quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Polônia - parte 5

Esclarecimento: em função do nosso interesse em visitar Israel e de alguns relatos sobre a imigração israelense vasculharem notebooks, facebook, etc., resolvemos adiar esta postagem para após nossa entrada em Israel, evitando assim alguns aborrecimentos.

Auschwitz

Ao longo desta viagem, Renilza e eu dezenas de vezes nos pegamos falando sobre o destino da humanidade. Vários foram os momentos em que concluímos que as chances de um futuro melhor, baseado na crescente melhora dos entendimentos entre nações e pessoas. Porém, em outros tantos momentos nos vemos em diálogos onde não conseguimos ver um futuro promissor para os seres humanos nas próximas décadas. A visita a Auschwitz nos joga mais uma vez nesta situação. Hoje o antigo campo de extermínio Auschwitz-Birkenau é um museu estatal. Nossa primeira impressão é que era possível fazer algo mais emocionante, aproveitando o histórico do lugar, com utilização de recursos como bonecos de cera. Mas em seguida, dado à incrível carga histórica do lugar, aceitamos que se tentassem tornar o museu mais realista com o uso desse tipo de recursos, seria necessário montar um ambulatório só para atender turistas vitimas de desmaios causados por fortes emoções.


Pra quem colou na escola, em junho de 1941, Segunda Guerra Mundial, o alto comando do governo alemão liderado por Adolf Hitler decidiu que todos os judeus encontrados na Alemanha e em terras dominadas deveriam ser concentrados para posterior extermínio de forma sistemática. Isto teria passado à história como “Solução Final da Questão Judaica”.

Um quartel militar da Polônia na localidade de Oświęcim, renomeado pelos alemães como Auschwitz, foi transformado em pouco tempo em campo para prisioneiros políticos e de guerra e em seguida para prisioneiros de vários grupos étnicos e religiosos, como ciganos, testemunhas de Jeová, comunistas e principalmente judeus. Todo mundo era pessimamente alimentado e abrigado e ao mesmo tempo forçado a trabalhos escravos seja na expansão do campo, seja em atividades agrícolas e também em indústrias que se instalaram ali, se aproveitando da mão de obra escrava. Mencionamos aqui duas empresas que usaram largamente o expediente e que hoje são mundialmente famosas: Siemens e Bayer.

Em 1941, o campo se tornou o maior e mais eficiente campo de extermínio em poder da Alemanha. Ali, usando antigos galpões e casas com suas frestas lacradas (câmeras de gás), judeus iam direto do trem, caminhando com calma (a maioria não sabia ou não acreditava que iam ser mortos) para dentro das construções. Ouviam que era para deixar seus pertences de forma organizada do lado de fora e que iam apenas tomar uma chuveirada para despiolhamento. Se despiam, entravam no galpão e a porta era fechada. Segundos depois, por algumas tampas no teto, eram jogadas latas de Zyclon B abertas. Este inseticida passava rapidamente, com o alívio da pressão, da forma sólida para gasosa. Algumas latinhas eram suficientes para matar centenas de pessoas. Minutos depois, todos estavam mortos. Prisioneiros judeus entravam, raspavam as cabeças dos mortos, arrancavam os dentes de ouro, anéis e o que de valor encontravam nos cadáveres e tudo era confiscado pelo governo alemão. Os mesmos prisioneiros levavam os corpos para os fornos para serem cremados (no início se usava valas comuns, mas era mais trabalhoso e o solo e rios da região foram contaminados, chamando a atenção da vizinhança). Tudo tinha que funcionar como numa indústria, pois os trens não paravam de chegar. Apenas os prisioneiros dos primeiros transportes (centenas de milhares) foram registrados. Na Solução Final, isso já não era mais necessário. Sendo assim, nunca saberemos quantas pessoas foram realmente assassinadas ali. Os números mais aceitos, baseados em testemunhos, cálculos do número de trens enviados de outros lugares e até pelo número de latinhas de Zyklon B encontradas, apontam entre 2,5 a 4 milhões de pessoas assassinadas só neste campo.

Pois bem. Pegamos um tour guiado em espanhol. Fomos levados a vários locais importantes do complexo de centenas de hectares. No Bloco 11 ocorriam torturas, julgamentos sumários, e outras mazelas. Numa delas, prisioneiros eram forçados a entrar em uma cela sem janelas por uma portinhola. Tinham cerca de 1m quadrado e eram espremidos lá quantos coubessem. Eram trancados e lá mantidos até morrerem de fome ou de outra coisa. Em outro bloco, há o registro fotográfico de milhares de vitimas dos primeiros tempos. E assim vai. Passamos pelo muro onde ocorriam os fuzilamentos, pela forca, pelas cercas... e a história vai sendo contada. Em outros galpões são mostrados milhares de roupas, sapatos, próteses de pernas, enfim, pertences dos judeus que foram deixados para trás quando o campo foi abandonado. Enfim, a sala que para nós é a mais cruel: nela é exposto em enormes vitrinas cerca de 7 toneladas de cabelos dos judeus que seriam vendidos a fábricas de tapetes e de outros utensílios. Inclusive, nesta sala está exposto um tapete com sua fabricação interrompida. Há vários montes de cabelo que ainda estão em tranças com as fitinhas, facilmente identificáveis como proveniente de crianças. Macabro, macabro, macabro. A visita segue. Vamos a galpões onde ocorriam as cremações, a uma locomotiva que trazia prisioneiros e a um monumento em homenagem aos mortos feito décadas depois da libertação, de estilo comum às centenas espalhados pelos países que um dia foram socialistas.

Algo inusitado: por todo o museu se pode ver dezenas de militares israelenses em visita e algumas vezes cantando canções judaicas e algo que parece ser um tipo de cerimônia. Grupos organizados de jovens de Israel também são vistos aos montes.

É um lugar marcante. Curiosamente, parece ser mais fácil ver na Polônia manifestações contra russos do que contra alemães. Acredito ser por dois motivos: o primeiro, a Rússia foi inimiga por séculos da Polônia. O Segundo, o longo período de domínio soviético. A Alemanha fez um estrago enorme na Segunda Guerra, mas foram “só” 6 anos. O nosso guia mesmo, demostrava ter mais raiva dos russos, que segundo ele, poderiam ter chegado a Aushwitz e o libertado bem antes do dia em que de fato isto aconteceu do que da Alemanha, que assassinara 6 milhões e Poloneses.

Na verdade, Auchwitz não foi libertado pelos russos. Foi abandonado pelos alemães e dias depois os russos chegaram e lá encontraram algumas milhares de vitimas ainda vivas, incluindo mais de mil crianças.

É um passeio triste, mas muito enriquecedor. Ali vimos que os homens ainda são muito toscos e que, esperamos estar enganados, mas ainda presenciaremos muitos absurdos nas próximas décadas.

Quisera eu errar nessa previsão, mas há alguns anos a maior potência militar atual invadiu o Iraque e causou a morte de centenas de milhares de pessoas apenas para continuar tendo acesso a petróleo barato. Outro exemplo ainda mais cruel: Israel, nação judia, formada por descendentes de várias pessoas que morreram no mesmo Auschwitz, massacra com requintes de crueldade a população palestina na faixa de gaza, usa fósforo branco (arma química proibida) em suas ofensivas, descumpre uma após outra resolução da ONU, promove bombardeios vingativos (por exemplo: um jovem palestino mata um soldado Israelense num atentado a bomba. Como o palestino morre no ato e não tem como ser punido, a casa dos pais do palestino é bombardeada). Recentemente uma foto correu a internet: soldados israelenses amarraram um menino de 13 anos à frente do jipe militar e assim entraram com ele em uma área ocupada por palestinos para evitar que o veículo fosse apedrejado. Ou seja, se os próprios judeus não aprenderam a serem mais humanos depois do holocausto, quem mais poderia ter aprendido alguma coisa?

Mas vamo que vamo...


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