sexta-feira, 8 de junho de 2012

Índia - parte 1

Um pouco da História 

Quando a Índia se tornou independente dos ingleses em 1947, sua população provavelmente era mais do que 10 vezes maior que a da metrópole. Os ingleses, com apenas 100.000 soldados dominavam uma população de 300 milhões de indianos. Como isso foi possível? Aquele povo já chegara a dominar cerca de 30% da economia mundial, séculos atrás. A conclusão que cheguei é que, apesar de contar com mais de 9 mil anos de assentamentos permanentes e civilizações terem se formado naquela região há mais de 5 mil anos, a Índia mesmo, como uma nação, só passou a existir a partir de sua independência em 1947. 

Nos mais de 5 mil anos de civilizações no vale do Rio Indus, milhares de organizações, entre reinos, sultanatos, impérios ou o que quer que seja dominou uma parte ou a totalidade do território. 

Algo que é recorrente a todas elas é o fato de os líderes quase sempre gastarem os parcos recursos de suas épocas para o seu luxo e prazer, mantendo dezenas a centenas de mulheres concubinas (algumas lendas relatam milhares), palácios de luxo impensável, mausoléus faraônicos, roupas com tanto ouro que o usuário não conseguia se manter em pé, rinhas onde elefantes e seus ginetes se digladiavam até a morte, dentre outras. Isso tudo, é claro, construído e mantido pela exploração de toda uma população, que apesar de grande quase sempre foi miserável. Talvez este seja um dos motivos de qualquer país europeu que quis conseguiu dominar uma parte da região. 

Ao longo dos milênios vários impérios estiveram por aqui. Alguns de fora (árabe, mongol) e outros caseiros. Nos século XVI, portugueses e holandeses (sempre os primeiros) fizeram suas proezas, mas em 1757 a Cia. Inglesa das Índias Orientais começou a dominar a área, reino por reino, como quem não quer nada. Em 1849, após vencer uma grande rebelião a Inglaterra teve que “estatizar” oficialmente a dominação e integrou todo o território, que na época contava também com o Paquistão e Bangladesh, ao Império Britânico como colônia. Houve aqui muitos grupos nativos que aplaudiram. Principalmente porque não viam saída rumo ao progresso para uma sociedade com organização tão caótica. Durante a dominação eles deviam se sentir mesmo meio ingleses. Tropas indianas lutando como exército britânico fizeram bonito nas duas grandes guerras mundiais. 

Gandhi, que estudou direito em Londres tinha certeza de que gozava dos mesmos direitos de um ser nascido na Grã-Bretanha, até sofrer o mesmo que os negros sofriam quando esteve na África do Sul. Ele, como os nativos, era um “cidadão” do Império Britânico NÃO INGLÊS, o que fazia toda diferença. Na África do sul liderou um movimento de desobediência civil baseado fortemente na não violência, pelos direitos dos indianos que viviam ali. Em 1915, retorna a Índia e conduz um movimento rumo à independência baseado na não violência. 

Em 1947 a Índia se torna independente. Mas o Paquistão (Oriental e Ocidental) passa a existir como país também. Esta divisão foi muito turbulenta, provocando uma troca de populações com o deslocamento de mais de 10 milhões de pessoas. Cerca de 1 milhão morreram em conflitos entre muçulmanos e hindus. 

A divisão das duas nações já gerou várias guerras e motivou a marcha dos dois países rumo a investimentos militares proibitivos, haja visto suas condições socioeconômicas. Numa dessas guerras o Paquistão Oriental, apoiado pela Índia obteve sua independência com o nome de Bangladesh. 

Em 1974 a Índia já havia conseguido detonar seu primeiro artefato nuclear, mas foi em 1998 que ela se tornou realmente um Estado Nuclear ao realizar uma série de testes bem sucedidos com bombas de grande poder destrutivo. Semanas depois o Paquistão também realizou testes nucleares bem sucedidos e obteve o mesmo status do vizinho. Hoje os dois países disputam a região da Caxemira. É o principal ponto de tensão no mundo capaz de gerar uma guerra nuclear. 

Hoje a Índia tem 1,2 bilhões de habitantes e caminha a passos largos para ultrapassar a China e se tornar a nação mais populosa do mundo. Apesar de ser a terceira maior economia mundial em paridade de poder de compra o país goza de péssimos indicadores sociais. Seu IDH é o de posição 134, ficando atrás até do Iraque. 

Chegada 

Entre o Vietnam e a Índia fizemos uma escala em Bangkok, onde passamos mais uma noite. No dia 27/04/12 partimos para Nova Délhi e no avião já pudemos ver algo do que nos esperava. De repente, um grupo de amigos e familiares fizeram uma aglomeração em um ponto das poltronas centrais. E ali brincavam, gritavam, riam, assobiavam, uma bagunça, digna de excursões escolares de turma de sétima série. 

O Aeroporto Indhira Gandhi não deixa a desejar em nada se comparado aos melhores do mundo. Espaçoso, quase todo atapetado. Num canto, vi uma mulher de burca, sentada encostada numa parede. A burca era igualzinha àquelas que vemos na TV em imagens do Afeganistão. Foi a primeira vez (até o momento a única) que vi aquilo. Um indivíduo totalmente anulado, sem direito à luz, à brisa, a ser visto e identificado como tal. Me chocou. Bem mais que na TV. Mais adiante, a emigração. O que há de novo aqui é que existe uma fila e guichês especiais para quem viajou de primeira classe. Lembremos que a Índia é a maior democracia do mundo e em uma democracia pressupõe-se que todos os indivíduos são iguais, ou pelo menos o Estado irá tratar a todos da mesma forma. Mas sempre me perguntei como teria dado certo a democracia em um lugar onde ainda existe (extra oficialmente, é verdade) o sistema de castas. Naquele momento no aeroporto temi que a resposta fosse: “não deu”. Chegamos por volta de 10 horas da noite, conseguimos nossos carimbos, sacamos alguns milhares de rupias e fomos buscar por nosso transporte. Como já havíamos sido alertados por vários meios que os taxistas em Délhi tem a pouco honesta prática de no meio do caminho tentar recombinar o preço acertado antes da viagem, alegando que o hotel é mais longe do que era quando foi combinado, procuramos o guichê dos taxis pré-pagos, que apesar de serem mais caros, nos dariam a garantia de chegar ao local certo pelo valor combinado. Preferimos pagar mais caro a sermos enganados. No guichê nos indicaram o número do taxi que deveríamos pegar do lado de fora. Entramos em um Ambassador preto e amarelo, com um motorista de dentes escuros, bigode embaraçado, um capuz tipo de soldador na cabeça e fomos. Depois de uns 5 minutos ele vira pra mim e grita em Hindi qualquer coisa. Depois pega o endereço no meu caderno. Grita de novo. Me passa seu celular para eu ligar para o hotel para nos dar referência. Eu falo para ele que não ia ligar, que ele ligasse. Ele supostamente liga, pergunta, responde, pergunta, responde. Fica com cara de bravo. Vira a direita, depois retorna, anda mais um pouco e para em um hotel com o nome ND Aerocity Inn. O nosso era ND Aerocity Hotel. Falamos que não era aquele. Ele diz que para nos levar ao nosso hotel teremos que pagar mais, porque é mais longe. Aí eu falo para ele nos levar de volta ao aeroporto, pois quem informou o preço baseado no endereço que mostramos foi a própria empresa. Ele insiste e nós insistimos também. Ele fecha a cara feia, liga o carro. Anda uns 80 metros e estamos no nosso hotel. Saímos do carro bravos. O gerente do hotel nos recebeu já perguntando: “bad taxi driver?” e nós relatamos a tentativa de golpe. Ele balançou a cabeça um pouco envergonhado.

Um comentário:

  1. Muito interessante o relato histórico da Ìndia. Sobre o taxista quando vc me falou fiquei bem preocupada, mas Deus guiará vcs em toda essa linda viagem. Bjos.

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