sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Rússia - parte 4

Transiberiana - Irkutsk a Yekaterinburg

A transiberiana pode ser feita em uma única viagem ou por partes. Cada um pode escolher onde e quantas vezes deseja parar. Nós decidimos parar apenas duas vezes na Sibéria. Então após 2 dias de descanso em Irkutsk pegamos mais um trecho de 40 horas de viagem rumo a Yekaterinburg.
 
                                          Estação de Irkutsk
                                         Estação de Irkutsk

Chegamos cedo à estação no dia da partida. Ficamos fazendo hora, jogando baralho e comendo pastéis. Aliás, pausa para registrar que o tempero russo é bastante parecido com o brasileiro. Existem restaurantes tipo comida a quilo, mas não são self-service e o preço é diferente para cada item. Você escolhe, eles servem e pesam item por item. É lógico que demora pacas, mas poder escolher a comida apontando foi melhor que arriscar ler o cardápio.

Nosso trem chegou meia hora antes da partida. Mas quando chegamos ao vagão, só tínhamos um dos bilhetes. O outro, perdemos. Enquanto eu abria as bolsas no meio da plataforma de embarque, espalhava tudo para ver se o bilhete estaria por ali, Renilza voltou correndo ao guichê. Mostrou os passaportes e tentava fazer a moça entender que queria que verificasse que ela havia comprado dois bilhetes, perdido um e queria que esse fosse reimpresso. Mas a russa só dizia "um bilhete, uma pessoa".

Era tarde da noite e a estação estava bem vazia. Por sorte, uma moça, percebendo o desespero da situação, se aproximou e ofereceu ajuda em inglês. Em alguns minutos o bilhete estava reimpresso, a um custo extra de o equivalente a 10 reais. Entramos no trem bufando. Custamos a nos acomodar, mas o pior já havia passado.

No dia seguinte as coisas se normalizaram. A gente acordou, comeu e fomos jogar baralho. Depois de umas horas nisso, a turma que estava próxima à gente puxou papo. Eram Nadezhda (Nádia), uma jovem russa de 20 e poucos anos, um homem de 35 com toda pinta de chinês, mas era russo, e Sergei, outro russo sem cara de russo de 40 e poucos. Ali começamos a descobrir que tem mais de um tipo de "cara de russo".


Através da Nádia, que falava um pouco de inglês a gente se entendeu. Ela era professora de história e seguia para Yekaterinburg para encontra o irmão que não via há um ano. Sergei, sujeito muito engraçado, foi quem uniu o grupo, pedindo Nádia para traduzir suas curiosidades a nosso respeito. Era soldador e perguntou se no Brasil tinha trabalho para ele. Eu disse que seria bem provável, mas ele teria que aprender português. Então virou uma farra. A gente ensinava para ele palavras em português e aprendia algumas em russo, através da Nádia, que tentava por ordem na turma.

Quando todos cansamos, Renilza e eu voltamos para o baralho. Então o Sergei virou meu torcedor. Ficava do meu lado me dando força e toda hora dizia: “Renilza problem? Ricardo no problem!”. Às vezes quando via que eu ia mal, dizia, “Ricardo, no problem, Renilza problem!”. Aí eu dizia que eu estava mal, mas ele falava igual a um treinador de boxe no intervalo da luta, que era para eu ficar calmo, que em breve estaria “Renilza problem e Ricardo no problem”. Ele comemorava comigo e cumprimentava Renilza. Vez em quando ele se empolgava e entregava meu jogo, mas ele realmente me deu sorte. Ali eu tive uma boa fase.

Éramos um grupo muito legal. Os três novos amigos eram das seguintes religiões: Nádia era batista, o russo com cara de chinês, budista e o Sergei, apesar de gostar de fumar, beber e do nosso baralho era muçulmano. Renilza e eu, brasileiros, sincretizados na fé, carregados de axé. Numa das longas e difíceis conversas, pois todos queriam falar ao mesmo tempo e a Nádia era a única intérprete, pedimos ela para nos ajudar a comprar o próximo bilhete.

Nesta viagem algo inusitado se passou. Numa das paradas uma funcionária do trem foi retirada pelos colegas completamente embriagada. Ela tentava voltar ao trem e era contida por um homem que parecia ser o chefe, enquanto uma colega levava suas bolsas. A Nádia ficou envergonhada e até virou a cara. É que minutos antes de parar estávamos falando justamente disso, de como as pessoas bebiam na Rússia.

               Uma das paradas, onde todos descem compram comida e principalmente mais bebida

Chegamos em Yekaterinburg. Sergei iria até Moscou, mas acordou com a gente às 2h da madruga, ajudou a Nádia com sua bagagem até a plataforma. Nos despedimos. Yuri, o irmão da Nádia e sua esposa a esperavam. Fomo apresentados e seguimos para o guichê. A Nádia fez a compra e disse que seu irmão nos levaria até o albergue. Recusamos categoricamente, pois não queríamos incomodar mais. Já eram quase 3 da manhã, eles não se viam a um tempão. Não adiantou.

Com nossas bagagens nos esprememos no carro, que já tinha um carrinho de bebê no porta-malas. O Yuri ainda deu uma longa volta para nos mostrar os pontos mais bonitos da cidade. Chegamos ao albergue. Como ele achou quer teríamos problemas com o interfone, desceu do carro e fez todo o trabalho de chamar a recepção e informar que estávamos lá.

4 comentários:

  1. Bacana demais Ricardo, a Russia deve ser um pais excitante.
    Continue postando que estou acompanhando vocês dois!!!
    Vamo que vamo!!!

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    1. Grande Bruno! A primeira vez que ouvi falar de Transiberiana foi conversando com você no ICEx, lembra? Valeu a força.
      Abraço!

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