quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Parintins - Amazonas

Temos que admitir que nossa experiência com viagens nos deixou um pouco relapsos. A perna dessa viagem que nos levou a Parintins é uma prova disto. Erramos em praticamente tudo. Chegamos ao porto sem passagens e tivemos que comprar na hora, e para ir de rede. O detalhe é que até o momento não tínhamos rede e a experiência no Redário Iguana nos mostrou que não estamos preparados para passar uma noite neste simpático leito. Mesmo assim, já na área de embarque do porto de Santarém procuramos um par pra comprar e ao perguntarmos o preço a dona da banca respondeu com a pergunta: “em Real?”. É que só um turista muito mal informado, provavelmente de fora do país deixaria para ter os olhos furados ali. Nos negamos a pagar R$60,00 por cada rede e embarcamos no Anna Karoline. Passar uma noite apenas dormindo no chão, com sacos de dormir não seria o pior dos sacrifícios.
Entramos no barco e aguardamos a partida. Do nosso lado estava parado um transatlântico lotado de gringos. Vários circulavam pelo porto e tiravam fotos do nosso barco, das pessoas, como se fôssemos um zoológico. Quando um casal de velhinhos apontou a câmera para a área em que estávamos sem fazer ao menos um sinal pedindo permissão para uma foto, perdi a paciência e apontei minha câmera diretamente para eles, que, surpresos, abriram os braços e fizeram cara feia me questionando. Engraçado como alguns europeus se acham no direito de fotografar as pessoas de países menos respeitados que visitam, incluindo de crianças, sem qualquer autorização, já que se um turista faz o mesmo por lá pode até ir parar em uma delegacia. Enfim partimos. Após alguns minutos perguntei a um tripulante se podíamos nos alojar no compartimento de carga, que estava bem vazio. Após ponderar que já estávamos longe da Capitania, disse que sim. Mas chegando lá, uma maruja bem brutamontes disse categoricamente que não podíamos. Então voltamos para o deque superior, onde capturamos duas cadeiras de plástico. Era um dia muito quente e ensolarado. Ficamos correndo atrás de sombras. Se tivéssemos redes, não saberíamos onde pendurar, pois o barco estava muito cheio. Seria uma viagem de 17 horas e só nos restava ter paciência. Ficamos sentados numa lateral, aproveitando uma brecha de sombra. Almoçamos mal. Marmitex de R$15,00. O pior e mais caro que pagamos em toda a viagem. O dia se arrastou lentamente e se não fosse a paisagem seria um martírio completo. Finalmente escureceu e pudemos retornar ao deque superior, onde um telão mostrava shows de cantores sertanejos. Meia noite a tromba homem que nos expulsara do compartimento de cargas veio nos confiscar as cadeiras, pois o bar iria fechar. Mas afinal, o que poderíamos fazer com as cadeiras? Roubá-las? Jogá-las no rio? A próxima vez que ela nos encontrasse provavelmente nos mandaria pular do barco. Enfim, deitamos no chão e ficamos olhando pro céu. Conseguimos alguns minutos de sono e quase 5 da manhã chegamos a Parintins. Tomamos um susto ao descobrir que a hora local era 4h pela mudança de fuso horário, outro sinal de relaxamento nos planos.
Não sei onde, mas li que havia coisas legais para se fazer nesta simpática cidade em qualquer época do ano. Bom, chegamos e depois de caminhar por uns 2 quilômetros achamos um hotel e nos alojamos. Sem internet, mas muito bom pelos R$60,00 a diária. Lembre-se bem do que vai ler agora: Parintins não oferece NADA para um visitante que lá chega fora do festival folclórico que a fez famosa. Nem hotel com internet tem direito. Mas não estou denegrindo a cidade. Pelo contrário. Tem um charme, é menos suja que as pequenas cidades que margeiam o Amazonas, tem um movimento que atesta que está viva e funcionando. Apenas não tem atrações que não sejam as ligadas à competição entre o Caprichoso e o Garantido. Assim que acordamos fomos logo comprar passagens para a madrugada seguinte partirmos para Manaus.
 Mas tudo vale a pena quando a alma não é pequena. As histórias envolvendo a rivalidade são muito engraçadas. Casais que são separados nas vésperas do embate, para evitar que segredos estratégicos sejam revelados; todas grandes marcas como Coca-cola e Bradesco com suas cores mudadas para azul e branco em metade dos anúncios, para deixar claro que o vermelho da marca não tem a ver com o Garantido, brigas, os passeios pintados de vermelho ou azul, os vários túmulos do cemitério decorados com as cores dos bois, as enormes caravanas que saem de Manaus com navios fretados exclusivamente para levar passageiros de um ou de outro boi, mas nunca dos dois e várias outras. Renilza me alertara que não teria nada lá para vermos na época em que fomos e a responsabilidade desta parada é toda minha. A cidade estava tão vazia de turistas que confesso que tive um pouco de vergonha, quando olhares dos moradores demonstravam surpresa de verem dois turistas perdidos ali. Seria praticamente o mesmo que encontrar em João Monlevade um grupo de mochileiros alemães procurando o que visitar. Foi mal. Às 5h da manhã do dia seguinte pegamos uma lancha rápida para Manaus, que prometia nos deixar na capital Amazonense em 12 horas de viagem... 

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Alter do Chão - Pará

Após quase 3 dias completos dentro do Amazonas II, chegamos bem a Santarém. Pegamos logo um ônibus para Alter do Chão. Esta praia foi apontada pelo jornal inglês The Guardian como a praia fluvial mais bonita do mundo. Não gosto desse tipo de classificação, pois faz com que criemos expectativas. Mas fomos ver se era boa mesmo. O mês ideal para pegar praia lá, segundo fomos informados é novembro, fim do verão deles, quando as águas estão no nível mais baixo. Mas estamos em um ano atípico, com relatos de calor acima do normal e chuvas bem abaixo. Então tivemos a sorte de pegar as praias no melhor nível. Descemos do ônibus próximo à praça principal. Temos que admitir que a praia é realmente linda. Mesmo já tendo estado em vários pontos do Caribe, em algumas ilhas gregas, no sudeste asiático e nordeste brasileiro, tivemos que admitir que Alter do Chão tem as praias mais bonitas que já vimos. As águas também são as mais quentes que experimentamos. Ouso dizer que alguns lugares com águas termais não são tão quentes. E como não tem ondas, a gente entrava e passava horas dentro d’água.
Em Alter fomos direto para o Camping e Redário Iguana, que a Daniele nos havia indicado. A administração é feita pelo casal Adam e Patrícia, que tem um par de gêmeos lindos, Baru e Calhaes. Eles são ou eram hippies e são extremamente amigáveis. Administram super bem o lugar, mantendo tudo limpo e uma atmosfera totalmente acolhedora. O problema foi o calor. Dormir seja nas redes ou no chão em esteiras foi impossível pra gente. A primeira noite foi complicada. E como estávamos nos sentido com a saúde fragilizada, por culpa exclusiva do calor, tivemos que ir para uma pousada com ar condicionado. Foi uma pena. Tanto que nos outros dias visitamos o camping, pois fizemos algumas amizades lá.
Era muito fácil não querer ir embora de Alter e acabamos ficando mais dias do que planejamos. Era praia de manhã e de tarde, picolés de frutas, apresentações circenses na praça, passear pelas praias a noite, comer bem... Fizemos um passeio também indicado pela Daniele com o Índio Pitó, que recomendamos muito e cujo contato é (93)992127567. É possível encontrá-lo também através da associação de guias. Seu passeio de barco passa por vários igarapés e termina com o por do sol em uma praia linda e deserta do Rio Tapajós.
Como diferencial o Pitó faz um trecho dentro da mata mostrando conhecimentos indígenas que aprendeu com seu povo: mostrou uma espécie de formiga bem pequena que serve como repelente natural. Elas estavam no tronco de uma árvore. Ele fez a demonstração e depois eu testei. Colocando a mão na árvore as formigas rapidamente se espalham pelo braço, aí é só esfregas as mãos expulsando as formigas e elas deixam um cheiro de repelente na pele sem causar nenhum incomodo. Mostrou outra espécie de formiga comestível que tem gosto cítrico e serve como tempero, que provamos também. Mostrou como se trança folhas de palmeiras para fazer cobertura e paredes das choças e balaios. Ensinou a Renilza como se extrai a seiva da seringueira e nos mostrou algumas árvores que segundo ele a natura extrai essências. O Pitó é muito agradável, respondendo a tudo que perguntávamos e deixando a gente muito à vontade.
Alter oferece muitas outras opções para passeios, mas como era difícil não passar o dia inteiro nas praias! O distrito não é perfeito. Não está abandonado pela administração púbica como Soure, ma tem um bom potencial para melhorar a limpeza das vias e também para melhorar a oferta de informações. As praias são limpas pela associação de barqueiros e barraqueiros. As pousadas e restaurantes atendem, mas no geral, a um preço mais alto do que a qualidade dos serviços oferecidos. Há wifi liberada na praça principal, mas de qualidade ruim. Não sei bem se a oferta desse serviço é algo bom ou ruim, pois algumas pousadas acabam não oferecendo wifi porque já tem na praça. Mas no geral, os pontos que pedem melhoria no local de forma alguma conseguem eclipsar os seus pontos fortes. Este é um destino que voltaremos com certeza. Só não é boa ideia ir no réveillon, porque segundo a Daniele a cidade não comporta a quantidade de turista que baixa lá.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Macapá e a volta dos que não foram

Nunca estivemos tão perto de conhecer Macapá, a capital mais isolada do Brasil. Era só atravessar o rio. Tudo bem, contornando a ilha de Marajó por canais tortuosos, seriam por volta de 300km! Um dia de barco! Compramos nosso camarote no Ana Beatriz IV e aguardamos felizes nossa partida marcada para domingo, 10 de janeiro. Escolhemos camarote porque não estamos acostumados a dormir em rede e não nos sentimos seguros para dormir de boas com nossas bagagens, com computador e tudo soltas debaixo das redes. Chegamos no barco por volta das 10 da manhã, entramos, tomamos posse, tomamos umas cervejas, conhecemos umas pessoas ao redor do porto e tals. A condição portuária de Belém é estranha. Eles tem o porto próximo às docas, que funciona muito bem, como uma boa rodoviária ou um aeroporto. Mas além deste porto, existem vários outros, privados, ao longo da margem do rio que banha a cidade. E aí a coisa é meio bagunçada, sem muito padrão operacional, sujos etc. Os que conhecemos são muito próximos a favelas, cortadas por canais lotados de lixo que sobem e descem à mercê da maré.
Os navios do porte do nosso levam pessoas e cargas, que invariavelmente atrasam as partidas. Mas quem se preparou pra ficar 24 horas no barco não ia ficar bravo com umas horinhas de atraso. E acompanhamos o carregamento. Laranja, limão, ovos! Meu Deus! Por que essas coisas não são produzidas no próprio estado? Produtos com valor agregado tão baixo e de produção tão simples serem transportadas de navio de Belém... tem algo estranho no ar... tão estranho quanto o José Sarney ter sido eleito um dos senadores do Amapá.
Enquanto a carga ia sendo acomoda no navio, manualmente, fardo a fardo, caixa a caixa, conhecemos um senhor do Piauí, que mora em Oiapoque e estava voltando de férias. Ele tinha um bar na cidade, que segundo ele, vivia da extração de ouro por garimpeiros e tinha mais ligação com a Guiana Francesa do que com o Brasil. Contou sobre garimpeiros pagando cerveja com 10g de ouro, ou prostitutas com 20g. Disse que todos andam armados e que morre um a toda hora, mas que o dinheiro (ouro) rola solto e que é muito fácil ficar rico por lá, se tiver disposição. Contou que os indígenas que viviam no lado francês recebiam uma bolsa em euros todo mês e os da mesma etnia, brasileiros, acabavam virando empregados dos primeiros. Enfim, após 2 horas de atraso, o Ana Beatriz partiu. O dia seria longo e resolvi tirar uma sonequinha. Após uma hora de navegação os auto-falantes do barco emitem a notícia de que o motor havia quebrado e que seríamos rebocados de volta. Tava tudo muito bom pra ser verdade. Não nos importamos muito. Paciência... Um outro barco nos rebocou de volta a Belém, mas no caminho uma lancha da marinha nos acompanhou e na chegada ao porto pudemos acompanhar parte de um diálogo entre o cara da marinha e o comandante do Ana Beatriz, exigindo documentos e mandando que os passageiros fossem informados sobre o que estava acontecendo. Não sei se a marinha consegue fazer esse acompanhamento com todos os barcos que quebram, mas fiquei satisfeito. Pouco depois fomos informados de que o proprietário estava tentando alugar outro navio e que todos teriam alimentação de graça até a chegada a Macapá.
Esperamos. No início da noite fomos informados de que o Almirante do Mar estava alugado, que passaríamos para este barco à meia noite e partiríamos pela manhã por causa da maré. Depois de uma agradável noite, no teto do Ana Beatriz tomando uma cervejinha e conversando com o Betinho, morador da favela que estava indo para Macapá, ficamos à espreita do Almirante do Mar. Chegou e foi atracado colado lado com lado com o Ana Beatriz. Fui um dos primeiros a pular para ver como seria meu novo camarote. Não tinha ninguém pra receber a gente, passar chaves e então peguei logo um para mim. Era sem banheiro e não tinha ar condicionado individual, mas sim uma janelinha que distribuía o ar do refrigerador central. Procurando pelos banheiros, fui abrindo portas e próximo ao nosso quarto uma porta dava para um corredor que estava cheio de baratas. Voltando pra procurar o comandante reparei que o Almirante estava imundo, que não havia sido limpo após sua última viagem. Estava tudo meio caótico e soubemos que não partiríamos muito cedo, pois não haveria lugar para todos. A tripulação estava perdida, porque não era para o povo ter mudado de barco ainda. Uma senhora disse que não era pra ficarmos com medo, mas “olha, ano passado esse navio pegou fogo!”. Um tripulante nos informou in off que o Almirante estava em péssimo estado e que provavelmente quebraria na viagem. Enfim, quem sabia o que estava fazendo provavelmente estava mal informado, porque, apesar de não haver tumulto, a situação era caótica. Então fizemos o que qualquer pessoa sensata deveria fazer: fomos dormir.
Pela manhã vimos que a situação não havia melhorado. Outro barco, o Breno havia atracado ao lado do Almirante. Meu Deus! Será que a intenção era fazer uma ponte de barcos, um ao lado do outro par a gente chegar a pé em Macapá?
Batemos pernas, comemos, bebemos, conversamos e por fim propusemos que nosso destino fosse trocado para Santarém. Toparam na hora, mesmo a passagem para Macapá para o casal sendo 100 reais mais barata que pra Santarém. Pensamos o seguinte: Fizemos um grande esforço para conhecer Macapá, que pelo que dizem os relatos nem é uma cidade que tem tannnnntos atrativo assim. Como não deu certo, paciência. Fomos, mas não chegamos. Voltamos sem termos ido.
Mas o barco pra Santarém, o Amazonas II só sairia na terça às 18 horas. E terça era aniversário de Belém. Então bóra bater perna em Belém! Vimos show de Carimbó no Ver o Peso, compramos castanha numa banca, olhamos artesanato e fomos ao shopping fazer um supermercado básico, almoçar e acabamos assistindo de novo Star Wars. Terminamos a tarde no deque superior do Amazonas II, tomando um vinho, comendo um sanduiche e fazendo uma farra com as castanhas que compramos. Após um por do sol muito louco, partimos numa viagem de 3 noites.
A primeira noite foi tranquila. Mas no dia seguinte Renilza começou a passar mal e de noite estava ruim, com diarreias e febre. Acionamos a enfermeira do navio, Alda, excelente profissional, muito atenciosa e prestativa. Renilza foi medicada e um dia depois, já estava boa como um coco.
Felipe, um garoto alemão de 18 anos que conhecemos em Marajó, estava no mesmo barco. Ele estava há alguns meses no Brasil. Fez trabalho voluntário em uma favela do Rio e já tinha rodado bastante sem falar português. O cara é um gato e as meninas do navio estavam todas apaixonadas. Mas ninguém falava outra língua além do português e uma até tentava dar o bote, mas não rolava nenhuma conversa. Por fim ele se juntou a nós e três garotas, de 10, 14 e 16 anos que conhecemos pela manhã tomaram coragem e se aproximaram. E a gente ficou meio de intérprete. Ele é todo certinho. Já havia descido o rio de Manaus a Belém, mas voltava para ver sua namorada em Santarém. Mesmo assim foi super atencioso com as meninas. A de 10 era a mais engraçadinha e as outras não eram assanhadas. Perguntei sobre os refugiados sírios e ele falou uma coisa legal. Disse que estava orgulhoso por seu país estar recebendo tantas pessoas, mas aquilo não era solução para a Síria. Ajudar as pessoas a saírem de um país não é solução. O certo era realmente resolver o problema que expulsava pessoas da Síria. Bom garoto!
Pelas manhãs a gente curtia e fotografava as paisagens. Pode ser repetitivo, mas vou falar: a Amazônia é muito bonita. Horas e horas de paisagens estonteantes. Rio, floresta, pássaros, botos, barcos. Não enjoa.
Mas tem algo errado. A população ribeirinha é paupérrima. O navio ia passando e crianças e mulheres em canoas esperam para que joguemos doações em sacolas plásticas. Cada localidade ribeirinha tem sua igreja, 90% das vezes evangélica. 100% das vezes é a construção mais imponente em meio à miséria. Segundo um passageiro da região, a prostituição infantil rola solta. Garimpeiros e outros trabalhadores vagam pelos rios e negociam às vezes com o pai das meninas.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Soure, Ilha de Marajó - Pará

Voltamos à Belém de Salinas e fomos direto para o Hostel Amazonas. Fica a dica para quem curte um albergue de verdade. Boa estrutura, funcionários agradáveis e prestativos e todo o clima característico dos melhores albergues. Ali, por indicação do dono, decidimos ir para Soure na ilha de Marajó, antes de seguir para Macapá. Passamos uma noite neste hostel e no dia seguinte às 6h da manhã fomos caminhando até o Terminal Hidroviário, que fica ao lado da Estação das Docas. Lá compramos passagens no barco que faz a viagem de Belém para Camará em Marajó em 4 horas por R$ 20. No porto pegamos uma van por R$13 para Soure. Existe também a opção de lancha rápida saindo às 8h por R$ 48, indo direto para Soure. Nesse caso a viagem dura apenas 2 horas e fica R$15 mais cara. O hostel Amazonas tinha uma atmosfera ótima e lá conhecemos Helena e Daniele, mãe e filha, professoras e fluminenses da Região dos Lagos. As duas foram nossas ótimas companhias de viagem para Soure.
Chegando em Soure a primeira impressão não é das melhores. A cidade está muito mal administrada. Tem lixo e esgoto a céu aberto para todo lado. Algumas pessoas relatam ter tido a vontade de entrar de novo no barco e voltar. Depois de quase fecharmos com uma pousada muito precária, Helena, mostrando ser a mais esperta entre nós, apareceu com a boa nova de um hotel simples perto dali por apenas 10 reais mais caro, mas com ar condicionado, frigobar e wifi. Fomos pra lá e nos assentamos. Mesmo assim a cidade desanimava. Alugamos bicicletas e fomos para a praia Barra Velha naquela tarde mesmo. Já era umas 4 da tarde. A praia fica a 3,5 km da cidade. Temos que atravessar uma fazenda, cheia de búfalos e guarás. Aí a coisa começou a melhorar. A paisagem formada por pastos alagáveis, búfalos, florestas, garças e guarás dá um super cartão postal. Mas a praia, sem exageros, é uma das mais bonitas e melhores que já conheci. A água é salgada, mas não tanto quanto as do litoral (bom, Soure fica na ilha de Marajó, naquela parte que, olhando no mapa, não dá pra ter certeza se é rio ou mar). A água é tão ou mais quente que as de Natal ou Recife. Há estrutura de bares e restaurantes. Como a declividade da areia é muito pequena, com pequenas variações de maré enormes bancos de areia aparecem (maré baixa) e desparecem (alta) ao longo do dia. A praia é cheia de árvores de raízes expostas, comuns em mangues.
No dia seguinte fomos em busca da praia do Pesqueiro. Não tem transporte público na cidade, mas achamos uma Kombi que cobrava R$ 5 por pessoa se juntássemos 7 passageiros, o que conseguimos no hotel. A kombi estava na praça da cidade onde se concentram os taxis e moto-taxis. Ali a polícia montava guarda, com sua possante viatura, que orgulhosamente posava para nossas fotos.
Não dá pra dizer que a praia do Pesqueiro é mais bonita que a Barra Velha, pois ambas são estonteantes. A do Pesqueiro tem dunas e a paisagem é mais iluminada, além de ter algumas dezenas de abrigos, tipo quiosques para os banhistas. Alguns rapazes ofereciam passeios no lombo de búfalos por 10 reais. Renilza e eu pegamos um. Um foi e outro voltou montado. O búfalo, segundo contou o dono, estava com 400 kg, mas se não fosse a seca estaria com 900 kg. Mesmo assim o animal parecia ser bem robusto.
Uma turma de Ciências Biológicas do campus da UFPA de Soure apareceu na praia para fazer fotos de formatura. A turma tinha mais garotos, mas só um animou participar. Pra ele não ficar sozinho resolvi dar uma força.
A principal atração daquelas bandas do Marajó é um passeio na fazenda São Jerônimo, com trilhas em manguezais e passeios com os búfalos... mas as praias estavam tão boas que preferimos economizar essa grana, pois os preços são meio salgados.
Voltamos da ilha de Marajó pra Belém na lancha rápida, que apesar de custar 3 cervejas na praia a mais por pessoa, achamos que valeu muito a pena.
Chegamos em Belém a dois dias de seu aniversário de 400 anos. Mas não daria para pegar a festa, pois queríamos pegar um navio pra Macapá o quanto antes. 

Salinópolis - Pará

A cidade, mais chamada de Salinas, fica no litoral paraense e entrou no nosso roteiro por uma peculiaridade. Sua principal praia, Atalaia, fica lotada de carros no verão (mês de julho no norte). Não que achamos a coisa mais legal do mundo uma praia cheia de carros, mas é no mínimo curioso, principalmente porque algumas pessoas ficam bebendo se esquecem de retirar o carro antes da maré subir.
Fomos para Salinas de ônibus e tivemos que voltar para Belém de van porque as passagens de ônibus acabaram e não descobrimos um modo de seguir para Macapá sem voltar em Belém.

Pois bem. Salinópolis tem praias lindas e parece estar se estruturando para o turismo. Tem um calçadão novo e bonito na praia do Maçarico, muitos hotéis, restaurantes e tals. Mas parece estar seguindo o mesmo caminho de várias cidadezinhas “turísticas” polvilhadas pelo Brasil. Parece haver uma organização para explorar o turista e não o turismo. Os hotéis são caros pelo que oferecem e praticam os mesmos preços, sinalizando claramente a prática de cartel. Com diárias de R$100,00 com alguma dificuldade se encontra hotéis com ar condicionado, cama ruim, sem wifi e sem frigobar. E mesmo com a cidade vazia não dá pra negociar. Os restaurantes seguem o mesmo padrão de preços altos e serviços medíocres. As praias são boas, realmente. Mas duvido que com a política que fazem para o turismo a cidade conseguirá atrair visitantes que não sejam os habituais paraenses de Belém e das redondezas. É a nossa velha tradição de fazer menos com mais. É Brasil.

Ficamos na orla do Maçarico e fomos para a praia de Atalaia de ônibus, que assim como os carros faz grande percurso na areia e nos deixou praticamente dentro da água.
Não pegamos a praia cheia, mas havia uma boa quantidade de carros, inclusive um tocando heavy metal em meio ao brega. E ainda vimos um Corolla tentando desatolar depois que a maré subiu.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Belém - Pará



Chegamos à capital paraense por volta das 3h da madrugada de 31 de dezembro. Tínhamos uma reserva no Hotel Spada, cerca de 800m do aeroporto. Apesar da escuridão e de algumas recomendações em contrário decidimos ir à pé. Taxistas não gostam de pegar passageiros para distâncias curtas e, a essa hora, seria muito difícil um trombadinha estar esperando em um local de baixíssima circulação um casal mal encarado para assaltar. O hotel é simples, em um bairro igualmente humilde. Mas as coisas funcionavam, tem até uma piscina boa. Saímos de lá por volta do meio dia e fomos para o Soft Hotel, no centro de Belém. Este sim, um bom hotel, mas bem mais caro, que foi escolhido porque era ano novo e não tínhamos nada planejado. A cidade podia estar meio parada e não achamos um hostel bem avaliado pra arriscar. Sem programação para o réveillon vimos na internet que festa da pública seria no Portal da Amazônia. No caminho para o ponto de ônibus fizemos uma breve parada na Basílica de Nazaré, que enfeitada com luzes de natal estava muito bonita.
Pegamos um ônibus para o Portal da Amazônia e descemos assim que ele parou num engarrafamento e fomos seguindo o fluxo pensando ter chegado ao Portal, mas era a Estação das Docas. Nem ligamos porque rolava uma festa muito legal lá. Gente com e sem grana de divertindo e um show de samba muito bom, com Mariza Black, excelente sambista paraense. Curtimos bastante gastando muito pouco, já que a entrada era livre. Rolou fogos de artifício e, ficamos com a impressão que o erro foi uma sorte porque além da música muito boa o lugar era bem legal.

Pegamos dicas do que fazer em Belém com a Iva, uma amiga paraense que conhecemos no Jalapão. O roteiro demanda 3 dias para desfrutar sem correria. Visitamos quase tudo que ela nos indicou e todos os lugares valeram a visita. A maior parte das atrações fica no centro histórico e dá pra percorrer tudo a pé. No complexo estão a Estação das Docas, o mercado Ver o Peso, o Forte do Presépio, a Casa das 11 Janelas, o Museu do Cirio de Nazaré, a Corveta Museu, se não esqueci de nada. Desses só não visitamos a corveta. Todos valem a pena, embora nenhum seja uma atração muito imponente. Por estarem muito próximos, enchem bem um dia de passeio. Os museus são pequenos, mas interessantes e muito bem organizados.

Mercado Ver o Peso
Praça do Relógio
Forte do Presépio  
Museu do Círio

Mangal das Garças
É um agradável passeio para uma manhã ou uma tarde, como fizemos. Trata-se de um parque cheio de garças, guarás e outras aves, além de outras atrações como um orquidário um mirante acessado por um elevador que vale muito a pena.  

Theatro da Paz
Visitamos o Theatro da Paz num domingo de manhã. O teatro fica na Praça da República e estava rolando uma feira de artesanato. As visitas são guiadas e de hora em hora. O guia era muito bom e simpático. Fomos caminhando pelo prédio enquanto ele explicava o contexto histórico de cada fase de construção ou reforma e também os significados dos aspectos arquitetônicos. 

Parque do Museu Emilio Goeldi
Outro opção muito legal principalmente para quem ainda está começando a ter contato com a Amazônia. É um parque bem no meio da cidade, que fica a algumas quadras da Basílica de Nazaré.  

Do que vimos, podemos dizer que Belém tem suas atrações e atrativos. Se existisse um interesse real na preservação e recuperação dos casarões mais antigos, provavelmente a capital paraense seria uma das mais bonitas do Brasil. Mas ainda assim a cidade vale a visita. As diversas mangueiras fazem dela uma cidade única. As mangueiras são de longe as maiores que já vimos. As sombras dessas árvores são enormes, aliviando bem o forte calor para quem caminha pela cidade. Mas após cada chuva, milhares de frutos são levados pelas enxurradas e, provavelmente o sistema de saneamento sofre muito com isso. Mas, fazer o quê, né?

Enfim, e muito importante, apesar de termos uma pequena dificuldade para entender o sotaque dos nativos, sempre que precisamos de alguma ajuda fomos muito bem orientados. As pessoas foram muito educadas e dispostas a ajudar. Então, sim, Belém vale muito a pena ser conhecida. 

Ainda passamos por Belém mais duas vezes voltando de outras cidades. Mas aí ficamos no Hostel que estava mal avaliado no booking. A avaliação está super injusta. O hostel é muito bom e o dono e a gerente são super amáveis além de fornecerem informações preciosíssimas.
   

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

São Luís - Maranhão

Partimos de Belo Horizonte no dia 29 de dezembro para São Luís. Esta capital entrou na rota por imposição dos preços das passagens, mas não podemos reclamar. Apesar das poucas horas disponíveis para explorá-la e do calor, pudemos ver alguma coisa do que oferecia, mas é só uma primeira impressão. Os Sarneys estão por todos os lados. Nomes de ruas, dedicatória escandalosa no painel pintado no aeroporto, nome de bairros, ponte,... Como um todo, não se pode dizer que é uma cidade bonita. Mas as pessoas são atenciosas e educadas e levam suas vidas, apesar do pouco que as administrações públicas fizeram por elas. Ficamos no centro histórico, que se não está bem preservado, consegue pelo menos mostrar que há um esforço para que se mantenha firme. Os grandes casarões com seus azulejos portugueses são o orgulho da cidade, que realmente fazem dela uma paisagem muito particular e bonita. O revestimento externo com azulejos foi uma solução muito engenhosa adotada no século XVIII para refletir o máximo possível da luz do sol e tornar suportável a temperatura no interior dos casarões.

Caminhamos vários quilômetros no centro histórico, com pequenas paradas em algumas igrejas (que além da singela beleza ofereceram preciosas sombras). Pegamos uma visita guiada no Museu do Nhozinho, famoso artesão maranhense que mesmo tendo sofrido por quase toda a vida de uma grave doença que o fez perder as duas pernas e partes dos membros superiores esculpiu belíssimas obras que retratam muito da cultura maranhense. Após duas breves cervejas na Feira da Praia Grande, pegamos nossas bolsas no hotel e seguimos de ônibus para o aeroporto. O ônibus nos deixou a menos de um quilômetro do aeroporto, evitando gastos com taxi.


São Luís tem suas particularidades, mas carece de alguns cuidados que poderiam torná-la mais atraente para os visitantes e interessante para os moradores. As praias não são espetaculares, mas suas conformações permitem o banho. Porém, a não ser que você possa se afastar da cidade, são praticamente todas impróprias para o banho devido à contaminação das águas (o que não impede de serem usadas, principalmente pelos moradores).

Enfim, o dia acabou com a gente no aeroporto aguardando o voo para Belém, marcado para as 01h de 31 de Dezembro.