domingo, 13 de janeiro de 2013

Egito - parte 3

Cairo

Chegamos em Cairo de tarde. A cidade reflete uma decadência que chega a ser opressora. São 20 milhões de pessoas. Como quase nunca chove e o deserto está ali do lado, a poeira é uma constante nas ruas, nas paredes e nos monumentos. Junta-se a isto a poluição dos carros, a sujeira das ruas e das lajes. É necessário muita boa vontade para achar alguma coisa bonita. Dos viadutos ou de cima de um lugar alto se pode ver entulhos sobre quase todas as lajes. Nas ruas, praticamente só homens. Pegamos protestos na Praça Tahrir todos os dias e por três vezes participamos das passeatas.




Nosso albergue ocupava o último andar e o terraço de um prédio antigo do centro. Ao contrário das expectativas era limpo e cheio de plantas e gatos. Um dos funcionários nos perguntou sobre nossas impressões sobre o Egito e não conseguimos mentir. Dissemos que estávamos decepcionados pelo fato de ser normal os trabalhadores do turismo tentarem o tempo todo aplicar golpes nos clientes. Ele ficou envergonhado, se desculpou e nos prometeu que escolheria um taxista muito honesto e gente boa para nos levar no passeio que contratamos com ele. Coitado. Ele não podia estar mais errado. O cara era um mala sem alça e ainda tentou nos empurrar um passeio com guia e camelo totalmente desnecessário com um chegado seu nas pirâmides. Berrava o tempo todo com outros motoristas e seus CD’s eram horríveis. E ele cantando junto e bem alto, era terrível! Além disso, o cara falava inglês muito mal e não conseguíamos manter nenhuma conversa com ele. E ainda ficava chateado quando conversávamos em português entre a gente, porque ele disse que sem querer ele acabava pensando que falávamos dele. E toda hora ele falava para a gente: “hola, amigo, que tal?” E mais: ele só sabia isto em espanhol. Nem gosto nem de lembrar.

Pirâmides

As pirâmides de Gizé são aquele tipo de atração que justifica a viagem. Lá se encontram 9 pirâmides e a Grande Esfinge. As três pirâmides maiores, Quéops, Quéfren e Miquerinos são enormes e dominam a paisagem. Elas serviram de túmulos para faraós, embora existam afirmações de que tiveram outros fins.

A Grande Esfinge é também impressionante. Não se pode chegar muito perto dela porque há um isolamento impedindo. Lembremos que aquilo tudo é um sitio arqueológico. Mas nem é necessário. Tudo é tão colossal que deve ser apreciado à distância mesmo. A esfinge, como todos sabem, tem o nariz todo destroçado, quase tão ruim como era o de Michael Jackson após as dezenas de plásticas. Várias teorias tentam explicar a causa daquilo. Até napoleão já foi acusado de usar a cara do bicho como alvo para calibrar seus canhões. Mas ninguém nunca fez nada para tentar reparar a estátua. Então decidi fazer alguma coisa...


Mas não precisamos convencer ninguém de que aquilo ali é algo único. Preferimos contar como foi a nossa visita. O bairro onde ficam as pirâmides é parecido com muitas favelas brasileiras e em várias fotos é possível ver uns casebres ao fundo. Mais um pouco e haveriam casas no lombo da Esfinge. Chegamos com o nosso taxista e ele nos garantiu que tínhamos que comprar um passeio guiado, com camelo, porque caminhar pelo parque sob o sol escaldante era insuportável, que as coisas eram longe uma das outras.

O cara nos colocou nas mãos de uma agência que insistiu muito. O taxista (que levaria sua comissão) nos levou antes de entrarmos no parque na laje do prédio da agência para nos mostrar as pirâmides e termos a ideia do tanto que teríamos que caminhar. Essa parte foi muito legal. Ele nos mostrou uma paisagem desértica, com o céu encoberto por poeira e só vimos a esfinge. Passados alguns segundos, começamos a identificar os traço das grandes pirâmides. E mais um minuto estava tudo visível. E ele tentava nos mostrar que era tudo longe, mas nós só aumentamos nossa certeza que era possível fazer o trajeto a pé. E a insistência dele cheirava a golpe.

Fomos sozinhos. Compramos nossos bilhetes e o vendedor, em vez de nos dar os papéis, os passou a um velhinho, vestido de beduíno. Acompanhamos o velhinho, mas percebemos que ele era um guia. Renilza pediu a ele nossos bilhetes. Ele disse que nos daria e continuou andando. Mas insistimos e, depois de pararmos de caminhar e exigirmos que nos dessem os bilhetes o velhinho cedeu. Como que pode uma atração turística famosa internacionalmente ter uma administração tão ruim?! É quase inacreditável. Passamos pelos guias com seus camelos e nos recusamos a comprar qualquer serviço. E ouvíamos que iríamos nos arrepender, porque era longe e coisa e tal. Por fim, em pouco mais de uma hora visitamos todo o parque, sem nenhum problema. É claro que dezenas de vezes tivemos que nos afastar de beduínos com seus camelos e vendedores ambulantes, porque os caras são muito chatos. Incrível como a administração do parque permite que tanto trabalhador autônomo fique ali dentro enchendo o saco dos visitantes.


Dahshur

Pegamos nosso taxi e fomos para Dahshur. Lá, vimos mais pirâmides. Das 5 existentes, se destacam a Vermelha, cujo revestimento de calcário quase desapareceu e Pirâmide Romboidal. Esta tem uma alteração no ângulo das arestas próximo à metade de sua altura. O mais legal foi que entramos em uma delas. Primeiro se sobe uma escada de madeira por uma das faces. Chega-se a uma portinha, e é só entrar. Não há como se perder, porque só tem um caminho. A descida é pesada, pois há uma rampa de madeira de dezenas ou centenas de metros que se tem que descer com o corpo todo dobrado, pois tem só cerca um metro de altura. Quando chegamos lá em baixo passamos por alguns salões e corredores, subimos mais escadas e então estamos no miolo. Se você tem claustrofobia, esquece. O ar lá dentro é muito seco e é muito desagradável. Não é para ficar muito tempo. Mas também não tem muito que ver.


Memphis

Aqui paramos em um pequeno museu com algumas estátuas de faraós, esfinges, com até alguns metros de altura. Uma grande estátua fica em um salão interno. Ela está quebrada em várias partes do corpo do faraó, mas vale a pena passar alguns minutos lá dentro. Apesar do passeio que compramos no hotel incluir esta parada, o taxista nos tentou convencer a não visita-la dizendo que não havia nada. Mas nessa altura a opinião do elemento já não estava sendo considerada.


Saqqara

Saqqara é um sitio muito importante, com uma pirâmide que lembra um bolo de noiva e um salão com várias esculturas, pilastras e inscrições. Já estávamos dentro do parque, com os ingressos pagos e ao entrar no referido salão, um senhor nos pede os bilhetes confere e pede que nós o sigamos. Em qualquer lugar do mundo o turista poderia entender que aquilo faz parte da visita e está incluído no preço do bilhete. Mas já estávamos calejados com esse tipo de atitude e quando o cara pediu que o seguíssemos, disparamos que não queríamos guias e pegamos nossos bilhetes.

Se o turista desavisado continua andando com o “guia”, vai ter que desembolsar uma grana, porque ele vai dizer que te prestou um serviço e outros colegas dele vão aparecer do nada e insistir que você tem que pagar, etc. Este é o estilo dos golpistas: se fazem passar por funcionários do local, fazem você o acompanha-los, explicam qualquer coisa sem o menor compromisso com a verdade e depois tentam te forçar a pagar algo. A dica para quem vai ao Egito é: tudo que te for oferecido terá um preço. Nada é de graça, mesmo que pareça ser uma ajuda desinteressada. Sempre pergunte o preço antes quando for contratar um serviço ou se alguém lhe oferece-lo. E esteja preparado para brigar se o preço aumentar depois, isto também não é raro.


Nesta parada há um trabalho de escavação em plena atividade e se pode ter uma vista privilegiada do rio Nilo e seu vale todo verde e trabalhado por agricultores cortando o deserto.

Lojas

Está incluído neste passeio algumas paradas em lojas de artesanato ou de óleos perfumados. Os produtos são legais, mas a gente não queria comprar nada. Em um deles a vendedora nos deu uma aula de como eram fabricados os pergaminhos. Legal pra caramba, mas chega a ser constrangedor sair de lá sem comprar nada. Eles oferecem algo, vão abaixando o preço com descontos que passam de 50%. Mas a gente nunca compra algo que não estamos interessados. Já o taxista fica tomando um chá que é oferecido a todos que chegam (esse é de graça mesmo). Por fim, pedimos ao taxista que não parasse mais em lojas porque realmente não compraríamos nada, mas o cara insistiu, porque queria no mínimo ganhar um chá e tivemos que passar por mais momentos constrangedores. Mais uma dica: se você tem interesse nesse tipo de compra, ok. São boas oportunidades. Mas se realmente está decidido a não comprar nada, deixe isto bem claro quando for adquirir um passeio.

Museu do Cairo

Este museu está abrigado em um prédio imponente próximo à praça Tahrir. Tem tantas peças que várias ficam do lado de fora. Mas são todas de pedra e no Egito quase não chove. A principal deficiência é que a maioria das peças não tem nenhuma identificação. O resto é show. Várias múmias ficam expostas, há centenas de sarcófagos, estátuas e muito objetos usados pelos povos que habitaram a região. Outra parte interessante é a que mostra animais mumificados. Cães, crocodilos, cobras e muito mais. Até elefantes os caras mumificavam. O ponto alto é com certeza as salas onde ficam as peças encontradas no túmulo de Tutan khamon. Além de sua máscara, adornos, o caixão, há carruagens e um monte de utensílios, quase tudo de ouro. Tudo isso para que o Menino Deus chegasse à outra vida com toda a pompa de um grande rei. Mas como os arqueólogos fizeram uma limpa na sua catacumba ele vai ter que chegar ao além igual a qualquer um mesmo.


Saída

Assim como estabelecemos a Nova Zelândia como o melhor pais para se fazer turismo, onde tudo funciona, as pessoas são honestas e amigáveis e as atrações são de primeira linha, o Egito ficou marcado como o pior lugar de nossa viagem. Quase nada funciona, trabalhadores da área do turismo tentam te dar golpes o tempo todo e as atrações são muito mal cuidadas. Tem muita sujeira, o transporte um horror e o clima não ajuda. Realmente esse país precisava de uma revolução. Felizmente ela está em curso. Esperamos que a nova democracia consiga se manter e se fortalecer no país e que traga progressos para seu povo. Temos certeza que as pessoas desonestas que conhecemos não representam o povo egípcio e esperamos que elas aprendam a desenvolver suas atividades de forma limpa, para que mais pessoas possam visitar o país e levar boas lembranças.

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