domingo, 20 de janeiro de 2013

Namíbia - parte 3

Etosha

Dormimos apenas uma noite em Windhoek e de manha o Gregory foi nos buscar. Dessa vez era só a gente. Marchamos logo para o norte. Este parque tem a savana como vegetação dominante e prometia encontros com animais selvagens. Entramos no parque e saímos procurando pela bicharada. Girafas, zebras, antílopes são até bonitinhos, mas queríamos leões, rinocerontes, ou seja, ação.

Já era umas 4h da tarde e o melhor que havíamos conseguido eram uns elefantes, até que ouvimos um barulho assim “chiiiiiiiiiiiiiiiiih”. Era um pneu que havia furado. Numa ocasião dessas o correto é ligar para a administração do parque para eles mandarem socorro. Mas estávamos fora de área de cobertura de sinal (o parque é um dos maiores do mundo, com mais de 22.000 km2. É maior que a Palestina e Israel juntos). Se parássemos para trocar o pneu, um leão poderia chegar e “crew!” na gente. Se ficássemos parados esperando alguém passar e nenhuma alma aparecesse, a noite poderia cair e aí seria pior, pois elefantes podem querer dar uma geral no carro e se ficarem bravos podem facilmente tombar o carro e nos tirar lá de dentro para brincar com a gente, jogando nossos corpos para cima, pisoteando, jogando para cima de novo, essas coisas.

O Gregory, entre as poucas alternativas, seguiu a pior de todas: resolveu continuar andando. Ele insistia que como é proibido sair do carro essa era a única alternativa. Também não parava de falar de um caso de dois gringos que morreram atacados por leões depois que o carro quebrou e eles se arriscaram na caminhada.

Se estivéssemos próximos a algum local seguro, entenderia, mas estávamos a dezenas de quilômetros de qualquer ponto de apoio. O pneu se desmanchou em poucos minutos e o carro fatalmente parou de andar.


O Gregory é um excelente guia. Sabe muito sobre vida animal, fala 5 idiomas mas como não tinha um bom treinamento e, talvez por ter crescido escutando histórias de leões e elefantes matando gente, ele estava desesperado. E foi a gente que decidiu que era melhor nós mesmos trocar o pneu, enquanto ainda teríamos tempo, já que a noite se aproximava e é proibido também entrar no acampamento depois do horário.

O esquema era o seguinte: Renilza vigiava de um lado, eu do outro e o Greg trocava o pneu. Mas o que ele menos fazia era trabalhar, pois ficava procurando leões também. Renilza e eu estávamos tranquilos, pois já estávamos há horas no parque e não tínhamos avistado nenhum felino. Alguns carros paravam, mas como não podiam fazer nada iam embora, até que um casal de espanhóis quis entender o que estava acontecendo. Explicamos nossa situação e a senhora apenas nos disse: "Olha, troquem esse pneu depressa porque há menos de dois quilômetros daqui vimos um bando de leões e eles tem filhotes".


Só faltava essa. Os leões passam o dia todo longe da gente e quando precisamos descer do carro eles estão por perto. Aí o Greg desesperou. E, para piorar, o macaco deste carro também não dava altura suficiente para que a operação fosse feita. Mas, se este texto foi escrito é porque tudo deu certo.

Minutos depois uma caminhonete parou e o Greg pediu carona. Era uma família sul-africana de africâneres (descendentes de holandeses) composta pela mãe e um casal de filhos de 22 e 20 anos. A menina dirigia e o rapaz foi para a carroceria coberta. Então os caronas se ajeitaram dentro do carro. E não é que alguns minutos depois avistamos o bando de leões?! Na verdade só vimos algumas fêmeas e dois filhotes. O macho com certeza estava por perto.


Depois vimos hienas, girafas e outros. Mas o dia ainda não havia acabado. Ao chegarmos na área de camping enquanto o pessoal do parque foi buscar nosso carro (com nossos equipamentos, bolsas, computador...) nossos salvadores nos convidaram para um churrasco ao estilo sul-africano. Compramos cerveja e ficamos ali ate regressarem com nosso carro. Nada mal.

No dia seguinte continuamos rodando pelo parque, mas sem nenhum animal legal para nos surpreender. Exceção para um grupo de abutres que se amontoavam sobre uma carcaça que não conseguimos identificar de que bicho era. Demos uma volta no Etosha Pan, um lago de sal muito grande, onde construíram uma estradinha para que carros possam andar "dentro" do mesmo.


Passamos a noite no parque e no dia seguinte voltamos para Windhoek. Chegamos por volta das 14h e já tínhamos passagens de ônibus compradas para a Cidade do Cabo. Deu tudo certo e as 17:30h o ônibus se pôs em marcha. De madrugada passamos a fronteira e pela terceira vez em menos de um mês entrávamos na África do Sul. Sem nenhum problema chegamos à Cidade do Cabo.

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