quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Nepal - parte 5

The Last Resort

O nome tenta indicar que este seria o último resort do Nepal naquela direção. Deve ser mesmo. Em linha reta deve ficar a menos de 15 quilômetros com a divisa com o Tibete. A proposta de um dia longe do agito de Kathmandu era boa, até porque lá sempre faltava energia elétrica. Pagamos por dois dias lá e fomos embora em um micro-ônibus com mais um monte de turistas. No caminho fomos parados umas 10 vezes. Coisa comum no Nepal: estradas bloqueadas pelo exército para averiguação. Param o veículo, um soldado entra, dá uma olhada pra cara da turma e manda seguir. Raramente pede passaportes. Os ônibus para os moradores locais vão lotados, com gente dependurada, malas presas no teto e ás vezes até um bode pode ir amarrado por cima.


Chegamos. No primeiro momento, agradeci a Deus por Renilza ter decidido saltar de Bungee Jump na Nova Zelândia e eu ter sido obrigado (por dever de macho) a segui-la. Para se acessar o resort há que se atravessar um vale altíssimo por uma pinguela. Ok, ela é toda de aço, com cabos, telas e chapas. Porém, dela se salta, se não do mais alto, de um dos mais emocionantes Bungee Jump do Mundo. Salta-se também de Canyon Swing. É como um Bungee Jump, só que o elástico fica preso em um cabo de aço a uns 50 metros da ponte, no mesmo nível dela. Então, quando o sujeito pula, antes de o elástico começar a sofrer a tensão o corpo vai descrevendo um arco. São mais de 100 metros de queda livre e chega-se à velocidade de 160km/h. Ao todo são 160m de altura. Deus me livre! Perto deste o de Taupo, na NZ parece um balanço de parquinho. Esse realmente dá medo. Ainda bem que minha missão já estava cumprida.  


Fomos apresentados ao resort e á nossa tenda. Olha, é melhor que muito quarto de hotel em que ficamos nesta viagem. Além de tudo, era no meio de uma floresta, em um vale gigantesco. O tempo todo se escuta um barulho forte, mas relaxante, das corredeira de um rio nas proximidades. A comida no Resort era ótima também, e livre. Quase que ficamos só a comer e dormir. Mas deu vergonha e então fomos fazer um trekking. 


Trekking

Éramos nós, uma alemã e o guia. Começamos a subir. E subimos, subimos, subimos. Em 10 minutos já botávamos os bofes para fora e o guia, um senhor de uns 50 anos ia tranquilo. A trilha ia fazendo um zigue-zague e a cada momento pensávamos que ia acabar a subida, mas apenas mudávamos a direção. De tempo em tempo parávamos e o guia nos contava algo. Vale lembrar, as montanhas no Himalaia são imensas. Fazem as de Minas parecerem cupinzeiros. E os nepaleses estão adaptados a elas. Ou melhor, adaptam as montanhas a eles. Fazendo cortes tipo escadinhas, transformam montanhas em um conjunto de incontáveis patamares planos, onde criam gado, cabras, galinhas e plantam de tudo, mas principalmente arroz. Esta é a paisagem típica do Nepal.


Em uma das paradas se podia avistar nas montanhas a nossa frente várias aglomerações, como aldeias. O guia nos explicou que em várias delas se falava línguas diferentes entre si, mas o nepalês unificava todo o país. Falou dos desastres causados por desmoronamentos. Algo relativamente previsível em um país tão montanhoso e pobre, afetado por monções.

E continuávamos subindo. Em outra parada, avistamos no horizonte um pico altíssimo, coberto de neve. O nome era praticamente impronunciável. Já estaria no Tibete. Neste momento, enquanto recuperávamos o fôlego, já encharcados de suor, dois homens, pai e filho, se aproximaram de nós pela mesma trilha, subindo o morro carregando lenha. Pararam, conversaram com o guia (eram conhecidos). Carregavam cerca de 30 quilos cada, mas segundo o guia, alguns homens subiam aquele mesmo morro com quase 70. Incrível!


Continuamos e por fim chegamos ao cocuruto da montanha, onde funcionava uma escola primária. Todos ficaram radiantes por nos verem. As crianças, entre 6 e 10 anos nos olhavam sorridentes e à menor atenção, respondiam com as mãozinhas juntas ao peito: “Namastê!”.


Via-se claramente que eram muito pobres. A professora deixou que nos fotografássemos mas deixamos que a aula de Inglês continuasse. A escola era paupérrima. Salas pequenas, o quadro era a própria parede pintada de cinza. As crianças se sentavam no chão e usavam uma mesa de pés curtos. Deve ser normal isso no Nepal. Em outra sala as crianças estavam sozinhas, sem professora. O guia nos explicou que ela havia faltado e que era comum as crianças passarem vários dias sem professores. Neste caso, a professora de outra turma passava alguma atividade e elas iam se virando. Mais namastês e fotos e as crianças voltaram ao livro. Como viram que não íamos embora, começaram a cantar uma canção folclórica em coro enquanto faziam as atividades.

É fácil se emocionar. Enquanto no Brasil crianças nesta idade já ameaçam professores de morte... dá vontade de fazer alguma doação ou algo para ajudar, mas é preciso ter cuidado. Ajudar não é fácil, e doação seguindo apenas impulsos emocionais é praticamente esmola, que quase nunca realmente ajuda. E, num país onde 52% das pessoas são analfabetas, uma criança estar em uma escola em frangalhos e aprendendo inglês já é um privilégio. Demos tchau e fomos.

Finalmente começamos a descer, para voltar. Depois de moer os músculos das coxas na subida, era hora de estragar os joelhos. Quase duas horas morro abaixo. Chega um momento que nenhum santo quer ajudar. Paramos numa casa onde uma mãe nos mostrou e nos ofereceu um bebê recém nascido. Era brincadeira. Num curralinho ao lado, um bezerro búfalo foi se achegando e começou a lamber meu braço com sua língua preta. Devia ser o sal. Descemos mais um tanto e estávamos de volta para um almoço responsa.

No dia seguinte pegamos o busão de volta para Kathmandu. Esquecemos uma sacola com nossos tênis dentro do ônibus. A partir de agora só tínhamos nossas havaianas. A da Renilza ainda era a primeira, mas a minha era uma falsificada comprada na Tailândia que machucava meus pés em vários pontos.

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