sábado, 28 de julho de 2012

Nepal - parte 4

Tongba, a cerveja quente Tibetana

A comida no Nepal é muito saborosa. Frango, peixe, boi, porco, carneiro, búfalo. O tempero é muito bom e o conjunto em nada remete à culinária indiana. Depois de duas semanas em fast food’s na Índia era do que precisávamos. Em um restaurante, estranhamos o preço de uma cerveja, que era muito mais barata que as outras, coisa de meio dólar. Perguntamos o que era e o garçom explicou que era a tongba, a tradicional cerveja tibetana. Em um recipiente cilíndrico de madeira coloca-se milheto fermentado (pelo menos é o eu descobri na internet). Adiciona-se água quente até completar o vaso e espera-se uns 5 minutos. Bebe-se quente mesmo. Não é refrescante, pelo contrário, é ideal para beber no frio. Não se parece em nada com a cerveja a que estamos acostumados, mas é muito bom. Eles deixam uma garrafa térmica com água quente com a gente e é só ir completando o copo á medida que se consome.



terça-feira, 24 de julho de 2012

Nepal - parte 3

Kathmandu

Parafraseando o Lonely Planet, Thamel, o centro turístico de Kathmandu é uma Disneylândia para mochileiros, com milhares de empreendimentos principalmente voltados para trekking, hotéis, lojas, agências e o que mais for possível. Apesar da pobreza e da bagunça, o bairro é muito charmoso.

Kathmandu tem cerca de 1 milhão de habitantes e fica no meio de um vale. Para qualquer lado que se olhe, a sensação é de estar dentro de um anel de montanhas. O clima em maio é praticamente o mesmo de Belo Horizonte em outubro.

Outro ponto forte do país foi a culinária. Muito equilibrada, com temperos muito saborosos e com a opção verdadeira de pratos sem pimentas, pudemos comer frango, peixe, carne e boi, búfalo tudo preparado de forma equivalente aos métodos brasileiros.

A Praça Dulbar

Esta é a principal atração da capital. Paga-se uma taxa de cerca de 5 dólares por pessoa para poder visitar a praça por 3 dias consecutivos. A praça mesmo é cheia de construções estilo medieval, muitas vezes em posições assimétricas. Vacas sagradas são comuns por todo lado e pseudos homens santos se oferecem para serem fotografados com você, por dinheiro, é claro. Já as crianças, às vezes posam para as lentes só para verem suas fotos na câmera do turista, depois continuam brincando. O artesanato é de excelente qualidade, sejam as esculturas ou artigos de lã e couro. Os preços vão depender de quão bom negociador é o comprador. Neste sentido o Nepal acabou se mostrando um excelente estágio de preparação para a China, o país seguinte.
 


O Mosteiro

Um pouco afastado, mas possível de se chegar a pé, fica o Mosteiro Swayambuinath no alto de uma montanha. É muito bonito, com grandes estátuas de Buddha, estupas e outras construções e umas dezenas de lojinhas de artesanato. Há também macacos por todos os lados. Monges mirins se deixam fotografar por algumas rúpias e de lá se tem uma ótima vista da cidade.


domingo, 22 de julho de 2012

Nepal - parte 2

A chegada

O horário oficial o Nepal é 15 minutos deslocado do da Índia. Ou seja, se na Índia é 8h, no Nepal são 8h15. A justificativa seria deixar claro que “aqui não é a Índia!”. Se isto é verdade, quem tomou esta medida nunca deve ter ido à Índia. Eu imaginava o Nepal como um país coberto de neve, mas na maior parte do território isto não é verdade, principalmente em estações quentes. Se dissermos que o Aeroporto Internacional de Kathmandu se parece com a rodoviária de BH estaríamos sendo injustos com nossa estação de ônibus. Mas isto me agradou. Afinal, sendo um dos países mais pobres da Ásia seria hipocrisia equipar um aeroporto como os melhores do mundo só para agradar um punhado de turistas.

Recebemos nossos vistos e da porta do aeroporto já avistamos um rapaz com um cartaz escrito “Ricardo Luís”. O trauma que tivemos na Índia fez isto parece uma grande demonstração de organização. Fomos instalados e gostamos do custo benefício observado. O país estava em greve geral e assim ficou até o penúltimo dia de nossa estada. Vimos passeatas, interdição de estradas, pancadaria pela televisão, mas isto pouco nos afetou. As partes parecem concordar em não envolver o turista nas questões internas. E fazem bem, pois segundo o Lonely Planet cada turista deixa no país o equivalente ao ganho anual de 10 a 12 trabalhadores.

Apagões e Recursos Hídricos

Em todos os dias que passamos em Kathmandu, a capital do país, houveram cortes programados de energia. Em média 10 a 12 horas/dia. Daí se vê o grau de desenvolvimento industrial do Nepal. Certo dia, melhor, certa noite, escura, conversávamos com o dono da pousada em que estávamos e em dado momento o cara nos perguntou se no Brasil havia apagões. Dissemos que não. Há uns 10 anos ocorreu um risco sério de isto acontecer, mas foi devido a um conjunto de fatores particulares, como a péssima administração do governo federal dos investimentos necessários ao sistema elétrico junto com a falta de chuvas. Mas o apagão mesmo acabou não acontecendo. O cara disse: “mas vocês brasileiros tem bons governantes!”. Eu disse que com certeza não era por isto. Mais importante talvez que ter bons governantes é ter um sistema de governo que não fique mudando tanto.

Verdade seja dita, mesmo na ditadura se manteve no Brasil o sistema presidencialista. No Nepal já houve de quase tudo nas últimas 3 décadas. Todo nepalês conhece o Brasil. O que eles dizem é o seguinte: o Nepal é o segundo país do mundo em recursos hídricos e o primeiro é o Brasil. Duvidei desta segunda colocação assim que ouvi o primeiro garoto a proferindo. O Nepal é pouco maior que Pernambuco e imaginando seus mapas, não me lembrava de nenhum rio responsa. Dias atrás pesquisei na Internet e não vi o Nepal mostrado em nenhuma lista dos países com os maiores recursos hídricos. Se alguém tiver alguma informação sobre o assunto, por favor comente.

sábado, 21 de julho de 2012

Nepal - parte 1

Um pouco de história

Monarquias se formaram na região do Nepal desde o século VIII A.C.. A Dinastia Gupta tornou o reino independente e depois disso várias outras se sucederam. Sidarta Gautama, o Buddha é a estrela da história do país. Ele nasceu no século VI A.C. onde hoje é a cidade de Lumbini, que naquela época era parte da Índia e agora é território Nepali. Apesar disso o Hinduísmo é a religião predominante no país. A história do país é recheada de passagens muito violentas.

Exemplo 1: em uma guerra que unificou boa parte do país, o comandante do exército que se tornou vitorioso, após romper a resistência oferecida por uma das cidades contrárias a seus planos, mandou cortar os lábios de centenas de homens para servir de lição. Após a notícia se espalhar, as outras cidades praticamente não ofereceram resistência.

Exemplo 2: no meio do século XIX um tal de Jung Bahadur assassinou o monarca e colocou no poder um pau mandado seu.

Exemplo 3: já em 2001, O príncipe Dipendra disparou contra sua família matando pais, irmãos e quem mais estava no jantar. Foi baleado também, não se sabe se em tentativa de suicídio ou por outra pessoa. Ficou em coma por três dias e morreu. Nesses 3 dias ele foi oficialmente o rei do país.

Os últimos 160 anos foram marcados por várias trocas de poder, envolvendo dinastias de legitimidade altamente contestada, ditaduras, efêmeras democracias, revoltas etc. Até 1990 o Nepal era uma monarquia absolutista. Em 1991, reformas transformaram o país em uma monarquia parlamentarista, que durou até 2006, quando se extinguiu o cargo de Rei. Entre 2006 e 2007 funcionou um governo provisório e em 2008 o país se tornou uma República.

Desde 1990 nunca um governante ficou no cargo por mais de 2 anos, seja por colapso interno, por deposição exigida pelo rei ou pelo congresso. Greves gerais são muito comuns e o sistema produtivo do país vive capengando, principalmente devido à grande instabilidade política, que acaba impedindo investimentos externos. 52% da população é analfabeta.

A organização social compreende também várias aldeias que possuem suas próprias línguas e chefes reconhecidos como soberanos internamente, o que frequentemente complica as relações governamentais.

Gurkha

No início do século XIX houveram vários conflitos envolvendo ingleses, indianos e nepaleses. Numa guerra contra uma organização política do Nepal os ingleses, mesmo vitoriosos ficaram tão admirados com os soldados gurkhas que passaram a recrutá-los. Até hoje milhares de nepaleses se ingressam em tropas especiais e regulares inglesas. É comum a existência de batalhões só de nepaleses, onde o comandante, mesmo sendo inglês deve falar nepalês.

Algum tratado entre governos britânicos e o Nepal permite isto. Hoje o governo do país asiático tenta reverter este acordo, pois seus melhores homens vão defender outro país. Mas ser aceito nas forças inglesas muda a vida de praticamente qualquer jovem nepalês. O salário como soldado inglês é por volta de 50 vezes o ganho mensal médio como trabalhador em seu país natal.

Os Gurkhas são famosos no meio militar pela agressividade, obediência total à liderança e por serem ótimos no combate corpo a corpo, fazendo uso de artes marciais e de sua famosa faca encurvada. Mesmo hoje quando combates corpo a corpo em batalhas são mais raros, eles se destacam pela incrível resistência física, força, adaptabilidade a qualquer terreno e clima e também pelo uso eficaz de equipamentos modernos.

Nos testes de seleção de jovens, uma das provas é uma corrida de cinco quilômetros morro acima em que cada garoto deve levar uma mochila com 25 quilos de pedra. Os argentinos sofreram em suas mãos na Guerra das Malvinas e hoje, tropas inglesas fazem uso do expediente em território iraquiano.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Índia - parte 13

Cinema

Na Índia, não deixe de ir ao cinema. Os filmes são em hindi mas dá pra se divertir. Fomos uma vez em Jaipur. O cinema, para umas 2000 pessoas fora construído com muito luxo e ainda mantinha um bom conforto. Era a tarde e no meio da semana, mas mesmo assim lotou. O filme, de nome TEZZ era de ação, pretensamente hollywoodiano. A trama se passa toda na Inglaterra e envolve terrorismo, dramas familiares, efeitos especiais nada especiais. Melhor seria dizer “efeitos comuns”. Só com uma imaginação muito inocente se pode engolir um roteiro desses. Imagine uma Londres onde o chefe do sistema de trens e o chefe de polícia são indianos. Os ingleses, branquinhos como eles só, falam hindi. Tem mais um monte de lorotas. No meio do filme a trama do nada é interrompida por um espetáculo musical totalmente fora do enredo. Não há beijos e muito menos sexo. Tudo vai indo, vai indo e as luzes na sala se acendem: é o intervalo, ora! Todos vão ao banheiro, compram mais pipocas, voltam e continua o filme. As pessoas interagem com os atores, batem palmas, enfim, é a Índia.

Não adianta tentar. Os filmes americanos são lançados na Índia, mas não fazem nem cócegas no mercado cinematográfico local. Eles gostam é do cinema deles mesmo. E estão ficando mais organizados. Há uns 10 anos eu li em algum lugar que, para evitar bagunça, os atores eram registrados em um banco de dados e os trabalhos que desenvolviam eram registrados servia também como um currículo. Uma regra era bastante clara: cada ator podia participar da gravação de, no máximo 14 filmes ao mesmo tempo.

Miséria e o romantismo

A Índia é um país tão complexo que é difícil entender como continua funcionando, como que ainda não entrou em colapso. Qualquer tentativa de explicação é pura presunção. A complexidade é pesada. A beleza ali arde, é sentida, tem cheiro e som. É preciso ser filtrada, mas a presença é forte. Meu olhar cartesiano se mostrou insuficiente para definir aquilo. Há quem diga que com o tempo passa se a gostar do país e com um pouco mais se apaixona. Não nos demos tempo para uma coisa nem outra. Minha resposta na lata seria “não gostei”. Porém foi a experiência mais forte até este ponto da viagem. A Índia nunca mais deixou de ser assunto. Quando encontramos com outros viajantes que lá estiveram, rapidamente o país se torna o centro da proza.

A miséria me incomoda. E romantizar o assunto para mim é quase um crime. Se aceitar ratos passando por seus pés é parte da cultura, não quer dizer que isto não possa ou não deva ser mudado. A violência parece já fazer parte da cultura brasileira e mesmo assim não acho que por isso devemos aceitá-la. Então discordo de quase todos os depoimentos que tentam romantizar a miséria indiana (ou qualquer outra) tentando mostrar que é aceitável porque é cultural. Me recuso a aceitar isto. Neste país ainda se “fabrica” eunucos. Pais pagam para mutilar seus filhos para conseguir alguma vantagem com isto no futuro. É proibido, mas e daí? Já existem organizações e associações de eunucos pelo país. Este tipo de coisa é uma das partes da miséria que não se pode aceitar ou alimentar.

A organização do trabalho passou longe dali. Um hotel pequeno, com capacidade para uns 6 hóspedes (home stay) costuma ter 4 ou 5 funcionários. Camareiros entram dois a dois nos quartos para limpá-lo, demoram horrores e quando saem o serviço ainda está por ser feito. Vimos obras caseiras, os puxadinhos, ocupando mais de 10 trabalhadores. Coisa que no Brasil, que nem é lá essas coisas em termos de produtividade se faz com 2 pessoas. E o pior: é muito comum as mulheres em uma obra fazerem o serviço mais pesado. Mas não me arrisco a tentar apontar algum caminho neste sentido. Uma mudança radical nas relações de trabalho e de produção poderia talvez levar á morte milhões de pessoas. Tenho sempre que me lembrar de que o sistema atual alimenta (mal, é verdade) 1,2 bilhões de pessoas. Mas nem todos precisam passar por essas magrelas. A casa mais cara do mundo está na Índia. Custou ao seu dono cerca de 1,7 bilhões de reais. Tem 27 andares e a conta de luz mensal supera 200 mil dólares.

Recomendo muito a quem sonha em conhecer a Índia que vá lá. A emoção é garantida. É preciso cuidados excepcionais para não adoecer, mas a emoção te encontrará rápido. E é isto o que busca um viajante. As coisas lá são baratas se você se dispõe a fazer por você mesmo. Mas o estresse é certo. Há o turista que chega de avião, a agência o coloca em um ônibus com ar condicionado até o hotel de luxo e os guias levam direto ao ponto turístico, também de ônibus. Esta pessoa verá a pobreza de dentro do veículo. Mas não sentirá cheiros e nem terá grande contato com o barulho e a desordem. Não cansará tanto, mas este contato não é muito autêntico. Mesmo assim vale.

Pode-se também, através de agências, alugar carro com motorista que fale inglês. Fica caro mas pode valer muito a pena. Talvez uma viagem neste estilo seja a mais proveitosa. Mas viajar como mochileiro independente, como fizemos não nos pareceu a melhor escolha. Vimos muito. Mas cansou a beleza.

Despedida

E ao fim de 12 dias que nos pareceram 1 ano, estávamos dentro de um avião para o Nepal. A decolagem foi o melhor que aconteceu neste período.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Índia - parte 12

Retorno a Délhi

Retornamos a Délhi para finalizar a Índia. Continuava quente e empoeirada. Ficamos em outro hotel, que dessa vez conseguimos chegar sem nos envolver com taxista nenhum. Fomos de metrô.

Ainda assim resolvemos visitar Mesquita da Jama Masjid, a maior da Índia. Salvo eu esteja redondamente enganado, mesquitas geralmente não são muito acessíveis a não-islâmicos. Então, como esta se abria para visitações, decidimos conhecê-la. Apesar de ser realmente grande, dá medo de não encontrá-la, devido à bagunça do entorno. Não sei de já registrei, mas as ruas da Índia geralmente não possuem identificação, mesmo na capital. Mas, enfim, chegamos. Esperamos dar o horário de visitas, compramos os tickets e fomos.

Renilza teve que usar uma manta azul, parecida com a de Merlin, o feiticeiro celta, para cobrir os braços, o que não a ajudou muito nas fotos. O esquema é bagunçado. Você paga pelo passeio completo, entrega o bilhete em um ponto e depois em outro ponto eles pedem o bilhete novamente, que já havia sido entregue, etc. Dá a impressão que começaram a receber visitantes ontem. Mas a gente apenas dizia que já havíamos entregado o papelzinho e tudo dava certo. Conseguimos até subir em um dos minaretes, aquelas torres finas comuns nas mesquitas.

empre havia fiéis rezando e os mesmos eram bastante preocupados com a postura dos visitantes. Se estávamos em algum lugar não permitido, nos indicavam educadamente que era para sair. A mesquita é muito bonita e imponente. E o mais legal é que se tem a nítida sensação de que está em pleno funcionamento. Falo isto porque é comum quando visito uma igreja aquilo me transmitir mais a sensação de estar em um ponto turístico do que em um templo. Enfim, saímos da mesquita e demos por encerrada nossa missão no país. Agora era só organizar a retirada.

domingo, 8 de julho de 2012

Índia - parte 11









Forte Vermelho, Agra

Logo depois do Taj Mahal resolvemos ir direto ao forte vermelho. Muito bonito também. Comparável ao Amber Fort. Mas o calor estava demais. Fritávamos ao sol. Com certeza o calor complicou as coisas para a gente na Índia, tornando tudo ainda mais difícil.

Vale a pena deixar a metade ou um dia inteiro para esta atração. Neste forte o ex-imperador Shah Jahan, após ser deposto por um dos seus filhos ficou confinado. Pelo menos pode apreciar o Taj Mahal pelo resto de sua vida. O complexo foi muito eficiente por muito tempo em cumprir o papel a que se propunha. Era uma fortaleza de dificílima invasão, construída com esmero para dificultar ao máximo as investidas dos inimigos e para facilitar a vida dos defensores. Além de eficiente o local é muito bonito e a residência do chefe era extremamente confortável, pelo menos para ele e suas dezenas de mulheres, com piscinas, poços jardins e muito mais.




Médico

Ao longo da viagem temos nos cercado de cuidados para evitar doenças. Antes do início consultamos com um infectologista e tomamos todas as vacinas possíveis. Fizemos seguro e tomamos cuidados inéditos com nossa higiene. Sempre usamos álcool em gel e repelentes de insetos. Andamos com um kit de primeiros socorros e vários remédios em nossa bagagem. Mas nunca se elimina certos riscos e a primeira mazela nos aconteceu justamente na Índia, em Agra. Renilza apresentava sintomas de infecção urinária. Então procuramos o melhor hospital da cidade. Nos disseram que era muito caro, mas não nos importamos porque temos seguro. Justiça seja feita. A limpeza era razoável e o atendimento não demorou. O médico que nos atendeu foi o dono do hospital. A consulta foi ótima. Uma longa entrevista em bom inglês, exames vários e tudo o mais. Ao se deitar para fazer o ultra som, o médico, apenas olhando a postura da Renilza a perguntou se ela frequentemente sentia dores na lombar. Bingo! Ficamos impressionados com esta e outras observações. Talvez seja influência do ayuverdismo. Fato é que algumas horas depois da consulta e exames eles já tinham os resultados e a consulta foi complementada com os devidos medicamentos. Preço total, 134 dólares.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Índia - parte 10

Taj Mahal

Já que chegamos à Índia, tínhamos que ir ao Taj Mahal. O contrário seria impensável. Saímos do hotel de manhã e fomos caminhando. Depois de uma hora andando, estávamos no parque que antecipa a chegada. Como sempre, uma multidão. Centenas de meninos jogando críquete, charretes e mais charretes de camelos, vendedores de tudo quanto é inutilidade, etc. Enfim, chegamos.

Compramos bilhetes, pegamos a fila, uma para homem e outra para mulher, a fila foi furada várias vezes, fomos revistados e estávamos dentro. Várias pessoas se benziam viradas para o complexo, ainda do lado de fora. Podia ser que apontavam para uma mesquita, o que eu mesmo duvidava, pois a mesquita estava em outra direção. Primeiro passamos por um conjunto de prédios avermelhados. Beleza incontestável. Enfim, passa-se por um imenso portão e se avista o mausoléu, que é o prédio principal. Mesmo estando um pouco sucateado com jardins em frangalhos e vários poços, que são partes importantes do complexo, secos, ficamos impressionados. É algo realmente bonito, que não deixa margem para se imaginar algo mais belo. Cada pedra do revestimento, cada escada, pórtico, parece que tudo recebeu a atenção especial de mestres da arte de esculpir o mármore.

Porém, quando vemos palácio como um todo, é também uma obra prima no meio daquela paisagem. Lá dentro, em um salão, dentro de mais uma cerca de mármore finamente entalhado está o túmulo de Aryumand Banu Bengam, esposa favorita do Imperador Shah Jahan, que morreu ao dar a luz seu décimo quarto filho. Esta obra já foi apontada como a maior prova de amor da história. Levou 22 anos para ser construída, entre 1630 e 1652. Mais de 20 mil pessoas trabalharam no empreendimento. Há lendas, altamente factíveis, que os melhores artesão eram executados após concluírem algum trabalho, para não refazer o trabalho para um rei concorrente. Após sua morte, o corpo do ex-imperador foi sepultado ao lado da esposa e constitui a única parte que “fere” a simetria perfeita de tudo que ali foi construído.

O preço para visitantes estrangeiros era cerca de 15 dólares. Para indianos, menos de meio dólar. Gostamos disso.

Várias paredes do interior do mausoléu estão enegrecidas em uma faixa cerca de 1,5 metros. Isto aconteceu porque vários visitantes indianos fazem todo o trajeto passando a mão na parede se benzendo e deixando para trás uma camada de lipídio e poeira que fazem o papel de uma graxa. O diálogo a seguir com certeza já ocorreu alguma vez: Ué! Mas por que? Ora, algo tão bonito só poderia ser sagrado! Então as pessoas vão lá e rezam e se benzem. Mesmo aquilo sendo apenas um mausoléu de uma pessoa que não fez nada demais; apenas foi amada por um louco, como um louco.

Normalmente isso não acontece. Por exemplo: eu amo Pretinha como um louco. Mas eu não sou louco. Pelo contrário. Eu sou normal! Então se ela morrer antes de mim não vou construir pra ela um Taj Mahal.

Já bati nessa tecla algumas vezes e sei que estou sendo repetitivo. Mas a Índia me mostrou isto. E aprendi assim a ver o quanto do nosso tempo e dos nossos recursos gastamos construindo coisas que não tem utilidade alguma. Para isso trabalhamos feito loucos e nos privamos de aproveitar nosso escasso tempo com as pessoas que realmente amamos e deixamos de fazer o que realmente queremos e gostamos.

Agra é uma região seca. É cortada pelo rio Yamuna, mas os arredores é árido. Sentado em um degrau de mármore, olhando aquela paisagem gasta, aquele povo sofrido, tentei calcular quantos quilômetros de canais seria possível construir ao longo de 22 anos usando 20 mil trabalhadores, seus elefantes cavalos e camelos. Depois, tentei fazer as contas de qual a área que seria possível ser irrigada com esta água e quantas famílias se beneficiariam disto. Depois, tentaria capitalizar isto ao longo do tempo, quase 400 anos. Dezenas de gerações de milhares de famílias de Indianos seriam poupadas da miséria extrema se um megalomaníaco tivesse deixado de pensar em seu próprio umbigo e ter feito o que era seu verdadeiro dever como governante, cuidar de seu povo, e não explorá-lo para realizar suas loucuras. Isso vale para o Taj Mahal bem como para dezenas de obras na Índia e ao redor do mundo. E vale para muito do que se faz hoje em dia.

No momento em que este texto era escrito, a estimativa dos custos das obras da Copa de 2014 no Brasil eram de mais de 11 bilhões de reais. Já o salário médio de um professor primário no Brasil é o terceiro mais baixo de uma lista de 38 países desenvolvidos e em desenvolvimentos, segundo UNESCO. Pagamos metade do que se paga no Uruguai. Em BH uma faxineira diarista facilmente pode ganhar mais do que uma professora do Estado trabalhando 40 horas. Afinal, quem são os loucos?


Índia - parte 9


Sacratização

O Hinduísmo é uma religião politeísta cujo panteão conta com um número de deuses próximo de 35000. Um rio, uma montanha, um bicho, etc, tudo pode ser um deus. Os principais, com certeza são Shiva, Brahma e Visnu. Geralmente possuem histórias bastantes complexas e bonitas. Configurações politeístas costumam ser bastante tolerantes. É inimaginável para pessoas de fé deste tipo conceberem a hipótese de iniciar uma guerra porque o outro povo possui uma fé distinta. E não fazer guerra é muito civilizado. Mas uma coisa que talvez seja uma tendência de povos politeístas é fazer de qualquer coisa algo sagrado, sem que se questione. Já é sabido que a Índia tem uma indústria cinematográfica muito efervescente e é comum a produção de filmes sobre deuses. Sabe o que acontece frequentemente neste tipo de filme? O ator que faz o papel do deus em questão se torna também uma espécie de divindade. Muitas pessoas não diferem a realidade da ficção.