domingo, 23 de setembro de 2012

Rússia - parte 8

Adeus Lenin

A Rússia nos deu algumas das melhores surpresas até agora. Em vários momentos a tensão se transformou em alegria. A Transiberiana vale a fama, e é muito mais tranquila do que pretendem as lendas ao redor, sobre máfia russa, risco de roubos, etc. O mais difícil mesmo é a língua. Mas estamos aqui para provar: sem falar russo, com calma e cara de pau, conseguimos comprar todos os bilhetes e sair de enrascadas sem intermédio de agências.

A Rússia é tanto asiática como europeia, pela posição geográfica. Mas o comportamento e a cultura deste povo é muito diferente do que o senso comum entende como europeu. E muito menos podem ser chamados de asiáticos. Marcados pelos invernos, guerras, religião, comunismo, os russos são um povo único, assim como os indianos e chineses. Talvez por isso carreguem um forte estigma, que os torna temidos, respeitados, odiados e amados.

Passamos pelo país famoso pelos seus invernos no auge do verão. Longas horas de dias claros e ensolarados onde os termômetros ultrapassaram 30 graus várias vezes. Nessa época as pessoas sentem urgência de estarem ao sol. Vimos várias vezes meninas e rapazes em trajes de banho às margens de um rio ou lago e com algumas garrafas de bebida à mão. Ou esparramados em gramados de praças.

Chegamos a ver até uma jovem na área rural, com enxada na mão, trabalhando na lavoura de biquíni. Detalhe que os rios e lagos congelam no inverno e são gélidos em qualquer época do ano. Mas isso não impede os russos de se banharem. Existe até um ritual de entrar na água gelada para aumentar a resistência no inverno.

Ironia do destino, o momento mais emocionante de toda a viagem até o momento se deu logo à saída do país. Estávamos em Moscou, dia perfeito. Horário de nosso voo rumo a Londres 17:15h.

Episódio I: O dia da partida

Deixamos o dia inteiro livre, apenas dedicado à partida. Jogamos baralho, comemos, bebemos cerveja, nos despedimos das efêmeras amizades de albergues, fizemos as malas e, quando vimos estávamos completamente atrasados. Chegamos ao guichê apenas meia hora antes do portão de embarque se fechar. O check-in estava encerrado. Como nossas mochilas são do tamanho aceitável como bagagem de mão nos mandaram correr para embarcar, mas ainda tínhamos que passar pela emigração.

Episódio II: a corrida

Saímos correndo. Para cortar caminho, tentamos passar por baixo daquelas faixas presas em suporte que forma as divisórias da fila. Como eu estava com uma mochila nas costas e outra ao peito, não consegui me encolher o suficiente e saí derrubando tudo. Morto de vergonha, remorto de medo de chamar a atenção de policiais e com mais medo ainda de perder o voo, retirei as mochilas que se embolaram com as faixas e fui atrás de Renilza.

Episódio III - A desistência

Na entrada da área de segurança, onde passamos pelo raio-x, percebo que meu bilhete estava com as duas partes destacadas. A loura mal educada nos manda retornar. Então, com o horário praticamente no limite, resolvemos desistir. Chegamos ao guichê para tentar remarcar o nosso voo. A moça imprime outro bilhete e manda a gente correr, pois não havia vaga em nenhum voo para Londres naquele dia.

Episódio IV – A volta dos que não foram

Corremos de novo. Faltam menos de 5 minutos para o portão de embarque fechar. A gente garra no raio-x, pois como não embarcamos a bolsa com os itens que não podem passar na bagagem de mão, tivemos que abrir a mochila e ir largando para trás um canivete suíço, tesoura, alicate, cremes e mais cremes da Renilza, etc. Um prejuízo.

Episódio V – A emigração. Aí já era seja-o-que-Deus-quiser. Não adianta pedir pressa para esse povo. A mulher olha a foto do passaporte, olha pra nossas caras (eu já tinha 8 meses sem cortar o cabelo de diferença entre a foto e minha cara no momento, fora o suor). Faz isto mais uma vez, procura o carimbo de entrada, e eu penso: falta só a mulher carimbar a saída e nós não conseguirmos entrar no avião. Enfim, eles nos liberam.

Episódio VI – Pernas pra que te quero

Saímos correndo, por um aeroporto em que nunca estivemos, com as mochilas balançando as alças pelas lojas do free shop, ao mesmo tempo tentando ler no bilhete qual era o nosso portão. Enfim, provavelmente atrasados, somos aceitos no avião. Não sei se teve a ver com isto a gente ter sido aceito, mas o voo estava atrasado e partiu 30 minutos após o horário. Pensamos: tudo bem, entre mortos e feridos salvaram-se todos (exceto os cremes, o canivete...). Ou não...

Episódio VII – O desespero ataca novamente

Avião no ar, filme na tela, tudo em paz e damos falta de uma das pochetes: a que levava nossos cartões. Deixamos no raio-x , com 4 cartões de crédito, 2 cartões VTM pré-pagos e 3 cartões de débito. Só nos sobrou um cartão de débito do Bradesco (justamente o que cobra as maiores taxas por saque) e 600 dólares em cash.

Enquanto há vida há esperança. Recuperamos a calma e decidimos: merda mesmo é quando alguém apronta e vai preso ou quando alguém se machuca. Para todo o resto sempre há solução. Por sorte havia um comissário no avião que era brasileiro. Pedimos a ele que nos ajudasse, procurando saber se a British Airways poderia fazer algo contatando o aeroporto de Moscou.

O cara bem que tentou, mas as esferas superiores nos disseram que não podiam fazer nada. Achamos que podiam sim. Por exemplo, com um telefonema ou e-mail para Moscou talvez fosse possível localizar a nossa bolsa. Como os cartões levam nossos nomes e facilmente se podia provar, através de nossos passaportes que estavam registrados tanto na companhia aérea quanto na emigração que estivemos ali a poucas horas. Não seria difícil que fossem embarcados para Londres no próximo voo. Fazer o que, né. Bola pra frente.

4 comentários:

  1. Nesta viagem já perdemos
    2 pares de tênis
    1 bilhete de trem,
    1 fio dental
    1 potinho com sabão em pó
    1 celular
    5 óculos escuros (2 foram recuperados)
    1 bolsinha com os cartões de crédito
    3 pés de meias (1 de cada par)

    Isso foi o que demos falta. Mas pelo histórico do casal é até pouco. Veja que já fizemos e desfizemos as malas umas 70 vezes...

    ResponderExcluir
  2. E também tem os chapeuzinhos 1001 utilidades que vocês deixaram em um barco...

    ResponderExcluir
  3. Bem lembrado Keylla. A gente se esqueceu até do que a gente já esqueceu, hehehe!

    ResponderExcluir