domingo, 6 de janeiro de 2013

Israel e Palestina - parte 4

Belém

Pegamos um coletivo em Jerusalém que nos deixou, em 20 minutos dentro da cidade palestina de Belém, ou Betlehem. Ao longo de quase todo o caminho se avista o vergonhoso muro que Israel instalou para se separar dos territórios palestinos. Se por um lado os israelenses justificam que o muro praticamente cessou os ataques terroristas palestinos, é bem claro também que a Autoridade Palestina vem conseguindo bastante sucesso em manter suas áreas relativamente em paz, de modo que nunca saberemos se o muro teve ou não essa eficiência toda...

Nosso plano era visitar a Igreja da Natividade e voltar. Mas não foi bem assim...

Igreja da Natividade


No local onde Jesus teria nascido, os fiéis ergueram uma imponente igreja, destacando onde supostamente seria o local exato do nascimento. Fomos lá, enfrentamos a fila, tiramos algumas fotos, rezamos um pouco, prestamos o nosso respeito, mas nossas cabeças fervilhavam mesmo era com a situação dos palestinos...

Betlehem Peace Center

Em frente à Igreja da Natividade tem um painel contando a história recente da palestina. Lá estava escrito que se alguém quisesse mais informações ou mesmo visitar um campo de refugiados deveria se dirigir ao Betlehem Peace Center, que fica na mesma praça que a igreja.

O local é interessante, bem montado e com funcionários competentes. Batemos um bom papo com as funcionárias, e aprendemos a chegar a Aida. Era simples: apenas um táxi de uns 10 minutos e isto, teoricamente não nos traria problemas com Israel.

Campo de Refugiados de Aida

Entramos no campo, pagamos o taxista e o dispensamos. Na entrada, pintado à mão vê-se um enorme Welcome to Aida Camp”. Aí aprendemos que o campo já tinha a estrutura de um bairro pobre em uma grande cidade brasileira. É que esperávamos chegar a um lugar cheio de tendas, sem estrutura nenhuma, com pessoas chorando para todos os lados. Mas Aida já existe há mais de 60 anos, desde quando os palestinos foram expulsos de suas casas na criação do estado de Israel. Não é de se estranhar que o campo tenha uma estrutura de bairro. As pessoas levam suas vidas, alguns tem carros, há escolas, etc.


Mas existe o muro, que não deixa ninguém se esquecer que os vizinhos são os inimigos. Entramos no campo e depois de andarmos uns 200 metros, vimos que um veículo militar havia parado no portão por onde entramos e 4 soldados haviam descido. Pensamos que eram israelenses e nós teríamos problemas na saída. Ficamos com medo. Mais a diante, um grupo seguia um guia. Tentamos nos infiltrar. Era uma equipe da National Geograpfic que provavelmente faria alguma publicação a respeito.


Não nos infiltramos, mas o guia nos orientou sobre onde irmos e de quebra nos disse que os soldados eram palestinos e não precisávamos nos preocupar. Caminhamos para lá e para cá. De uma escola em final de horário de aulas uma turma de crianças saía e foram atrás da gente. Falamos sobre o Brasil, sobre futebol, um garoto nos disse que os israelenses eram loucos, nos mostraram uns filhotes de cachorro em um lote, tiramos fotos. Crianças como em qualquer lugar do mundo. 


Atravessamos o campo e passamos pelos soldados que uma hora atrás pensávamos ser israelenses. Nos cumprimentaram, passamos, tiramos muitas fotos dos grafites do lado interno do muro. Voltamos e ao passarmos pelos soldados, um civil que estava no meio nos convidou para um chá. Por que não? Ficamos em sua casa por 2 horas. Seu irmão é noivo de uma brasileira de Ubatuba, que achamos no facebook lá mesmo e batemos um papo. Nosso anfitrião, que nasceu em Aida, estava desempregado, mas é músico e se formou em hotelaria. Aquele encontro nos ensinou muito sobre a vida em um país em estado permanente de guerra. O cara perdeu o pai na última intifada e não conseguia fazer planos mais longos que uma semana.


Saímos e ao passarmos pelos soldados trocamos uma prosa. Enquanto conversávamos, um grupo de crianças chega, se aproxima, troca umas palavras com os soldados, tenta apertar o gatilho da metralhadora (que está travada), toma uns xingos e se vai. Os soldados são jovens de vinte e poucos anos, gozadores, mulherengos. Logo estamos falando em mulheres, se algum queria se casar com mais de uma. Eu digo que estava na Palestina para buscar minhas outras 3, pois lá se pode casar com 4. O nosso anfitrião fala que eu não dou conta nem de uma. Eu viro para um dos soldados e digo: “por favor, dê uns tiros nele para mim”. O cara finge que destrava a arma, aponta e todos rimos. Renilza horroriza com um dos garotos que apesar de ser casado e com um filho é o garanhão da área, cheio de namoradas. Mas ele é cara de pau e não está nem aí... por fim a gente se despede e vai embora. Paramos em um posto de controle israelense, mostramos documentos, mas somos liberados.

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