terça-feira, 28 de agosto de 2012

China - parte 13

Compras

Qualquer pessoa que divulgar em seu meio que vai visitar a China sofrerá um enorme assédio para que compre isto ou aquilo, pois a fama de lugar mais barato do mundo já correu o universo. Mas outra fama tão grande quanto esta é referente às falsificações. Roupas, relógios, tênis, eletrônicos, armamentos, etc. Ali tudo se cria e se copia. Comprar na China pode não ser um negócio tão bom. Mais ainda: fazer um bom negócio quase nunca é fácil.

Comerciante chinês é antes de tudo um negociador. Nenhuma quinquilharia é vendida sem uma negociação árdua. Pode-se tornar cansativo passar um dia inteiro dedicado a compras. Eles geralmente negociam bem, pedem alto, se fazem de ofendidos, ofendem, xingam. Não tem moleza. Muitas vezes começam pedindo um preço duas vezes mais alto que o das 10 bancas ao lado. Aí você fala: “mas seu preço está o dobro!” e eles simplesmente te pedem para falar o seu preço.

Pretinha gostou do negócio e em alguns momentos eu pensava que para ela aquilo era um jogo. Mesmo quando fechava um bom negócio se sentia lesada, pois se o outro aceitou sua proposta, logo ela pagou alto, pensava ela. Então pegamos o hábito de toda vez que comprávamos algo perguntávamos às meninas da recepção do hotel quanto aquilo valia realmente. Abaixo seguem três lutas.

1 – Cartão de memória. Perguntamos o preço em várias bancas do mesmo cartão de 8 Gb. Em todas iniciavam com R$26,00 (valores convertidos do Yuan para Real). Em uma banca a moça começou com o dobro. Eu disse que em todas as outras o preço era 26. Ela respondia perguntando: “qual o seu preço?”. Eu tentava a seguinte estratégia: pedia ao vendedor para já dizer o seu melhor preço, pois como todas as bancas vendiam o mesmo produto eu teria escolha. Não dava certo. Parece que há um acordo entre eles de não cederem a esse tipo de pressão. Resolvemos negociar:

- Quanto é esse Cartão? (Renilza)

- 26 (vendedora)

- Tá muito caro!

- Quanto você paga?

- 2.

A moça fica brava, fecha a cara e diz:

- Eu não estou brincando! Estou aqui para trabalhar!

Vira de lado, volta e continua:

- Esse cartão não é cópia. É original!

Renilza pergunta:

- Qual é o preço então?

- 23.

- Muito caro. Pago 3.

A vendedora apela, joga a calculadora de lado, como se estivesse encerrando a conversa. Na verdade as duas partes não falam uma língua em comum. Os preços são apontados na calculadora, que passa de uma para a outra. Raramente a vendedora usa um inglês muito mais limitado que o nosso. Mas as partes se entendem. A gente ameaça ir embora e a vendedora chama de volta. Reclama que estamos querendo pagar um preço impossível para ela. Renilza diz:

- Your final price!

- 20

- Muito caro. Pago 4.

E vão nesse ritimo. Finalmente a moça aceita vender pelo equivalente a R$8,00. A gente diz que iremos testar. Eu abro a câmera, tiro o cartão dela e coloco o da vendedora. O número de fotos que aparece disponível para ser armazenado equivale à memória de 8Gb. Fechamos negócio. A moça não dá um sorriso, como se a tivéssemos lesado. Renilza também fica com a sensação de que pagou alto. Ao chegarmos no hotel perguntamos às meninas qual o valor de um cartão de memória daqueles, caso elas fossem comprar. Dizem que seria uns R$10,00.

Nada mal


2 – Tênis Asics

Queríamos comprar tênis de corrida originais, pois como caminhamos muito e ainda tínhamos esperanças de fazermos uns treinos de corrida, não compensa usar tênis de má qualidade. Mas encontrar lojas que vendem artigos de marcas conhecidas não é tão fácil, exceto Nike. Mas buscávamos Asics e Mizuno. Como não achamos nada do jeito que queríamos, fomos atrás dos falsificados mesmo. Em um mercado, entramos numa loja e eu apontei o modelo que queria. Se tratava de um “Asics” de um modelo que eu conheço. Na verdade, uma cópia razoavelmente fiel no visual e grosseira nas costuras e nos amortecedores. No Brasil este tênis custaria entre 300 e 400 reais. Experimentei uns três modelos. Finalmente decidi pelo “Asics” descrito. Perguntei o preço e ela respondeu (valores convertidos para o Real):

- R$800,00

Eu apelei, me levantei e saí andando. Interpretei que, uma vendedora chinesa, na China, pedir por um tênis falsificado o dobro do valor de um original no Brasil é o mesmo que dizer na minha cara que eu sou um otário. Os maus vendedores na China acham isso normal, mas eu penso que eles podem poupar o cliente disso. Bom, saí andando. A menina me pede para eu dizer o meu preço e eu encerro, dizendo que desse jeito eu nem começo a conversa. Ela insiste, tenta me segurar pelo braço (nisso Renilza já está lá fora). Eu continuo andando, com ela arrastada (o piso é liso e ela muito leve). Ela insiste, insiste e por fim apela:

- Agora você me deixou nervosa!

E me dá um beliscão de verdade, que tirou sangue. Eu viro para ela e pergunto se está louca. Ela pragueja enquanto entramos em outra loja. Nesta loja eu já falo com o vendedor que não tente nos extorquir, pois na loja anterior a discussão não acabou bem e mostrei o ferimento. Ele ficou impressionado e já foi dizendo seu preço inicial por um “All Star”. Depois de experimentarmos os tênis, acabamos comprando nesta loja um par desse tênis para cada a R$22,00 cada. No Hotel nos disseram que valia uns 30.

3 – Robe de seda

Chegamos a uma loja e apontamos para o robe que nos interessava. A menina disse que o preço original era 800 Yuan, par que para a gente ela podia vender por 280. Renilza vira para mim e diz, na frente da chinesa:

- Vou falar o meu preço. Não ria!

Ela vira-se para a vendedora e diz:

- Ok. Pago 20.

A menina fica nervosa. Diz que lá no Balasil a gente até podia encontrar algo assim, mas na China não, porque os salários na China não eram tão baixos como no Balasil.

Renilza responde:

- Olha, eu no Brasil pagaria um preço muito melhor do que o que você pede. Se for para pagar caro eu prefiro pagar lá. Eu não atravessei o mundo indo até a China para pagar mais caro. Eu não sou europeia. Sou brasileira, pobre, trabalhadora...

Depois de falar um monte de abobrinha a vendedora diz:

- 150.

Renilza:

- 25.

- 145.

- 30.

Outra rodada de discussões exaltadas, eu ameaçando ir embora, fingindo estar nervoso. Finalmente, após Renilza começar a sair da loja a moça aceita nossa proposta, que naquele momento estava em 50 Yuan, ou R$17,00. Renilza, como sempre, acha que fez mal negócio. No hotel as meninas dizem que valia R$27,00. E nos elogia como bons negociadores. Aqui eu admito que o mérito é todo de Pretinha.

Coloquei estes casos aqui para mostrar uma coisa. Comprar na China pode até ser barato, mas é muito cansativo e em um dia de compras não dá para levar mais do que 3 ou 4 boas negociações. E se não for desse jeito o negócio acaba não compensando.

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