terça-feira, 7 de agosto de 2012

Nepal - parte7

Os refugiados

Os dias anteriores foram violentos em várias partes do país, de modo que nossa partida para a capital se deu em comboio. Vários ônibus partiram no mesmo horário e uma viatura foi à frente, de batedor. Os piqueteiros não tem interesse em avacalhar os planos de turistas, mas a ideia deles é que os funcionários de empresas de ônibus não turísticos devam parar de trabalhar, e que os habitantes devem participar das manifestações e não aproveitar para viajar.

Então é comum fazerem parar os ônibus de turismo e verificar se todos são realmente turistas, pois algum nepalês pode topar pagar mais caro para viajar. Passamos por vários pontos de checagem até que a viagem realmente acelerasse. Na primeira parada, dois colegas do nosso ônibus se aproximaram. Um de traços orientais, parecido com os chineses e o outro com cara de nativo mesmo. Nos perguntaram se a gente aceitaria o segundo como nosso guia, só que de mentirinha. Então nos explicaram. Eles eram tibetano-nepaleses. Nasceram no Nepal em um campo de refugiados tibetanos. Caso fossem questionados pelos grevistas um se passaria por chinês e o outro seria nosso guia.

Ficamos conversando sobre a situação do Tibete ocupado pela China e aprendemos um pouco sobre a vida de refugiados. Um deles era guia de verdade, mas não tinha nenhum registro dessa profissão. Perguntamos a razão e era simples: como era refugiado, não podia se registrar no Nepal como nepalês. Porém, um Assentamento tampouco tem autoridade ou recurso para emitir documentos de identidade. Logo eles não tinham sequer uma certidão de nascimento.

Bom, não ter documento é uma coisa ainda recorrente no Brasil. Mas é completamente distinto da situação de um refugiado. O cara fala tibetano, nepalês, inglês e francês, tudo aprendido no assentamento e não consegue ter um RG! Possivelmente não tem acesso a serviços de saúde, não tem como ter um trabalho registrado e deve ter dificuldades até para comprar um celular. E o pior: eu não vejo o menor movimento de grandes nações no sentido de exigir da China que liberte o Tibete. Ninguém quer ter a China como inimiga. O máximo que se consegue e alguma mídia através das aparições do Dalai Lama, algumas manifestações de organizações civis e uns mochileiros com camisetas “Free for Tibet”.

Até mais ver, Nepal

Não tínhamos tempo nem pique para fazer trekkings pesados e por isso fomos nos despedindo do Nepal. Levamos uma impressão forte, tensa e ao mesmo tempo carinhosa daquele povo. São pessoas pobres, religiosas e muito amistosas. Por outro lado produzem bravíssimos guerreiros, apesar de pequenos fisicamente, são fortes como búfalos e são muito trabalhadores.

As paisagens dos morros transformados a golpes de picaretas em campos planos, produzindo arroz é uma prova. Homens e mulheres subindo e descendo as trilhas com balaios presos à cabeça carregados é outra. Os recursos naturais provavelmente ainda estão por ser descobertos. Eles pensam que são o segundo em recursos hídricos, mas eu até agora não consegui confirmar isto. Energia elétrica eles não tem nem para manter a estrutura atual funcionando. E olha que boa parte da população vive em aldeias.

A conclusão final é de que se trata de um povo admirável, mas que há séculos é muito mal administrado. Serve de lição para a gente. Por pior que sejam as opções que temos em nossas eleições, só o fato de elas acontecerem regularmente já nos coloca em outra situação. E por pior que pareçam os candidatos, temos que sempre estar atento para fazermos as melhores escolhas.

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