sexta-feira, 22 de junho de 2012

Índia - parte 4

Risco de intoxicação

Se você for á Índia, ficar lá por 10 dias, se alimentar nas vendinhas e restaurantes simples neste período e não tiver ao menos um piriri, procure alguma empresa que desenvolve produtos farmacêuticos e relate este fato. Você pode ficar rico, pois vão querer amostras de sua flora intestinal, seu DNA com certeza será mapeado e buscarão ali alguma coisa que te tornou este Wolverine. Talvez vão querer uma pequena amostra do tecido de seu estômago ou coisa do tipo. O Lonely Planet dá uma estatística esquisita: entre 30 e 70% dos viajantes tem problemas no aparelho digestivo na primeira semana. Outro site afirma que o número é 90%. Sei lá qual é o verdadeiro. Mas descobrimos que a causa do problema está no cumprimento “Namastê”. Ele é o culpado.

O uso de papel higiênico não é muito disseminado. As pessoas normalmente se limpam jogando uma aguinha e esfregando com a mão. A mão esquerda. Este detalhe é importante. Por outro lado, para não quebrar o fluxo de energia, o indiano se alimenta levando o alimento do prato, que pode ser uma folha de jornal, com a mão até a boca. Mas usando a mão direita. Nunca se esqueça disso. Então não deveria haver nenhum problema, pois entre as duas mãos há um corpo inteiro. Mas eu descobri a falha: na hora do Namastê as duas mãos se juntam na altura do peito. Ahammmm! Tenho que voltar lá para contar isso para eles.

Brincadeiras a parte, a Índia deu amplas contribuições para a humanidade. Só para começar, lá se iniciaram as matemáticas e o zero foi inventado. Criaram o xadrez e mais um monte de coisa. Desenvolveram sozinhos seu poderio nuclear. Já ficou famosa pelos excelentes serviços de informática prestados por empresas e cidadãos. Então não precisamos botar panos quentes. Alguns textos na internet diziam algo do tipo “eles tem um conceito diferente de higiene” como se higiene fosse algo como religião, ou passível de interpretação. Esse tipo de afirmação romanceada sobre a Índia é o que mais me irrita, na verdade. O fato é que se existisse um índice internacional que medisse o nível de higiene de um povo, a Índia estaria lá nas rabeiras. Ratos são vistos passeando por todos os lados. Pombos, que são praticamente ratos voadores, não dão conta de comer a quantidade de milho que é distribuída para eles. As pessoas se sentam e se deitam no chão em qualquer lugar. O comerciante enquanto organiza a mercadoria segura o dinheiro entre os lábios. Gatos, que poderiam ajudar a controlar a população de ratos, só vi 2. Não se lava o chão dos estabelecimentos. Passa-se uma vassourinha sem vergonha de quando em vez. Não acredito que banhos sejam frequentes, embora vi afirmações de que os indianos se lavam diariamente. Quando se está em fila sente-se o cheiro de morrinha no ar. As ruas cheiram a urina e merda. É claro, pois os homens fazem necessidades fisiológicas onde a vontade bate. A coisa mais comum é ver homens e mulheres com unhas enormes. Se não todas, deixam a do mindinho, como lembrança. Duvido que se lavam roupas com grande frequência, devido ao cecê generalizado. Enfim, um horror.

É claro que, num cenário desses, a pessoa que prepara os alimentos nos restaurantes mais simples impossivelmente estará sempre com as mãos limpas ou terá alguma preocupação maior quanto a este quesito. Provavelmente deve pensar que a pimenta vai garantir a assepsia necessária.

Então ficamos um pouco paranoicos. Nossos planos não incluíam disenterias. Em Jaipur, fazíamos apenas uma refeição decente por dia. Funcionava assim: acordávamos, comíamos uns biscoitinhos ou bananas. Lá pelas 14h, andávamos uns 3 quilômetros e chegávamos a um Pizza Hutt. Comíamos como leões. Voltávamos para casa. Se desse fome outra vez, mais biscoitinhos. Andávamos sempre com o frasco de álcool em gel. Comprávamos sempre água mineral, que eu fazia questão de garantir a potabilidade usando comprimidos de compostos de cloro. Mcdonalds, que eu não frequento porque acho os sanduiches o máximo em termos de ausência de sabor (tudo bem, tenho um pouco de aversão a símbolos dos Estados Unidos também) passou a fazer parte das opções. Decidimos que se o mundo ficar dividido entre a prepotência dos EUA e a porcaria dos indianos, Deus Salve a América.

Acabou dando certo. Não tivemos nenhum problema de saúde causado pela alimentação.

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