domingo, 27 de janeiro de 2013

México - parte 4

Cidade do México

Chegamos à noite na Cidade do México, ou DF, como os seus munícipes a chamam. A cidade em si tem apenas “pouco mais” de 8 milhões, mas em sua expansão nos últimos séculos, se fundiu com cerca de 40 cidades vizinhas e te tornou uma das maiores aglomerações urbanas do mundo. A Grande Cidade do México é responsável por um terço do PIB do país e deve dobrar de tamanho nos próximos 10 anos. Felizmente, talvez por ser vésperas de fim de ano, quando supomos que as atividades na cidade diminuem, não pegamos nenhuma situação de estresse. Por outro lado, o único meio de transporte que usamos foi o metrô, que apesar de feio, velho e sujo, é barato, abrangente e aparentemente eficiente.

Ficamos na Zona Rosa, bem dentro de uma área onde predominavam estabelecimentos GLS, sejam boates, bares e mesmo camelôs voltados para este mercado. Fizemos praticamente todas as refeições na Casa do Toño. Ótimo e barato restaurante de comida mexicana, que fica aqui recomendado.

Nos assustamos com a quantidade de policias federais, estaduais e municipais nas ruas, portando sempre metralhadoras, além de viaturas caríssimas. Não gosto de ver policiais barrigudos carregando metralhadoras para todo lado. Penso sempre que este tipo de arma não é aplicável em atividades de vigilância em locais muito cheios de pessoas.

Tiramos um dia para conhecer a Praça da Constituição, informalmente, El Zócalo. Esta era uma das imagens que eu tinha guardada do México, acho que em função de haver uma foto em um livro de um curso de espanhol que fiz.

Bem, a praça tem construções imponentes, como a Catedral Metropolitana da Cidade do México, a sede do poder executivo federal e a prefeitura, além de um espaço enorme aberto no centro. Mas apresentava um aspecto de decadência muito forte, com praticamente todas as construções implorando por uma pintura urgente e às vezes uma restauração. Para piorar, ainda não haviam retirado os enfeites de natal (muito feios) instalados em alguns prédios.


Além de tudo, estava rolando uma festa tipo “ação global” e haviam filas enormes de pessoas para poderem usar os brinquedos ali colocados para o evento. Mas as filas pareciam que quase não andava e dava até pena das crianças.

A praça foi construída no Tenochtitlan, que era o antigo centro religioso e político da capital do império asteca. Nada do regime antigo ficou de pé e os espanhóis usaram até as pedras das construções astecas para construir seus prédios. A catedral é enorme, mas não achamos muita graça no que vimos por dentro e o Vaticano bem que podia liberar uma grana para uma pintura, pois a igreja está bem mal. 

Museu Nacional de Antropologia

Um lugar de tirar o fôlego. Um dos melhores museus que conhecemos, mesmo comparando com os de Londres. Se você se interessa por este tipo de assunto, reserve no mínimo um dia inteiro. Nós passamos 8 horas e não vimos tudo. Voltaremos com certeza numa próxima visita ao DF.

Tudo começa com explicações básicas de geologia. Depois passa em sequência para biologia e vai evoluindo, passando pela evolução dos homídeos, a chegada do homem nas Américas, o desenvolvimento das civilizações mesoamericanas, a chegada dos espanhóis e o resultado disso nas culturas que aqui haviam, até chegar ao estado em que estamos. As salas são muito bem boladas, com muitas figuras, esquemas de maquetes com bonequinhos muito bem feitos, fósseis, materiais coletados em sítios arqueológicos, tudo muito bem exposto e descrito.


O único ponto fraco é o restaurante do museu, que além de ser caro oferece um serviço muito ruim. Se for passar o dia todo lá, recomendamos fazer um desjejum bem reforçado e levar umas barras de cereais nos bolsos para poder passar o resto do dia. Ou tenha paciência e use o restaurante mesmo.

Outra opção de museu é o Castelo de Chapultepec. Na bela construção que um dia foi a mansão do chefe de Estado, no alto da Colina do Chapulin, fica um bom museu que conta a história do país. Algumas partes são boas e outras nem tanto, mas vale a pena visitar o local.

sábado, 26 de janeiro de 2013

México - parte 3

Teutihuacan

Esta foi a maior cidade pré-colombiana que existiu nas Américas. Várias civilizações usaram a cidade e deram suas contribuições para sua arquitetura imponente. Mas o seu apogeu aconteceu vários séculos antes da chegada dos espanhóis e quando estes tomaram o poder a cidade já não exercia influência regional.


Provavelmente foi por isto, e por estar a 40 km do local escolhido para ser a sede do governo espanhol, muito do que estava ali naquele momento foi poupado da destruição. O resultado é que hoje o complexo de prédios, praças, pirâmides e ruas formam um enorme sitio arqueológico. 


Algumas horas são necessárias para percorrer os locais. Vá descansado para ter energia para subir as pirâmides, pois vale a pena. Em uma das entradas há um pequeno museu muito bom para colocar o visitante por dentro do que aconteceu naquele lugar, como ele se formou e como foi sua decadência.


México - parte 2

Um pouco de História 

Na Mesoamérica pré-colombiana muitas culturas amadureceram e se tornaram civilizações avançadas como a dos olmecas, toltecas, teotihuacanos, zapotecas, maias e astecas, antes do primeiro contato com os europeus. Os astecas dominavam a maior parte do que hoje é o território mexicano. Mas este domínio, que foi conquistado na base da força militar era muito mal recebido pelas tribos vizinhas. A religião asteca exigia sacrifícios humanos em larguíssima escala e as vítimas eram normalmente obtidas pelo domínio asteca sobre essas tribos. 

Não é de se estranhar então, que quando o Espanhol Hernán Cortez chegou à América em 1521, estas tribos tivessem o maior prazer em se unirem a ele para destruírem os astecas. Por outro lado, Montezuma II, comandante asteca na época da chegada de Cortez era um fanático religioso e deduziu que o invasor era um deus e fez uma confusão danada, permitindo um domínio espanhol facílimo. Quando os astecas resolveram oferecer resistência já era tarde e em 1522 já era tudo da Espanha. 

Já com os maias foi diferente. Apesar de já estarem em decadência quando Hernán Cortez apareceu, ofereceram resistência pesada e a última cidade só foi cair 177 anos após a queda dos astecas. Assim conseguiram salvar boa parte de sua historiografia, já que ganharam tempo fugindo para locais mais isolados. Não é de se estranhar que ainda hoje milhões de pessoas tem como primeira língua algum idioma maia e que escolas públicas em algumas regiões alfabetizam suas crianças nestes idiomas. 

Os maias desenvolveram o único sistema de escrita entre as culturas pré-colombianas que conseguia representar completamente o idioma falado, no mesmo nível das escritas europeias. Existem dezenas de teorias que tentam explicar o declínio dos maias, mas os espanhóis foram o golpe de misericórdia. Porém, como ainda sobrevivem fortes tradições destes povos, há quem sustente que eles nunca foram completamente dominados e que souberam se adaptar e incorporar a cultura dos invasores à sua. 

Mas o que queremos é falar sobre a história do México de hoje e entendemos que esta começa com a queda dos astecas. Em 1521, a Espanha conquistou e colonizou o território mexicano a partir de sua base em Tenochtitlán, hoje Cidade do México. A introdução acidental de doenças contra as quais os nativos eram indefesos, principalmente a varíola fez a maior parte do trabalho de dizimar as enormes populações que habitavam o território. 

Grande parte da identidade do México foi criada durante o período colonial. A luta pela independência do país que foi conquistada em 1821 se iniciou em 1810 e teve como seu primeiro líder o padre Miguel Hidalgo y Costilla. 

Entre a independência e 1917 o país foi uma bagunça inenarrável. Resumidamente, foi marcado pela instabilidade econômica, a Guerra Mexicano-Americana, uma guerra civil, dois impérios e uma ditadura nacional. Esta última levou à Revolução Mexicana em 1910, que culminou na promulgação da Constituição de 1917 e a emergência do atual sistema político do país. 

Neste período nenhuma forma de governo que agradasse à maioria conseguiu emplacar. Houveram várias guerras civis, vários governantes foram assassinados e “constituições” foram proclamadas. Em uma dessas guerras civis, o descontentamento foi tal que três novos governos proclamaram independência. Dentre eles o Texas teve sucesso e foi rapidamente anexado pelos Estados Unidos. O México, ao tentar recuperar este território, bateu de frente com o Tio Sam, que entendeu que estava sendo atacado e os dois países guerrearam por 2 anos desde 1846. O México perdeu feio. Foi invadido, humilhado e ofendido, chegando a ser totalmente dominado. Foi forçado a ceder ainda mais territórios, incluídos aí Califórnia e Novo México. Quase metade do país foi perdida para os Estados Unidos. 

Nem isto fez o país tomar jeito. A Guerra das Castas de Yucatán, a revolta maia, que começou em 1847, foi uma das mais bem sucedidas revoltas modernas de indígenas americanos, que mantiveram enclaves relativamente independentes até à década de 1930. 

Nos anos 1860 o México sofreu uma ocupação militar da França, que criou o Segundo Império Mexicano sob o domínio de Ferdinando Maximiliano da Áustria. Alguns anos depois Maximiliano foi tirado do poder e executado. 

Outra figura de destaque na história foi Porfirio Díaz, governou o México de 1876 a 1880 e depois de 1884 a 1911, em cinco reeleições consecutivas promovendo notáveis realizações econômicas, mas gerando mais desigualdade social e repressão política. 

Entre 1910 e 1938 houveram eleições, golpes de Estado, assassinatos de governantes, mais guerras civis e, tanto fizeram que vários heróis apareceram, destacando-se Pancho Villa e Emiliano Zapata. O hábito de criar heróis ultrapassou a vida real, e Zorro e Chapolin Colorado tem milhões de fãs mesmo fora do México. 

Entre 1940 e 1980, o México experimentou um substancial crescimento econômico, mas a desigualdade social continuou a ser um fator de descontentamento. A década de 1980 foi complicada para o país, com ocorrência de gravíssimas crises econômicas e políticas. Em 1994 o México entra para o NAFTA, Tratado Norte-Americano de Livre Comércio. Menos de 1 ano depois a economia do país entra em colapso. Mas como alguém poderia imaginar que o México conseguiria competir com EUA em um mercado comum? Mas com “ajuda” dos EUA, o país volta a crescer em ritmo acelerado. 

Atualmente o México é uma das maiores economias mundiais, mas enfrenta sérios problemas de tráfico de drogas e violência urbana. Outro problema ímpar que o país tem é o fato de ser o vizinho pobre dos EUA. Se mudar para lá é uma possibilidade real para quase todas as pessoas que nascem no país, o que provoca evasão de profissionais qualificados e também faz com que muitos não se empenhem em ter uma profissão qualificada já que estariam dispostos a atravessar o deserto e trabalhar em subempregos nos EUA. 

Mesmo com este percurso histórico todo bagunçado o México sediou os jogos olímpicos de 1968 e duas Copas do Mundo, 1970 e 1986.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

México - parte 1

Visto

A permissão de entrada nos Estados Unidos Mexicanos (sim, este é o nome do país) foi um dos episódios bizarros dos últimos meses. Estávamos na África do Sul e fomos ao Consulado do México em Pretória, com passaportes recheados de carimbos de lugares exigentes, como Europa e China, além de visto para países cobiçados por pessoas que sonham em imigrar, como Austrália.

Levávamos passagem aérea de volta para o Brasil, extratos bancários, comprovante de que Renilza tem emprego no Brasil, ou seja, tudo que até o momento estávamos informados ser necessário. Fomos recebidos educadamente e a atendente nos disse que precisávamos de um comprovante de movimentações financeiras dos últimos 6 meses.

Perguntamos se poderíamos usar algum computador do consulado para baixar um extrato instantâneo (com eles vendo que acessávamos um site de banco), mas nos disseram que seria necessária a assinatura do gerente do banco. Então dissemos que já estávamos há 10 meses fora do Brasil, como comprovavam nossos carimbos. A mulher nos perguntou se tínhamos visto para os Estados Unidos, pois se tivéssemos não era necessário visto para o México. Renilza respondeu na lata que não queria visitar os Estados Unidos e sim o México. Por fim, saímos de lá profundamente decepcionados com o país. Como pode um país grande como o México, com mais de 100 milhões de habitantes ser tão subserviente?

Voltamos ao hotel e enviamos um e-mail quase mal educado para a embaixada. Dentre outras coisas, falamos que qualquer um que tivesse meio cérebro perceberia que se estivéssemos dispostos a atravessar um deserto apenas para entrar nos EUA seria melhor termos ficado na Austrália, que é um país com condições muito melhores. Finalizamos dizendo que esperávamos que um dia o México se tornasse um país soberano e não mais precisasse se submeter às ordens dos Estados Unidos.

O mais improvável aconteceu: no dia seguinte, a Consul nos responde dizendo que nos daria o visto. Era só a gente voltar lá. Como pode isto?! Que regras são essas? Como era véspera de fim de semana decidimos não perder mais 3 dias com isso. Seguiríamos nosso rumo e tentaríamos com o consulado do México na Espanha, se não desse certo trocaríamos nossa passagem e riscaríamos o México do mapa.

Entramos em contato com o consulado de Madri e eles nos disseram que brasileiros não precisavam de visto. Nós já sabíamos que os brasileiros agora podem pedir pela internet uma solicitação eletrônica de entrada que dispensa a necessidade do visto. Acontece que o site do consulado informa que isto só vale para viagens com as empresas aéreas que aderiram ao programa. E a Ibéria não estava na lista. Renilza pegou esta autorização assim mesmo e quando chegamos ao aeroporto de Madri fomos direto ao balcão da Ibéria perguntar se poderíamos embarcar com aquele documento. Nos disseram que sim. Ficamos aliviados e ainda mais indignados com toda a confusão e perda de tempo.

Por fim, entramos no México. Mas não havia acabado. Quando saímos do país em um ônibus que só tinha estrangeiros e ia para a Guatemala, todos foram pegos de surpresa, pois tínhamos que ter pago uma taxa (de entrada) mas ninguém entendeu isto e tivemos todos que pagá-la na fronteira, onde saiu 5 dólares mais caro por causa do câmbio desavergonhado que eles usavam ali.

A conclusão que chegamos é que o Ministério do Turismo e o de Relações Exteriores do país estão em mãos de pessoas muito incompetentes. Coisa ruim para um país que recebe mais de 20 milhões de turistas a cada ano. Mas nossa estada no país foi muito boa. Os mexicanos que conhecemos são pessoas incríveis, trabalhadoras, honradas e muito amáveis. E estas são as características mais importantes que um povo pode ter.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Espanha

Madrid

Uma pequena decepção. Esperávamos que a cidade fosse mais bonita, mas não conseguimos nos empolgar. Visitamos o Museu do Prado e o Reina Sofia. Um com obras antigas, sendo várias renascentistas e o outro de arte moderna. Os dois valem muito a pena. Foi legal ver o Guernica de Picasso exposto, mas ver um quadro de Miró onde o cara só fez 3 pontos e uma linha na tela chegou a dar raiva.

Estávamos muito curiosos para conhecer um museu de historia espanhol principalmente algum que retratasse a era em que o país dominou, escravizou e aniquilou os povos americanos, mas não encontramos tal museu, não sabemos se existe e se sim, duvidamos que trate a situação em que foram invasores da mesma forma que tratam o período em que a França dominou a Espanha.

O que encontramos foi o Museu de Historia de Madrid. Então entendemos porque o país está quebrado e não voltará a ser país próspero se não houver ajuda externa. Um prédio enorme, onde
haviam naquele momento várias pessoas trabalhando, talvez 8 ou 10, entre recepcionistas, alguém para comandar o guarda-volumes, guardas, monitores por todo lado, etc. E só haviam duas maquetes da cidade e dois presépios. E quase ninguém visitando.

Enfim, a Europa já tinha dado o que tinha que dar. O bom foi que comemos paella quase todos os dias.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

África do Sul - parte 6

Até logo, Mama África

Pela falta de boa informação disponível e por preconceito, acabamos dedicando muito pouco tempo para o continente negro. A falta de informação vem do fato de o continente não ser tão visitado por turistas quanto os outros. A maioria dos guias de viagens foi feita para europeus e às vezes mais atrapalham do que ajudam, transmitindo uma atmosfera de perigo muito diferente do que realmente é, pelo menos nos países que estão em paz (a maioria). O nosso preconceito era devido à baixa qualidade da informação.

Mas, é vivendo e aprendendo. Vimos que é tão fácil alugar um carro na África como em qualquer outro lugar. Existem policiais corruptos? Com certeza, tanto quanto no Brasil. Risco de assaltos? Igual no Brasil. É verdade que não existe transporte publico de entre cidades ou nas grandes metrópoles? Mentira! Existem as kombis ou vans que levam todos a toda parte. São bons e seguros? São desconfortáveis e a segurança não é o ponto forte. Mas dá para usar. Conhecemos turistas que cruzaram milhares de quilômetros entre vários países e não tiveram problemas. Duvido que as condições de segurança sejam piores que no Brasil. Além disso, pagando-se um pouco mais, existem também outras alternativas mais confortáveis e seguras.


Por outro lado ficamos impressionados com a educação das pessoas no trato. A limpeza das cidades, estradas e vilarejos foi a melhor que constatamos dentre todos os lugares que conhecemos. O asseio pessoal não fica para trás. Em nenhum momento tivemos que suportar pessoas com o desodorante vencido, ao contrario do que costuma ser comum na Europa. Ali também começamos a ver pessoas com a nossa cara, provamos comidas que lembravam nossos temperos. A ginga das pessoas, que por vezes víamos dançando, seja em apresentações ou mesmo em situações do dia-a-dia nos dava a sensação de que estávamos próximos de casa. Sem contar as paisagens, que volta e meia eram a cópia de alguns lugares de

Minas. Ficamos só 22 dias lá, mas deixou uma vontade muito forte de voltar e realmente curtir o continente africano.

Conexão

Devido à baixa oferta de voos teríamos que ir para o México via Madri. Para chegarmos à Espanha pegamos um voo da Cidade do Cabo que passava por Johannesburgo e nos deixava em Doha, Catar, por 19 horas. Nosso Natal foi ali, no aeroporto de um país islâmico, sem uma figura de Papai Noel ou presépio. Pelo menos tinha internet e comida de graça e não foi tão difícil. No dia 26 estávamos em Madri, a - 1 grau.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

África do Sul - parte 5

Cidade do Cabo

Este é um dos pontos altos do país. Não só pela altura da Montanha da Mesa, também integrante da lista das 7 novas maravilhas da natureza, mas pela beleza da cidade mesmo. A combinação de praias bonitas, com uma montanha bonita e uma cidade bem estruturada só pode dar em algo bom.

Por uma decisão econômica, compramos nossa passagem de saída da África para uma semana antes do que gostaríamos e só tínhamos um dia livre na cidade. O torramos na montanha. Subimos de teleférico.


Circulamos por algumas horas na parte de cima e depois decidimos descer a pé. A essa altura da viagem nosso preparo físico já estava deplorável e sofremos muito para chegarmos ao pé da montanha. No caminho conhecemos um italiano muito gente boa e passamos o resto da tarde juntos, tomando cerveja em um barzinho, aprendendo um pouco mais sobre o contexto político da Itália e sofrendo com as juntas das pernas destruídas.


Demos mais umas voltas pela cidade, tiramos algumas fotos, mas era o fim o continente africano para a gente.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Namíbia - parte 3

Etosha

Dormimos apenas uma noite em Windhoek e de manha o Gregory foi nos buscar. Dessa vez era só a gente. Marchamos logo para o norte. Este parque tem a savana como vegetação dominante e prometia encontros com animais selvagens. Entramos no parque e saímos procurando pela bicharada. Girafas, zebras, antílopes são até bonitinhos, mas queríamos leões, rinocerontes, ou seja, ação.

Já era umas 4h da tarde e o melhor que havíamos conseguido eram uns elefantes, até que ouvimos um barulho assim “chiiiiiiiiiiiiiiiiih”. Era um pneu que havia furado. Numa ocasião dessas o correto é ligar para a administração do parque para eles mandarem socorro. Mas estávamos fora de área de cobertura de sinal (o parque é um dos maiores do mundo, com mais de 22.000 km2. É maior que a Palestina e Israel juntos). Se parássemos para trocar o pneu, um leão poderia chegar e “crew!” na gente. Se ficássemos parados esperando alguém passar e nenhuma alma aparecesse, a noite poderia cair e aí seria pior, pois elefantes podem querer dar uma geral no carro e se ficarem bravos podem facilmente tombar o carro e nos tirar lá de dentro para brincar com a gente, jogando nossos corpos para cima, pisoteando, jogando para cima de novo, essas coisas.

O Gregory, entre as poucas alternativas, seguiu a pior de todas: resolveu continuar andando. Ele insistia que como é proibido sair do carro essa era a única alternativa. Também não parava de falar de um caso de dois gringos que morreram atacados por leões depois que o carro quebrou e eles se arriscaram na caminhada.

Se estivéssemos próximos a algum local seguro, entenderia, mas estávamos a dezenas de quilômetros de qualquer ponto de apoio. O pneu se desmanchou em poucos minutos e o carro fatalmente parou de andar.


O Gregory é um excelente guia. Sabe muito sobre vida animal, fala 5 idiomas mas como não tinha um bom treinamento e, talvez por ter crescido escutando histórias de leões e elefantes matando gente, ele estava desesperado. E foi a gente que decidiu que era melhor nós mesmos trocar o pneu, enquanto ainda teríamos tempo, já que a noite se aproximava e é proibido também entrar no acampamento depois do horário.

O esquema era o seguinte: Renilza vigiava de um lado, eu do outro e o Greg trocava o pneu. Mas o que ele menos fazia era trabalhar, pois ficava procurando leões também. Renilza e eu estávamos tranquilos, pois já estávamos há horas no parque e não tínhamos avistado nenhum felino. Alguns carros paravam, mas como não podiam fazer nada iam embora, até que um casal de espanhóis quis entender o que estava acontecendo. Explicamos nossa situação e a senhora apenas nos disse: "Olha, troquem esse pneu depressa porque há menos de dois quilômetros daqui vimos um bando de leões e eles tem filhotes".


Só faltava essa. Os leões passam o dia todo longe da gente e quando precisamos descer do carro eles estão por perto. Aí o Greg desesperou. E, para piorar, o macaco deste carro também não dava altura suficiente para que a operação fosse feita. Mas, se este texto foi escrito é porque tudo deu certo.

Minutos depois uma caminhonete parou e o Greg pediu carona. Era uma família sul-africana de africâneres (descendentes de holandeses) composta pela mãe e um casal de filhos de 22 e 20 anos. A menina dirigia e o rapaz foi para a carroceria coberta. Então os caronas se ajeitaram dentro do carro. E não é que alguns minutos depois avistamos o bando de leões?! Na verdade só vimos algumas fêmeas e dois filhotes. O macho com certeza estava por perto.


Depois vimos hienas, girafas e outros. Mas o dia ainda não havia acabado. Ao chegarmos na área de camping enquanto o pessoal do parque foi buscar nosso carro (com nossos equipamentos, bolsas, computador...) nossos salvadores nos convidaram para um churrasco ao estilo sul-africano. Compramos cerveja e ficamos ali ate regressarem com nosso carro. Nada mal.

No dia seguinte continuamos rodando pelo parque, mas sem nenhum animal legal para nos surpreender. Exceção para um grupo de abutres que se amontoavam sobre uma carcaça que não conseguimos identificar de que bicho era. Demos uma volta no Etosha Pan, um lago de sal muito grande, onde construíram uma estradinha para que carros possam andar "dentro" do mesmo.


Passamos a noite no parque e no dia seguinte voltamos para Windhoek. Chegamos por volta das 14h e já tínhamos passagens de ônibus compradas para a Cidade do Cabo. Deu tudo certo e as 17:30h o ônibus se pôs em marcha. De madrugada passamos a fronteira e pela terceira vez em menos de um mês entrávamos na África do Sul. Sem nenhum problema chegamos à Cidade do Cabo.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Namíbia - parte 2

Sossusvlei

A van nos pegou no hotel no horário marcado. Com a gente ia um casal de holandeses e uma finlandesa, além do Gregory, o guia nativo, que acumulava as funções de motorista, cozinheiro e ajudante de acampamento. O cara ainda fala 5 idiomas.

Tudo ia bem até que tivemos um pneu furado. O Gregory conseguiu enchê-lo o que nos deu autonomia para chegarmos ao ponto onde pararíamos para o lanche. O local era um mirante de onde se tinha uma vista muito impressionante do deserto da Namíbia. O macaco do carro era insuficiente para a altura necessária para a troca do pneu. Foi preciso fazer um buraco no chão para que o sobressalente pudesse ser encaixado.

No meio da tarde chegamos ao Sossusvlei. O nome quer dizer algo como “pântano sem saída”, já que a água das raras cheias dos riachos da região ficam represadas pela geologia do deserto. Ali então, no meio do deserto da Namíbia se forma um ecossistema praticamente único.

A área de camping é excelente. Tem banheiros, restaurante, um pequeno supermercado e as áreas para montagem de barracas são delimitadas por cercas de pedras com uma árvore no meio e um ponto para se fazer fogueira ou montar uma churrasqueira.

Ainda nesta tarde o Greg nos levou ao cânion de um rio que corta o deserto, mas que fica boa parte do ano seco. Nos explicou sobre a geologia, sobre como os homens pré-históricos da região construíam suas moradas nas paredes do vale e um monte de curiosidades. No leito do rio ainda haviam algumas poças onde pudemos ver vários bagres africanos. Este peixe tem algumas características que tornam possível sua vida em um ambiente tão hostil. Por exemplo, quando percebe que seu poço vai secar, ele faz um buraco na lama e se enfia ali. Depois entra em um estado análogo a uma hibernação e pode sobreviver assim por um longo tempo até que as águas retornem. Outra opção é sair do poço rastejando a procura de outro local com mais água.

 
Saímos do cânion e fomos direto para um aglomerado de dunas para ver o por do sol. Chegamos quase na hora e ainda tínhamos que achar um lugar legal.


Vimos então um casal já posicionado em um ponto alto e pensamos: esses aí chegaram cedo e tiveram tempo de procurar um ponto onde a vista é boa. E fomos para lá. Tiro mais que certeiro. Aqui eu faço uma reflexão: se você está no deserto, com sede, e alguém te oferece cerveja gelada só pode ser duas coisas: 

1 - Se trata de uma miragem. Você já está desidratado, febril e começa a ter alucinações.

2 – A pessoa que você encontrou é apenas um alemão que está ali para curtir um por do sol no seu estilo.

Felizmente com a gente o que rolou foi a opção 2. Só mesmo um alemão para não se esquecer das cervejas quando for curtir um por do sol no meio do deserto.

  
Voltamos, comemos e dormimos. No dia seguinte bem cedinho saímos para chegar à duna 45 (as dunas do parque são catalogadas e monitoradas) para vermos o sol nascendo. É reivindicado para esta duna o título de “a duna mais fotografada do mundo”, já que todo turista que vai no Sossusvlei fatalmente acompanha o nascer do sol dali. Além de ela ser muito bonita, tem uma forma fácil de escalar e está perto da estrada.


Chegamos quase na hora e tivemos que subir o monte de areia correndo. Péssima ideia. Para ajudar, estávamos de chinelo. Quando já estava lá em cima percebi que tinha perdido um pé das minhas havaianas (para ser mais exato, era uma Dupé que o Angelo havia deixado comigo). Continuamos subimos e conseguimos nossas fotos. Na volta bateu uma tristeza pelo chinelo perdido e fiz uma tentativa desesperada: comecei a gritar: “I lost my flip-flops (eu perdi meu chinelo)”. Não é que deu certo! Na primeira tentativa uma menina, brasileira, não sei se reconhecendo o sotaque da minha pronuncia ou pelo fato de ter visto uma “Dupé” perdida já foi respondendo de cara em português: “olha, tem um pé de chinelo azul bem ali embaixo”. Seguimos para o ponto onde ela indicou e tudo se resolveu.

O próximo ponto de visita era o Deadvlei. Se trata de um lugar onde outrora foi um pântano, mas que secou as acácias que ali viviam secaram e morreram, mas se mantiveram de pé. Na verdade, ali é um ponto que quando um rio que está próximo transbordava, era encharcado por esta água e por isso pode abrigar uma floresta. Mas o movimento das dunas, séculos atrás acabou barrando a passagem dessa água e tudo se acabou. Os defuntos das acácias tem cerca de 900 anos. As dunas ali em volta, de quebra, estão entre as maiores do mundo.


Na volta nossa van atolou na areia. Todos tiveram que descer e ajuda a empurrar, mas acabamos sendo rebocados por um jipe.


Neste parque não vimos leões ou elefantes, mas alguns antílopes e vários avestruzes garantiram um bom show.


Na mesma tarde iniciamos a viagem de volta. Paramos em um camping na estrada e pudemos curtir uma piscina. Neste lugar o por do sol também foi muito bonito.

A galera na Namíbia tem muito bom gosto quando se trata de jardinagem e arquitetura. Apesar de estar no meio do deserto, a área era cheia de jardins e o pessoal usava muitos cactos e bromélias resistentes, conseguindo excelentes resultados mesmo com escassez de água. 


Na manha seguinte estávamos de volta ao nosso hotel em Windhoek.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Namíbia - parte 1

Namíbia

A Namíbia tem uma das menores densidades demográficas do mundo, com pouco mais de 2 milhões de habitantes espalhados em uma área parecida com a de Minas Gerais. Por outro lado o país é predominantemente desértico.

Na Europa ninguém dava a mínima para aquela área até que em 1885 passou a ser de administração alemã. Quando este país foi derrotado na Primeira Grande Guerra, a Namíbia passou a ser domínio da União Sul-Africana (África do Sul), sendo tratada como mais uma província.

Em 1966 surge um movimento guerrilheiro que buscava a independência e em 1988 a África do Sul aceita finalizar seu domínio, segundo um plano de paz da ONU culminando em uma total independência em 1990.

Windhoek

A capital e maior cidade do país tem 270 mil habitantes. Apesar de ser muito agradável, limpa e bonita não tem nada que obrigue o turista a disponibilizar um longo tempo para visitar. Para nós foi a base de chegada, saída e contratação de serviços de turismo para visitar as reservas que nos interessavam.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Suazilândia

Suazilândia

Depois do Kruger, seguimos com a Anna para a Suazilândia. O país é uma pequena área montanhosa que faz fronteira apenas com a África do Sul e Moçambique. É uma das últimas monarquias africanas e conseguiu entrar no século XXI ainda absolutista. Embora algumas liberdades sejam institucionalizadas, como possuírem um sistema judiciário razoavelmente independente e uma assembleia legislativa, ainda é proibida a existência de partidos políticos e processos judiciais contra o rei. Logo, o cara pode fazer o que quiser. Um terço da população adulta é HIV positiva, fazendo desta a maior taxa do mundo. A população é de cerca de 1,2 milhões de habitantes e a expectativa de vida não chega a 40 anos. Apesar disso, quase 80% da população é alfabetizada, o que na África é um número alto.

Mas, ao contrário do que esperávamos, o aspecto geral do país era bom. Apesar da pobreza, é incrível como as ruas e demais espaços públicos são limpos, bem como as pessoas em seu asseio corporal. As paisagens se parecem demais com as montanhas de Minas Gerais. Imaginei que se, há séculos atrás um nativo fosse capturado ali, enjaulado sem poder ver o lado de fora, colocado em um navio que fosse para o Brasil e pudesse ver o mundo novamente só em Sabará, por exemplo, ele provavelmente iria achar que sua aldeia era ali ao lado.

Ao passarmos a fronteira, batemos um papo com o agente, que, apesar de cara de adolescente e de ser muito franzino, tinha uma voz extremamente encorpada. Lembrava Berry White ou Milton Nascimento. Parecia que falava dentro de um tambor vazio. Ele que naquela entrada pegaríamos alguns quilômetros de estrada ruim. Na saída do escritório, vimos um pé de goiaba igualzinho aos nossos. Aí conversamos mais um pouco. Dissemos a um guarda que no país da Anna (Polônia), haviam macieiras nas calçadas e em beira de estradas e que se podia colher à vontade. Ele ficou impressionado e perguntou: “mas não há perigo se ser preso?”. Nos despedimos e entramos no agradável país montanhoso com suas casinhas coloridas.


A estrada de terra não era ruim, era péssima. Como estradinhas de zona rural em áreas montanhosas onde chove muito. A Anna nunca havia visto algo assim. Ela começou a ficar desesperada com o monte de vezes que o carro se chocava contra um buraco. Dizíamos que era para ela dirigir devagar e ela tentava, mas não era o suficiente. Enfim, me passou o carro e conseguimos chegar bem. Eu tentava explicar para ela que era fácil passar pelos buracos. Bastava ir bem devagar, parar se fosse necessário para uma melhor avaliação, etc. Depois do sufoco entramos em uma rodovia que, como as outras que conhecemos, era muito boa.

Quando já estávamos no albergue ela disse para todos que nós salvamos a vida dela. E eu sacaneava, dizendo: “Você está exagerando. Nem foi tão difícil, pois em nenhum momento eu precisei pedir a vocês para se sentarem sobre o capô para fazer peso sobre as rodas dianteiras”.

  
No hotel conhecemos ainda um casal luso-polonês, que voltavam de uma temporada de trabalhos voluntários em Moçambique. O portuga é médico e a polaca antropóloga. Como estavam em fim de viagem, nos deram seus remédios para malária e piriri que sobraram. Conhecemos ainda a Linda, a pessoa mais generosa do mundo. Ela é psicóloga e nasceu no Zimbábue. Ela gosta de distribuir dinheiro para os outros. Ficamos muito felizes porque nos deu 600 milhões de dólares! E nós só podíamos retribuí-la nos tornando amigos no Facebook.


Apesar de a “terra dos swasis” ter algumas atrações interessantes, como safáris e trilhas, já tínhamos visto disso na África do Sul. Mas visitamos um centro cultural bem próximo ao hotel onde vimos um show muito bonito de danças e canções tribais. Os homens e mulheres do conjunto vestiam trajes típicos e empunhavam armas e escudos. Alguns negões chegavam a dar medo, quando cantavam com a cara fechada olhando para a gente. Não tem jeito. Para cantar como africano, só os africanos. Dá até pena lembrar que cantores norte-americanos e europeus com voz estridente dominam o mercado mundial de música há décadas enquanto os africanos são e possivelmente permanecerão por um longo tempo como “exóticos”. Depois do show visitamos uma vila artificial que representa uma aldeia swazi típica.


Estávamos na capital Mbabane. Cidade ajeitadinha, com um shopping legal, onde assistimos o último filme da série Crepúsculo (Renilza que quis!). Também visitamos um mercado de artesanato, produto pelo qual o país é famoso e fizemos uma feirinha. Mas de resto era só isso. Pegamos em uma manhã uma van e, amontoados com pessoas nativas chegamos novamente em Johannesburgo para mais uma noite antes de seguirmos para a Namíbia.

Mas essa noite foi legal por um motivo: conhecemos a Lilian, paulista cuja mãe é de Itajubá e que também estava em viagem de volta ao mundo. O legal é que uma amiga minha, a Lela, é sua prima. Tiramos uma foto juntos e eu mandei para a Lela pelo Facebook. Está provado: o mundo é realmente muito pequeno.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

África do Sul - parte 4

Parque Nacional Kruger (Kruger Park)

Estávamos em Johannesburgo cheios de dúvidas sobre o que faríamos quando conhecemos a Anna Mowinska, uma polonesa que já estava com carro alugado, planos e roteiros definidos, e tinha estudado bastante sobre o país. Decidimos acompanhá-la, rachando as despesas do carro.

A Anna é uma garota extrovertida, muito inteligente e que, assim como nós, adora conversar sobre política, história e manda bem em qualquer terreno. Com apenas 28 anos, socióloga, ela tem uma empresa que presta serviços na área de assessoria legal referente a projetos envolvendo fundos da União Europeia. Ela manja muito sobre os hábitos dos europeus e com ela aprendemos muito sobre o pensamento das pessoas desse continente. Nos dias que passamos juntos aprendemos como se faz um boneco de neve, sobre os painéis solares que vimos na Europa, como dirigir em estradas cobertas de gelo, sobre comportamento dos bebuns europeus de diferentes países, sobre o Leste Europeu antes e depois do colapso da URSS, sobre João Paulo II e muito mais. Ela nos prometeu a receita da saudosa sopa polonesa zureg. O carro quase nunca ficava em silêncio, já que a gente também é cheio de opiniões.


Pegamos o carro, um Tata indiano e marchamos para Sabie, pequena cidade no norte, colada no parque. No dia seguinte, acordamos de madrugada para chegarmos à portaria na hora que os portões abrissem. Há várias formas de rodar pelo parque. Durante o dia você pode ir com carro próprio ou em tours do próprio parque, em jipões bem altos, onde a vista é melhor, e que são pilotados por um guia com rádio e que sabem muito sobre os bichos. Mas à noite, só é permitido passeios em tours fornecidos pelo parque. Passeamos por dois dias no parque. No primeiro, durante o dia fizemos com o nosso carro e de noite pegamos um passeio guiado. No dia seguinte só repetimos a parte do dia.

O parque tem uma estrutura muito boa, com várias áreas com banheiros, restaurantes e lojas onde também se pode hospedar ou acampar. Entramos e começamos a procurar pela bicharada. Essa parte é muito legal, pois fica um clima de tensão, com todos atentos à vegetação em busca de alguma novidade. O principal objetivo é conseguir encontrar os “big five”: elefante, rinoceronte, leão, búfalo e leopardo. Mas chegamos a um consenso que este grupo deveria ser de 7, entrando aí girafa e hipopótamo. Mas qualquer animal avistado era muito comemorado. Mesmo os impalas, espécie da qual vimos centenas, tinham o seu charme.

Os babuínos, em grupos com várias dezenas, mesmo sendo muito frequentes, sempre rendiam boas fotos.


A primeira emoção foi ver elefantes. É muito legal ver um bicho desse tamanho livre em seu habitat.


Toda vez que cruzávamos com outro carro, parávamos para trocar informações sobre os animais que estavam por perto. E assim, antes de completarmos 3 horas dentro do parque encontramos esta fera.


Como desde a infância eu me interesso por vida animal, aquele momento foi uma realização pessoal. Quando chegamos o leão dormia e vários carros estavam ali esperando ele acordar e se movimentar. Mas leões estão entre os animais que mais dormem na natureza, podendo dormir até 21 horas por dia (vidão, sô!). Sabendo disso, várias pessoas desistiam, pois o gatinho poderia ficar ali por várias horas sem se mexer. Legal que nenhum turista apelava para a buzina (é proibido, mas às vezes é tentador).

Aguardamos uns 15 minutos e, por uma tremenda sorte, o bichão acordou, se levantou, fez xixi, cocô, e saiu andando para a mata fechada.


Vimos no primeiro dia dezenas de espécies, destacando as elegantes girafas, as costas, nucas e focinhos de hipopótamos, que passam a vida quase toda dentro da água.

Os facóqueros (Pumba, de “O Rei Leão”), também chamados de javali africano (em inglês, warthog) estão para todo lado também.


As “galinhas d’Angola” (porém, com cabeças azuladas) são frequentes, bem como kudos, gnus, elandes, zebras, gaviões e vários outros bichos.


O leopardo é praticamente invisível. Pessoas que visitaram o Kruger dezenas de vezes nos disseram que nunca viram um, devido ao hábito natural de viver escondido. Ainda à luz do dia vimos rinocerontes. Mas no passeio noturno do primeiro dia o encontro foi mais legal, pois antes de vermos qualquer coisa escutamos uma barulhada de árvores de quebrando. Segundos depois apareceu na estrada um bichão, correndo igual um doido em zig-zag, com suas quase três toneladas. Felizmente, não em nossa direção. À noite vimos também algumas hienas, caminhando tranquilas, mas leões mesmo, como esperávamos (de preferência perseguindo uma presa), nada. Aliás, só com muita sorte um turista vai conseguir testemunhar uma cena dessas. 


No segundo dia entramos por outra portaria, para explorarmos outras áreas. Foi menos produtivo que o primeiro, mas mesmo assim foi muito bom. O melhor foi o final. Logo após sairmos, ao atravessar uma ponte sobre um rio, vimos vários turistas parados na mureta. É que haviam vários elefantes e hipopótamos bem pertinho, na maior tranquilidade. Em seguida entramos em um hotel de luxo que ficava na divisa com o parque para usarmos o restaurante. Era caro, mas negociamos e ficou interessante. Comida africana, com carne de alguns animais selvagens e alguns pratos parecidos com comida brasileira, como uma ótima rabada. No meio do jantar, uma apresentação de um grupo musical regional, com um coral muito bonito, tambores, dança. Gostamos tanto que até compramos um CD.


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

África do Sul - parte 3

Mandela

Esse sim é “O Cara”. Rolihlahla Mandela nasceu numa família de nobreza tribal, numa aldeia onde possivelmente viria a ocupar cargo de chefia. Ao chegar à escola, sua professora mudou seu nome para Nelson, já que era costume as crianças receberem nomes ingleses quando iam para a escola. Mandela abandonou seu possível destino tribal fugindo temporariamente para Johannesburgo, onde teve uma vida rebelde quando cursou a faculdade de direito. Acabou como réu em um infame julgamento por traição e se tornou o prisioneiro mais famoso do mundo, após o qual veio a se tornar o político mais admirado e premiado em vida, responsável pela refundação de seu país nos moldes de uma sociedade multiétnica.

Mandela usou o carisma que tinha entre negros para conter um enorme desejo de vingança de boa parte dessa população contra os brancos. Sua habilidade de convencimento mostrou à sua base que, apesar dos anos de sofrimento, o país seria muito melhor se conseguisse promover a convivência entre negros e brancos do que se estes fossem expulsos do país. E com maestria conseguiu fazer com que o país não entrasse em guerra civil e que os investimentos externos se mantivessem. Ele arquitetou um processo de transição onde, com o tempo, os negros passariam da pobreza para a classe média e que gradualmente passariam a compor também a elite do país, o que está acontecendo realmente.

Dentre outros prêmios, tem o Nobel da Paz. O cara, além de tudo é meio “profeta”. Ainda jovem chegou a dizer que seria o primeiro presidente negro do país. Uma curiosidade: Rolihlahla, seu verdadeiro nome, na língua se sua tribo significa algo como “aquele que chega para quebrar a ordem vigente”. Ou seja, puxou esse hábito de profecias dos pais.

África do Sul - parte 2

Johannesburgo

Segundo um cara que conhecemos lá, esta é a maior cidade do mundo que se desenvolveu longe de um rio. As áreas onde vivem negros e brancos são bem definidas. O Soweto (Southwersten Town) ficou famoso mundialmente por ser o local de forte resistência contra o Apartheid, virou nome de banda de pagode no Brasil e hoje é uma região pobre, mas que já apresenta áreas de classe média. Inclusive, há hotéis e albergues que oferecem passeios de bicicleta guiados pelo bairro. Há bastante coisa para fazer na cidade, mas estávamos cansados da viagem e precisávamos pesquisar ainda o que faríamos no país, principalmente porque as principais atrações são naturalmente muito caras.

Seguimos algumas indicações de amigos e fomos ao Museu do Apartheid. Ficamos 4 horas lá, mas foi pouco, pois o museu é muito bom e se pode aprender muito sobre esta fase da história do país. Reserve no mínimo um dia inteiro, se você é daqueles que gostam de ler todas as plaquetas e ver todos os vídeos. 


Uma coisa chata que acontece na África é o terrorismo que é feito em guias de viagem e por pessoas preconceituosas. O turista acaba chegando lá se borrando todo e muitas pessoas e empresas de turismo se aproveitam dessa situação. Não vamos publicar que a África é um paraíso da paz social, mas, tomando-se os cuidados básicos que se tem em cidades grandes brasileiras tudo correrá bem. Os africanos são muito receptivos e educados no dia-a-dia. O tempo todo as pessoas se cumprimentam com um “olá, como você está?”, mesmo em situações corriqueiras como em um caixa de supermercado ou com o motorista ao entrar em um ônibus.

Minha juba já estava bem grande e era hora de fazer algo. Nosso hotel era em uma área de brancos, mas rapidamente pegamos as manhas do bairro vizinho, que era de negros. Em cada esquina tinha alguém trançando o cabelo na calçada mesmo, mas eu preferi ir à um salão de beleza, que também são fartos. Fui atendido pela Gina, uma moçambicana, que conversou bastante comigo sobre Brasil e Moçambique enquanto eu era atendido. Por fim as tranças ficaram prontas. Eu não sabia que aquilo doía tanto. Aquela força que repuxava o couro cabeludo melhorou até a minha postura nos três primeiros dias, já que eu tinha que ficar sempre de cabeça erguida. Atravessar ruas se tornou mais perigoso, pois também não conseguia olhar de lado. Mas mesmo assim valeu a pena experimentar uma nova face.


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

África do Sul - parte 1

Do Egito pegamos um voo noturno para Johannesburgo com uma parada de algumas horas no aeroporto de Jeddah, Arábia Saudita. Aeroporto interessante. Está sempre lotado devido aos islâmicos em peregrinação. A companhia aérea pertencente ao governo saudita era até boa, mas, parece que em cumprimento a determinações legais daquele país, antes de cada decolagem o sistema de mídia do avião exibia uma oração em árabe. Tá bom. Toda ajuda é benvinda. Era início de dezembro. O fato interessante foi chegarmos no aeroporto da África do Sul e dar de cara com uma árvore de natal. Não é nada demais, mas já estávamos cerca de 2 meses em países islâmicos. Apesar de não sermos devotos exemplares, foi bom sentir que estávamos em uma cultura mais próxima da nossa de novo.

Um pouco de História

A política do Apartheid foi um dos pontos baixos da história recente da humanidade. Porém, a África do Sul é o único país que foi capaz de construir bombas nucleares e anos depois abriu mão de tal poder e desmontou seu arsenal atômico. Este com certeza foi um ato que gera uma grande esperança para o mundo. Que país é este?

70% da população do país é negra, mas de diferentes grupos étnicos. A maior parte do restante da turma é de origem indiana, europeia e mestiços. São reconhecidas como oficiais 11 línguas.

Embora o país possua registros pré-históricos de mais de 100 mil anos, pularemos esta parte para o ponto onde a situação atual começa. Em 1652, um século e meio após a descoberta da Rota Marítima do Cabo, a Companhia Holandesa das Índias Orientais fundou uma estação de abastecimento que se tornaria a Cidade do Cabo. Mas não é claro se a Holanda um dia considerou a região uma de suas colônias. Já a Inglaterra, que nunca dorme no ponto, em 1806 foi lá e declarou que era tudo dela. Enquanto só haviam uns gatos pingados de holandeses, até que a convivência com os nativos foi relativamente tranquila. Mas na colonização britânica chegaram mais ingleses, holandeses, flamengos, alemães, indianos, chineses, etc. E aí começaram os conflitos entre nativos e invasores por territórios. 

Mais tarde, a descoberta de diamante e de ouro desencadeou um conflito entre os Bôeres (origem holandesa) e os Britânicos. Os ingleses ganharam, mas deram independência limitada à África do Sul em 1910. Durante os anos de colonização Holandesa e Britânica, a segregação racial era essencialmente informal. 

Em 1948, apenas 3 anos após o mundo saber do maior massacre por questões raciais já ocorrido na história (judeus mortos por nazistas), o governo sul-africano, escolhido apenas pelo voto dos brancos, inicia a institucionalização de um conjunto de leis que mais tarde fica conhecido como Apartheid. Essas leis promoviam uma segregação racial no país africano que limitava a possibilidade de aquisição de terras por negros (a apenas 10% das terras cultiváveis), negava o direito ao voto aos não brancos, mantinha serviços de saúde e educação diferenciados só para brancos, dentre uma infinidade de medidas racistas. Enfim, mostrava claramente quão desprovida de vergonha na cara era a grande maioria da população de origem europeia daquele território. 

A situação só mudou devido à pressão internacional, à enorme resistência promovida de várias formas internamente, como protestos, ativismo, revoltas e sabotagens. Ainda hoje há condomínios fechados enormes onde os moradores, todos brancos, tentam manter um “oásis” dentro da África do Sul. Também há escolas particulares onde só entram brancos. 

Em 1990 o governo sul-africano iniciou negociações que levaram ao desmantelamento das leis de discriminação e às eleições democráticas de 1994. O país começa a desmantelar o Apartheid, libertando Nelson Mandela, líder do ANC (Congresso Nacional Africano), aceitando legalizar esta organização, bem como outras organizações antiapartheid. 

Em abril de 1994 fazem-se eleições multirraciais para o novo Parlamento. O ANC ganha as eleições e Nelson Mandela, formando um governo de unidade nacional, torna-se o primeiro presidente sul-africano negro. Apesar de o país ter progredido de forma rápida e sustentável em termos de acesso dos negros aos recursos do país, ter sido sede da Copa do Mundo de 2010 e hoje ser considerado uma “futura super potência”, há ainda uma discrepância enorme em relação á qualidade de vida de que disfrutam brancos e negros. E por melhor que tenha sido a transição, ainda há um ódio muito forte guardado e a violência racial volta e meia mostra sua cara. O país tem um elevado índice de estupros e algumas pesquisas apontam que acontece um a cada 17 segundos.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Egito - parte 3

Cairo

Chegamos em Cairo de tarde. A cidade reflete uma decadência que chega a ser opressora. São 20 milhões de pessoas. Como quase nunca chove e o deserto está ali do lado, a poeira é uma constante nas ruas, nas paredes e nos monumentos. Junta-se a isto a poluição dos carros, a sujeira das ruas e das lajes. É necessário muita boa vontade para achar alguma coisa bonita. Dos viadutos ou de cima de um lugar alto se pode ver entulhos sobre quase todas as lajes. Nas ruas, praticamente só homens. Pegamos protestos na Praça Tahrir todos os dias e por três vezes participamos das passeatas.




Nosso albergue ocupava o último andar e o terraço de um prédio antigo do centro. Ao contrário das expectativas era limpo e cheio de plantas e gatos. Um dos funcionários nos perguntou sobre nossas impressões sobre o Egito e não conseguimos mentir. Dissemos que estávamos decepcionados pelo fato de ser normal os trabalhadores do turismo tentarem o tempo todo aplicar golpes nos clientes. Ele ficou envergonhado, se desculpou e nos prometeu que escolheria um taxista muito honesto e gente boa para nos levar no passeio que contratamos com ele. Coitado. Ele não podia estar mais errado. O cara era um mala sem alça e ainda tentou nos empurrar um passeio com guia e camelo totalmente desnecessário com um chegado seu nas pirâmides. Berrava o tempo todo com outros motoristas e seus CD’s eram horríveis. E ele cantando junto e bem alto, era terrível! Além disso, o cara falava inglês muito mal e não conseguíamos manter nenhuma conversa com ele. E ainda ficava chateado quando conversávamos em português entre a gente, porque ele disse que sem querer ele acabava pensando que falávamos dele. E toda hora ele falava para a gente: “hola, amigo, que tal?” E mais: ele só sabia isto em espanhol. Nem gosto nem de lembrar.

Pirâmides

As pirâmides de Gizé são aquele tipo de atração que justifica a viagem. Lá se encontram 9 pirâmides e a Grande Esfinge. As três pirâmides maiores, Quéops, Quéfren e Miquerinos são enormes e dominam a paisagem. Elas serviram de túmulos para faraós, embora existam afirmações de que tiveram outros fins.

A Grande Esfinge é também impressionante. Não se pode chegar muito perto dela porque há um isolamento impedindo. Lembremos que aquilo tudo é um sitio arqueológico. Mas nem é necessário. Tudo é tão colossal que deve ser apreciado à distância mesmo. A esfinge, como todos sabem, tem o nariz todo destroçado, quase tão ruim como era o de Michael Jackson após as dezenas de plásticas. Várias teorias tentam explicar a causa daquilo. Até napoleão já foi acusado de usar a cara do bicho como alvo para calibrar seus canhões. Mas ninguém nunca fez nada para tentar reparar a estátua. Então decidi fazer alguma coisa...


Mas não precisamos convencer ninguém de que aquilo ali é algo único. Preferimos contar como foi a nossa visita. O bairro onde ficam as pirâmides é parecido com muitas favelas brasileiras e em várias fotos é possível ver uns casebres ao fundo. Mais um pouco e haveriam casas no lombo da Esfinge. Chegamos com o nosso taxista e ele nos garantiu que tínhamos que comprar um passeio guiado, com camelo, porque caminhar pelo parque sob o sol escaldante era insuportável, que as coisas eram longe uma das outras.

O cara nos colocou nas mãos de uma agência que insistiu muito. O taxista (que levaria sua comissão) nos levou antes de entrarmos no parque na laje do prédio da agência para nos mostrar as pirâmides e termos a ideia do tanto que teríamos que caminhar. Essa parte foi muito legal. Ele nos mostrou uma paisagem desértica, com o céu encoberto por poeira e só vimos a esfinge. Passados alguns segundos, começamos a identificar os traço das grandes pirâmides. E mais um minuto estava tudo visível. E ele tentava nos mostrar que era tudo longe, mas nós só aumentamos nossa certeza que era possível fazer o trajeto a pé. E a insistência dele cheirava a golpe.

Fomos sozinhos. Compramos nossos bilhetes e o vendedor, em vez de nos dar os papéis, os passou a um velhinho, vestido de beduíno. Acompanhamos o velhinho, mas percebemos que ele era um guia. Renilza pediu a ele nossos bilhetes. Ele disse que nos daria e continuou andando. Mas insistimos e, depois de pararmos de caminhar e exigirmos que nos dessem os bilhetes o velhinho cedeu. Como que pode uma atração turística famosa internacionalmente ter uma administração tão ruim?! É quase inacreditável. Passamos pelos guias com seus camelos e nos recusamos a comprar qualquer serviço. E ouvíamos que iríamos nos arrepender, porque era longe e coisa e tal. Por fim, em pouco mais de uma hora visitamos todo o parque, sem nenhum problema. É claro que dezenas de vezes tivemos que nos afastar de beduínos com seus camelos e vendedores ambulantes, porque os caras são muito chatos. Incrível como a administração do parque permite que tanto trabalhador autônomo fique ali dentro enchendo o saco dos visitantes.


Dahshur

Pegamos nosso taxi e fomos para Dahshur. Lá, vimos mais pirâmides. Das 5 existentes, se destacam a Vermelha, cujo revestimento de calcário quase desapareceu e Pirâmide Romboidal. Esta tem uma alteração no ângulo das arestas próximo à metade de sua altura. O mais legal foi que entramos em uma delas. Primeiro se sobe uma escada de madeira por uma das faces. Chega-se a uma portinha, e é só entrar. Não há como se perder, porque só tem um caminho. A descida é pesada, pois há uma rampa de madeira de dezenas ou centenas de metros que se tem que descer com o corpo todo dobrado, pois tem só cerca um metro de altura. Quando chegamos lá em baixo passamos por alguns salões e corredores, subimos mais escadas e então estamos no miolo. Se você tem claustrofobia, esquece. O ar lá dentro é muito seco e é muito desagradável. Não é para ficar muito tempo. Mas também não tem muito que ver.


Memphis

Aqui paramos em um pequeno museu com algumas estátuas de faraós, esfinges, com até alguns metros de altura. Uma grande estátua fica em um salão interno. Ela está quebrada em várias partes do corpo do faraó, mas vale a pena passar alguns minutos lá dentro. Apesar do passeio que compramos no hotel incluir esta parada, o taxista nos tentou convencer a não visita-la dizendo que não havia nada. Mas nessa altura a opinião do elemento já não estava sendo considerada.


Saqqara

Saqqara é um sitio muito importante, com uma pirâmide que lembra um bolo de noiva e um salão com várias esculturas, pilastras e inscrições. Já estávamos dentro do parque, com os ingressos pagos e ao entrar no referido salão, um senhor nos pede os bilhetes confere e pede que nós o sigamos. Em qualquer lugar do mundo o turista poderia entender que aquilo faz parte da visita e está incluído no preço do bilhete. Mas já estávamos calejados com esse tipo de atitude e quando o cara pediu que o seguíssemos, disparamos que não queríamos guias e pegamos nossos bilhetes.

Se o turista desavisado continua andando com o “guia”, vai ter que desembolsar uma grana, porque ele vai dizer que te prestou um serviço e outros colegas dele vão aparecer do nada e insistir que você tem que pagar, etc. Este é o estilo dos golpistas: se fazem passar por funcionários do local, fazem você o acompanha-los, explicam qualquer coisa sem o menor compromisso com a verdade e depois tentam te forçar a pagar algo. A dica para quem vai ao Egito é: tudo que te for oferecido terá um preço. Nada é de graça, mesmo que pareça ser uma ajuda desinteressada. Sempre pergunte o preço antes quando for contratar um serviço ou se alguém lhe oferece-lo. E esteja preparado para brigar se o preço aumentar depois, isto também não é raro.


Nesta parada há um trabalho de escavação em plena atividade e se pode ter uma vista privilegiada do rio Nilo e seu vale todo verde e trabalhado por agricultores cortando o deserto.

Lojas

Está incluído neste passeio algumas paradas em lojas de artesanato ou de óleos perfumados. Os produtos são legais, mas a gente não queria comprar nada. Em um deles a vendedora nos deu uma aula de como eram fabricados os pergaminhos. Legal pra caramba, mas chega a ser constrangedor sair de lá sem comprar nada. Eles oferecem algo, vão abaixando o preço com descontos que passam de 50%. Mas a gente nunca compra algo que não estamos interessados. Já o taxista fica tomando um chá que é oferecido a todos que chegam (esse é de graça mesmo). Por fim, pedimos ao taxista que não parasse mais em lojas porque realmente não compraríamos nada, mas o cara insistiu, porque queria no mínimo ganhar um chá e tivemos que passar por mais momentos constrangedores. Mais uma dica: se você tem interesse nesse tipo de compra, ok. São boas oportunidades. Mas se realmente está decidido a não comprar nada, deixe isto bem claro quando for adquirir um passeio.

Museu do Cairo

Este museu está abrigado em um prédio imponente próximo à praça Tahrir. Tem tantas peças que várias ficam do lado de fora. Mas são todas de pedra e no Egito quase não chove. A principal deficiência é que a maioria das peças não tem nenhuma identificação. O resto é show. Várias múmias ficam expostas, há centenas de sarcófagos, estátuas e muito objetos usados pelos povos que habitaram a região. Outra parte interessante é a que mostra animais mumificados. Cães, crocodilos, cobras e muito mais. Até elefantes os caras mumificavam. O ponto alto é com certeza as salas onde ficam as peças encontradas no túmulo de Tutan khamon. Além de sua máscara, adornos, o caixão, há carruagens e um monte de utensílios, quase tudo de ouro. Tudo isso para que o Menino Deus chegasse à outra vida com toda a pompa de um grande rei. Mas como os arqueólogos fizeram uma limpa na sua catacumba ele vai ter que chegar ao além igual a qualquer um mesmo.


Saída

Assim como estabelecemos a Nova Zelândia como o melhor pais para se fazer turismo, onde tudo funciona, as pessoas são honestas e amigáveis e as atrações são de primeira linha, o Egito ficou marcado como o pior lugar de nossa viagem. Quase nada funciona, trabalhadores da área do turismo tentam te dar golpes o tempo todo e as atrações são muito mal cuidadas. Tem muita sujeira, o transporte um horror e o clima não ajuda. Realmente esse país precisava de uma revolução. Felizmente ela está em curso. Esperamos que a nova democracia consiga se manter e se fortalecer no país e que traga progressos para seu povo. Temos certeza que as pessoas desonestas que conhecemos não representam o povo egípcio e esperamos que elas aprendam a desenvolver suas atividades de forma limpa, para que mais pessoas possam visitar o país e levar boas lembranças.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Egito - parte 2

O primeiro dia

Chagamos no Egito no porto de Nuweiba no início da manhã em um ferry vindo de Aqaba, Jordânia. O porto egípcio é uma zona. Sujo, bagunçado, fedorento. Foi uma luta encontrar a Imigração, mas conseguimos.


O mapinha aí de cima vai ajudar a entender nossa epopeia. A península do Sinai é muito turística pelo monte Sinai e os pontos de mergulho no Mar Vermelho. Como estávamos um pouco temerosos em relação aos preços e grau de honestidade do Egito, decidimos mergulhar na Jordânia mesmo e seguir de Nuweiba direto para o Cairo. Mas nosso primeiro dia no Egito foi o pior dia em toda nossa viagem. Tentaram nos aplicar mais golpes neste dia do que no resto da viagem toda. E não conseguimos escapar de todos. O Egito começou difícil.

O golpe da informação

Ainda no porto fomos ao terminal de ônibus tentar comprar uma passagem para o Cairo. Nos disseram que não havia mais. Perguntamos ao guardinha onde podíamos encontrar outro terminal de ônibus. Ele já ia responder, mas um taxista chegou, nos interrompeu, deu um sorrisinho pro guarda que se calou. Ali havia um código. Provavelmente o taxista se nos ganhasse daria uma comissão ao guarda. Nem deixamos a conversa começar. Saímos andando para procurar o terminal.

O golpe do superfaturamento do café

Entramos em um buteco, pedimos café, algo para comer a uma garrafa de água mineral. Sabíamos que ficaria entre 1 e 2 dólares. Na hora de mostrar a conta o funcionário disse, meio titubeando: “10 dólares”. Renilza o olhou nervosa e começou a perguntar os preços de cada item. Como ele se embolava, ela bateu no balcão de disse: “Queremos o preço certo! Rápido! Não vamos pagar 10 dólares. O carinha se assustou e pagamos 2 dólares.

O golpe dos perueiros

Encontramos o terminal de ônibus e descobrimos que teríamos que esperar muitas horas e ainda assim não chegaríamos ao Cairo, mas em Dahab, e de lá teríamos que pegar um ônibus pro Cairo, para chegar sabe-se lá que hora. Tentávamos negociar com uns donos de peruas que apareciam mas os preços eram exorbitantes. Por fim um motorista que já ia para o Cairo topou cobrar 100 dinares por cabeça para nos levar. Não perguntamos o caminho, só nos interessava o destino final.

O danado tocou pra Taba e chegando lá nos fez descer dizendo que não podíamos seguir, somente ele, e que teríamos que pagar 50 dinares. Apareceram mais uns 4 perueiros para tentar nos coagir. Se fosse no Brasil ou na maioria dos países com um mínimo de seriedade, é claro que não pagaríamos nada, pois o serviço (nos levar a Cairo) não foi entregue. Mas era Egito. No meio da bagunça, chega no sentido oposto um alemão que quer ir pra Dahab. Quando as coisa acalmaram um pouco, deixei Renilza esperando e fui à um posto policial e perguntei se realmente estávamos proibidos de seguir e ele confirmou que sim, por causa da Al Qaeda, que costuma sequestrar estrangeiros nessa região. Perguntei então se eu deveria pagar ao perueiro e ele disse que isso teríamos que resolver por nós mesmos. Resolvemos pagar. Pegamos outra perua compartilhando com o alemão até Dahab. Lá, conseguimos um ônibus para Sharm El-Sheik. Já era fim de dia e nos demos por vencidos. Resolvemos nos hospedar e aproveitar a cidade, que é muito famosa pelos pontos de mergulho e snorkel.

O golpe do camelo

Não se trata de camelo dando coice.


Das três simpáticas criaturas, duas estão sendo engalobadas. Já estávamos alojados em um hotel até legal e saímos para compras em um supermercado. Na saída vemos o simpático camelo estacionado. Renilza tenta brincar com ele e o beduíno aparece e diz: “pode brincar, tirar foto, sem problemas.”. Por que não? Tiramos umas fotos, o cara manda o camelo se abaixar. Eu me aproximo para a foto e o cara manda nos dois montarmos que ele faria a foto para a gente. Pensamos que o camelo ficaria ali parada para aquela foto. Mas ele faz um sinal, o camelo se levanta e estamos nós lá, no meio de uma praça super movimentada andando de camelo. O cara anda uns 80 metros e nos deixa em frente ao hotel. Eu já sabia que ele ia querer uma grana. Separei 1,5 dólar e ele se recusou a receber. Queria 25. Eu quase disse que não estava comprando o camelo, mas mudei o discurso e disse que não queríamos o passeio e que ele não disse que cobraria. Se quisesse o que eu estava oferecendo, ok, se não eu ia entrar para o hotel. Ele insistiu, ficou nervoso, mas pegou a grana.

O golpe do passeio vendido e não fornecido

Se um dia você for a Sharm El-Sheik, lembre-se de nunca comprar nenhum passeio com a empresa Luna Rosa. Pegamos um passeio para fazer Snorkel por 25 euros cada. O guia que nos pegaria no hotel às 8h a manhã simplesmente não apareceu. Voltei na agência e quebrei o pau, chamei o vendedor de mentiroso, de ladrão e em um momento pensei que ia ter porrada. Mas ele não devolveu a grana. Pelo menos fizemos algum estrago. Ao passarmos pela agência, sempre que víamos possíveis clientes a gente chegava e contava para eles o que aconteceu com a gente. Invariavelmente eles iam embora. Ainda relatamos o ocorrido no Trip Advisor e fuzilamos a página deles no Facebook. Parece que estava dando algum resultado, pois a gerente tentou defender o funcionário e a gente atacou mais ainda.


Mais coisas desse naipe ocorreram no Cairo e relataremos mais adiante. Mas depois dessas experiências o Egito já não tinha a menor chance de se recuperar.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Egito - parte 1

Um pouco de História

O Egito é um país transcontinental, com um pé na Ásia e outro na África. Tem mais de 1.000.000 km2 quadrados, porém, o país é quase todo desértico e 99% da população se espreme em pouco mais de 5% de sua área. O Vale do Nilo é habitado há mais de 10.000 anos. Várias culturas vieram e se foram até a formação da civilização egípcia. Entre o Egito de hoje (pobre, falante da língua árabe e desorganizado politicamente) e os primeiros reinos há uma história longa. Dezenas de dinastias se substituíram nos primeiros 3000 anos de existência da nação. Apesar de terem se desenvolvido em artes, religiões, de terem sido provavelmente os primeiros a beber cerveja, quando pensamos no Egito nos lembramos das pirâmides e da Grande Esfinge.

As primeiras pirâmides evoluíram dos montes de areia que se fazia sobre as esculturas dos primeiros governantes. Foram evoluindo até se tornarem construções magnificas, de alta complexidade interna, sendo algumas cobertas com ouro no vértice superior. Há hoje cerca de 140 pirâmides documentadas, mas esse número pode aumentar. Recentemente foram encontradas duas novas por uma internauta que usava o Google Earth.

Os governantes mais famosos foram Ramsés I, II e III, Akhenaton e sua mulher Nefertiti e Tutan khamon. O país experimentou o monoteísmo há mais de 1.000 anos a.C.. Em 343 a.C. os persas tomaram o Egito, que foi perdido para os grego e depois, para os romanos. Nesta sequência, foram mais de 2000 anos de domínio estrangeiro. 

O cristianismo chegou já no século I. Em 639 o Egito foi tomado pelos muçulmanos sunitas e esta é a religião da ampla maioria da população de hoje. Em 1517 o Império Otomano anexa o Egito às suas possessões. 

Em 1798 Napoleão Bonaparte invadiu e ocupou o Egito, quando o país experimentou um pouco dos avanços oriundos da Revolução Francesa. Com a saída da França, o país virou uma zona de guerra civil até que em 1805 Mehmet Ali, um albanês, tomou o poder, pôs ordem na casa e inaugurou um período de alguma prosperidade. 

A abertura do canal de Suez em 1869, tornou o Egito um centro mundial de transporte e comércio, já que o canal possibilitava a passagens de navios do Mediterrâneo direto para a Ásia, sem ter que contornar a África. Mas custou a soberania do país, já que a construção do canal gerou uma dívida enorme com as potências europeias, culminando com a tomada do poder pelo Reino Unido em 1882. 

Entre 1882 e 1906, surgiu um movimento nacionalista que propunha a independência. Fundaram-se os primeiros partidos políticos locais. Após a Primeira Guerra Mundial, Saad Zaghlul e o Partido Wafd chefiaram o movimento nacionalista egípcio, ganhando a maioria da assembleia legislativa local. Os britânicos não aceitaram este resultado e exilaram Zaghlul. Na sequência, a população se rebelou, gerando a primeira revolta de sua história moderna. As rebeliões levaram o Reino Unido a proclamar a independência do Egito, em 1922. 

Saad Zaghlul foi eleito para o cargo de primeiro-ministro em 1924. Em 1936, foi assinado um tratado pelo qual o Reino Unido defenderia o Egito e poderia manter tropas no canal de Suez. Em 1952 um golpe de estado derruba o rei, que é substituído por seu filho, o General Muhammad Naguib. Mas já em 1953 é proclamada a República do Egito. Gamal Abdel Nasser força Naguib a renunciar e assume a presidência. Ele encerra o tratado com os ingleses e nacionaliza o canal, o que gerou o conflito internacional (com a participação do Brasil) conhecido como Crise de Suez. 

Nasser planejava fortalecer suas forças armadas para aniquilar Israel. O problema foi que ele falou demais. Enquanto seus pilotos eram treinados com os novíssimos caças russos comprados para destruir Israel, este fez um ataque de surpresa destruindo praticamente toda a força aérea do Egito e ainda tomou a península do Sinai. 

Em 1973, o Egito, juntamente com a Síria, deflagrou a Guerra do Yom Kippur, um ataque-surpresa contra as forças israelitas no Sinai e as colinas de Golã. Os EUA e a URSS intervieram e chegou-se a um cessar-fogo. Embora não tenha resultado num sucesso militar, o conflito representou uma vitória política que lhe permitiu posteriormente recuperar o Sinai em troca da paz com Israel em 1979. Mas esta manobra queimou o filme do país com o resto do mundo árabe. O presidente Saddat, que costurou o acordo foi morto em 1981 por um soldado fundamentalista islâmico. Hosni Mubarak chega ao poder na sequência. 

Em janeiro de 2011, protestos contra o regime de Hosni Mubarak começaram em todo o país. Em fevereiro, ele renuncia e foge do Cairo. Mesmo após eleições presidenciais o país é instável, já que uma nova constituição está sendo escrita e não há consenso em temas cruciais, principalmente quanto á laicidade do novo regime.