quarta-feira, 5 de setembro de 2012

China - parte 17

A fronteira

Era 13 de junho e nos despedimos da China. Fomos com nossos bagulhos à rodoviária e seguimos o fluxo. Este fluxo era composto por 3 tipos de pessoas:

- Sacoleiras russas. Na verdade até tinha uns homens no meio, mais o grosso era formado por mulheres. Elas vem até a fronteira e enchem sacolas enormes de um monte de bagulhos que possam vir a interessar às pessoas de suas cidades. Inclusive vários suvenires tipicamente russos que são fabricados na China e serão vendidos mais acolá, Rússia adentro.

- Sacoleiros chineses: pessoas nascida na China que enchem suas bolsas de bagulhos para vender no país vizinho. A fiscalização no lado russo pega mais pesados com eles. A lógica é a seguinte: os produtos chineses podem até tirar empregos de trabalhadores russos, mas pelo menos os vendedores, aqui na Rússia serão russos!

- Ricardo e Renilza: dois brasileiros, com cara de brasileiros, descabelados e mal vestidos, carregando mochilas pretendendo apenas passar pela fronteira em um trecho onde turistas são raríssimos.

Pois é. Logo de cara uma russa percebeu que estávamos perdidos. Sem nos perguntar se precisávamos de ajuda (até porque não sabia uma palavra em inglês) foi até um balcão e pediu para a gente formulários de imigração em inglês. Depois nos guiou até um guichê para pagarmos a taxa de saída. Para sair da China paga-se uma taxa de 20 yuan. Como não tínhamos mais moeda chinesa, mostramos nosso dinheiro russo para essa moça. Ela pegou a quantia equivalente em rublos e pagou pra gente a taxa com os yuans dela. Depois nos guiou como uma boiada. Aí tivemos a primeira demonstração da solidariedade russa.

Ao passarmos pela imigração russa, Renilza, que foi primeiro, agarrou com a moça da cabine. Brasileiros não precisam de vistos para entrar na Rússia há alguns anos. Mas como devíamos ser os primeiros que a agente processava, ela teve dúvidas. Consultou no seu caderno, pegou o telefone e falou com alguém por vários minutos. Veio outro agente até a cabine e ligou para outra pessoa (enquanto isso eu tentava falar de futebol com russos e chineses na fila), e, por fim, liberaram a entrada de Pretinha.

Eu gozava da mesma situação e passei fácil. Mas na etapa seguinte fomos parados por um agente russo, com cara de chinês, falando inglês, e nos perguntou se transportávamos drogas, dinheiro não declarados, contrabando em geral, nossas profissões, o que queríamos fazer na Rússia... o cara foi educado, que fique claro, mas o interrogatório foi tenso. Pesou nossas mochilas e como não viu nada de errado nos deixou entrar. Pronto. Oficialmente estávamos na Rússia.

Foi só passarmos a fronteira e já vimos a diferença. A China é um lugar limpo. As grandes cidades tem o ar poluído, mas não é comum ver lixo pelas ruas. Ao passarmos a fronteira começamos a ver uma quantidade enorme de lixo espalhada. Mas, felizmente isto parece ser um problema isolado, pois foi só sairmos de Zabaykalsk e não vimos mais sujeira. Também vimos logo depois da fronteira alguns carros russos e uns caras fazendo algum tipo de obra, usando aquelas camisetas listradas clássicas.

O ônibus nos levou direto à estação. Lá tínhamos que trocar nossos bilhetes provisórios pelos tickets de embarque. Uma dupla de guardinhas se ofereceu para ajudar. Um era russo e outro armênio. Este falava um pouco de inglês e pediu para tirarmos uma foto com a gente. Não chegou a pedir autógrafos, mas estava na cara que fizemos sucesso. Esta passagem de fronteira foi um dos casos em que ajudou um de nós estar usando uma camisa do Brasil. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário