quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Turquia - parte 6

Banho Turco

A essa altura do campeonato, em matéria de massagem corporal já havíamos experimentado massagem tailandesa, massagem indonésia, reflexoterapia, massagem cambojana e massagem chinesa. Será que os turcos teriam algo de novo a oferecer a esses corpos? Como saber? Pedimos no albergue uma indicação de um bom “banho turco” e nos indicaram justamente o lugar onde já tínhamos ido achando que era albergue.

O banho turco, com algumas pequenas variações é mais ou menos assim: você chega com roupa de banho entra em um salão quase todo de mármore que é um tipo de sauna. Se banha com água quente usando vasilhames. Aí o massagista te molha mais e com você sentado, começa a te massagear. No começo é só porrada. O cara desce a mão nas suas costas, e o pior é que você gosta.


Depois de alguns minutos ele te manda deitar numa plataforma de mármore e, com muita força, massageia e alonga dedos, pés, canelas, coxas, braços, tudo. O cara quase te arrebenta. Em algum momento ele usa óleo nas massagens. Depois, ele faz um esquema com sabão óleo e um saco de pano que provoca muita espuma e a espalha sobre seu corpo, e recomeça a sessão de massagens. A essa altura você já não sabe mais se está sentindo prazer ou dor, mas já tem certeza de que está gostando. Enfim, o massagista te enxágua com água fria e você fica ali tomando sauna. Pode rolar um chazinho depois, para ajudar no relaxamento. E está respondida a pergunta do primeiro parágrafo. Os turcos tem as manhas!

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Turquia - parte 5

Futebol

O Brasil pode até ser famoso pelo futebol, mas se fanatismo contasse ponto, a Turquia com certeza nos deixaria no chinelo. O clássico principal, Fenerbahçe x Galatasaray paralisa o país e é um dos mais emocionantes do mundo. É impressionante o movimento que o esporte causa no país. Além desses dois a capital tem mais 2 times grandes e cada um tem o seu estádio. Os ingressos mais baratos custam cerca de R$50,00 e mesmo assim os estádios lotam.


Craques brasileiros recheiam os grandes clubes e são contratados a preço de ouro. Renilza e eu assumimos ficticiamente a torcida dos dois principais times. Já nem me lembro quem era Galata e quem era Fener. Era só para apimentar as conversas com as pessoas. Dava certo sempre. Até tentamos ir a um jogo, mas quando soubemos dos preços dos ingressos desistimos na hora.


O dono do albergue era torcedor doente do Fenerbahçe. Numa noite ele fez um esquema de telão para assistirmos um jogo contra um time alemão. Era quase madrugada, mas mesmo assim a turma fez uma bagunça enorme para cada um dos quatro gols turcos. Mais uma vez confirmei que se o Brasil tem tantos títulos é porque somos bons mesmo, porque se dependesse de torcida, tem outras muito mais fanáticas que a nossa.


Grande Bazar

O Grande Bazar de Istambul é o maior mercado coberto do mundo. Cerca de 300 mil pessoas passam por lá diariamente. E é muito bonito e organizado. Mesmo já estando acostumado a este tipo de lugar o visitante não deve deixar de conhecer o de Istambul. Incontáveis lojas de temperos, joias, roupas brinquedos, comida e tudo o que se pode imaginar. Além disso, o interior é muito bonito e em vários pontos paramos para tirar fotos do teto, dos lustres e pilastras.


O bazar é repleto de pessoas locais, mas é comum a visita de turistas, em grupos ou independentes. Contudo, devido a um certo glamour que o espaço adquiriu, se a preocupação do cliente é fazer bons negócios, ele deve ficar bem atento porque muitas mercadorias tem os preços bem melhores em lojas que ficam do lado de fora do bazar.


domingo, 25 de novembro de 2012

Turquia - parte 4

Chegada em Istambul 

Chegamos de manhã na metrópole turca. Não tínhamos reserva em nenhum hotel. Fomos atrás de uma indicação do Lonely Planet, mas o lugar era um banho turco. Fomos batendo de porta em porta nos hotéis e só achávamos opções caras, até que encontramos o Paprika (Planet Paprika Hostel). Em algumas horas fizemos amizade com o dono, sua assistente e mais três hóspedes turcos que eram praticamente parte do staff. Apesar das limitações de espaço, gostamos dali e ficamos por vários dias. É preciso dizer que Istambul é uma grande metrópole e espaço é algo que tem um alto custo.


Chegamos cansados da noite dormida no ônibus e não resistimos à cama do albergue. De tarde fomos convidados para participar de um protesto. É que no dia anterior um artefato explosivo atirado por tropas sírias contra os insurgentes naquele país caiu em território turco matando uma mulher e vários de seus filhos. A Turquia respondeu com bombardeio e o congresso do país dera liberdade para que o primeiro ministro declarasse guerra à Síria caso ele achasse necessário.

O protesto era contra a entrada do país em guerra. Aceitamos o convite e de noite estávamos lá. Como eu usava uma camisa da seleção brasileira dava para ver claramente os fotógrafos e cinegrafistas me mirando. Acabei sendo entrevistado por uma emissora local. Me perguntaram se eu sabia o que estava fazendo ali e eu respondi que visitava a Turquia a turismo, mas sabendo do protesto resolvi participar porque eu acreditava que um conflito naquela região envolvendo a Turquia poderia levar a consequências de abrangência mundial, por isso todas as nações deveriam dizer não àquele conflito. A galera do albergue gostou.


No dia seguinte começamos a explorar a cidade. De cara aprendemos que Istambul, mesmo sendo uma cidade enorme não fez com que seus habitantes ficassem carrancudos e desatenciosos. Foi a metrópole onde encontramos as pessoas mais agradáveis. A cidade não deixa a desejar em nada a outros gigantes europeus, como Londres ou Moscou. É limpa e organizada, além de ter um charme só seu. Suas mesquitas são muito bonitas e bem cuidadas. 


Apesar de oficialmente o país ser laico e não existir nenhuma exigência legal especial referente ao uso desta ou daquela vestimenta, o uso de roupas cobrindo braços e lenços na cabeça entre mulheres é muito comum. Entre os homens, quase não se via bermudas ou pessoas andando sem camisa, mesmo com o calor que fazia.

O Estreito de Bósforo divide a cidade em duas partes, um lado na Ásia e outro na Europa. Assim, podemos dizer que todos os dias a gente mudava de continente, até mais de uma vez no mesmo dia. Coisa muito chique. Numa das pontes que unem os dois lados centenas de homens se acotovelam na murada disputando espaço com suas varas de pescar.


A região metropolitana de Istambul tem mais de 13 milhões de habitantes e tem gente vivendo ali há mais de 8.000 anos. Nessa época o Estreito de Bósforo nem havia se formado ainda. Incontáveis terremotos aconteceram desde então e pode-se dizer que em nenhum lugar da cidade uma pessoa pode se sentir seguro quanto a isto. Os terremotos são mais um agente que torna a cidade cada vez mais famosa. Mas apesar disso e de outras mazelas, a Turquia sonha em fazer de Istambul a cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2020. Já tem o nosso voto.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Turquia - parte 3

Pamukkale

Meu primeiro contato com este lugar foi em 1994, lendo uma revista na biblioteca da escola onde estudava. Quase 20 anos depois poder visitar o lugar teve um sentido de conquista pessoal. Trata-se se um conjunto de piscinas termais de origem calcária formadas ao longo dos séculos. Provavelmente a administração do local construiu estruturas para que a água fosse distribuída e se formassem piscinas mais aproveitáveis comercialmente. Se isto aconteceu ficou muito bem feito e a impressão é de que tudo é natural mesmo. Como se fosse pouco, no mesmo complexo ficam as ruínas de Hierápolis. Esta formação é considerada uma das belezas naturais mais raras do mundo.


Chegamos pela manhã, deixamos nossa bagagem numa empresa de ônibus e fomos direto para as piscinas brancas de água quente. Caminhando pela parte superior do calcário encontramos um enorme grupo de brasileiros que vieram em um pacote de turismo. Ninguém usava roupa de banho e estavam ali só para ver. Possivelmente o pacote não incluía tempos para entrar nas piscinas. Uma senhora ao nos ver encharcados nos perguntou onde estávamos nadando (ela ainda não havia visto as piscinas). Aí apontamos os locais e ela disse: “ah, mas essa água deve estar fria”... tadinha, deu uma pena. Ela nem sabia que se tratavam de águas termais. Demos um giro por Hierápolis também. Mais um bom trabalho de conservação das autoridades turcas. O que estas ruínas tinham de diferentes das outras que já acumulávamos no currículo era o fato de estarem próximas às formações das piscinas de calcário. A paisagem formada pela combinação é única.


Fizemos tudo em um dia, mas se ficássemos dois seria um bom negócio. Pegamos a noite um ônibus para Istambul. Não tomamos banho e estávamos com o corpo coberto de pó branco da água. Paciência.


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Turquia - parte 2

Éfeso

Saímos de Kos, Grécia em um ferry pela manhã e logo já estávamos na costa turca de Bodrum. Desde a alguns quilômetros já avistávamos várias mesquitas, mudança na paisagem que naquela região indica a entrada na Turquia. Passamos fácil pela imigração e conseguimos almoçar ainda em Bodrum. Às 14h pegamos um ônibus para Selçuk, cidade de onde se acessa as ruínas de Éfeso.

A primeira surpresa: experimentávamos o melhor serviço de ônibus em nossas vidas, o turco. A regra geral no país são ônibus novos, bem mantidos, não raro com TV individual e fone, serviço de bordo com lanche e banheiro. Antes do anoitecer já estávamos em Selçuk. Já nesta cidade formamos uma excelente impressão do país. Ao contrário do que informa o famoso Lonely Planet (para as mulheres desacompanhadas, “nunca olhe diretamente nos olhos de um homem turco”, pois eles entenderão que você, como ocidental pode facilmente ser conquistada e são muito desagradáveis...), não tivemos nenhum problema de desrespeito.

Os comerciantes oferecem suas mercadorias, mas não são insistente e geralmente são muito agradáveis. As cidades são limpas e organizadas e a presença de gatos muito mansos pelas ruas é a regra por onde se vai. A Izabela, simpática polonesa que trabalha em um albergue que hospedamos em Istambul, nos disse que os turcos preferem os gatos aos cães por entenderem que estes são sujos. O uso de lenço e indumentária cobrindo todo o corpo não é uma obrigação legal para as mulheres, mas mesmo assim é bastante comum.

Já no dia seguinte fomos a Éfeso. Caminhamos uns três quilômetros e estávamos lá. Ganhamos até uma carona de um ônibus de turismo quando faltavam uns 500 metros. A cidade foi construída por populações gregas há mais de 2000 anos e Roma deixou sua marca na arquitetura quando dominou a cidade. As ruínas estão muito bem preservadas e fica claro que recebem um bom tratamento das autoridades turcas. 


O teatro da cidade chegou a ter capacidade para 25.000 pessoas. Em seu centro, demos uns berros para testar a acústica e ficamos impressionados. Com certeza alguém com uma boa voz se fazia ouvir facilmente por todos os expectadores. Criamos coragem e exibimos toda a ginga da capoeira que nós não temos. Ali conhecemos outro brasileiro, o Bruno, que curtia seu último dia no país antes de voltar pra Alemanha, onde trabalha e nos deu várias dicas sobre as cidades que pretendíamos visitar. 


Na volta para Selçuk ainda salvamos este elegante quelônio de um suicídio. O bichinho tentava atravessar uma autoestrada super movimentada e já havia se deslocado alguns metros rumo a morte certa. Encontramos um córrego que passava debaixo da estrada através de manilhas e o colocamos lá. Esperamos que ele tenha repensado sua vida e que tenha mudado de ideia.




Ainda caminhamos um pouco por Selçuk. Fomos a uma bela mesquita, tentamos ir ao castelo, mas decidimos que já estava bom e nos despedimos do Bruno na rodoviária, onde compramos nosso bilhete para Pamukkale.

domingo, 18 de novembro de 2012

Turquia - parte 1

Turquia

Um pouco de história

A Península da Anatólia, que constitui a maior parte da atual Turquia, é uma das áreas mais antigas do mundo habitadas continuamente. Falam-se de organizações sociais de mais de 7 mil anos. Dentre os povos que tiveram presença relevante na região estão os Hatitas, Hititas, (rivais do Egito), Assírios, Caldeus, Frígios, Cimérios e muitos outros.

Os gregos chegaram a partir de 1200 a.C., e fundaram cidades importantes, como Mileto, Éfeso e Bizâncio. A Anatólia fez parte das conquistas de Alexandre em 334 a.C. e após sua morte foi fragmentada em vários reinos.

Enfim, chegaram os Romanos. Em 324 d.C. Constantino I escolheu Bizâncio para capital do império (veja que moral!) rebatizando-a de Nova Roma. Após a sua morte mudaria de nome para Constantinopla e hoje, Istambul. Constantinopla foi a capital do Império Romano do Oriente, que existiu entre 286 e o século V, e ficou conhecido como Império Bizantino.

Os Seljúcidas (Turcos oguzes), originários das periferias de domínios muçulmanos, em 1071 derrotam os bizantinos. Mas em 1243 os mongóis derrubam os turcos e a área passa a ser dominada por inúmeros principados. No século XIII, um desses principados, os otomanos (descendentes de Osman) se impôs aos restantes e em dois séculos se tornou um dos impérios mais bem sucedidos da história, o Império Otomano.

Em 1453 os Otomanos conquistam Constantinopla e põe fim ao Império Bizantino, o que muitos consideram marcar o fim da Idade Média.

O Império Otomano atingiu o seu apogeu nos séculos XVI e XVII. E botaram terror. Ameaçaram seriamente a Europa Central e Itália. Como dominavam a principal rota comercial entre Europa e Ásia, os europeus foram forçados a achar outro caminho para chegarem às Índias, o que conseguiram com Vasco da Gama em 1498.

Mas, impérios já nascem fadados a se decomporem. E a partir do século XVIII foi a vez do Otomano começar o seu declínio. Seu final foi decretado pela união à Alemanha na Primeira Guerra. Deram trabalho aos aliados, mas foram derrotados. Tiveram que ceder à França e Reino Unido as terras da Palestina, Síria, Líbano e Mesopotâmia. Foi imposta a desmilitarização e transformação em zonas internacionais dos estreitos do Bósforo, dos Dardanelos e do Mar de Mármara, além de entregar à Grécia a região de Esmirra, dentre outras perdas. Ou seja: uma humilhação total.

O “acordo” foi tão desfavorável que é claro que um povo tão cheio de brios não ia aceitar quieto. Já a menos de dois anos após o fim do conflito, se iniciava um movimento pela “Independência” turca. A princípio um movimento político, logo se formaram frentes militares em várias direções.

Após travarem guerras contra Armênia, França e Grécia, em 1922 a República da Turquia surge como uma país, tendo suas fronteiras atuais aí delimitadas. O fim da guerra ficou marcado pela troca de populações entre Turquia e Grécia. Cerca de 2 milhões de pessoas foram deslocadas. Muçulmanos foram da Grécia para a Turquia e cristãos ortodoxos fizeram a rota contrária.

Na Segunda Guerra só entrou no conflito em 1945, mas dessa vez, no lado vencedor. Devido à proximidade com a Rússia, recebeu grande apoio militar dos Estados Unidos na Guerra Fria e desde a década de 50 faz parte da OTAN, tendo sido considerada uma forma de barrar a expansão do comunismo na região. Sua localização também é estratégica no sentido de separar a Europa dos países “não alinhados” do Oriente Médio, como Irã e Síria.

Em 1960, 1971, 1980 e 1997 ocorreram golpes de estado militares que interromperam temporariamente a democracia.

A Turquia é muito rica em recursos naturais e tem experimentado nas últimas décadas grandes avanços econômicos. Se não fosse a forte oposição de algumas lideranças, principalmente da França, provavelmente já estaria na União Europeia.

Desde a década de 1970 a Turquia enfrenta um forte movimento do povo Curdo exigindo maior autonomia e até mesmo independência. Em 1984 iniciou-se uma luta armada e mais de 30 mil pessoas já morreram no conflito.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Grécia - parte 4

Kos

Pegamos um ferry noturno para Kos e, como estava vazio, pudemos ficar nos assentos da primeira classe. Melhor do que isso, pudemos dormir no carpete do ferry. De manhazinha chegamos em Kos.


Escolhemos essa ilha porque estava no nosso caminho para a Turquia, a apenas alguns quilômetros da costa deste país. Além de praias legais ela possui um forte de pedra antigo bem nos cais o que dá uma paisagem muito legal. Por dentro é um sitio arqueológico aberto a visitações gratuitas. Lá também tem um termas, mas quando descobrimos já estávamos no último dia e não animamos pegar ônibus pra ir.

Depois de 3 dias de praia partimos para a Turquia.

Os gregos

Apesar de estarmos pessimistas com o país devido à crise, quase não pudemos senti-la. Aliás, sentimos os efeitos positivos: os preços estavam bastante acessíveis. Não chegavam a ser baratos, mas o país não causou rombo no nosso orçamento. O calor humano dos gregos foi uma grata surpresa. Geralmente sorridentes e expansivos, são sensivelmente diferentes dos europeus de países mais ao norte. Foi uma excelente despedida da Europa. Se copiassem as receitas da culinária macedônia seria um país quase perfeito.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Grécia - parte 3

Santorini

Atenas até que tinha mais coisa que podia ser visitado, mas com o calor que fazia o melhor caminho seria fugirmos para uma das famosas ilhas gregas e escolhemos Santorini. Sem contar que se hospedar mal em Atenas estava ficando mais caro que um lugar melhor em uma praia. Na manhã do nosso terceiro dia no país pegamos um ferry para a ilha. Vale a pena fazer este tipo de viagem à luz do dia, para apreciar as paisagens. São incontáveis ilhas de uma formação rochosa muito bonita, com o solo árido contrastando com o mar azul grego, mundialmente famoso.


Santorini é um complexo de ilhas que são o que sobrou de uma enorme explosão vulcânica a cerca de 3500 anos. Como não há registros de restos mortais humanos dessa época, presume-se que a população local teve tempo de fugir da ilha. Mas como também não há registro de terem chegado a parte alguma, a hipótese mais aceita é que as embarcações que os levavam foram destruídas pelas ondas resultantes da explosão.


Descemos do ferry e uma multidão segurando cartazes de hotéis gritava para os recém chegados oferecendo seus serviços. Pegamos uma vã para Perissa, do outro lado da ilha, o lado barato. Como havia acabado a alta temporada, os preços estavam muito bons nessa praia e ficamos 3 dias lá. A praia é de areia escura e um bocado de pedregulho. Mas mesmo assim é muito bonita. A água é fria mas dá para entrar. Dezenas de mulheres faziam seus top less mas eu só tinha olhos para Pretinha. No hotel tinha piscina também e a gente pegava praia de manhã e piscina a tarde. Achamos um mercadinho que vendia vinho em garrafas pet baratinho. Não entendemos nada de vinho mas o fato é que gostamos e isto é o que importa.

Depois desses três primeiros dias subimos para Thira, a parte realmente famosa da ilha, onde todas as construções são branquinhas com detalhes azul. Ali a coisa fica cara. Mas encontramos o lugar mais barato da ilha. Uma mistura de camping e hotel, onde pechinchando bem conseguimos um quarto por 25 euros/dia.



Gastamos um dia inteiro em um passeio de barco onde visitamos a ilha central do vulcão, onde ainda se vê umas fumacinhas saindo da terra, uma pequena baía onde eles juravam que a água era quente, mas era apenas alguns graus menos fria que o restante e terminou com uma passagem pela ilha Thirassia.
 


O outro dia gastamos visitando a praia vermelha. Muito legal também. Pegamos um ônibus local e fomos. Na chegada há um sitio arqueológico todo emperiquitado, com cobertura, etc, mas não vimos nada demais lá e corremos para a praia. Além da areia vermelha desta praia, vimos mais água fria e transparente, mais top less e velhinhas europeias trocando de roupa na praia mesmo, sem frescura. Muito evoluídas essas europeias!


Ebulidor

Há um bom tempo tivemos a grande ideia de comprar um ebulidor. Aquele aparelhinho com uma extremidade de metal ligada a uma resistência usado para aquecer água. Com ele, mesmo em hotéis sem cozinha disponível poderíamos preparar um café ou até um macarrão instantâneo. Mas só fomos encontrar o danado na Bulgária, onde o vendedor nos disse: fiquem tranquilos porque isso foi feito na Bulgária e não na China.

Usamos algumas vezes sem problemas. Mas lá pela quarta ou quinta vez o treco começou a soltar um cheiro de queimado. Certa noite, no hotel em Santorini, Renilza foi usá-lo e soltou uma fagulha. Ela ficou com medo, mas decidimos continuar usando. Na noite seguinte Renilza estava na área da piscina usando internet e eu fui fazer nosso café. Quando introduzi o plug na tomada o treco estourou com um barulho seco e imediatamente o quarto ficou às escuras. Provavelmente foi um fusível que queimou, mas tivemos que trocar de quarto. Mas já estávamos de saída da ilha e por lá ficou nosso ebulidor búlgaro.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Grécia - parte 2

Atenas

A chegada em Atenas foi meio decepcionante. Depois que saímos do Brasil foi a primeira vez que pegamos um engarrafamento. A rodoviária, um horror! Feia, barulhenta, meio bagunçada. Lá pegamos um ônibus para o centro. Feio também. Calçadas e prédios desgastados, muitos camelôs, flanelinhas, alguns lugares lembravam a Avenida Paraná em BH. Mas aos poucos fomos nos entendendo com a cidade. Ficamos num hotel simples bem no centro, onde o proprietário, um senhor muito simpático nos deu todas as dicas. Descobrimos onde comer bem e barato, como chegar aos pontos turísticos e recebemos as já comuns recomendações para tomar cuidados com os batedores de carteiras.

Entrando em ação

Ao chegarmos em Atenas Renilza ostentava uma tremenda enxaqueca. Tadinha! Há pouco mais de um mês torceu o pé. Mal se recuperou e teve tilde na coluna. E ainda não tinha esquecido o trauma quando a dor de cabeça bateu. A sorte dela é que existe com ela a minha presença, que para ela já é a cura para todas as ziquiziras. Mas depois de se automedicar no dia seguinte estava pronta para quebrar o pau e fomos ver se Atenas melhorava a impressão inicial.

Compramos um bilhete unificado para vários locais e valeu a pena.

Começamos a caminhada pelas ruínas da antiga biblioteca. É algo de encher os olhos, mas como tinha coisa muito mais relevante nos esperando, só demos uma olhadinha. Seguimos uns turistas que pareciam saber aonde iam e chegamos ao templo de Hephaistos. Agora sim. Se trata de um complexo de ruínas onde há milênios era uma cidade (ou quase isto), com praças, antigos canais e o templo propriamente dito em cima de um cocuruto de colina, dominando a paisagem. Tudo é muito impressionante.


Dentro do complexo tem também um museu com achados arqueológicos dali. Interessante, mas o que nos atraiu mesmo foi a sombra que ele proporcionava. Estava fazendo muito calor. Subimos por uma trilha toda pavimentada e chegamos à Acrópoles. Ela já impressiona quando vista de longe, da parte moderna da cidade. De perto então! O problema é um certo tipo de pessoas que insiste em visitar os mesmos lugares famosos ao mesmo tempo que a gente (os outros turistas).


E dá-lhe fila. Os ônibus chegam às dezenas e vomitam as multidões. Fazer o que! Fomos juntos. Apesar de estar tudo em ruínas é difícil de acreditar como o que ainda resta pode sobreviver a tantas barbaridades. Depois do fim do Império Romano o templo foi:

- Saqueado;
- Abandonado;
- Incendiado;
- Esculturas foram arrancadas por cristãos que julgavam aquilo paganismo;
- O Templo de Atenas foi transformado em Igreja Católica (que vergonha dos meus irmãos em cristo!); depois foi transformado em mesquita pelos turcos;
- Explodido;

Não necessariamente nesta ordem.

Mas o que resta, combinado com a vista panorâmica do entorno paga fácil a viagem a Atenas. Não é preciso ser especialista no assunto para entender que o gênio humano teve ali um de seus apogeus. A qualidade das construções e esculturas é muito alta. Passamos no Museu da Acrópole de Atenas e aprendemos muito sobre a cultura grega. Este museu é um excelente complemento do passeio às ruínas, na parte didática. Tem a apresentação de um vídeo que mostra todas as etapas da história de Acrópoles. Além de mais um ponto de descanso na sombra, pois lá fora estava fervendo.

Não muito distante, visitamos o templo de Zeus. O templo tem uma história interessante e a sua construção é citada no livro A Política, de Aristóteles.


O que mais atrai turistas para a Grécia são os cruzeiros por suas ilhas. Mas ir até lá e não dar uma passadinha nesses locais históricos é um desperdício muito grande.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Grécia - parte 1

História da Grécia

A importância da Grécia na história da humanidade está concentrada no fato de há mais de 2800 anos suas cidades Estados terem sido o berço da civilização ocidental e, ainda mais importante, desenvolveram e experimentaram a democracia e estabeleceram os princípios dos direitos individuais. Esses dois fatores são hoje reconhecidos pela maior parte dos povos como o que há de melhor para a convivência em sociedade. As cidades Estados eram independentes entre si, mas compartilhavam a mesma cultura.

As organizações sociais daquele povo proporcionaram um longo período de prosperidade, quando o homem pode desenvolver sua máxima habilidade em vários campos. A arte da guerra conheceu com eles alguns princípios que até hoje são úteis. A fartura de ruínas de teatros, chegando à capacidade de mais de 20 mil pessoas é um sintoma fortíssimo de que a dramaturgia já naquela época atingira o seu auge. A matemática, a arquitetura, as artes plásticas a filosofia e o complexo mundo da mitologia grega mostram que este povo conseguiu criar um oásis social em meio ao deserto de selvageria que reinava no ocidente.

O período áureo foi por volta do século V a.C., quando Péricles, Platão e Sócrates estavam em ação. Alexandre o Grande, natural da Macedônia quando dominou quase todo o mundo conhecido levou consigo a cultura grega. 

As Cidades Estados na antiguidade nunca se uniram em um governo central. Destaque para a Guerra do Peloponeso, que envolveu praticamente todos os povos da região, teve como principal resultado o enfraquecimento generalizado de todas as cidades. A falta de uma centralização do poder entre os gregos facilitou o domínio do Império Romano, concretizado em 146 a.C..

Mas, devido à admiração que a cultura grega exercia sobre os romanos, esta continuou prosperando, porém junto à romana, dando origem a uma nova fase na produção cultural do ocidente.

Após o colapso do Império Romano, o domínio da Grécia foi herdado pelo Império Bizantino e depois ela fez parte do Império Otomano.

Em 1829, finalmente a Grécia conseguiu sua independência e passou a existir como um país. Mas as crenças do povo da Grécia antiga já haviam se transformado em mitologia e a nação hoje é predominantemente cristã ortodoxa.

A população do país é de quase 12 milhões de pessoas e tem um elevado nível de desenvolvimento humano. O país recebe quase 20 milhões de turistas todos os anos e ainda é o maior produtor de navios comerciais do mundo. Porém, a crise enfrentada nos últimos anos chegou a por em cheque a permanência do país na União Europeia e a continuidade do uso do Euro.

domingo, 11 de novembro de 2012

Macedônia - parte 4

Bitola

Mais uma cidade agradável da Macedônia, porém, sem muito que oferecer para o turista. Rolava um festival de cinema e a cidade estava um pouco agitada. Mas nós não participamos de nada. Visitamos umas ruínas em um sítio arqueológico que preservava partes de um teatro e um bocado de parede e pilastras. Mas nada perto do que esperávamos ver na Grécia. De Bitola pegamos um táxi até Florina, já na Grécia. Passamos a fronteira sem o menor trabalho. O taxista levou nossos passaportes aos agentes de fronteira e nos trouxe já carimbados.


Comida

O macedônio come bem. Os pratos e as porções são fartos. Usam muita carne, principalmente de boi, frango e porco. As saladas são grandes bonitas e saborosas. Destaque para uma salada típica (skopja ou algo assim) que leva tomate, pepino, azeitona e um queijo deles lá. Já no primeiro dia, em um restaurante indicado pelo albergue, vimos no cardápio algo muito parecido com o nosso “bife a cavalo”. Pra quem não conhece, é um bife com um ovo frito por cima. Porém, o macedônio tinha uma diferença: o bife na, verdade era uma fusão de um bife de boi, com um de porco e queijo no meio. Só de pensar dá vontade de voltar lá. Cá pra nós, tratando-se do que o povo come de verdade, no leste europeu se come bem melhor do que no lado ocidental. Mesmo considerando lugares famosos como Itália e França. Não estamos falando de restaurantes chiquérrimos e caros, porque estes tem que ser bons em qualquer lugar.


Despedida da Macedônia

Este país de história milenar, mas de organização recente, apesar de não ter nada que se possa chamar de imperdível nos foi muito agradável. Pessoas educadas e amigáveis, comida ótima, farta e barata. Enfim, facilmente poderíamos ficar mais dias por lá. Mas com Grécia e Turquia pela frente, não podíamos nos dar esse luxo.

sábado, 10 de novembro de 2012

Macedônia - parte 3

Ohrid

Seguimos para Ohrid. À margem do lago de água doce que divide com a Albânia, esta charmosa cidade é a principal atração do “litoral” da macedônia. Nos hospedamos a quinhentos metros do lago. Lugar legal, numa rua de pedestres repleta de lojas e restaurantes. Tínhamos como vizinha uma mesquita, de onde escutávamos as chamadas para as orações nos autofalantes.



As praias da cidade têm muito pedregulho misturado com a areia, e é meio cinza. Em Skopje juraram para a gente que a água era quente, e em Ohrid todos confirmaram. Mas nós não concordamos. Devia estar igual à de Cabo Frio ou Florianópolis. Tudo bem, até dava para entrar. Ainda mais sendo nós mineiros, que não tem direito de reclamar dessas coisas. Mas acabando não entrando, pois no dia que selecionamos para nadar choveu.

Depois de rodar pela cidade, fomos conhecer o Forte de Samuel. Se comparado com alguns que já conhecíamos não é muito grande. Mas tem o seu valor, além da bela vista da cidade e do lago que se pode ter de suas muralhas.



A cidade tem várias igrejas e mesquitas também, que valem algumas fotos. Outro ponto interessante é o teatro grego. Nos pareceu que foi reconstruído, ou no mínimo restaurado, devido ao estado. Até os assentos eram numerados. Não ligamos. Demos uns berros e eu até fiz um discurso para testar a acústica. Realmente os caras tinham noção das coisas. Vimos que sem forçar a voz era possível uma plateia de cerca de 2000 pessoas (cálculo meu) poderia me ouvir.

Passamos o meu aniversário em Ohrid. O pessoal do hotel, sabedor da importância da data porque viram no meu passaporte, nos presenteou com duas garrafinhas de vinho macedônio com um singelo bilhetinho “happy birthday, Mr Ricardo”.



Enfim, poderíamos ter feito um passeio de barco ou rodado mais pela cidade, mas preferimos reservar tempo para descansar e tirar o atraso do blog. Ao fim de 6 dias fomos para Bitola.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Macedônia - parte 2

Skopje

Se na Grécia o turista pode se cansar de ver ruínas de antigas construções de mármore, parece que Skopje tem uma proposta diferente. Aproveitando-se da rica história antiga da região, a cidade está construindo um centro turístico que parece tentar fazer novo tudo o que vemos em ruínas pela região. Ainda não está pronto, mas vários prédios, um calçadão, praças, monumentos, etc, estão ganhando vida. A grosso modo, não é nada original (há mais de 2000 anos se construía prédios com essa aparência), mas tá ficando bonito.


Mas Skopje não é só isto. A cidade é muito agradável, tem várias igrejas e mesquitas bonitinhas espalhadas, um enorme forte, que estava fechado para visitações e outros lugares interessantes que podem ocupar o visitante por alguns dias. Além disso, se hospedar e comer bem é muito barato, o que para viagens como a nós pode ser muito interessante. Às vezes é preciso parar por uns dias para descansar e reorganizar as coisas. Neste caso, nada como um lugar agradável cujo custo de vida seja baixo.


Canyon Matka

A 15 quilômetros a sudoeste de Skopje, o curso do Rio Treska esculpiu um canyon muito bonito, com paredões, florestas e cavernas. Veio o homem e colocou uma barragem para uma usina hidrelétrica e formou-se um lago. Algumas cavernas e construções foram afogadas, mas o lago ficou bonito. Foram construídos, abaixo da represa, uns desvios em partes do fluxo do rio, formando um local para competições de caiaque e rafting, além de proporcionar vários locais onde as pessoas podem nadar e fazer piquenique. Então, além de ser um ponto turístico, os moradores da região são os principais usuários


Chegamos lá com um grupo, em um free tour (onde só se paga ao guia o que achar justo, se quiser). Fomos os primeiros a alugar um caiaque e entrar na água. Apesar do calor, a água ali é fria e nem cogitamos nadar. Mas os moradores locais e alguns turistas nem ligam e nadam assim mesmo. Remamos rio acima por uns 35 minutos e deixamos 25 para o retorno. Massa demais. Depois pegamos uma trilha e exploramos a área até chegar num povoadozinho. Porém acabamos não indo nas cavernas. O tempo não era suficiente para ver tudo, mas mesmo assim valeu a pena.


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Macedônia - parte 1

Macedônia

Como são as coisas, não é?! Antes de iniciarmos esta viagem, nem sabíamos da existência deste país. Estávamos na Rússia quando um amigo que fizemos nessa viagem nos deu altas dicas. O depoimento do Ivan, croata e viajante experiente, foi o que faltava para cortar a Islândia. Ele conheceu o país e nos deu informações preciosas, principalmente sobre custos. Por outro lado, o Ivan nos apresentou a Macedônia e indicou o país como um lugar barato, onde se come bem e onde as pessoas são muito acolhedoras. Enfim chegamos à terra de Alexandre o Grande.

Um pouco de História

A República da Macedônia é um país novo, com 21 anos de existência. Mas o povo tem uma história bastante longa e confusa.

Para evitar confusão, alguns esclarecimentos. Existe nos Balcãs uma região chamada Macedônia. A maior fatia desta região está na Grécia. O restante está na República da Macedônia, Bulgária, Sérvia e Albânia. 35% dessa área fez parte da antiga Iugoslávia, com o nome de Macedônia (uma das 6 repúblicas constitutivas). Com o colapso do comunismo no leste europeu, a Iugoslávia se desmanchou. Neste processo, a Macedônia se declarou independente.

Porém, a Grécia deu o grito: não aceitava que o novo país tivesse este nome, por se tratar de uma região da Grécia e por pertencer ao passado cultural do país. Assim ela entrou na ONU com o nome “Antiga República Iugoslava da Macedônia”. Mas com o tempo, todo mundo passou a se referir ao país como Macedônia mesmo.

Entendo as duas partes. Façamos analogia à Amazônia. Todos sabemos que a maior parte da floresta está no Brasil. Mas vários vizinhos preservam a floresta em seu território, inclusive usando o nome da floresta como o de uma região. Imagine, por exemplo, que a região chamada Amazônia na Venezuela consiga independência e se declare ao mundo com o nome de Amazônia. Vai dar um bafafá. O Brasil não vai aceitar, mas este é o único nome com o qual os habitantes daquele país se reconhecem. Complicado mesmo.

Pois é, ao longo dos séculos a região foi dominada por eslavos, búlgaros, pelo Império Bizantino e Império Otomano, turcos. Mas a história recente é marcada por ter sido parte da Iugoslávia, por ter sido comunista, pela independência obtida de forma pacífica e, enfim, por 21 anos que o país vem tentando se virar. Parece não estar mal. São dois milhões de habitantes, convivendo pacificamente como católicos ortodoxos, católicos romanos e muçulmanos. O PIB não é grande. Menor que o lucro de várias multinacionais. Mas com uma boa distribuição de renda, garante condições dignas de vida para grande parte da população.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Polônia - parte 5

Esclarecimento: em função do nosso interesse em visitar Israel e de alguns relatos sobre a imigração israelense vasculharem notebooks, facebook, etc., resolvemos adiar esta postagem para após nossa entrada em Israel, evitando assim alguns aborrecimentos.

Auschwitz

Ao longo desta viagem, Renilza e eu dezenas de vezes nos pegamos falando sobre o destino da humanidade. Vários foram os momentos em que concluímos que as chances de um futuro melhor, baseado na crescente melhora dos entendimentos entre nações e pessoas. Porém, em outros tantos momentos nos vemos em diálogos onde não conseguimos ver um futuro promissor para os seres humanos nas próximas décadas. A visita a Auschwitz nos joga mais uma vez nesta situação. Hoje o antigo campo de extermínio Auschwitz-Birkenau é um museu estatal. Nossa primeira impressão é que era possível fazer algo mais emocionante, aproveitando o histórico do lugar, com utilização de recursos como bonecos de cera. Mas em seguida, dado à incrível carga histórica do lugar, aceitamos que se tentassem tornar o museu mais realista com o uso desse tipo de recursos, seria necessário montar um ambulatório só para atender turistas vitimas de desmaios causados por fortes emoções.


Pra quem colou na escola, em junho de 1941, Segunda Guerra Mundial, o alto comando do governo alemão liderado por Adolf Hitler decidiu que todos os judeus encontrados na Alemanha e em terras dominadas deveriam ser concentrados para posterior extermínio de forma sistemática. Isto teria passado à história como “Solução Final da Questão Judaica”.

Um quartel militar da Polônia na localidade de Oświęcim, renomeado pelos alemães como Auschwitz, foi transformado em pouco tempo em campo para prisioneiros políticos e de guerra e em seguida para prisioneiros de vários grupos étnicos e religiosos, como ciganos, testemunhas de Jeová, comunistas e principalmente judeus. Todo mundo era pessimamente alimentado e abrigado e ao mesmo tempo forçado a trabalhos escravos seja na expansão do campo, seja em atividades agrícolas e também em indústrias que se instalaram ali, se aproveitando da mão de obra escrava. Mencionamos aqui duas empresas que usaram largamente o expediente e que hoje são mundialmente famosas: Siemens e Bayer.

Em 1941, o campo se tornou o maior e mais eficiente campo de extermínio em poder da Alemanha. Ali, usando antigos galpões e casas com suas frestas lacradas (câmeras de gás), judeus iam direto do trem, caminhando com calma (a maioria não sabia ou não acreditava que iam ser mortos) para dentro das construções. Ouviam que era para deixar seus pertences de forma organizada do lado de fora e que iam apenas tomar uma chuveirada para despiolhamento. Se despiam, entravam no galpão e a porta era fechada. Segundos depois, por algumas tampas no teto, eram jogadas latas de Zyclon B abertas. Este inseticida passava rapidamente, com o alívio da pressão, da forma sólida para gasosa. Algumas latinhas eram suficientes para matar centenas de pessoas. Minutos depois, todos estavam mortos. Prisioneiros judeus entravam, raspavam as cabeças dos mortos, arrancavam os dentes de ouro, anéis e o que de valor encontravam nos cadáveres e tudo era confiscado pelo governo alemão. Os mesmos prisioneiros levavam os corpos para os fornos para serem cremados (no início se usava valas comuns, mas era mais trabalhoso e o solo e rios da região foram contaminados, chamando a atenção da vizinhança). Tudo tinha que funcionar como numa indústria, pois os trens não paravam de chegar. Apenas os prisioneiros dos primeiros transportes (centenas de milhares) foram registrados. Na Solução Final, isso já não era mais necessário. Sendo assim, nunca saberemos quantas pessoas foram realmente assassinadas ali. Os números mais aceitos, baseados em testemunhos, cálculos do número de trens enviados de outros lugares e até pelo número de latinhas de Zyklon B encontradas, apontam entre 2,5 a 4 milhões de pessoas assassinadas só neste campo.

Pois bem. Pegamos um tour guiado em espanhol. Fomos levados a vários locais importantes do complexo de centenas de hectares. No Bloco 11 ocorriam torturas, julgamentos sumários, e outras mazelas. Numa delas, prisioneiros eram forçados a entrar em uma cela sem janelas por uma portinhola. Tinham cerca de 1m quadrado e eram espremidos lá quantos coubessem. Eram trancados e lá mantidos até morrerem de fome ou de outra coisa. Em outro bloco, há o registro fotográfico de milhares de vitimas dos primeiros tempos. E assim vai. Passamos pelo muro onde ocorriam os fuzilamentos, pela forca, pelas cercas... e a história vai sendo contada. Em outros galpões são mostrados milhares de roupas, sapatos, próteses de pernas, enfim, pertences dos judeus que foram deixados para trás quando o campo foi abandonado. Enfim, a sala que para nós é a mais cruel: nela é exposto em enormes vitrinas cerca de 7 toneladas de cabelos dos judeus que seriam vendidos a fábricas de tapetes e de outros utensílios. Inclusive, nesta sala está exposto um tapete com sua fabricação interrompida. Há vários montes de cabelo que ainda estão em tranças com as fitinhas, facilmente identificáveis como proveniente de crianças. Macabro, macabro, macabro. A visita segue. Vamos a galpões onde ocorriam as cremações, a uma locomotiva que trazia prisioneiros e a um monumento em homenagem aos mortos feito décadas depois da libertação, de estilo comum às centenas espalhados pelos países que um dia foram socialistas.

Algo inusitado: por todo o museu se pode ver dezenas de militares israelenses em visita e algumas vezes cantando canções judaicas e algo que parece ser um tipo de cerimônia. Grupos organizados de jovens de Israel também são vistos aos montes.

É um lugar marcante. Curiosamente, parece ser mais fácil ver na Polônia manifestações contra russos do que contra alemães. Acredito ser por dois motivos: o primeiro, a Rússia foi inimiga por séculos da Polônia. O Segundo, o longo período de domínio soviético. A Alemanha fez um estrago enorme na Segunda Guerra, mas foram “só” 6 anos. O nosso guia mesmo, demostrava ter mais raiva dos russos, que segundo ele, poderiam ter chegado a Aushwitz e o libertado bem antes do dia em que de fato isto aconteceu do que da Alemanha, que assassinara 6 milhões e Poloneses.

Na verdade, Auchwitz não foi libertado pelos russos. Foi abandonado pelos alemães e dias depois os russos chegaram e lá encontraram algumas milhares de vitimas ainda vivas, incluindo mais de mil crianças.

É um passeio triste, mas muito enriquecedor. Ali vimos que os homens ainda são muito toscos e que, esperamos estar enganados, mas ainda presenciaremos muitos absurdos nas próximas décadas.

Quisera eu errar nessa previsão, mas há alguns anos a maior potência militar atual invadiu o Iraque e causou a morte de centenas de milhares de pessoas apenas para continuar tendo acesso a petróleo barato. Outro exemplo ainda mais cruel: Israel, nação judia, formada por descendentes de várias pessoas que morreram no mesmo Auschwitz, massacra com requintes de crueldade a população palestina na faixa de gaza, usa fósforo branco (arma química proibida) em suas ofensivas, descumpre uma após outra resolução da ONU, promove bombardeios vingativos (por exemplo: um jovem palestino mata um soldado Israelense num atentado a bomba. Como o palestino morre no ato e não tem como ser punido, a casa dos pais do palestino é bombardeada). Recentemente uma foto correu a internet: soldados israelenses amarraram um menino de 13 anos à frente do jipe militar e assim entraram com ele em uma área ocupada por palestinos para evitar que o veículo fosse apedrejado. Ou seja, se os próprios judeus não aprenderam a serem mais humanos depois do holocausto, quem mais poderia ter aprendido alguma coisa?

Mas vamo que vamo...


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Bulgária - parte 2

Sófia

É um dos locais com ocupação humana contínua mais antiga na Terra. São mais de 7000 anos. Porém, pouca coisa restou anterior ao século VII. A cidade está um pouco melhor que Bucareste, mas também tem suas limitações. Porém, garante pelo menos uns três dias de atrações para os turistas mais exigentes.

Além de Ruse, na fronteira, foi a única cidade em que nos hospedamos. Ficamos ali por 4 dias, sendo um desses gastos em um passeio ao Monastério de Rila.

Fizemos um city tour de graça em uma tarde e vimos por fora boa parte do que há de melhor no centro histórico.


Monastério de Rila

Este monastério fica a cerca de 120 quilômetros ao sul de Sófia. Com quase 1000 anos de fundação o local é cercado de histórias e lendas. Se trata de uma das atrações turísticas mais importantes do país. Vários santos passaram por ali. O local conta com um museu e uma igreja Ortodoxa dentro do complexo. A igreja tem um dos interiores mais bonitos que já vimos.

Destaque para dois quadros em uma pilastra sendo o primeiro contendo a figura de 36 santos que passaram por ali. No segundo, em 36 quadrinhos correspondentes aos do primeiro, protegidos com vidro, pedaços de ossos de cada um. Relíquias que os fiéis entendem como sagradas. Vimos várias pessoas tocando o relicário e se benzendo. O Monastério é cercado por montanhas arborizadas e um riacho. Está bastante bem conservado e merece uma visita do viajante que chegar à Bulgária. 


Na volta para Sófia, paramos na Igreja Boyana. Trata-se de uma igrejinha bem pequenininha, do século XI que conseguiu resistir ao tempo e preserva em bom estado afrescos dessa época. Por isso é patrimônio da Humanidade da Unesco. Os cuidados para preservar o local são extremos. O interior da igrejinha é todo climatizado e só é permitida a entrada de 8 pessoas por vez. Fotos no interior são proibidas, mas por fora pode-se toma-las à vontade.



De saída

Não tínhamos planos muito ambiciosos para a Bulgária, principalmente porque desistimos de pegar praia no Mar Negro pelo menos por enquanto. Depois de 5 dias, pegamos um ônibus para Skopje, capital da Macedônia. No caminho, o porta-malas abriu com o busão em movimento e várias bolsas caíram e foram recuperadas. As nossas estavam do outro lado e nada sofreram. No início da tarde já estávamos sob o sol de Skopje.

sábado, 3 de novembro de 2012

Bulgária - parte 1

Nada sabíamos da Bulgária antes da Dilma se candidatar. Mas o país estava ali, de bobeira, no meio do nosso caminho pelo Leste Europeu. Entrou no nosso roteiro assim. Lá, o fato de ser brasileiro atrai muito as atenções. Todos os Búlgaros sabem que a Dilma tem ali suas origens e eles tem muito orgulho disso. Um cara nos disse que antes só conheciam o Brasil pela música e pelo futebol. Agora, todos sabem bastante coisas sobre nós. Eles chamam a Dilma de “a presidente búlgara do Brasil”. 

Um pouco de História 

O primeiro estado búlgaro formou-se ao final do século VII. Nos séculos seguintes, entrou em guerra contra o Império Bizantino por diversas vezes para garantir a sua existência. Porém, não logrou resistir à invasão do Império Otomano, ocorrida ao final do século XIV. 

A Bulgária recuperou sua independência em 1878, como um Principado Autônomo, e sua independência total foi proclamada em 1908. Pouco tempo depois, nos anos 1912 e 1913, envolveu-se na Guerra dos Bálcãs. Durante a Primeira Guerra Mundial e, mais tarde, na Segunda Guerra Mundial, combateu ao lado das nações que vieram a ser derrotadas no conflito. 

Finalizada a Segunda Guerra Mundial, ficou sob a influência da União Soviética e tornou-se uma república popular em 1946. O governo comunista encerrou-se em 1990, quando o país teve eleições com a participação de diversos partidos. (Wikipédia). 

Fronteira 

A saída da Romênia e chegada à Bulgária foi bastante demorada. Nos consumiu 2 dias. Saímos de trem de Brasov bem cedinho e fomos pra Bucareste. Pegamos outro trem para Giurgiu. Vendo no Google Maps parecia que ia ser fácil: teríamos que chegar a Giurgiu, caminhar uns 7 quilômetros cruzando o Rio Danúbio por uma das mais de 10 pontes indicadas e estaríamos em Ruse, Bulgária. Então tá. 

Chegamos a Giurgiu de trem. A última estação do país no meio do mato (dias depois descobrimos que a estrada de ferro é ligada à da Bulgária e que tem um trem russo que faz o trajeto). Nada de taxi, ponto de ônibus, apenas umas casinhas, muitos cachorros e gatos pelas ruas (muitos mesmo!). Com nosso mapinha tirado do Google e uma bussolazinha de pulseira de relógio fomos andando. Chegamos ao centro da cidade e trocamos nossos últimos Leu (moeda da Romênia) por um punhado de Lev (moeda da Bulgária). 

Andamos. Atravessamos uma ponte e pensamos estar já na Bulgária. Que nada. Estávamos era numa ilha do Danúbio, e já tínhamos percorrido os 7 quilômetros. Estávamos cansados, pois naquele dia em Brasov já tínhamos carregado nossa bagagem por mais de 4 quilômetros. Onde constava uma ponte no Google não havia nada. Achamos um táxi que nos levou até a passagem da fronteira por 20 Euros. 

Aí desconfiamos que os dois países não são lá aquela amizade toda. Não são inimigos, é fato, mas o rígido controle de fronteira, a ausência de trens locais ligando as capitais e o baixo movimento, mostra que as relações entre os dois países tem muito para melhorar. Passamos a fronteira e desistimos de procurar nosso hotel a pé, pois estava escuro pra caramba e não víamos nem sinal da cidade. 

Um táxi caiu do céu e negociamos a corrida. Boa decisão: o táxi andou pra caramba até chegar ao nosso hotel. Fizemos check in, deixamos a bagagem e fomos procurar comida e uma boa cerveja. De noite a Ruse é bem feia e mal iluminada, mas achamos um bom restaurante e estávamos a salvos. De manhã a cidade ficou bem melhor. Nada que se diga “nossa, como essa cidade é bonita!”, mas deu pro gasto. Atravessamos o centro histórico da cidade que um dia foi um polo cultural, chegamos à rodoviária e compramos passagens para Sófia. À tarde já estávamos na capital Búlgara.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Romênia - parte 6

Sinaia

Em Sinaia fica o Castelo de Peles, edifício mais visitado por turistas no país. Foi o primeiro prédio a receber iluminação elétrica na Europa e é um dos mais bonitos do mundo. Foi construído pelo Rei Carlos I em uma época de muita prosperidade. Mesmo assim, o luxo extremo em prédios públicos, seja em qualquer época sempre nos causa asco. Mas que é bonito é. Tem tanta decoração e paredes entalhadas que fica difícil imaginar alguém morando ali. Se a pessoa se distrai pode sair derrubando aquelas bugigangas umas sobre as outras. Até um cinema há lá dentro.


Creio que gastamos uma hora lá dentro e logo que saímos fomos procurar a estação de esqui, para subir a montanha em um teleférico. Possivelmente fazia 35 graus ou mais e não pegamos neve na estação. Mas lá em cima batemos um pratão de churrasco com batata que nos fez muito felizes. De lá se tem uma ótima vista da cidade e de outros lugarejos. Não entendemos do assunto, mas para quem pretende esquiar, Sinaia é famosa como boa opção de “baixo” custo para esta atividade.

Sighisoara

Ali nasceu Vlad, o Drácula. Mas ainda criança o capetinha já havia se mudado para outras terras. Porém a cidade tem boa parte de sua fama atribuída ao nascimento do herói. A decepção fica por conta de a casa onde o pestinha nasceu hoje abrigar um restaurante, que usa e abusa desta peculiaridade e cobra preços que só alguém muito cruel poderia cobrar. Ou seja, talvez a maldade atribuída ao Vlad tenha sua origem nesta casa. Todos sabem que casas mal-assombradas são comuns em todo mundo. Porque não seria o caso do país de Vlad?


Sighisoara é bonitinha, mas lembra aquela atmosfera de Tiradentes, Búzios, Parati... o que geralmente não nos agrada. Muito afrescalhada, cheia de lesco-lesco...

Mas foi um dia agradável, viagem de trem e uma boa caminhada por uma cidade bonitinha.

Próxima parada: Dilmasland.