sábado, 30 de junho de 2012

Índia - parte 8

Agra

Como já disse, se mover na Índia não é nada trivial. Seja ir a pé a uma estação a algumas centenas de metros ou pegar um trem para outra cidade, saber que teríamos que nos movimentar causava sempre uma tensão. Nos preparávamos como se estivéssemos indo para uma guerra. A ida para Agra tinha um agravante. Suspeitávamos que Renilza estava com infecção urinária. Então, fizemos contato por e-mail com o dono da home stay onde ficaríamos e informamos que precisaríamos de uma consulta médica no dia seguinte e também combinamos que ele providenciaria transporte para a gente da estação até sua casa. Ele confirmou e pensamos que desse jeito, nada podia dar errado. Fomos com fé. Relembrando, Délhi é feio para danar. Jaipur é feio pra dedel. Mas Agra á a cidade do Taj Mahal, uma das 7 maravilhas modernas, é a Torre Eifel, o Cristo Redentor, o Coliseu da Índia. Com certeza esperávamos em Agra ter esperanças de que a Índia tinha salvação.

Chegamos por volta de 22h. Infelizmente, pela janela do trem entrando na cidade, já vimos que Agra não seria muito diferente de Délhi ou Jaipur. Muita sujeira, miséria e bagunça. Mas a esperança ainda existia. Saímos do trem e fomos para a porta da estação nos encontrar com o nosso condutor. Neste momento, um motorista de tuk-tuk se oferece para nos levar. Agradecemos, mas tínhamos transporte (que ainda não vimos). Ele disse que o transporte não viria, porque neste caso ele teria que estar nos esperando. Resolvemos andar um pouco, para nos expor. Nada. Mas o curioso é que nenhum outro condutor nos abordava. Apenas o cara que apareceu primeiro nos seguia, insistindo para irmos com ele. O cara era muito chato. Resolvemos voltar pra estação e esperar mais um pouco. O cara, em vez de ir tocar sua vida, buscar por outros clientes, ficou parado na nossa frente, nos vigiando, querendo ver nosso mapa, a tela do computador, enfim, o cúmulo da falta de noção de que não estava agradando. E insistia, insistia, insistia. Matamos a charada. Nenhum outro condutor se oferecia porque eles já haviam acertado provavelmente que nós seríamos dele. E ele não ia embora. Decidimos que se fôssemos pagar para alguém nos levar, não seria para ele.

E nada do nosso transporte chegar... a essa altura, estudamos nosso mapa, tirado do Google Maps e vimos que poderíamos tentar ir a pé. Aí a porca torceu o rabo. Depois de uns 500 metros o cara do tuk-tuk finalmente desistiu de nos seguir. Não consigo descrever o quanto esta cidade é horrível. As cenas das ruas cheias de mendigos, ratos, pessoas muito sujas e desnutridas nos encarando, esgotos a céu aberto, tudo isso envolto em uma nuvem de poeira e com uma iluminação muito ruim. A mente começou a criar e imaginei Michael Jackson parcialmente transformado com seus amigos lobisomens aparecendo em nossa frente, mexendo os ombros ao som de Thriller. Aliás, Hollywood economizaria uma nota com cenários se passasse a fazer seus filmes de terror nas noites das cidades da Índia (estranho o cinema indiano não explorar filmes de terror). Nesse momento desisti de ficar comparando a feiura das cidades deste país. A capacidade de superação parecia infinita neste quesito. Bom, fomos seguindo nosso mapa e nada. Pergunta aqui, ali, mais tuk-tuk fechando nossa passagem para nos forçar a contratá-los e nada. Tentamos até outros hotéis. Por fim, mostramos o endereço para um condutor e fechamos um preço. O endereço não tinha nada a ver com o local apontado pelo Google. Brincadeira! Nem o Google conseguiu mapear direito Agra! Enfim, chegamos ao nosso hotel e tivemos que nos segurar com força para não brigarmos com o dono, que não cumprira seu compromisso de nos buscar.

Hotel de Agra

Esta home stay era boazinha. Razoavelmente limpa, espaçosa, etc. Tinha uns 3 quartos e um corpo de funcionários de 4 ou cinco pessoas. No Vietnam, um estabelecimento desses era mantido em estado muito melhor com apenas a mão de obra do casal de donos. Mas tinha alguns problemas. De noite, lá pelas 23h a internet caía. Procurávamos a administração e eles diziam que era porque desligaram o computador deles. Então a gente tinha que insistir, dizendo que precisávamos ligar para o Brasil e coisa e tal. O carinha respondia que estava desligado. E nós insistíamos, ameaçávamos ir embora no dia seguinte e finalmente ligavam o computador. Toda noite era assim. Pedimos 4 diárias. No último dia, como nosso trem partiria a noite contratamos mais meia diária. Mas por isso eles queriam cobrar pelo café da manhã, pois no caso de meia diária não constava este serviço. Tentei explicar que o desjejum já estava incluído na diária anterior, mas mesmo assim não adiantou. Por fim não entendíamos se era má fé ou burrice. Acho que era a segunda opção, pois acabaram nos cobrando uma diária a menos, mesmo comigo alertando para o erro nas contas. Por fim aceitei pagar menos, para compensar em parte os transtornos da chegada e da internet. A saber, o nome do hotel é Say Home Stay.

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