que está no país com boas intenções, nunca te deixará passar aperto. Falou que os professores no curso de russo se preocupavam com os alunos chineses que muitas vezes ficavam sem dinheiro no fim do curso e quase não comiam. Então os ajudavam frequentemente.

Aí contamos o que se passou com a gente na fronteira com a China, quando uma russa nos conduziu resolvendo nossos problemas, pois sem que pedíssemos ajuda ela percebeu nossa situação. Contamos também sobre a Nádia e seu irmão, que nos acolheram tão bem. O Gigi disse que isto era super normal na Rússia. Falou que as meninas são muito liberais no país, mas que fazem questão de se casarem.

A holandesa ainda fez mais uma gracinha: cozinhou para todos do albergue um prato típico do seu país. Era mais ou menos um mexidão de batata, cenoura, cebola, bacon e outras coisas. 



Yekaterinburg é muito bonita mesmo, especialmente à noite. Rodamos bastante pela cidade e saímos de lá sem ver a principal atração, que seria fazer um passeio pelos Montes Urais, cadeia de montanha que geologicamente divide Ásia da Europa. Mas nos sentimos muito bem com o que fizemos. Comemos e bebemos muito bem e por muito pouco.


Usamos nesta cidade do mesmo expediente anterior. Pedimos à Svetlana para fazer uma cartinha para a moça do guichê da estação. Desta vez já compramos os bilhetes de Yekaterinburg para São Petersburgo e de São Petersburgo para Moscou. 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Rússia - parte 4

Transiberiana - Irkutsk a Yekaterinburg

A transiberiana pode ser feita em uma única viagem ou por partes. Cada um pode escolher onde e quantas vezes deseja parar. Nós decidimos parar apenas duas vezes na Sibéria. Então após 2 dias de descanso em Irkutsk pegamos mais um trecho de 40 horas de viagem rumo a Yekaterinburg.
 
                                          Estação de Irkutsk
                                         Estação de Irkutsk

Chegamos cedo à estação no dia da partida. Ficamos fazendo hora, jogando baralho e comendo pastéis. Aliás, pausa para registrar que o tempero russo é bastante parecido com o brasileiro. Existem restaurantes tipo comida a quilo, mas não são self-service e o preço é diferente para cada item. Você escolhe, eles servem e pesam item por item. É lógico que demora pacas, mas poder escolher a comida apontando foi melhor que arriscar ler o cardápio.

Nosso trem chegou meia hora antes da partida. Mas quando chegamos ao vagão, só tínhamos um dos bilhetes. O outro, perdemos. Enquanto eu abria as bolsas no meio da plataforma de embarque, espalhava tudo para ver se o bilhete estaria por ali, Renilza voltou correndo ao guichê. Mostrou os passaportes e tentava fazer a moça entender que queria que verificasse que ela havia comprado dois bilhetes, perdido um e queria que esse fosse reimpresso. Mas a russa só dizia "um bilhete, uma pessoa".

Era tarde da noite e a estação estava bem vazia. Por sorte, uma moça, percebendo o desespero da situação, se aproximou e ofereceu ajuda em inglês. Em alguns minutos o bilhete estava reimpresso, a um custo extra de o equivalente a 10 reais. Entramos no trem bufando. Custamos a nos acomodar, mas o pior já havia passado.

No dia seguinte as coisas se normalizaram. A gente acordou, comeu e fomos jogar baralho. Depois de umas horas nisso, a turma que estava próxima à gente puxou papo. Eram Nadezhda (Nádia), uma jovem russa de 20 e poucos anos, um homem de 35 com toda pinta de chinês, mas era russo, e Sergei, outro russo sem cara de russo de 40 e poucos. Ali começamos a descobrir que tem mais de um tipo de "cara de russo".


Através da Nádia, que falava um pouco de inglês a gente se entendeu. Ela era professora de história e seguia para Yekaterinburg para encontra o irmão que não via há um ano. Sergei, sujeito muito engraçado, foi quem uniu o grupo, pedindo Nádia para traduzir suas curiosidades a nosso respeito. Era soldador e perguntou se no Brasil tinha trabalho para ele. Eu disse que seria bem provável, mas ele teria que aprender português. Então virou uma farra. A gente ensinava para ele palavras em português e aprendia algumas em russo, através da Nádia, que tentava por ordem na turma.

Quando todos cansamos, Renilza e eu voltamos para o baralho. Então o Sergei virou meu torcedor. Ficava do meu lado me dando força e toda hora dizia: “Renilza problem? Ricardo no problem!”. Às vezes quando via que eu ia mal, dizia, “Ricardo, no problem, Renilza problem!”. Aí eu dizia que eu estava mal, mas ele falava igual a um treinador de boxe no intervalo da luta, que era para eu ficar calmo, que em breve estaria “Renilza problem e Ricardo no problem”. Ele comemorava comigo e cumprimentava Renilza. Vez em quando ele se empolgava e entregava meu jogo, mas ele realmente me deu sorte. Ali eu tive uma boa fase.

Éramos um grupo muito legal. Os três novos amigos eram das seguintes religiões: Nádia era batista, o russo com cara de chinês, budista e o Sergei, apesar de gostar de fumar, beber e do nosso baralho era muçulmano. Renilza e eu, brasileiros, sincretizados na fé, carregados de axé. Numa das longas e difíceis conversas, pois todos queriam falar ao mesmo tempo e a Nádia era a única intérprete, pedimos ela para nos ajudar a comprar o próximo bilhete.

Nesta viagem algo inusitado se passou. Numa das paradas uma funcionária do trem foi retirada pelos colegas completamente embriagada. Ela tentava voltar ao trem e era contida por um homem que parecia ser o chefe, enquanto uma colega levava suas bolsas. A Nádia ficou envergonhada e até virou a cara. É que minutos antes de parar estávamos falando justamente disso, de como as pessoas bebiam na Rússia.

               Uma das paradas, onde todos descem compram comida e principalmente mais bebida

Chegamos em Yekaterinburg. Sergei iria até Moscou, mas acordou com a gente às 2h da madruga, ajudou a Nádia com sua bagagem até a plataforma. Nos despedimos. Yuri, o irmão da Nádia e sua esposa a esperavam. Fomo apresentados e seguimos para o guichê. A Nádia fez a compra e disse que seu irmão nos levaria até o albergue. Recusamos categoricamente, pois não queríamos incomodar mais. Já eram quase 3 da manhã, eles não se viam a um tempão. Não adiantou.

Com nossas bagagens nos esprememos no carro, que já tinha um carrinho de bebê no porta-malas. O Yuri ainda deu uma longa volta para nos mostrar os pontos mais bonitos da cidade. Chegamos ao albergue. Como ele achou quer teríamos problemas com o interfone, desceu do carro e fez todo o trabalho de chamar a recepção e informar que estávamos lá.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Rússia - parte 3

Irkutsk

Ao chegar aí finalmente decretamos que estávamos na Rússia. A impressão gerada na fronteira, de que o país era sujo e mal cuidado, se dissipou para sempre. Descemos do vagão, negociamos um taxi sem falar sequer uma palavra em russo e o taxista em inglês. Só escrevendo os valores em um papel. Chegamos ao albergue e a recepcionista falava menos que nada de inglês. Não entendia um “hi”. Mas mesmo assim conseguiu nos mostrar o quarto, as camas e dependências.


A cidade é bonitinha e tem atrações turísticas, além de ser o principal ponto de partida para passeios no Lago Baikal, mas nos dois dias que passamos lá ficamos só a perambular pelas ruas curtindo as peculiaridades do país. Aí vão algumas:

- Está na moda por lá os rapazes usarem meias pretas com bermuda;

- Os caras tem um corte de cabelo muito esquisito. Raspam a cabeça com máquina 2 ou 3 e deixam uma franja fina na testa;

- O consumo de álcool é exagerado. Se não fosse trágico seria engraçado. Em qualquer supermercado pequeno a área reservada para bebidas é enorme, com dezenas de marcas de vodca e outros destilados. Cervejas são comuns em garrafas pet que chegam a 5 litros. Pelas 10 da tarde (lembre-se, nessa época quase não há noite em boa parte do país) os jovens andam pelas ruas com suas garrafas. Alguns com 2 de cervejas de um litro cada.

O vício é predominante entre homens. É parte da cultura. Mas mulheres também são vitimas. É muito comum ver alguém cambaleando pela rua. O governo decretou guerra, promovendo aumento de preços, controlando substâncias industrializadas usadas no fabrico, dentre outras. Em Moscou chegou-se a proibir a venda de bebida entre 22 e 8h, não se aplicando à cerveja. Me pareceu que cerveja para eles não é problema. Um estudo conduzido por uma universidade britânica atribuiu ao consumo de álcool a causa de metade das mortes de homens na Rússia entre 15 e 54 anos;

- Eles (principalmente elas, é verdade) xingam os outros com muita facilidade. Tomamos vários pitos por coisas bobas, como por passa por um local quando era indicado outro em supermercado, quando demorávamos para escolher algo, ao tentar comprar bilhetes. Mas não entendíamos nada. Ficávamos um pouco constrangidos nas primeiras vezes, mas depois passamos a achar engraçado;

- É muito comum o uso pelos homens de camisetas listradas na horizontal, tipo de marinheiro, bem como o uso de roupas camufladas como do exército;

- No trânsito são bastante educados. É muito comum parar o carro quando veem que alguém está tentando atravessar a rua.


Mas estávamos com um problema. Não sabíamos como comprar o bilhete para o próximo trecho e ainda não havíamos encontrado ninguém que falasse inglês. Mas no centro de informação nos apareceu a simpática Natalie, que nos explicou tudo sobre a cidade e as opções de compra de bilhete. Ligou para a estação, confirmou datas e horários e avisou que iríamos lá. Depois escreveu uma carta com tudo que era necessário, até a posição das camas que desejávamos. Como se fosse pouco, deixou o número do celular dela com a gente. Era para ligar mesmo fora do horário de serviço se precisássemos. Aí não tinha como dar errado. Fomos direto á estação e saímos de lá com nossos bilhetes.


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Rússia - parte 2

Expresso Transiberiana

Agora sim. Estávamos definitivamente em um trem Expresso Transiberiana. Como qualquer início, sempre há uma grande tensão. Como são as camas, a segurança, a Máfia Russa domina mesmo a Transiberiana?. Tudo isso borbulhava nas nossas cabecinhas. Bom, por partes.


Existem 3 tipos de acomodações. A primeira classe é formada por quartos para 2 pessoas. A Segunda, por compartimentos para 4 pessoas e a terceira é formada por camas em beliches ao longo dos vagões de modo a acomodar 54 pessoas cada. É a mais barata e foi a que usamos. Ela tem algumas vantagens de que gostamos muito. Os colchões são bons, mais do que satisfatórios. Há espaço suficiente para as bagagens. 


A segurança acaba sendo melhor do que parece. Com pouco tempo todo mundo que está em uma parte do vagão já sabe quem é daquele setor e quais são os pertences de cada um. Então fica difícil para o ladrãozinho tentar roubar algo já que uns acabam vigiando as coisas dos outros. De tempos em tempos as funcionárias passam vendendo de um tudo, mas fica ainda mais barato você comprar os miojos e afins nas paradas. Os russos vendem umas esfirras e pastéis bem parecidos com os brasileiros, além de embutidos e peixes defumados que não chegamos a experimentar.

O mais legal é a possibilidade de ver os russos se interagindo e se embebedando. A terceira classe é muito pouco usada por turista. Nos três trechos que fizemos encontramos apenas com duas duplas. Uma de franceses e outra de ingleses, provavelmente. Afinal, a gente é que se torna a atração turística. Como viajamos no verão, a Sibéria não tinha dada daquela paisagem coberta de neve. À medida que a viagem foi progredindo fomos nos afastando do Equador, ao ponto de acontecer de não vermos noites. Dormíamos 1h da madrugada e acordávamos cedo e era sempre dia.

O primeiro trecho, Zabaykalsk – Irkutsk tem uma atração que é ficar horas e horas contornando o Lago Baikal, maior acumulação de água doce do planeta, o que faz da Rússia o segundo país do mundo em recursos hídricos (ao contrário do Nepal, esta informação eu consegui confirmar). Apesar de ficarmos quase 40 horas dentro do trem, ao conferirmos no mapa da Rússia correspondia a um pedacinho de nada percorrido.


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Rússia - parte 1

Rússia

Nada menos que 11% de toda área do planeta formada por terra pertence a este país. Nesse terreno já houve de tudo. Tribos e impérios mataram e morreram sem miséria. O país já teve várias formas e divisões e o histórico de várias guerras ajudou a moldar este povo e também a torná-lo temido no mundo todo, principalmente na Europa, e especialmente odiado por muita gente do leste europeu.

As contribuições para a humanidade são extensas. O povo da Rússia, a exemplo do sertanejo é antes de tudo forte. É preciso muita bravura para enfrentar as limitações econômicas e o frio extremo que ano após ano marca ponto em quase todo o território. Este povo deu ao mundo nada menos do que Dostoievski, Tolstoi, a primeira estação espacial e mais um monte de coisas e cérebros.

Um pouco de história

No século XVI, sob a liderança feroz de Ivan, o Terrível, o país adquire um território colossal. A Dinastia Romanov se inicia em 1613. O país vence a Suécia em uma guerra e toma parte do seu território, incluindo o que hoje é São Petersburgo. Continua a expansão e em 1648 já faz fronteira com o Canadá. Posteriormente a extremidade do país, o Alasca, é vendida aos Estados Unidos.

O País se manteve um império, com organização praticamente feudal até 1917. Liderados por Vladimir Lenin, a Rússia se tornou a primeira nação comunista da história. A sequência de fatos gerou uma guerra civil, também vencida pelo time de Lenin. Em 1922 foi criado um novo país, a URSS, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A Rússia na teoria era apenas uma delas, mas na prática era quem realmente mandava.

A aventura socialista inspirou ou cooptou outros países a entrarem para este time. Bem ou mal, foi durante este regime que o país adquiriu um poderio militar que o coloca em posição privilegiada no cenário mundial.

Na corrida espacial não chegou à lua, mas teve grandes vitórias: pôs em órbita o Sputnik, primeiro satélite artificial, colocou o primeiro bicho em órbita (a cadela Laika), o primeiro homem (Yuri Gagarin), enviou a única sonda a Vênus e colocou em órbita a estação espacial Mir.

Desde 1945, na Guerra Fria, várias vezes fez o resto do mundo se borrar, quando protagonizou trombadas diplomáticas e militares com Estados Unidos e seus alinhados. Nunca houve um conflito militar direto entre estas nações, mas foi por pouco. Em 1962 a instalação de bases de lançamentos de mísseis em Cuba apontados para os States foi o momento mais tenso.

Em 1991 o sonho comunista (ou pesadelo) acabou. A economia do país não conseguiu sustentar os gastos militares e de manutenção da organização dos países alinhados. Foi o fim da URSS e cada nação tomou seu rumo. A Rússia voltou a ser a Rússia. Da URSS ela herdou um arsenal de primeira linha e toda a dívida externa. A economia degringolou. Várias crises se sucederam. O PIB entre 1990 e 1995 foi reduzido à metade.

Em 1998, outra crise afundou o país, levando à queda do presidente Boris Ieltsin e a chegada ao poder de Vladmir Putin. Este se manteve no poder desde então, como presidente ou primeiro ministro. Enfim, as coisas parecem ter entrado nos eixos e nos últimos 12 anos o país tem se mantido estável politica e economicamente.

Lição de casa: nunca ter a Rússia como inimiga. A história mostra que eles sabem tomar pancada e sabem mais ainda cobrar pelo desaforo.

Exemplo 1: em 1812, Napoleão invadiu o país e chegou até Moscou. A cidade estava vazia, sem vivalma e sem comida para roubar. Era uma armadilha. Famintos e com frio os franceses deram meia volta. 95% deles morreram. Os russos os perseguiram até Paris e a dominaram.

Exemplo 2: na Segunda Guerra, Hitler invade a URSS. Foi fácil até chegarem a Leningrado, hoje São Petersburgo. Aí o Exército Vermelho para os nazistas e a Alemanha começa a perder a guerra. Isto custou à Rússia a vida de cerca de 25 milhões de pessoas. Mas, eles foram os primeiros a chegar a Berlim. Esta marcha forçou os Estados Unidos a correr para chegar logo a Berlim também, pois se ficassem esperando, a URSS não se importaria em dominar toda a Alemanha e quem mais pudesse. No caminho, os países que foram sendo “libertados” dos nazistas pela Rússia iam ficando nas mãos de governos comunistas colocados por Moscou.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

China - parte 17

A fronteira

Era 13 de junho e nos despedimos da China. Fomos com nossos bagulhos à rodoviária e seguimos o fluxo. Este fluxo era composto por 3 tipos de pessoas:

- Sacoleiras russas. Na verdade até tinha uns homens no meio, mais o grosso era formado por mulheres. Elas vem até a fronteira e enchem sacolas enormes de um monte de bagulhos que possam vir a interessar às pessoas de suas cidades. Inclusive vários suvenires tipicamente russos que são fabricados na China e serão vendidos mais acolá, Rússia adentro.

- Sacoleiros chineses: pessoas nascida na China que enchem suas bolsas de bagulhos para vender no país vizinho. A fiscalização no lado russo pega mais pesados com eles. A lógica é a seguinte: os produtos chineses podem até tirar empregos de trabalhadores russos, mas pelo menos os vendedores, aqui na Rússia serão russos!

- Ricardo e Renilza: dois brasileiros, com cara de brasileiros, descabelados e mal vestidos, carregando mochilas pretendendo apenas passar pela fronteira em um trecho onde turistas são raríssimos.

Pois é. Logo de cara uma russa percebeu que estávamos perdidos. Sem nos perguntar se precisávamos de ajuda (até porque não sabia uma palavra em inglês) foi até um balcão e pediu para a gente formulários de imigração em inglês. Depois nos guiou até um guichê para pagarmos a taxa de saída. Para sair da China paga-se uma taxa de 20 yuan. Como não tínhamos mais moeda chinesa, mostramos nosso dinheiro russo para essa moça. Ela pegou a quantia equivalente em rublos e pagou pra gente a taxa com os yuans dela. Depois nos guiou como uma boiada. Aí tivemos a primeira demonstração da solidariedade russa.

Ao passarmos pela imigração russa, Renilza, que foi primeiro, agarrou com a moça da cabine. Brasileiros não precisam de vistos para entrar na Rússia há alguns anos. Mas como devíamos ser os primeiros que a agente processava, ela teve dúvidas. Consultou no seu caderno, pegou o telefone e falou com alguém por vários minutos. Veio outro agente até a cabine e ligou para outra pessoa (enquanto isso eu tentava falar de futebol com russos e chineses na fila), e, por fim, liberaram a entrada de Pretinha.

Eu gozava da mesma situação e passei fácil. Mas na etapa seguinte fomos parados por um agente russo, com cara de chinês, falando inglês, e nos perguntou se transportávamos drogas, dinheiro não declarados, contrabando em geral, nossas profissões, o que queríamos fazer na Rússia... o cara foi educado, que fique claro, mas o interrogatório foi tenso. Pesou nossas mochilas e como não viu nada de errado nos deixou entrar. Pronto. Oficialmente estávamos na Rússia.

Foi só passarmos a fronteira e já vimos a diferença. A China é um lugar limpo. As grandes cidades tem o ar poluído, mas não é comum ver lixo pelas ruas. Ao passarmos a fronteira começamos a ver uma quantidade enorme de lixo espalhada. Mas, felizmente isto parece ser um problema isolado, pois foi só sairmos de Zabaykalsk e não vimos mais sujeira. Também vimos logo depois da fronteira alguns carros russos e uns caras fazendo algum tipo de obra, usando aquelas camisetas listradas clássicas.

O ônibus nos levou direto à estação. Lá tínhamos que trocar nossos bilhetes provisórios pelos tickets de embarque. Uma dupla de guardinhas se ofereceu para ajudar. Um era russo e outro armênio. Este falava um pouco de inglês e pediu para tirarmos uma foto com a gente. Não chegou a pedir autógrafos, mas estava na cara que fizemos sucesso. Esta passagem de fronteira foi um dos casos em que ajudou um de nós estar usando uma camisa do Brasil. 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

China - parte 16

Mănzhōulǐ (pronuncia-se mandjouli)

Acabamos não sabendo afinal qual era a população desta cidade. A Wikipédia diz que é 300 mil. No nosso guia falava de 60 mil. Mas chegando lá tivemos a certeza de que era algo entre 50 e 100 mil mesmo. O fato é que, o porte dos prédios e a quantidade enorme de neon espalhado pela cidade mostra o grande otimismo do chinês. A cidade surpreendeu. Bonita, limpa, bem planejada, muitos hotéis.

 
Normalmente procuramos sozinhos o hotel, mas este nos mandou email dizendo que por 2 dólares mandaria um carro nos buscar. Como era noite e barato aceitamos. Como combinado, um carro mandado pelo hotel nos esperava na estação. Era um BMW todo bacana com um motorista que não falava inglês. Começamos a desconfiar que o cara deveria ter confundido os turistas. Mas no trem, já na última estação, estava bem vazio e não vimos mais ninguém com cara de turista.

O caminho para o hotel nos fez cair o queixo. Em lugar nenhum no mundo vimos uma cidade daquele porte com tantos prédios enormes e com tanta luz. Finalmente chegamos ao hotel e a fachada nos fez pensar que realmente algo estava errada. Era bonito de verdade, bastante luxuoso e bem grande. Pensamos: “Não é possível que vamos pagar menos de 30 dólares a noite para ficar num hotel assim. Esses chineses vão nos extorquir mais grana. Vai dar merda”. Mas estávamos tão cansados que não discutimos.


Como ninguém na recepção nem arranhava o inglês, o gerente veio nos receber. O cara era super educado, se ofereceu para nos ajudar no que fosse preciso, nos passou seu celular, etc. Nos mostrou o hotel, a sauna, piscina, academia, restaurante. O quarto foi o melhor em que ficamos nesta viagem. Ganha até dos hotéis em Bali, pois além de ser mais barato a internet era um foguete. O gerente colocou um roteador no nosso quarto pra pegar melhor.

O hotel fornecia uns pijamas muito confortáveis e todos os hóspedes transitavam sempre usando os mesmos. Nos arrependemos logo de termos reservado apenas 3 noites. Ali era para ficar escornado por uma semana ou mais, heheheh. O café da manhã era farto, mas muito longe do que estamos habituado. As únicas coisas que conseguíamos reconhecer era ovo, meio azul, e arroz. Tentamos provar uma das sopas. Não deu. Ficamos só no ovo mesmo. Agora, para o jantar e almoço, por apenas 1 dólar tínhamos um buffet liberado, com opções muito boas.

Diariamente o gerente nos procurava ou nos ligava para saber se precisávamos de algo. Estava preocupado porque ninguém na cidade falava inglês. Ele foi a pé com a gente na estação, que era bem próxima ao hotel e fez toda a negociação para comprarmos nossas passagens de ônibus para atravessar a fronteira e a do próximo trecho da Transiberiana, Zabaykalsk – Irkustk.

Então chegamos a seguinte conclusão: como o hotel era novo e sua inscrição nos sites de reserva de hotéis era muito recente, eles precisavam acumular avaliações e comentários, de preferência bons, para que o hotel pudesse disfrutar bem das vantagens desses sites. Realmente, quando se escolhe um hotel que, mesmo com boas notas tem poucas avaliações, o risco de não ficar satisfeito é maior. Mas, em compensação, é uma boa oportunidade de conseguir verdadeiras barbadas em hospedagens.

Para nossa surpresa, Manzhouli é uma cidade bilíngue. Tudo está escrito em mandarim e russo! A cidade vive da extração de carvão, usinas termoelétricas e do comércio de fronteira. Os russos vêm em peso até ali para comprar mercadorias que, através da Transiberiana serão distribuídas pela Rússia toda e outros países da Europa. Os comerciantes chineses, como logo viam que não éramos dos seus pensavam que éramos russos. Mais ou menos assim: se uma pessoa não é chinesa ela só pode ser russa. Então já nos ofereciam as mercadorias falando este idioma. Quando dizíamos “no, thanks” elas disparavam a rir, como se fôssemos ET.’s. Aliás, a cidade não é muito visitada por turistas. Esta rota que escolhemos da Transiberiana é muito pouco popular. No nosso trem Beijing Manzhouli não havia mais nenhum turista.

A cidade e a mina de carvão

Manzhouli é uma cidade em construção e que está sendo preparada para receber turistas. Temos certeza de que não demorará para entrar forte neste mercado. Ela é bonita, ótima para fazer compras e ainda é acessível pela transiberiana. A cidade tem pracinhas muito bonitas, construções antigas e modernas e um monte de estátuas interessantes, mostrando traços das culturas chinesa, mongol e russa.

Numa praça, há uma estátua bem bonitinha de dois ursos, um panda e um polar dançando abraçados, simbolizando a amizade entre russos e chineses (que nunca foi tão forte assim...).


Descobrimos que era possível visitar a mina de carvão, que opera a 110 anos. Resolvemos ir dar uma olhada. Só dava para fazer isso mesmo. Conseguimos chegar a um mirante e pudemos ver algumas operações de lavra, mas nada muito diferente do que já conhecemos. Neste mirante foram colocadas umas estátuas de mamutes, animais bastante presentes por ali há alguns milênios. Tiramos nossas fotos e voltamos para o aconchego do hotel. No dia seguinte pisaríamos em solo russo.


Este é o nome do hotel em mandarim, russo e inglês:
满洲里秀山国际商务酒店
Международный развлекательный комплекс “Сю Шань”