quinta-feira, 23 de agosto de 2012

China - parte 7

A grande muralha

Desde o primeiro dia em Beijing dois fantasmas nos perseguiam: a Cidade Proibida e a Grande Muralha. A cada dia que passava e não agendávamos o nosso passeio eu ficava preocupado. A Cidade proibida foi fácil de resolver, pois era do lado de nosso hostel. A muralha levou mais alguns dias, precisávamos de sol e estava chovendo quase todos os dias.

Desde criança esta construção me fascinou. Já adulto eu me questionava sobre o motivo e a eficiência de um muro desses. Sua construção teve início antes mesmo da unificação do país. Após o século II A.C. com o país unificado é que se começou a trabalhar para que os vários pontos já construídos fossem unidos por construções novas. Dependendo da região, característica dos inimigos e disponibilidade de material, vários desenhos, rampas, torres e outras fortalezas foram concebidos, de forma que não se trata de um conjunto uniforme. No século XV a muralha atingiu seu apogeu, com mais de 7.000 quilômetros existindo e funcionando como defesa.

Apesar de em vários momentos os inimigos, principalmente os mongóis, terem conseguido superar esta defesa ela foi fundamental para a manutenção do império, já que invadir a China se tornou uma opção mais complicada do que atacar outros povos mais frágeis na região. Há alguns séculos atrás ela perdeu a sua utilidade, pois a China expandiu suas fronteiras para além das muralhas e agora ela ganha toda a grana gerada pelo turismo sozinha.

Temos um pouco de aversão a lugares muito apinhados de turistas. Não ia ser nada mal se as atrações fossem exclusivas para a gente, pelo menos na hora em que vamos vê-las. Mas como não somos chefes de Estado e não temos grana para solicitar visitas privê, quase sempre temos que nos acotovelar com um tipo de gente muito indesejável: os outros. Mas, às vezes é possível dar um jeito de conseguir acesso a uma atração de forma que esses problemas sejam minimizados, por exemplo, escolhendo horários, fazer passeios por conta própria, sem envolver agências e, quando não tiver jeito, tentar ficar na frente do pelotão para ter a vantagem de algumas fotos sozinhos enquanto os outros vem chegando.

Mas para ver a muralha da China é possível procurar por passeios que levem a locais mais vazios. Os mais baratos levam a pontos mais próximos a Beijing, caindo turistas pelas beiradas. O que pegamos, que era um pouco mais caro, nos levou a um acesso recém reconstruído. Por isso estava praticamente vazio, apenas com o nosso ônibus. No caminho passamos por outro ponto onde pudemos avistar milhares de turistas. Cruz credo! Andamos mais meia hora e tivemos a muralha quase só para a gente.

Chegamos. O guia informou o horário de retorno e nos soltou. Não há como se perder porque a muralha é uma figura linear no meio da floresta. Só dava para ir para um lado. Então, depois de algumas informações turísticas, sobre segurança e sobre a história, era cada um por si. Um grupo disparou, nós fomos seguindo no nosso ritmo e vendo os mais desanimados ficando pelo caminho.

Agora eu podia imaginar a dificuldade que os invasores enfrentavam. Há quilômetros de distância já eram avistados pelos guardas, pois a muralha quase sempre foi construída na parte mais alta dos morros. Depois que eram avistados os chineses imediatamente mandavam sinais de fumaça, fogo ou sonoros e com isto conseguiam informar até a quantidade de invasores e conseguiam o reforço. Os inimigos ainda tinham que se aproximar subindo a montanha em uma vegetação que não era alta o suficiente para os esconder, mas era densa o bastante para dificultar a caminhada.



Bem antes de poderem causar algum mal aos soldados chineses já se tornavam alvos fáceis para arqueiros. Superadas essas dificuldades, se conseguiam chegar à beirada da muralha, eram alvos também de pedradas e óleo quente que podia ser derramado sobre suas cacundas. Se mesmo assim os insistentes invasores conseguissem subir o muro, ainda tinham que lutar com os chineses que de bonzinhos nunca tiveram nada.

Fomos andando sobre a muralha, subindo e descendo, subindo e descendo. Finalmente vimos uma torre que parecia a última acessível naquele trecho. Vários outros turistas do nosso ônibus já estavam lá (já não somos tão garotos e éramos os únicos de chinelos, um deles Ming Xing...). Caminhamos mais um tanto e por fim chegamos. Nossa surpresa foram os aplausos. O grupo que chegou antes da gente, formado por jovens da igreja Metodista dos Estados Unidos havia feito apostas entre eles se nós dois, por estarmos calçando chinelos conseguiríamos chegar até o fim. De fato nossos pés estavam moídos, mas valeu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário