segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

África do Sul - parte 1

Do Egito pegamos um voo noturno para Johannesburgo com uma parada de algumas horas no aeroporto de Jeddah, Arábia Saudita. Aeroporto interessante. Está sempre lotado devido aos islâmicos em peregrinação. A companhia aérea pertencente ao governo saudita era até boa, mas, parece que em cumprimento a determinações legais daquele país, antes de cada decolagem o sistema de mídia do avião exibia uma oração em árabe. Tá bom. Toda ajuda é benvinda. Era início de dezembro. O fato interessante foi chegarmos no aeroporto da África do Sul e dar de cara com uma árvore de natal. Não é nada demais, mas já estávamos cerca de 2 meses em países islâmicos. Apesar de não sermos devotos exemplares, foi bom sentir que estávamos em uma cultura mais próxima da nossa de novo.

Um pouco de História

A política do Apartheid foi um dos pontos baixos da história recente da humanidade. Porém, a África do Sul é o único país que foi capaz de construir bombas nucleares e anos depois abriu mão de tal poder e desmontou seu arsenal atômico. Este com certeza foi um ato que gera uma grande esperança para o mundo. Que país é este?

70% da população do país é negra, mas de diferentes grupos étnicos. A maior parte do restante da turma é de origem indiana, europeia e mestiços. São reconhecidas como oficiais 11 línguas.

Embora o país possua registros pré-históricos de mais de 100 mil anos, pularemos esta parte para o ponto onde a situação atual começa. Em 1652, um século e meio após a descoberta da Rota Marítima do Cabo, a Companhia Holandesa das Índias Orientais fundou uma estação de abastecimento que se tornaria a Cidade do Cabo. Mas não é claro se a Holanda um dia considerou a região uma de suas colônias. Já a Inglaterra, que nunca dorme no ponto, em 1806 foi lá e declarou que era tudo dela. Enquanto só haviam uns gatos pingados de holandeses, até que a convivência com os nativos foi relativamente tranquila. Mas na colonização britânica chegaram mais ingleses, holandeses, flamengos, alemães, indianos, chineses, etc. E aí começaram os conflitos entre nativos e invasores por territórios. 

Mais tarde, a descoberta de diamante e de ouro desencadeou um conflito entre os Bôeres (origem holandesa) e os Britânicos. Os ingleses ganharam, mas deram independência limitada à África do Sul em 1910. Durante os anos de colonização Holandesa e Britânica, a segregação racial era essencialmente informal. 

Em 1948, apenas 3 anos após o mundo saber do maior massacre por questões raciais já ocorrido na história (judeus mortos por nazistas), o governo sul-africano, escolhido apenas pelo voto dos brancos, inicia a institucionalização de um conjunto de leis que mais tarde fica conhecido como Apartheid. Essas leis promoviam uma segregação racial no país africano que limitava a possibilidade de aquisição de terras por negros (a apenas 10% das terras cultiváveis), negava o direito ao voto aos não brancos, mantinha serviços de saúde e educação diferenciados só para brancos, dentre uma infinidade de medidas racistas. Enfim, mostrava claramente quão desprovida de vergonha na cara era a grande maioria da população de origem europeia daquele território. 

A situação só mudou devido à pressão internacional, à enorme resistência promovida de várias formas internamente, como protestos, ativismo, revoltas e sabotagens. Ainda hoje há condomínios fechados enormes onde os moradores, todos brancos, tentam manter um “oásis” dentro da África do Sul. Também há escolas particulares onde só entram brancos. 

Em 1990 o governo sul-africano iniciou negociações que levaram ao desmantelamento das leis de discriminação e às eleições democráticas de 1994. O país começa a desmantelar o Apartheid, libertando Nelson Mandela, líder do ANC (Congresso Nacional Africano), aceitando legalizar esta organização, bem como outras organizações antiapartheid. 

Em abril de 1994 fazem-se eleições multirraciais para o novo Parlamento. O ANC ganha as eleições e Nelson Mandela, formando um governo de unidade nacional, torna-se o primeiro presidente sul-africano negro. Apesar de o país ter progredido de forma rápida e sustentável em termos de acesso dos negros aos recursos do país, ter sido sede da Copa do Mundo de 2010 e hoje ser considerado uma “futura super potência”, há ainda uma discrepância enorme em relação á qualidade de vida de que disfrutam brancos e negros. E por melhor que tenha sido a transição, ainda há um ódio muito forte guardado e a violência racial volta e meia mostra sua cara. O país tem um elevado índice de estupros e algumas pesquisas apontam que acontece um a cada 17 segundos.

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