quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Guatemala - parte 1

Um pouco de História 

Na pré-história, a atual Guatemala viu a ascensão das civilizações pré-maia e maia. Ali floresceram boa parte das grandes cidades maias. Elas mantinham conexões entre si e com os astecas, mas eram independentes, sem compor um país ou império. A herança maia faz com que a Guatemala tenha características únicas em sua cultura. Vários povos antigos conseguiram proteger muito de sua cultura e hoje milhões de pessoas tem um idioma maia como primeira língua. 

O nome maia vem de “maiz” (do espanhol, milho). O milho foi talvez a maior contribuição maia para a humanidade, já que é um dos alimentos mais importantes que temos, seja no consumo direto ou como base de ração para gado. 

Quando os espanhóis ali chegaram em 1523, o apogeu dos maias já havia se acabado há séculos. A tecnologia era atrasada e a economia estava estagnada. Apesar de terem desenvolvido uma linguagem escrita que representasse todo o idioma falado, não tinham ainda descoberto a roda. Não conheciam a metalurgia. Seus instrumentos e armas eram de pedra e madeira. Mesmo assim, ao contrário dos astecas, ofereceram uma forte resistência e a última cidade só foi cair em 1544. Isto deu tempo para que muitos maias aprendessem o idioma espanhol e registrassem muito de sua cultura em alfabeto latino, além de muitos grupos terem conseguido se refugiar em locais mais afastados. 

Durante a era colonial a Capitania Geral da Guatemala abrangia toda América Central, desde Chiapas até a Costa Rica. Apenas Belize foi incorporada à coroa britânica, em 1862, com a discordância dos guatemaltecas. 

Depois de três séculos de domínio espanhol, marcado pelo fraco desenvolvimento, o movimento de 15 de setembro de 1821 levou à proclamação da independência da Guatemala, sendo formada uma federação que incluía todos os territórios da antiga Capitania Geral da Guatemala, exceto Chiapas, anexada pelo México e Belize. Em 1823 a federação se desfragmenta, nascendo aí os outros países da América Central e a Guatemala com o território de hoje. 

O país nunca teve longos períodos prósperos. A forte presença do catolicismo, sucessões de ditadores, a escolha por um caminho de desenvolvimento baseado no latifúndio, o desprezo pelas condições de vidas dos indígenas, conflitos com países vizinhos, os frequentes terremotos e a forte presença dos EUA, principalmente manifestada pela empresa United Fruit fizeram com que violência estivesse sempre presente. 

Na primeira metade do século XX, não importando o que se passasse, a United Fruit sempre se dava bem. Esta empresa cresceu como um câncer na América Central. Em pouco tempo dominou enormes extensões de terras a baixíssimos custos. A justificativa era a de que isto era necessário para vencer períodos de secas, perdas por pragas ou furacões. Mas na prática ficava claro o objetivo era eliminar a concorrência e manter as pessoas sem opções de trabalho que não fossem na própria empresa, em condições sub humanas. 

Através do poder econômico e de corrupção de governantes conseguiu por muito tempo que nestes países a legislação trabalhista não se desenvolvesse, que os salários se mantivessem baixíssimos, que ficasse quase isenta de impostos e até mesmo monopólios sobre o transporte ferroviário. Mas a nova constituição de 1945 dava aberturas para que houvessem mudanças em relação à posse das terras. 

Em 1950 Jacobo Arbenz Guzmán vence as eleições gerais de 1950 e em seu governo consegue a aprovação no congresso de uma lei de reforma agrária que estabeleceu a divisão de terras não cultivadas, afetando diretamente a United Fruit Company. O governo dos Estados Unidos cria então uma campanha de mídia contra a Guatemala e produz um ambiente propício para a queda do governo. Em 1954, um exército formado por políticos de direita e mercenários treinados pela CIA invade o país, depõe o governo e dissolve o congresso, acabando assim com a incipiente democracia que era construída no país só para manter os privilégios de uma companhia privada americana. 

Ernesto Guevara, um médico argentino que nesta época vivia na Guatemala era um anônimo apoiador do presidente deposto e com sua queda se mudou para o México, onde viria a conhecer um cubano chamado Fidel Castro. 

Então veio uma sequência de governantes que foram assassinados, derrubados, renunciaram ou pouco fizeram em seus mandatos. Mas não foi só isso. Entre 1970 e 1982 o país amargou uma guerra civil. E você pensa que acabou? Pois em 1976, aconteceu no país um terremoto que foi considerado a maior catástrofe natural já registrada na América Central. 

O país continuou instável até finais dos anos 90. Em 1991, finalmente resolve sua pendência em relação a Belize, o reconhecendo como país. Só em 1995 o governo conseguiu um acordo de paz com a guerrilha. Mas as seguidas gerações que viveram sob a violência quotidiana parecem ter se acostumado com isto. Nos dias de hoje quem caminhar pelo centro da Cidade da Guatemala verá em qualquer lojinha um guardinha portando uma escopeta. As forças policiais também são fortemente armadas. Algo especialmente ruim para um país que está longe de resolver questões sociais básicas, como analfabetismo e mortalidade infantil. 

Uma visita ao país e uma olhadinha no mapa mundi é o suficiente para qualquer um ver que ele tem plenas condições de se tornar um bom lugar para seu povo viver. Ele goza de uma ótima localização, com saídas tanto para o oceano Atlântico quanto para o Pacífico, terras férteis, várias atrações turísticas de alto nível além de muitas outras com potencial para serem desenvolvidas. Mas uma incrível sequência de péssimos governantes que raramente concluíam seus mandatos e intervenções externas condenaram várias gerações a terem que conviver com a miséria, a violência e a falta de perspectivas.

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