quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Cuba - parte 2

Segunda Visita

Em outubro de 2008 visitei sozinho Cuba, em férias de 20 dias. Saí de lá com impressões muito fortes sobre o país e decido a voltar algum dia. A história da Ilha, os sucessos da guerrilha da Sierra Maestra e as conquistas sociais eram o principal cartão de visita. Mas queria também tentar verificar in loco qual era o verdadeiro grau de liberdades individuais, como era o consumo e muito do que se falava sobre a Ilha.

O país, por ser de longe o principal contestador da política dos Estados Unidos em toda a América, sempre sofreu com uma guerra de mídia, que, em geral, tem muito mais vigor ao denunciar os erros do regime do que quando se dispõem a mostrar algo que dá certo por lá. Por outro lado, na universidade, por participar do Movimento Estudantil, tive contato com dezenas de colegas que se declaravam socialistas, comunistas ou “de esquerda”. E dessas fontes eu só colhia informações de que a ilha era um paraíso da paz social. Enfim, eu queria ver com meus próprios olhos o que era verdade e mentira, e tentar verificar a dimensão de cada coisa.

Por ser uma ilha, socialista e sofrer um bloqueio econômico Cuba é naturalmente um país muito particular. Porém 2008 foi um ano especialmente complicado ali. Foi o único ano em que a ilha foi assolada por 3 furacões, pelo menos dois de grande magnitude. Fidel acabara de sair do poder e, com a crise mundial em seu auge, o preço do níquel, um dos principais itens de exportação do país perdera mais de 80% de seu valor. Ou seja, o país ia mal. O Peso Convertível, moeda oficial usada pelos turistas valia cerca de 1,3 dólar, vários pontos turísticos estavam fechados para recuperação pós furacão e viajando pelas estradas se via grandes áreas com milhares de árvores arrancadas com a raiz pelos furações. Em algumas praças públicas presenciei grupos de voluntários sendo organizados para irem a alguma área ajuda em sua recuperação.

Depois de 19 dias viajando, passei por Havana, Varadero, Cienfuegos, Trinidad e Santiago. Saí do país com impressões muito fortes. Observei que a esperteza e a criatividade são latentes nos cubanos. E muitas vezes estes atributos foram usados contra minha pessoa para tentarem alguma vantagem. Porém verifiquei que eram muito vaidosos, calorosos e cultos. Com quase todas as pessoas com quem conversava, percebia claramente que o nível cultural geral era muito alto, com certeza resultado da boa educação ofertada em escala universal. Sabiam muito do Brasil, talvez pela frequência com que novelas brasileiras são exibidas ali. Foi o primeiro país que visitei em que não vi crianças trabalhando.

Apesar de o aspecto geral das construções ser deplorável devido à falta de manutenção, as escolas eram sempre vistosas. As crianças sempre exibiam uniformes limpos e bonitos e, espiando por janelas das escolas, via-se facilmente a presença computadores, TV e DVD. Mas também senti que havia um medo no ar. Quando tocava em certos assuntos algumas pessoas desconversavam e um taxista clandestino chegou a me dizer sobre algum assunto: “se eu for pego falando sobre isto com você posso ser preso”.

A propaganda política da revolução era o tipo de pintura mais frequente nos muros e outdoors, com figuras e dizeres de Che, Fidel, Raúl e Camilo por todo lado, além de frases denunciando o bloqueio ou alguma outra ação dos EUA. Fiquei impressionado como era fácil encontrar um estudante de medicina. No Brasil estes seres provém quase que 100% de classe média alta ou dos ricos. Em Cuba filhos de garçons ou de carpinteiros também se tornavam médicos.

Enfim, aprendi muito sobre o país, sobre história, economia e política, mas tinha mais perguntas a serem respondidas ao sair do que quando cheguei. Por isso, e porque Renilza não conhecia o país, tive muito prazer em visitar a ilha de novo.

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