quinta-feira, 19 de julho de 2012

Índia - parte 13

Cinema

Na Índia, não deixe de ir ao cinema. Os filmes são em hindi mas dá pra se divertir. Fomos uma vez em Jaipur. O cinema, para umas 2000 pessoas fora construído com muito luxo e ainda mantinha um bom conforto. Era a tarde e no meio da semana, mas mesmo assim lotou. O filme, de nome TEZZ era de ação, pretensamente hollywoodiano. A trama se passa toda na Inglaterra e envolve terrorismo, dramas familiares, efeitos especiais nada especiais. Melhor seria dizer “efeitos comuns”. Só com uma imaginação muito inocente se pode engolir um roteiro desses. Imagine uma Londres onde o chefe do sistema de trens e o chefe de polícia são indianos. Os ingleses, branquinhos como eles só, falam hindi. Tem mais um monte de lorotas. No meio do filme a trama do nada é interrompida por um espetáculo musical totalmente fora do enredo. Não há beijos e muito menos sexo. Tudo vai indo, vai indo e as luzes na sala se acendem: é o intervalo, ora! Todos vão ao banheiro, compram mais pipocas, voltam e continua o filme. As pessoas interagem com os atores, batem palmas, enfim, é a Índia.

Não adianta tentar. Os filmes americanos são lançados na Índia, mas não fazem nem cócegas no mercado cinematográfico local. Eles gostam é do cinema deles mesmo. E estão ficando mais organizados. Há uns 10 anos eu li em algum lugar que, para evitar bagunça, os atores eram registrados em um banco de dados e os trabalhos que desenvolviam eram registrados servia também como um currículo. Uma regra era bastante clara: cada ator podia participar da gravação de, no máximo 14 filmes ao mesmo tempo.

Miséria e o romantismo

A Índia é um país tão complexo que é difícil entender como continua funcionando, como que ainda não entrou em colapso. Qualquer tentativa de explicação é pura presunção. A complexidade é pesada. A beleza ali arde, é sentida, tem cheiro e som. É preciso ser filtrada, mas a presença é forte. Meu olhar cartesiano se mostrou insuficiente para definir aquilo. Há quem diga que com o tempo passa se a gostar do país e com um pouco mais se apaixona. Não nos demos tempo para uma coisa nem outra. Minha resposta na lata seria “não gostei”. Porém foi a experiência mais forte até este ponto da viagem. A Índia nunca mais deixou de ser assunto. Quando encontramos com outros viajantes que lá estiveram, rapidamente o país se torna o centro da proza.

A miséria me incomoda. E romantizar o assunto para mim é quase um crime. Se aceitar ratos passando por seus pés é parte da cultura, não quer dizer que isto não possa ou não deva ser mudado. A violência parece já fazer parte da cultura brasileira e mesmo assim não acho que por isso devemos aceitá-la. Então discordo de quase todos os depoimentos que tentam romantizar a miséria indiana (ou qualquer outra) tentando mostrar que é aceitável porque é cultural. Me recuso a aceitar isto. Neste país ainda se “fabrica” eunucos. Pais pagam para mutilar seus filhos para conseguir alguma vantagem com isto no futuro. É proibido, mas e daí? Já existem organizações e associações de eunucos pelo país. Este tipo de coisa é uma das partes da miséria que não se pode aceitar ou alimentar.

A organização do trabalho passou longe dali. Um hotel pequeno, com capacidade para uns 6 hóspedes (home stay) costuma ter 4 ou 5 funcionários. Camareiros entram dois a dois nos quartos para limpá-lo, demoram horrores e quando saem o serviço ainda está por ser feito. Vimos obras caseiras, os puxadinhos, ocupando mais de 10 trabalhadores. Coisa que no Brasil, que nem é lá essas coisas em termos de produtividade se faz com 2 pessoas. E o pior: é muito comum as mulheres em uma obra fazerem o serviço mais pesado. Mas não me arrisco a tentar apontar algum caminho neste sentido. Uma mudança radical nas relações de trabalho e de produção poderia talvez levar á morte milhões de pessoas. Tenho sempre que me lembrar de que o sistema atual alimenta (mal, é verdade) 1,2 bilhões de pessoas. Mas nem todos precisam passar por essas magrelas. A casa mais cara do mundo está na Índia. Custou ao seu dono cerca de 1,7 bilhões de reais. Tem 27 andares e a conta de luz mensal supera 200 mil dólares.

Recomendo muito a quem sonha em conhecer a Índia que vá lá. A emoção é garantida. É preciso cuidados excepcionais para não adoecer, mas a emoção te encontrará rápido. E é isto o que busca um viajante. As coisas lá são baratas se você se dispõe a fazer por você mesmo. Mas o estresse é certo. Há o turista que chega de avião, a agência o coloca em um ônibus com ar condicionado até o hotel de luxo e os guias levam direto ao ponto turístico, também de ônibus. Esta pessoa verá a pobreza de dentro do veículo. Mas não sentirá cheiros e nem terá grande contato com o barulho e a desordem. Não cansará tanto, mas este contato não é muito autêntico. Mesmo assim vale.

Pode-se também, através de agências, alugar carro com motorista que fale inglês. Fica caro mas pode valer muito a pena. Talvez uma viagem neste estilo seja a mais proveitosa. Mas viajar como mochileiro independente, como fizemos não nos pareceu a melhor escolha. Vimos muito. Mas cansou a beleza.

Despedida

E ao fim de 12 dias que nos pareceram 1 ano, estávamos dentro de um avião para o Nepal. A decolagem foi o melhor que aconteceu neste período.

2 comentários:

  1. Continuo querendo muito ir à India. E dizer que quase fui de navio... Abs

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  2. E eu ia com você, hehehe. Recomendo demais a Índia. Vai dar canseira, raiva, etc, mas depois você vai achar graça em tudo.

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